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365 dias de danças... Uma Dança por Dia! Esse projeto é um trabalho coletivo coordenado por Christine Roll, Denis Gerson Simões e Helder John, com publicação diária de narrativas ligadas às danças típicas.
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Continuação...

26.10.2023 - Tiroler Figurentanz

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26.10.2023 - Quantas figuras tem a “Tiroler Figurentanz”?
Ela é longa! Segundo Karl Horak, em seu conhecido “Tiroler Volkstanzbuch”, a “Figurentanz” tem 22 figuras. Para uma dança típica, isso realmente é muito. A “Agattanz”, que é extensa, tem 15. Uma coreografia repleta de detalhes e informações. Mas ela é uma legítima Volkstanz austríaca? 
O nome “Figurentanz” representa simplesmente uma dança de figuras. Em vários manuais há referências a esse tipo de coreografia. Na Áustria são muito populares, como nas Ländler, com suas distintas partes, onde os pares se entrelaçam. A “Tiroler Figurentanz” ficou assim conhecida para diferenciar-se das demais. Ela também é chamada de “Tiroler Figurenlandler”, ou “Figurentanz aus dem Unterinntal”, destacando que ela é do Baixo Vale do Rio Inn.
Sua estrutura traz uma típica dança de cortejo. Apresenta praticamente um álbum das figuras tradicionais da Áustria, iniciando com a simples posição cruzada - Kreuzfassung -, passando pelas distintas formas de compor janelas, agregando giros complexos e, inclusive, mostrando dois sapateados - “Schuhplattler”. Dependendo do grupo que a executa pode ocorrer de alguma parte ser acrescida ou retirada.
Na maior parte das fontes não há dados sobre os autores, contudo Waltraud Froihofer atribui ela a Hermann Jülg, em um movimento de criação de novas danças austríacas. Provavelmente seria uma colagem de várias coreografias. Horak apresenta a data de 1942 como ano em que a “Tiroler Figurentanz” foi mostrada em um evento de danças em Thaur bei Innsbruck, com formas semelhantes encontradas em Mils bei Solbad Hall e Tulfes.
Essa “Figurentanz” é mais um exemplo de manifestação que busca agregar elementos tradicionais à identidade regional, sendo vista como legítima por quem a interpreta. Um verdadeiro passeio pelas figuras austríacas, se diferenciando das outras danças regionais por ser extensa. Se fosse comparada ao ato de cortejar, seria como um pedido de namoro de longos anos…
Quer saber mais?
https://www.culturaalema.com.br/tanz . Veja a dança em https://youtu.be/FoPbS4r6UXQ . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

25.10.2023 - Tantoli

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25.10.2023 - “Tantoli” é uma parente da Tarantela?

Apesar de o nome “Tantoli” lembrar um pouco a Tarantela ou parecer ser de algum país de língua latina, sua origem não tem nenhuma relação com essa suposição.

Embora ela seja encontrada em suas variações em diversos países como Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia e regiões de língua sueca na Estônia, a maior parte dos registros apontam que sua origem seja o centro da Suécia.

Uma das publicações mais antigas em que consta essa dança é o “Lekstugan”, do final do século XIX, com danças típicas, organizado pela associação de grupos de danças suecas. Posteriormente, ela chegou até a ser publicada em coleções de danças na Alemanha, se popularizando entre os alemães.

Essa sequência de variações do xote, é acompanhada frequentemente de cantos, como por exemplo, esta letra registrada na região de Västmanland, cuja tradução é mais ou menos assim:

“Eu e minha garota íamos dançar polca,

Mas quando chegamos, eles estavam dançando Tantoli.

Minha menina, ela sabia dançar; mas eu, infelizmente, não sabia,

Portanto, era melhor deixarmos assim!”

Apesar de a presença humana na região de Västmanland ser muito antiga, não é possível definir quão antiga é a “Tantoli”. De qualquer forma, sabe-se que ela faz parte do patrimônio histórico-cultural da região

Västmanland oferece experiências inesquecíveis para fãs da cultura e amantes da natureza. A sua paisagem variada inclui as florestas profundas de Bergslagen e o idílico vale Mälar. O próprio lago Mälaren é repleto de baías tranquilas e fotogênicas e ilhas desertas.

Cerca de 20.000 descobertas arqueológicas de diferentes épocas provam que Västmanland é de grande importância histórica. Qualquer pessoa interessada na história nórdica deve visitar o cemitério de Anundshög, cujas peças possibilitam um excelente retrato da região desde a Idade do Ferro até o período Wiking.

Às vezes, é nas danças mais simples que encontramos histórias extraordinárias.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz . Veja a dança em https://youtu.be/gLcDVYxDRqk . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

24.10.2023 - Deeper Fischertanz

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24.10.2023 - A "Deeper Fischertanz" é de qual vilarejo pomerano?

Ora, ela é do vilarejo de Deep! Mas é o “Kolberger Deep” ou o “Treptower Deep”? Ah, é aquele que é uma aldeia de pescadores. Ora, os dois são aldeias de pescadores. Então, é aquele onde fica a foz do rio Rega. Mas em ambos vilarejos encontra-se uma foz desse rio! E agora?

Vamos ver o que o pesquisador pomerano Willi Schultz nos conta sobre a dança:

“É solstício de verão e os camponeses de Gribow, no Ostsee, comemoram sua festa de São Pedro. Claro que eles convidaram também seus vizinhos, os camponeses de Deep. Os incansáveis ​​músicos de Kolberg tocam dança após dança. Os jovens não perdem uma! Ninguém pensa em voltar para casa.

Durante o intervalo, as moças de Deep lembram que precisarão voltar para casa a pé. Mas elas não se preocuparam, ainda dava tempo para mais uma dança! Os músicos tocam uma melodia conhecida e todos aproveitam os últimos instantes. Ao fim, chega a hora de os jovens de Deep se despedirem e tomarem o caminho para sua aldeia, pois, em breve, os primeiros raios de sol vão surgir no horizonte e vai começar mais um dia de trabalho.”

Ao lado de Gribow fica o vilarejo de Kolberger Deep. Dessa forma, o mistério está resolvido. Mas é interessante observar a relação de ambas aldeias com o rio Rega. Em Kolberger Deep, fica a antiga foz do rio Rega, enquanto que em Treptower Deep encontra-se a nova foz, um canal construído no século XV para ser o porto da cidade de Treptow.

É nessa mesma região ao longo do rio Rega que encontrava-se o traje de “Belbuck”, assim chamado por ser originário da região administrada pelo Mosteiro de Belbuck. Dessa mesma região, no final do século XIX, emigrou uma família pomerana para o Rio Grande do Sul. É a família Deutsch. Depois de uma longa viagem, chegaram ao Brasil em 1890 e fixaram residência na então colônia General Osório, que deu origem à cidade de Ibirubá e, depois, de Quinze de Novembro.

E você conhece a origem de sua família? Conte aí para nós!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz .

Veja a dança em https://youtu.be/sNtUig9gn9s . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

23.10.2023 - Wittenauer Tortanz

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23.10.2023 - “Wittenauer Tortanz” é uma dança de torres ou de portão?

Na Alemanha, existem vários “Tore” famosos, como o Brandenburger Tor - Portão de Brandemburgo - em Berlim. Ele é assim chamado, pois, antigamente, ali, ficava o portão da cidade, onde começava o caminho de Berlim à Brandenburg. Mas será que existe algum portão que dá caminho a Wittenau? Um Wittenauer Tor?

Na verdade, não existe.

Então a dança não se refere a um portão?

Bom, na verdade, a dança leva o nome de “Tortanz” não por causa de um antigo portão de alguma cidade, mas por causa da figura formada pelos pares na dança. Com mãos dadas, eles formam uma passagem para os outros dançarinos. Em português, costuma-se dizer que é uma dança de torres. Assim, A “Wittenauer Tortanz” é uma dança de torres de Wittenau.

Wittenau é hoje um bairro de Berlim, no distrito de Reinickendorf. Ele tem origem em um antigo vilarejo chamado Dalldorf, que foi renomeado em 1905 para Wittenau em homenagem a um antigo líder local já falecido, o senhor Petter Witte. Não se sabe ao certo a data de fundação da comunidade, mas, segundo alguns registros, teria sido no início do século XIII.

Durante a Idade Média, Wittenau era uma pequena vila de agricultores e fazia parte da Floresta de Tegel, uma vasta área florestal. No século XIX, a industrialização começou, e o vilarejo experimentou um crescimento com o desenvolvimento de fábricas e áreas residenciais. Posteriormente, durante a Segunda Guerra Mundial, ela sofreu danos significativos devido a bombardeios.

Após a guerra, Wittenau foi reconstruída e se tornou um bairro vibrante. Sua história reflete as mudanças que a cidade passou ao longo dos séculos, indo de uma pequena vila a um moderno bairro de Berlim.

 

A “Wittenauer Tortanz” faz parte das novas danças de Berlim, de autoria do professor Volkhard Jähnert (Volkstanzkreis Reinickendorf) e, hoje, faz parte do repertório de grupos não apenas de Berlim, mas também de outras regiões da Alemanha e também do Brasil!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ . Veja a dança em https://youtu.be/V5zNLS7cutA . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

22.10.2023 - Schwäbische Mazurka

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22.10.2023 - A “Schwäbische Mazurka” imitou a “Niederbayrische Mazurka”?

Quando há uma sequência complexa de dança, com mais figuras e longa melodia, é difícil encontrar uma similar que não tenha uma base comum. É quase como ganhar na loteria. Por isso, dizer que a “Niederbayrische Mazurka” e a “Schwäbische Mazurka” são quase iguais por mera sorte é um tanto inocente.

Primeiramente, “Niederbayrische Mazurka” teria sido coletada nos anos 1930 em Salzweg, localidade vizinha à Passau, ambas na Baviera, motivo pelo qual ela também ficou conhecida como “Mazurka aus Salzweg” ou “Passauer Mazurka”. Contudo, em seu registro original consta simplesmente o nome “Mazurka”. Já a “Schwäbische Mazurka” não apresenta um local exato da coleta da coreografia. Sabe-se que ela usa a canção “Nodl net a so”, de Hohenlohe, em Baden-Württemberg, como sua melodia. A Suábia e a Baixa Baviera também não se distanciam tanto uma da outra. Seriam ambas a mesma dança, mas com nomes diferentes?

Quanto às suas estruturas, inegavelmente as coreografias são idênticas, só com a inversão das partes 1 e 2. Os movimentos são realizados em duas etapas, cada uma com 16 compassos. As figuras trazem peculiaridades que não são vistas em outras danças de ambas as regiões, como o exemplo dos giros em seis passos, seguidos de mazurcas. As melodias, mesmo que diferentes, seguem uma estrutura similar, com o mesmo ritmo e métrica.

A partir desta análise, se pode dizer que a “Schwäbische Mazurka” e a “Niederbayrische Mazurka” possuem uma ligação comum, mesmo não sendo cópias uma da outra. Podem ser, inclusive, a mesma dança, mas com designações e músicas diferentes. Contudo, se futuramente dados comprovarem o contrário, sendo elas similares por casualidade, uma coisa é certa: todas as conexões improváveis  do mundo foram gastas nessas duas coreografias. Uma pena. Podiam ter usado essa sorte toda para ganhar na loteria ou, no mínimo, na rifa da quermesse.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz . Veja a “Schwäbische Mazurka” em https://youtu.be/uTJ_7QU75fQ e a Niederbayrische Mazurka, https://youtu.be/lyK2XlnYaNc . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

21.10.2023 - Der Graf von Luxemburg

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21.10.2023 - A “Der Graf von Luxemburg” é um jogo de cerveja?

 

Uma canção em Baden-Württemberg é a “Der Graf von Luxemburg”, que tem sua dança presente na “Schwäbische Tanzfolge”. Mas quem é esse “Conde de Luxemburgo” que aparece também em jogo, opereta, música popular e filme?

A música tradicional apresenta um conde que tinha 100.000 Talers - uma moeda da época - e que em uma noite perdeu todo seu dinheiro. A canção já aparece em registros do século XIX, sendo que foi publicada em um livro infantil em 1914. Veja a letra:

„Der Graf von Luxemburg

Hat all sein Geld verjuckt juckt juckt, (2x)

Hat hunderttausend Taler

In einer Nacht verjuckt juckt juckt …

[...] Tütüüüh!“

Ela também era uma “Trinklied”, para cantar e beber, com um “Bierspiel” - “jogo de cerveja”: enquanto cantavam, os bebedores tinham que apontar figuras em um cartão ou quadro. Para cada palavra da música tinha um desenho diferente, como pulgas para “juckt”, castelo para “Luxemburg”, saco de dinheiro para “100.000 Taler” e assim por diante. A cada erro tinham que tomar uma cerveja. Com o tempo, ao cantarem mais rápido e estarem embriagados, os acertos diminuíam… para a alegria do taberneiro.

Já a opereta “Der Graf von Luxemburg”, de Franz Lehár, estreou em 1909. Ela apresenta uma história sobre prazer e dinheiro. Ela se passa entre um carnaval de rua, uma área boêmia e um foyer da ópera parisiense. A partir dela surgiu a música “Sind Sie der Graf von Luxemburg”, de 1968, de Dorthe Kollo, e um filme alemão, de 1972. Por mais que essas narrativas tenham o mesmo tema da canção, de um nobre que perdeu tudo, as comparações terminam aí.

E quem é o conde de Luxemburgo? Difícil de responder. Segundo pesquisas, poderia ser Johann von Luxemburg und Böhmen, com o epíteto de “o Cego”, que viveu de 1296 a 1346. Ele teria perdido muito dinheiro, por mais que não tenha empobrecido por isso. De toda forma, isso é uma suposição. A cultura popular sabe bem criar seus próprios personagens.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz . Veja a opereta em  https://youtu.be/fCi2OxShn-k  e a dança em https://youtu.be/fJPB1NtXisI . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

20.10.2023 - Ich bin ein Musikante

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20.10.2023 - Onde fica o “Schwabenland” do “Ich bin ein Musikante”?

Uma antiga canção que ganhou novo destaque, depois da popularização dos vídeos infantis na Internet, foi o “Ich bin ein Musikanten”. Nela as crianças cantam, dançam e teatralizam. Vejamos uma parte da música:

“Ich bin ein Musikante

und komm aus Schwabenland

Wir sind die Musikanten

und kommen aus Schwabenland

Ich kann auch spielen auf meiner Geige:

Wir können auch spielen auf der Geige

Simsimserlim, …

Na canção os participantes contam que são músicos e que vêm da Suábia. A cada estrofe um apresenta um novo instrumento musical, imitando, supostamente, como é o som dele. No exemplo é escolhido o violino - Geige. Nas versões mais tradicionais da “Ich bin ein Musikanten” aparecem o trombone, trompete, clarinete, tambor, flauta, fagote, piano, trompa, triângulo, entre outros.

Já a dança era assim: dentro do círculo estão dois participantes, sendo que um deles vai apresentar seu instrumento musical. À medida que a melodia se repete, um novo “músico” sai da roda e toma à frente da fila, reiniciando o processo. Termina quando todos tiverem feito seu solo. Caso haja uma roda grande, é preciso conhecer muitos instrumentos.

O autor é desconhecido e existem muitas variantes da letra e da melodia, como pode ser visto na Renânia do Norte-Vestfália, Turíngia, Silésia, além de partes de língua alemã da antiga Boêmia. Existem registros impressos dela já na primeira metade do século XIX. Poderia ter sido originalmente uma ironia promovida por músicos viajantes que, depois, chegou às crianças. Existe uma hipótese de que a “I am the Music Man” teria tido sua origem na “Ich bin ein Musikanten”.

Mas onde é o “Schwabenland”? Na prática essa área não tem delimitação exata, sendo mais definida pelas populações que mantêm essa identidade suábia. 20.10.2023 - Onde fica o “Schwabenland” do “Ich bin ein Musikante”?

Uma antiga canção que ganhou novo destaque, depois da popularização dos vídeos infantis na Internet, foi o “Ich bin ein Musikanten”. Nela as crianças cantam, dançam e teatralizam. Vejamos uma parte da música:

“Ich bin ein Musikante

und komm aus Schwabenland

Wir sind die Musikanten

und kommen aus Schwabenland

Ich kann auch spielen auf meiner Geige:

Wir können auch spielen auf der Geige

Simsimserlim, …

Na canção os participantes contam que são músicos e que vêm da Suábia. A cada estrofe um apresenta um novo instrumento musical, imitando, supostamente, como é o som dele. No exemplo é escolhido o violino - Geige. Nas versões mais tradicionais da “Ich bin ein Musikanten” aparecem o trombone, trompete, clarinete, tambor, flauta, fagote, piano, trompa, triângulo, entre outros.

Já a dança era assim: dentro do círculo estão dois participantes, sendo que um deles vai apresentar seu instrumento musical. À medida que a melodia se repete, um novo “músico” sai da roda e toma à frente da fila, reiniciando o processo. Termina quando todos tiverem feito seu solo. Caso haja uma roda grande, é preciso conhecer muitos instrumentos.

O autor é desconhecido e existem muitas variantes da letra e da melodia, como pode ser visto na Renânia do Norte-Vestfália, Turíngia, Silésia, além de partes de língua alemã da antiga Boêmia. Existem registros impressos dela já na primeira metade do século XIX. Poderia ter sido originalmente uma ironia promovida por músicos viajantes que, depois, chegou às crianças. Existe uma hipótese de que a “I am the Music Man” teria tido sua origem na “Ich bin ein Musikanten”.

Mas onde é o “Schwabenland”? Na prática essa área não tem delimitação exata, sendo mais definida pelas populações que mantêm essa identidade suábia. Como uma referência mais ampla, se poderia pensá-la estando em uma grande parte do sul da Alemanha - principalmente Baviera e Baden-Württemberg -, ultrapassando as fronteiras da Suíça e Áustria.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz . Veja a canção em https://youtu.be/0JUKuiWfhig . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

19.10.2023 - Salzburger Dreher

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19.10.2023 - A “Salzburger Dreher” é de Salzburgo?

Fazer essa pergunta parece pegadinha, tipo “qual a cor do cavalo branco do Napoleão?”. Contudo, não o é. Essa dança é mais um caso daqueles que tem uma cidade no nome… e ela não é de lá. A “Salzburger Dreher”, assim, não vem de Salzburgo, na Áustria, e sim foi registrada nas proximidades da Floresta da Baviera. Ela aparece tanto em Mühlviertel, na Alta Áustria, como em um distrito bávaro pertencente à Nottau, na Alemanha.

Salzburgo é uma importante cidade austríaca, a quarta maior do país, na fronteira com a Alemanha, sendo a capital do Estado homônimo. Lá é o berço de Wolfgang Amadeus Mozart; o local tem uma arquitetura ímpar; apresenta museus de valor inestimável - como o castelo Hohensalzburg - e foi o cenário do clássico “A Noviça Rebelde”. Só por esses atributos já parece justificável que uma dança queira ter uma “pontinha” de afinidade com este Patrimônio Mundial da UNESCO.

Voltando à dança, fora o nome, não se encontram outras relações dela com a cidade. A coreografia não teria muita relação com o estilo salzburger. Segundo Walter Bucksch, provavelmente a tenham chamado de “Giro de Salzburgo” por alguma referência errada.

Há também curiosidades quanto à música. A sua primeira gravação é anterior a 1914 e é atribuída à Stadtkapelle Straubing, da Baviera - já com o nome “Salzburger Dreher”. A letra da sua canção, presente na segunda parte, também não tem conexão com a cidade austríaca, sendo uma variação da “Ja i bins halt a Lump”, que conta os dissabores da vida de um homem que perdeu tudo o que tinha. 

Mesmo não nascendo lá, a “Salzburger Dreher” chegou a posteriori em Salzburgo. Atualmente consta dentre as danças da região, tendo uma anotação que informa a sua real procedência. De certo modo, o nome não mais engana, já que “hoje” ela também “vive” nesta cidade. E respondendo: a cor do cavalo “branco” de Napoleão é realmente branco… pelo menos um dos seus 50 equinos era branco… e Bonaparte não esteve com ele em Salzburg.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz  .Veja a dança em https://youtu.be/Qa2zUSQXMW4 . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

18.10.2023 - Aram sam sam

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18.10.2023 - "Aram sam sam" é uma dança árabe?

Uma música muito popular em atividades infantis na Alemanha, como nas escolas e no Carnaval, é a "Aram sam sam". Autores ou origem exata são desconhecidos, contudo o texto da canção provavelmente vem de um dialeto árabe do Marrocos. Teria se espalhado nas comunidades de língua alemã a partir de conjuntos musicais que a adotaram a partir dos anos de 1960. Vejamos sua letra:

“Aram sam sam, Aram sam sam,

Guli, guli, guli, guli, guli ram sam sam.

Arafi, Arafi, guli, guli, guli, guli, guli ram sam sam”

Ela não é traduzida no alemão e não se conhece a versão original, assim como não se sabe o significado do título, que é similar a sua primeira frase. Já o termo "Guli” supostamente significa “diga-me”. Outra dúvida é sobre o termo “Arabi” ou “Arafi”, que poderia ser “A rafiq” - "um amigo" ou "um companheiro". Mas seria realmente esse o significado? Como o texto da canção transita entre distintos idiomas, podem ter ocorrido diversas mutações na letra e melodia.

E ela é uma dança típica? Claramente não é tradicional e muitos nem a consideram com uma "coreografia". Para estes ela é caracterizada como "música com movimentos". Trata-se de um contexto muito presente entre as crianças, de andar e promoverem gestos enquanto cantam, não tão diferente das cirandas lusófonas.

Mas nem todos gostam dela. Segundo um olhar social da atualidade, a canção apresentaria um preconceito com a língua árabe, como se fosse uma confusão de sons, desvalorizando-a para quem não a entende. Além disso, na coreografia são realizados movimentos semelhantes às posições da oração islâmica, que podem gerar claras controvérsias. De toda forma, é uma leitura da atualidade frente a um olhar menos politicamente correto do passado.

Indiferente do ponto de vista do ouvinte, fica uma pergunta: a minha tia do Marrocos, da canção "Meine Tante aus Marokko" conhece a "Aram sam sam"? Eu não sei a resposta. Terei que aguardar a vinda dela para fazer a pergunta... se ela realmente vier.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz . Veja a canção em https://youtu.be/gwA9GfYIYus . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

17.10.2023 - Kuhländler Dreher

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17.10.2023 - O Rei Víbora aparece na “Kuhländler Dreher”?

Na República Tcheca existe uma comunidade que outrora era conhecida por ser uma ilha de língua alemã na região: o Kuhländchen. Lá se mantiveram preservadas por gerações muitas canções, músicas, danças e também lendas. Uma dessas histórias fantásticas é especialmente conhecida: dos Reis Víbora - “Otternkönige”.

Contam que toda casa tinha que ter uma víbora doméstica. Essa serpente, segundo a crença popular, era considerada um bom espírito que guardava a casa, além de trazer boa sorte, afastar doenças e todas as influências nocivas. Mas os moradores não deveriam incomodá-la se ela aparecesse, pelo contrário, era sugerido colocar para ela leite recém ordenhado em um local tranquilo perto de casa.

De toda forma, dentre essas cobras do Kuhländchen uma era diferenciada. Segundo a lenda, o “Otternkönig” é uma víbora macho três vezes mais forte do que as outras. Uma vez por ano, em determinada época, ele usava uma coroa de ouro na cabeça. Se fosse de prata, então era a rainha, que sempre seguia acompanhada por sua comitiva de serpentes. Contam histórias sobre as tentativas de roubarem essas jóias reais, mas sempre o ladrão acabava derrotado por esses répteis.

Assim como essa lenda, é também muito apreciada nessa região e no Odergebirge uma dança, que Karl Horak chamou de “Kuhländler Dreher” - o Giro de Kuhländchen. Seus movimentos teriam alguma conexão com os “serpenteios” dos “Otternkönige”? É improvável. A coreografia seria ligada a romance e noivado. O nome original, “Of Brawe naus” e canção trazem versinhos sobre um deslocamento para a vila de Brawe… e nada falam de cobras.

De toda forma, como saber das possíveis influências indiretas em uma ilha linguística? O ritmo forte da “Kuhländler Dreher”, por exemplo, estaria também expresso nas narrativas locais? Quem sabe o casal da realeza das víboras tivesse também uma história romântica. É assim que as lendas sobrevivem. 

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz. Veja a dança, no minuto 07:15, em https://youtu.be/AcuNdPeblM0 . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

16.10.2023 - Hunsrücksafari

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16.10.2023 - “Hunsrücksafari” é a dança do Robin Hood do Hunsrück?

Que tal fazer um passeio pelo Hunsrück? Ou quem sabe um safári?

Apesar de o Hunsrück contar com algumas danças típicas regionais, poucas são amplamente conhecidas. A coordenadora do Tanzensemble „La Volte“, Ilona Kramer, aproveitou esse moderno trabalho de Heini Wahl, compositor e músico, criador de várias canções em homenagem ao Hunsrück, e criou uma coreografia para seu grupo. Apesar de não ser uma dança típica, ela traz em sua letra diferentes elementos histórico-culturais da região.

A canção nos leva por uma viagem pelo Hunsrück, seguindo a trilha do “Schinderhannes”. Assim era conhecido no final do século XVIII o jovem ladrão Johannes Bückler. Famoso e temido por todos, ele foi responsável por vários assaltos e roubos na região, muitas vezes bastante brutais.

Com o tempo, ele virou uma lenda, especialmente a partir de histórias contadas (nem sempre condizentes com a verdade). Com o tempo, ele acabou se tornando um verdadeiro personagem regional e sendo conhecido como o Robin Hood alemão, ou o Robin Hood do Hunsrück: aquele que roubava dos ricos para dar aos pobres (o que não era bem verdade).

Assim como no Brasil temos o Lampião e sua Maria Bonita, o Schinderhannes também tinha sua amada: a jovem Juliana Blasius, conhecida como Julchen. Ela participava do bando de Bückler e, vestida às vezes de homem, praticava assaltos com o grupo. Foi ela que deu a luz ao filho do Schinderhannes, Franz Wilhelm.

Na vida real, a rotina do bando do Schinderhannes não era nada encantadora. É apenas na Literatura que ele se transforma em um Robin Hood do Hunsrück. Contudo, o seu fim não foi nada heróico. Por seus atos, Bückler foi condenado em 1803 à morte na guilhotina em praça pública junto com outros dezenove de seu bando. Julchen foi poupada, sendo condenada apenas à prisão.

Apesar de não ser uma dança típica, ela consegue aproximar os descendentes de alemães do Hunsrück no Brasil à terra dos seus antepassados.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz . Veja o filme “Schinderhannes” em https://youtu.be/Lko93aqvSI0 . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

15.10.2023 - Hiatamadl

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15.10.2023 - Hiatamadl” é uma música do Hubert von Goisern?

Muitas músicas populares se imortalizaram na voz de cantores famosos, sendo algumas delas com coreografias típicas. Isso aconteceu com a dança “Hiatamadl”, que está na “Schwäbische Tanzfolge”? Ela é a mesma do Hit musical “Koa Hiatamadl”, do cantor austríaco Hubert von Goisern?

Hubert von Goisern é um artista versátil com uma carreira consolidada e lota estádios com gerações de fãs. O seu repertório dialoga com sonoridades regionais e internacionais: ele destacou-se pelas pontes feitas entre o contemporâneo - como o rock, o pop e o blues -, e as tradições locais, com seus dialetos e canções populares. Mostrou-se como um divisor de águas.

Elucidando a pergunta anterior, a música de Hubert “Koa Hiatamadl” - podendo ser traduzida como “Nenhuma Pastora” -, que fala das preferências de um rapaz por moças “cheinhas”, foi inspirada na “Hiatamadl”, por mais que não seja a mesma. As duas melodias e a letra se parecem. O que diz o refrão do texto contemporâneo?

“Koa Hiatamadl mog i net

Hot koane dick'n Wadln net

I mog a Madl aus da Stadt

Wos dicke Wadln hat”

Se poderia traduzir como, “não gosto de nenhuma pastora [de animais], pois ela não tem panturrilhas grossas; gosto da moça da cidade, a qual as têm”. Se observa no refrão a soma das frases principais da música original, contexto que também é apresentado nesta dança típica.

É curiosa a frase “Sche san de Landlatanz” de Hubert, quase desconexa da música. Poderia ser traduzida como “bonita é a dança da Landler”, apresentando uma relação regional, ou “bonita é a dança do interior”, que poderia ser uma referência à própria “Hiatamadl”. O autor não esconde sua “musa inspiradora”, ao contrário, explicita a apropriação da cultura popular.

Esse caso mostra o bem sucedido diálogo entre as culturas tradicionais e o mercado atual. Trata-se da necessidade da sociedade em se reencontrar através das identidades regionais, sem abdicar de um cenário globalizado.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz . Veja a dança em https://youtu.be/j2iMJATny2s . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

14.10.2023 -  Rutsch hi, rutsch her

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14.10.2023 -  Para onde escorregam na “Rutsch hi, rutsch her”?

Existe um conjunto de danças que fazem parte das “Wechselhupftänze”, por terem como movimento principal a troca de posição dos pés através de pulos. Está entre elas a “Rutsch hi, rutsch her”, assim como a “Herr Schmied”, a Rutscher”, “Wechselhupf”, “Hühnerscharre”, “Das Federbett”, “Strohschneider”, “Strohsackwalzer”, entre outras.

Uma das “Rutsch hi, rutsch her” foi recolhida no Hessen, no Odenwald. Nesse registro há três partes, que se intercalam: 1. passo de troca, 2. lateral nos círculos , 3. valsa. Há também variantes homônimas onde não se realiza a terceira etapa, substituindo a segunda por giros em passo de chote.

Por mais que muitas dessas “Wechselhupftänze” tenham relação com o mecanismo de cortar o feno, como se vê explicitamente na “Strohschneider”, segundo Hans von der Au, a “Rutsch hi, rutsch her” teria outro princípio, como se pode ver na letra:

“Rutsch hie, rutsch her,

Rutsch zu der Mad ins Federbett,

Rutsch zu der Mad ins Bett!

'Bin hie gerutscht un her gerutscht,

Und zu der Mad ins Bett geflutscht”

Segundo ele, em tempos antigos, essa dança tinha um significado de “promoção da fertilidade”. A letra “picante” da canção, que destaca que o rapaz vai “escorregando para lá e pra cá, com a moça para o cobertor de penas” já mostra isso. Essa estrofe teria sobrevivido graças ao relato de idosos. Não por acaso uma coreografia irmã da “Rutsch hi, rutsch her” chama-se “Das Federbett” - por mais que se pudesse traduzir como “cama de penas”, o termo faria referência a uma espécie de edredom de plumas. Outros versos, mais suaves, aparecem com essa mesma melodia.

Isso mostra, mais uma vez, como canções e danças populares não se prendiam à moral e “bons costumes”, mesmo que, em muitos casos, folcloristas tenham tentado fantasiá-las como “puritanas”. Vê-se que associar momentos íntimos ao “edredom” não é invenção do Big Brother na TV.

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13.10.2023 - Schüddel de Büx

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13.10.2023 - Por que se sacode a calça na “Schüddel de Büx”?

Uma das danças mais representativas dos pescadores de Mönchgut, na Ilha de Rügen, é a “Schüddel de Büx”. Traduzida, ela significa algo como “sacuda a calça”. Mas por qual motivo se sacode as calças (e as saias) durante esta dança?

Segundo um registro do final do século XIX, esta dança era comum em toda a Ilha de Rügen, mas estaria caindo no esquecimento. Apenas na Península de Mönchgut, ela ainda estava presente nas festividades. Inclusive, em um romance da época, há a referência de que os pescadores da Península de Mönchgut dançavam a “Schüddelbüchs”.

O pesquisador Willi Schultz registrou uma canção que a acompanha. Seus versos vão relatando o que precisa ser feito durante a dança, como por exemplo, o passeio com o par no centro do círculo e a tão marcante figura de sacudir as calças (e as saias).

Será que todos sacodem as calças apenas porque a canção assim diz? Segundo alguns relatos orais, essa prática seria bastante comum entre os pescadores, pois, como trabalhavam no mar, era comum que suas calças molhassem. E, sacudindo, elas secavam mais rápido.

É interessante observar que os pescadores da Península de Mönchgut, vestem por baixo uma calça justa por dentro das botas e, por cima, uma com pernas largas que passam sobre as botas. Assim, quando eram atingidos pela água, ela acabava escorrendo, mantendo o corpo e especialmente os pés secos e protegidos.

Em uma publicação sobre a dança, Schultz relatou uma cena da “Schüddel de Büx”:

“Era um lindo dia de verão. As calças brancas dos homens brilhavam sob os casacos azuis como espuma nas ondas do Mar Báltico. E agora era hora de dançar. Hannes, o trompetista, gritou para a multidão: ‘Schüddel de Büx!’ Ei, quão rápido os rapazes encontraram suas moças! E os músicos começaram com uma alegre fanfarra de trompa e violino, clarinete e baixo, e todos cantando: “Lüd, Lüd, nu geiht dat an!”

Animados, todos dançavam e cantavam a “Schüddel de Büx”.

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12.10.2023 - “Eins, zwei, drei, bei der Bank vorbei”

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12.10.2023 - “Eins, zwei, drei, bei der Bank vorbei”: uma dança típica ou uma esquete teatral?

Entre as danças típicas, o primeiro registro feito da “Eins, zwei, drei, bei der Bank vorbei” foi o de Anna Helms em seu quarto livro “Bunte Tänze” em 1928. A coleta da dança se deu a partir da junção de trechos encontrados em diferentes localidades de Holstein (norte da Alemanha), inclusive sua melodia.

Por volta de 1876, em Berlim, foi lançada uma pequena esquete teatral chamada “Itzig Hirsch in der Tanzstunde” (Itzig Hirsch na aula de dança). Como alternativa ao título aparece “Eins, zwei, drei, bei der Bank vorbei!”. Ela foi escrita por A. Alexander, com música de Fritz Kaiser.

Itzig Hirsch conta que havia conhecido uma moça, mas ela não iria com ele ao baile, pois ele não sabia dançar. Então, ele foi à procura de um professor de dança. Hirsch queria aprender uma polca, uma valsa e um galope. Mas o professor informou que ele precisaria aprender também uma quadrilha. Porém, como estavam sozinhos, ele não conseguiria ensinar uma quadrilha. Itzig alertou que o professor precisaria dar um jeito, senão iria procurar outra escola de dança.

E o que o professor fez? Para marcar as posições da quadrilha, colocou em frente a Hirsch um banco (Bank) - para representar o par contrário -, de um lado, sua esposa (Frau) e, do outro, sua empregada (Magd). Todos em posição, o professor começou a tocar a música e a cantarolar alguns versos que orientavam o que Hirsch deveria fazer na dança:

“Um, dois, três,

Passando pelo banco,

Pela esposa, pela empregada, passando pelo banco,

De volta pro lugar, dois, três!”

Seguindo essa sequência, ele aprenderia os passos.

Analisando as datas dos registros, é possível que a música da esquete tenha sido bastante conhecida no período e, durante suas pesquisas, Helms possa ter se lembrado dela ao encontrar alguns trechos de diferentes coreografias.

De qualquer forma, essa são apenas suposições. Mas uma certeza se tem: Itzig Hirsch aprendeu a dançar como queria!

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11.10.2023 - Rühler Springer

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11.10.2023 - “Rühler Springer” foi composta por Bach?

Os moradores da Turíngia são dançarinos entusiasmados. A dança faz parte de suas festividades. É de lá que vem a “Rühler Springer”. Sua descrição teve como base alguns registros históricos encontrados pelo pesquisador Arno Schlothauer. Seu nome nos mostra que ela é da cidade de Ruhla.

Em um registro de 1813, além da partitura, encontra-se uma breve descrição da dança. Contudo, entre os anos de 1867 e 1908, ela não foi mais executada na região. Então, para que pudesse ser reconstruída, foi preciso contar com a ajuda de algumas pessoas mais antigas que já haviam dançado ou menos assistido a dança.

Em sua publicação, Schlothauer fez uma ressalva: caso algum grupo quisesse causar uma boa impressão com a “Rühler Springer”, precisaria executá-la com, no mínimo, seis pares, os quais deveriam dançar de forma ligeira e vivaz. Além disso, é pré-requisito ter força nas pernas, além de coração e pulmão saudáveis, uma vez que, quando a “Springer” é dançada, se tem a impressão de que “a casa vai cair”. Além da versão registrada por Schlothauer existem também duas escritas por Aenne Goldschmidt e Thea Maass, a partir de registros do início do século XIX.

Apesar de não ser conhecido o nome de seu compositor, será que ela não poderia ser uma obra de alguém famoso, como por exemplo, Johann Sebastian Bach? Parece exagero, mas Bach tinha um tio em Ruhla, chamado Jacob Bach. Nesse período, Johann Sebastian teria o visitado diversas vezes, tendo tocado, inclusive, em muitas festas locais. Pesquisadores reconhecidos de Bach apontam algumas semelhanças entre algumas peças suas e a “Rühler Springer”, indicando que Johann Sebastian Bach poderia ser mesmo seu compositor ou, ao menos, algum outro integrante da família Bach.

Independente de quem seja o compositor, não esqueça: a “Rühler Springer” é uma dança que precisa ser muito bem preparada e executada com vivacidade! Portanto, faça um eletrocardiograma antes para ver se está tudo em ordem!

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10.10.2023 - Seddinpolka

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10.10.2023 - Onde surgiu a “Seddinpolka”?

Na década de 1920, Herbert Oetke e Heinrich Dieckelmann, com o objetivo de trazer novas danças que pudessem unir o tradicional e o novo tanto na coreografia quanto na música, criaram algumas danças. Após três anos de trabalho, surgiu a coletânea chamada “Schwingkehr” (ver Schwingkehr - 12.02.2023; Märkische Viertour - 24.02.2023; Der Kobold - 17.05.2023; Choriner Vierer - 13.06.2023). É nela que foi registrada a quadrilha “Seddinpolka” - a “polca Seddin”.

Dentro da antiga região do Mark Brandenburg, encontramos “Seddin” como referência a duas localidades: uma próxima a Potsdam e outra na região de Prignitz.

Ao sul de Potsdam, Seddin faz parte da comunidade Seddiner See. O nome do lugar provavelmente vem da palavra eslava “zid”, que representa o adjetivo “líquido”. Os primeiros assentamentos humanos próximos a Seddin datam de mais de 10.000 anos. O vilarejo atual provavelmente remonta a uma vila eslava do rio Elba localizada ao redor da praça da igreja de hoje.

Já a outra Seddin fica a cerca de 140 quilômetros de Berlim na região de Prignitz, no oeste do atual estado de Brandemburgo. Sua origem também é eslava e, apesar de o atual vilarejo ter surgido por volta do século XIV, há registros da presença de moradores desde a Idade do Bronze.

É exatamente desse período a principal referência histórica da região: o “Königsgrab”, um túmulo real. De grande importância arqueológica, no local, foram encontradas várias ferramentas e outros elementos que representam um pouco da vida na região durante aquele período. Calcula-se que os achados tenham aproximadamente três mil anos e indicam que esse seja o último local de descanso de um rei chamado Hinz.

Apesar de tantas referências históricas em ambas as “Seddin”, sabe-se que a dança “Seddinpolka” não é uma dança típica de nenhum desses lugares, mas sim uma representação das novas danças típicas do Mark Brandenburg, criadas durante o Movimento da Juventude Alemã.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz . Veja a música dela em https://youtu.be/jR2ypbgF_2g . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

09.10.2023 - Masianer

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09.10.2023 - De qual misteriosa cidade vem a “Masianer”?

É muito comum dentre as danças das comunidades de língua alemã terem nomes que fazem referência a um local. Geralmente essas terminam com o sufixo “er”, como a “Lauterbacher”, “Untersteirer Landler”, “Italianer”, “Münchner Polka”, entre outras, mesmo que ela não seja realmente do local indicado. E a “Masianer” se refere a uma localidade?

Segundo Erna Schützenberger e Hermann Derschmidt, a “Masianer” também pode ser encontrada como “Massiner”, “Massianer”, “Kempingerin”, “Wechseltanz” “Henderl, bi bi”. Essa última designação seria em função do texto cantado nos compassos 9 e 16: “Henderl, bi, bi, Henderl, ba, ba,

Wennst ma koa Oa nit legst, stich i di ab”. E é bom não confundí-la com “Marsianer”, já que, com certeza, ela não é “marciana”, vinda de Marte.

A coreografia é popular no sul da Alemanha e tem variações dependendo da região, como vista na Baixa Baviera, em Mühlviertel, em Hemau, em Ruhpolding, entre outras. Composta por um conjunto de passos ternários, os pares “valseiam” tanto para o sentido horário quanto anti horário. Não sendo muito rápida, alcançou diferentes públicos, superando barreiras etárias.

Mas com base no nome, de onde ela seria? Se o termo referenciar um lugar, viria provavelmente de uma localidade de nome “Masian”, ou “Massian”, ou “Massin”, ou “Kemping”,... O problema é que não há registros de comunidades com essas denominações, pelo menos não na área onde essa dança sobrevive. Quem sabe pudesse estar ligada a uma propriedade familiar? Ou será que na transmissão oral a palavra mudou tanto que hoje ela não é mais reconhecível? Não se sabe.

Mistério ou uma história esquecida? Quando as peças desse quebra-cabeças forem reunidas é provável que a “Masianer” ainda tenha muito a contar. A letra de sua canção também guarda narrativas que ultrapassam a simples tradução. De toda forma, haver perguntas sem respostas pode atiçar a curiosidade. O que seria de Marte se os humanos conhecessem os marcianos?

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08.10.2023 - Schottesch Näip

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08.10.2023 - Schottesch Näip” era tocada por um músico cego?

No dicionário de Luxemburguês, encontra-se “Näip” como um cumprimento curvado. A “Schottesch Näip” leva esse nome, por causa da reverência entre os pares.

Ela foi encontrada no livro “Die Bauernhochzeit in früheren Zeiten”, que descreve como eram os casamentos dos camponeses antigamente. Na obra, ela também foi registrada com o nome de “Pätterendanz”. Geralmente, após a refeição - e depois de uma cachacinha -, todos se reuniam para essa “gemittléchen Danz”. Era comum que algumas pessoas perdessem até o equilíbrio no momento do cumprimento. Por que será?

Nas danças com cumprimento, era muito comum encontrar alguns versos cantados. O seu luxemburguês está afiado? Esse é o verso cantado pelas moças:

“Léift Meedche looss de Steemetz gon,

e bréngt dech al a Nout.

Am Summer feelt de Mann am Haus,

am Wanter feelt der d’Brout.”

A tradução seria mais ou menos assim:

“Querida moça, deixe o pedreiro ir,

ele te trará dificuldades.

No verão, o homem falta em casa,

no inverno, falta pão.

No casamento dos camponeses mais ricos, era comum que um conjunto de músicos fosse contratado para a festa: violino, flauta, clarinete e contrabaixo. Conforme as posses da família, poderiam ser de quatro a dez musicistas.

Já nos casamentos mais simples, era comum apenas um músico: ou violino ou clarinete. Durante a celebração, ele era responsável pelos cantos litúrgicos e, à noite, pela diversão com danças. Um instrumentista muito conhecido na região era o “blannen Theis”, o “Theis cego”. Seu nome era, na verdade, Mathias Schou, e ele costumava ir de vilarejo em vilarejo com seu violino tocar nas diferentes festividades. Apesar de não enxergar, ele era responsável pela animação de muitas festas de casamento e também de quermesses. Todos sabiam que uma festividade com música do “blannen Theis” seria sucesso com certeza.

Apesar de não ter um registro específico, é provável que esse extraordinário músico tenha tocado muitas vezes danças como a “Schottesch Näip”.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz . Veja a dança em https://youtu.be/v7TNsmozMvQ . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

07.10.2023 - Brühtanz

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07.10.2023 - A “Brühtanz” é a dança do café de chicória?

A “Brühtanz” é uma antiga dança de sala de fiar - “Spinnstubetanz”. Foi coletada na localidade de Sparbrod, na região do Rhön, no Hessen, por Hans von der Au, com base nos apontamentos de Joh. Bartelmes. A música é uma variante da “Bohnenpott” / “Bohnenmarie”, conhecida em muitos dialetos, sendo que a segunda parte, com chote, foi apresentada pelo regente Hofmann do grupo musical de Gersfeld.

O nome “Brühtanz” pode ser traduzido como “Dança do Caldo”. Contudo, “Brühe” também pode ser uma infusão, como um chá. Segundo Hans von der Au, aqui o termo é depreciativo, referindo-se à bebida feita aos pobres com raíz de chicória, um substituto ao café. A palavra aparece na primeira frase da música: “Wenn hier ein Topf mit Bohnen steht und da ein Topf mit Brüh, dann laß ich Brüh und Bohnen stehn und tanz mit der Marie”. Já no alemão “Bohnen” não quer dizer somente feijões, tendo também outros grãos chamados assim; neste caso da canção, são de café.

Vendo as coreografias da “Bohnenpott” e da “Brühtanz”, a primeira segue tradicionalmente em pares o estilo “Kreuzpolka”, com uso do contrapasso - “Wechselschritt”. Já a segunda ocorre com dois círculos concêntricos, um das moças e outro dos rapazes, sendo indicado o uso do passo lateral - “Nachstellschritt”, que faz com que os dançarinos batam os calcanhar da esquerda nos da direita, gerando movimento e sonoridade diferenciados. De toda forma, mesmo distintas, como ambas são executadas com ritmos similares, os passos acabam por se parecerem.

Um dado curioso é que Wolfgang A. Mayer, em 1983, escreveu para sua filha uma nova letra para essa melodia tradicional. Nesta composição, na primeira frase, consta a referência à “Katherl” - diminutivo para Katharina. O novo texto se popularizou na região de Munique, ficando mais conhecido na Baviera do que o original, fazendo a “Brühtanz” também ser chamada de “Katherltanz”.

 

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz . Veja a“Bohnenpott” em                  https://youtu.be/cTB6jfe5G8o  e a dança em https://youtu.be/G3vROYi04ZM . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

06.10.2023 - Vleegerd

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06.10.2023 - “Vleegerd” é uma dança da colheita?

Nas províncias holandesas de Gelderland e Overijssel são encontradas muitas danças típicas. Uma delas é conhecida como “Vleegerd”. Tradicionalmente, ela ocorre em três variações no leste dos Países Baixos. A versão mais popular é provavelmente aquela registrada em 1950 por Anna Sanson-Catz e Anne de Koe em seu livro “Nederlandse volksdansen”. Acredita-se, inclusive, que parte dela tenha sido coreografada pela própria Anna.

Em 1953, a “Vleegerd” também foi registrada no vilarejo de Markelo, na província de Overijssel. Segundo os relatos, ela estaria ligada a antigas danças de roda, como a “Het patertje”, muito popular na região, especialmente nas festas de casamento e em volta da fogueira de Páscoa.

Tradicionalmente, o foco dessa dança está na alternância entre duas figuras: o encontro dos pares ao centro com a troca de lugar e o encontro dos pares ao centro com a troca das moças.

Para alguns, esses movimentos lembravam o trabalho com o “dorsvlegel” (em alemão, “Dreschflegel”), instrumento da lida agrícola usado na malha dos cereais para debulha-los. Em português, essa ferramenta é conhecida como “malho” ou “mangual”.

Durante a debulha, várias pessoas agrupam-se em torno dos grãos, que são espalhados geralmente no chão sobre uma superfície dura, a eira . Então, os trabalhadores acertam os grãos com o mangual. Isso deve ser feito no ritmo correto para evitar que os manguais se batam.

Da mesma forma, o movimento dos pares no centro do círculo deve acontecer no ritmo correto, para que não se choquem. Por isso, acredita-se que o nome da dança tenha surgido a partir dessas figuras realizadas. Assim, na hora de anunciar a dança, ficava mais fácil de todos lembrar! É aquela do “Vleegerd”, no dialeto local.

Apesar de o instrumento que nomeia a dança ser usado no trabalho dos camponeses, não há registros que “Vleegerd” seja uma dança da colheita ou que represente o trabalho no campo. Ela é presença certa em diferentes festividades.

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05.10.2023 - Alewander

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05.10.2023 - A “Alewander” é uma dança alemã, vindo da França para a Suíça?

Um nome que por muito tempo foi dado por estrangeiros às danças que eram ou pareciam ser alemãs era “Allemande”. A palavra vem do latim “alemamos”. Uma das versões mais aceitas para a origem do termo é que era a forma como os romanos designavam grande parte das tribos germânicas que estavam no entorno do seu império. Não por acaso vem dali “Alemanha” e “alemão”.

Na Suíça existe um conjunto de danças de nome “Alewander” ou “Aliwander” que provavelmente teriam sua base no mesmo termo “Allemande”. Elas se caracterizam por serem coletivas em círculo, com interações entre os pares, e apresentarem variantes da figura “Kette” - “Corrente”. Essas formações, em teoria, que as teriam identificado como tradições alemãs. 

Mas quem disse que esse contexto coreográfico era “alemão”, para chamar de “Allemande”? Uma das hipóteses para a chegada deste estilo ao país teria sido a influência de franceses no século XVIII, que teriam adentrado os Alpes. Lá os helvéticos teriam ajustado o nome, música e figuras, agregando novas características.

Herbert Oetke destaca que a versão da “Aliwander” suíça encontrada no Appenzell ainda hoje mantém características tradicionais, como da “corrente” com mãos. Richard Wolfram, sobre a mesma dança, evidencia que outras figuras  ainda se mantém vivas ali, como a parte que os rapazes levantas as moças como que em um balanço - como visto em coreografias bávaras - e o movimento delas como se entrassem e saíssem dos cômodos de uma casa.

Na atualidade a “Alewander” é uma clara manifestação da cultura helvética, destacando que suas danças são plurais assim como seus quatro idiomas oficiais. Suas diferentes variantes, sejam de melodias e coreografias antigas ou de novas composições, são exemplos do diálogo dinâmico dos suíços, conectando as tradições e a contemporaneidade, mantendo sua cultura ativa e viva.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz . Veja a “Appenzell Aliwander” em https://youtu.be/-cSY8GFVsz4  e uma popular “Alewander” em https://youtu.be/mtdyO0pyZck . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, nosso “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

04.10.2023 - Ponypferdchen

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04.10.2023 - Quem é o pequeno Johnny na dança “Ponypferdchen”?

Popular entre os grupos de danças alemãs, a música “Ponypferdchen” teve como base uma melodia de Portugal, adaptada pelo músico Heinz Lemmermann. Posteriormente, Lieselotte Holzmeister, esposa do fundador da editora alemã Fidula, escreveu o texto em alemão para a música. Estava pronta, assim, a canção também chamada por alguns de “Bitte, gib mir noch ein Zuckerstückchen”, que é o seu primeiro verso.

Para sua publicação, Hannes Hepp criou uma coreografia com variações para dois, três ou quatro dançarinos e a gravação da canção ficou por conta do coral “Der Kölner Kinderchor”. Assim, a canção e dança infantil “Ponypferdchen” foi lançada na década de 1970 na coletânea “Tanzlieder für Kinder”.

Posteriormente, o berlinense Volkhard Jähnert também criou uma coreografia para trios com execução da música por Martin Ströfer, publicada em “Neue Tänze aus Berlin”.

Vamos conhecer um pouco mais da canção escrita por Lieselotte Holzmeister?

Em seu texto, ela nos conta um pouco sobre o pequeno pônei chamado Johnny. A criança pede para que alguém lhe dê mais um torrão de açúcar para seu cavalinho, o qual agradece relinchando um “obrigado”. Depois, ela pede que seu pônei seja selado de manhã cedo, enquanto o orvalho estiver caindo. Quando todos os cavalos estiverem brincando: o preto, o alazão e o tordilho. Por fim, a criança pede mais um outro pedaço de açúcar para seu pônei Johnny, pois, depois, irão adiante. E o cavalo pônei vai relinchando, enquanto ela canta e cavalga.

No refrão, as crianças cantam em conjunto:

“Por todo o país, hoje, meu cavalinho trotará.

E então, como recompensa, um torrão de açúcar ganhará.”

Mas, o cavalo pode comer açúcar?

Torrões de açúcar natural, por exemplo, podem ser dados aos cavalos como recompensa depois de uma tarefa bem executada. Mas cuidado!  Recomenda-se de 3 a 4 torrões apenas. Contudo, procure um veterinário antes de sair dando torrões de açúcar para o seu pequeno Johnny!

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03.10.2023 - Krüz-König

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03.10.2023 - Seria a Krüz-König a dança do Rei de Paus?

Entre os grupos típicos, existe uma dança que praticamente todos querem aprender: a “Krüz-König”. Com coreografia de Ludwig Burkhardt e música de Heinrich Dieckelmann, ela surgiu em 1924, em Hamburg-Altona, e faz parte das “Jugendtänze”, danças relacionadas ao Movimento da Juventude Alemã do início do século XX.

Segundo Burkhardt, ela foi composta de forma intuitiva e espontânea. Pensada inicialmente para a diversão entre alguns dançarinos, ela foi ganhando cada vez mais adeptos. Porém, o auge de seu sucesso aconteceu apenas cerca de vinte anos depois, com o lançamento do disco norte-americano da coleção “Folk Dances For All”, de Michael Hermann, trazendo “The German Kreuz Koenig”. Na introdução, o produtor complementa: “Se os seus dançarinos estão empolgados e executaram com maestria as outras danças, então você poderá recompensá-los com a ‘Kreuz-Koenig’. Ela é a dança que todo mundo quer aprender primeiro”.

Conhecida por muitos como a “dança do vôo”, a descrição original não traz essa figura! Porém, o próprio autor acrescenta: “Nunca pretendi acrescentar a figura do vôo. Mas, após testar uma vez com meu próprio grupo, sugiro que, quando quiserem realizar essa liberdade artística, apenas o façam com dançarinos muito bem preparados.” Por fim, Burkhardt acredita que a “Krüz-König” um dia fará parte das “Volkstänze”.

Por ser tão popular, seu nome também apresenta variações. O original em Plattdeutsch é “Krüz-König”, mas, por causa da publicação americana, ela passou a ser conhecida como “Kreuz-König”, na variante oficial do idioma alemão.

Krüz-König nada mais é do que a carta do baralho conhecida em português como “Rei de Paus”, a qual, conforme o baralho francês, representa “Alexandre, o Grande”, rei da Macedônia e líder da expansão grega pelo Oriente.

Apesar de, até o momento, não conhecermos o motivo da escolha de seu nome, poderíamos especular que teria sido a escolha perfeita para nomear essa grande dança!

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02.10.2023 - Mistträppeler

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02.10.2023 - “Mistträppeler”, “Mëschttrëppler” e “Mistträppeler Mazurka” são a mesma dança?

Existem danças ligadas ao ambiente rural que têm praticamente o mesmo nome: “Pisador de Esterco”. Elas são diferentes umas das outras, por mais que tenham pontos em que elas dialoguem.

Quando essas danças foram criadas, a maioria das pessoas trabalhava no meio rural. Assim, grande parte das famílias tinham animais em suas propriedades, em estábulos. Portanto, limpá-los era um trabalho diário. O estrume era levado para fora e depositado em um monte - “Miststock” - e para otimizar o espaço era necessário compactá-lo e deixá-lo bonito, o que podia ser feito à base de pisoteios no lugar certo. Seria essa a origem do termo “Mistträppeler”. A mesma palavra teria sido usada de forma jocosa para chamar as pessoas que cuidavam e alimentavam o gado no curral.

Na Suíça, na região do Emmental, no cantão de Berna, há duas danças com esse tema, que não são a mesma: a “Mistträppeler” e a “Mistträppeler Mazurka”. Ambas são populares, além de serem mazurcas, por mais que a segunda seja a mais conhecida, tendo a coreografia dividida em três etapas - na última repetição agregam uma figura em formato de moinho.

Um dado curioso é que a “Mistträppeler” suíça tem uma “irmã” em Luxemburgo, a “Mëschttrëppler”. Ambas tecnicamente têm melodias similares, entretanto, com coreografias diferentes. Qual teria surgido primeiro? É difícil precisar. De toda forma, nos três casos apresentados as figuras são acompanhadas por passos firmes, representando o pisotear do estrume.

Um dado é importante: indiferente de qual das “Mistträppeler” você estiver dançando, cuidado para não pisar no pé do parceiro. Além de os passos serem mais intensos, causando algum desconforto em quem for pisado, é possível que o outro se sinta comparado a um “cocô”, o que não é nada agradável. 

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz  . Veja a “Mistträppeler Mazurka” suíça em https://youtu.be/jW_5dBu5Mio  e a luxemburguense “Mëschttrëppler” em https://youtu.be/S_K4TfxWlVo  . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, nosso “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br

01.10.2023 - Kontra med Mølle

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01.10.2023 - A “Kontra med Mølle” faz referência ao moinho de Vejle?

“Quando criança, lembro que tinha um moinho na minha cidade. Na época, eu não entendia muito bem para que ele servia, mas lembro que era um ponto de referência: depois do moinho, seguia o caminho para a casa de meus avós. Meus pais contavam que, quando jovens, precisavam levar o trigo até o moinho.”

Com certeza, você já ouviu ou viveu alguma história semelhante. Ela pode ter acontecido nas comunidades de imigrantes no Brasil ou até mesmo em localidades da Alemanha ou da Itália.

O moinho está presente na vida do camponês de diversos países. Da mesma forma, ele aparece como elemento em suas danças típicas. Será que é esse o caso da “Kontra med Mølle”?

Com origem no sul da Dinamarca, especificamente na região de Vejle (pronuncia-se “vaile” em dinamarquês), a dança leva o nome de “contradança com moinho”. Será que existe algum moinho na região que serviu de inspiração para ela?

Vejle é uma cidade dinamarquesa na costa do mar báltico com tradição comercial. Lá, está localizada a ponte mais antiga do país, construída para ligar o sul e o norte da Dinamarca. E não é que Vejle também é conhecida por um outro ponto turístico importante? Exatamente, um moinho de vento!

Por muitos, ele é considerado o símbolo principal da região. O moinho de vento está localizado em uma colina ao sul de Vejle e, assim, pode ser visto de grande parte da cidade. Dele, se tem uma vista impressionante de toda a região.

Apesar de o atual prédio ser de 1890, há registros de que o moinho funciona no local desde 1846. Ele contribuiu para a história da indústria da moagem na região e foi marcado por grandes acontecimentos, como a ocupação de Vejle em 1864 (durante a Guerra dos Ducados do Elba) e seus dois incêndios (1890 e 1938).

Contudo, nos faltam registros sobre a inspiração para a dança “Kontra med Mølle”. De qualquer forma, tanto a dança quanto o moinho de Vejle são dois importantes legados histórico-culturais dessa região dinamarquesa.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz . Veja a dança em https://youtu.be/iChHK-SMLzg . Acompanhe às quintas-feiras, 20h, nosso “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

30.09.2023 - Halber Mond

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30.09.2023 - “Halber Mond” é uma dança da literatura?

Annette von Droste-Hülshoff  é uma das mais importantes escritoras da Vestfália. Nascida próximo a Münster, ela publicou em 1845 a obra conhecida hoje como “Bilder aus Westfalen”. Nela, de forma poética, a autora leva o leitor a uma viagem espetacular e impressionante pela Vestfália.

Claro que Annette von Droste-Hülshoff também dedicou sua atenção aos moradores da região. Com o seu olhar preciso, ela criou um quadro de pessoas simples do campo e da cidade, com suas histórias, seus mitos e suas superstições. É um olhar benevolente sobre os diferentes indivíduos que viviam na Vestfália.

Em seu texto, em um breve trecho, ela menciona as antigas danças que faziam parte da comemoração de casamento. Entre elas, estava a “Der halbe Mond”:

“Depois do jantar, iniciam-se as danças tradicionais: ‘Der halbe Mond’, ‘Der Schustertanz’, ‘Hinten im Garten’, algumas com as mais graciosas voltas e reviravoltas. A orquestra é composta por um ou dois violinos e um contrabaixo. [...] Se o público gosta muito de música, provavelmente algumas tampas de panela e uma peneira de cereais acompanham a batida. Aqui e ali, um rapaz solta um ‘Juchhei’. [...] A cerveja e os destilados são bebidos com moderação. Mas o café é servido aos cântaros.”

Assim como em outras regiões, o casamento na Vestfália também é marcado por uma série de ritos e tradições que tornam a vida do camponês tão singular. Poucos foram os autores que tiveram a sensibilidade de Annette von Droste-Hülshoff para retratar de forma tão poética as tradições dos camponeses.

Apesar de não terem mais informações sobre a dança “Halber Mond” na obra citada, sabe-se que ela era muito popular em várias partes da Vestfália. Segundo o professor Otto Ilmbrecht, antigamente, era comum que ela começasse apenas com o primeiro par, e, a cada repetição da música,um novo casal era acrescentado, até que todos estivessem em movimento.

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29.09.2023 - Tel Aviv

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29.09.2023 - “Tel Aviv” é uma dança ou uma cidade?

A cidade de Tel Aviv é o centro econômico e social de Israel e, dependendo da avaliação do status de Jerusalém sob o direito internacional, é considerada a maior ou a segunda maior cidade do país.

Fundada por uma comunidade judaica em 1909, Tel Aviv era originalmente um subúrbio da antiga cidade portuária árabe de Jafa (Yafo), à qual se uniu em 1950, passando a se chamar oficialmente Tel Aviv-Yafo. Atualmente, é considerada uma das maiores metrópoles econômicas do Oriente Médio.

Com sua fundação no início do século XX, a cidade precisava de um nome. A sugestão posteriormente aceita foi “Tel Aviv”, tradução poética do título do romance utópico de Theodor Herzl para o hebraico. No original, a obra se chama “Altneuland” (a antiga-nova terra) e, na tradução para o hebraico, optou-se por usar o termo “Tel Aviv”, que significa “colina da primavera”.

O nome “Tel Aviv” como indicação de um local surgiu já nas Antigas Escrituras no livro de Ezequiel. “Tel Aviv” seria um outro lugar, na Babilônia, para onde o povo judeu havia sido reassentado.

Apesar de ter uma fundação recente, a região de Tel Aviv-Yafo já é conhecida há muitos anos. Nas Antigas Escrituras, a cidade de Jafa (então chamada de Jope) é mencionada no livro de Jonas. Deus deu a Jonas a tarefa de ir até Nínive e alertar seus moradores do iminente castigo divino. Contudo, Jonas decide não realizar a tarefa e, no Porto de Jope, embarcou em um navio com destino a Társis. Foi nessa viagem que ele acabou sendo engolido por uma baleia.

Também na mitologia grega há referência a Jafa. Segundo versões a partir do século 3 a.C., Andrômeda foi acorrentada em um rochedo em Jafa, de onde foi salva por Perseu. Ainda hoje, é possível avistar lá o rochedo de Andrômeda.

Apesar das poucas referências sobre sua origem, a dança “Tel Aviv”, criada a partir da música de A. Amiran, é uma referência a essa cidade de Israel e a sua história. Ela é um belo exemplo da cultura israelita.

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28.09.2023 - Jibidi

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28.09.2023 - “Jibidi” é a dança da filha do padeiro?

A dança conhecida como “Jibidi” é encontrada na região da Bretanha, no noroeste da França. Em todo o país e em outras regiões, existem variações locais dela. Aqui, vimos já a variação luxemburguesa (Chiberli, 28.01.2023). Além disso, em alguns lugares, ela pode ser encontrada como “Jibidi-Jibida”, “Jibeli”, “Sémeri” ou até mesmo “Jibidi-Jabadao”.

Até o final do século XIX, ela era amplamente encontrada em comunidades do interior. Contudo, hoje em dia, ela está presente basicamente em canções infantis, aparecendo também em algumas publicações sobre danças típicas para crianças. Uma canção com melodia semelhante é a “La fille de la meunière”, a filha do moleiro.

O que a dança tem em comum, independente das variações regionais, é sua composição em dois momentos. Na primeira parte, os dançarinos se deslocam, geralmente em marcha. Já na segunda parte, aparecem os saltos.

Na Alemanha, a “Jibidi” foi publicada como francesa em uma coletânea de danças infantis de diferentes países. Para essa versão, foi escrita uma canção em alemão. Nela, não temos a filha do moleiro, mas sim a do padeiro!

Segundo a canção, a filha do padeiro quer casar com aquele que estiver disponível. Sua mãe diz: “coitadinha”. Seu pai diz: “vai rápido!” E no refrão: “Jibidi, jibida”, a filha do padeiro. Jibidi, jibida, muito rápido quer casar.

Curiosidade: Como a dança é de origem francesa, o “J” de “Jibidi” tem o mesmo som da letra na língua portuguesa.

Será que a filha do padeiro vai achar um bom partido?

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo da dança “Jibidi” em https://youtu.be/3Wytry_PzPs . E acompanhe às quintas-feiras, 20h, nosso “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

27.09.2023 - Virginia Reel

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27.09.2023 - A “Virginia Reel” é uma dança de cinema?
Nos tempos anteriores ao rádio, à televisão e à internet, a forma como as pessoas se divertiam era muitas vezes realizando um baile comunitário. Esse encontro reunia diferentes pessoas e geralmente era um grande evento social.
No século XIX, especialmente no sudeste dos Estados Unidos, era muito comum encontrar longas fileiras de pessoas para dançar a “Virginia Reel”, uma das danças mais populares. De região para região, podem ser verificadas pequenas diferenças em sua coreografia.
Para sua execução, eram escolhidas músicas animadas dos velhos tempos, como a “Durang's Hornpipe” ou a “Old Zip Coon” (também conhecida como “Turkey in the Straw”). Acredita-se que ela tenha sido chamada de “Virginia Reel”, pois estudantes da Universidade da Virgínia costumavam dançar esse “Reel” em grandes bailes locais.
Mas onde ela surgiu antes de chegar nos Estados Unidos?
A “Virginia Reel” tem suas origens atribuídas à dança escocesa e foi popularizada na Inglaterra no século XVII. Lá, ela foi publicada pela primeira vez em 1695 na coleção “The English Dancing Master” do mestre de dança John Playford sob o nome de “Roger of Coverly”. Existe uma história que conta que ela teria sido nomeada assim em homenagem a Sir Roger of Coverly, cujo bisavô a teria coreografado em 1766. Mas, se fizermos o cálculo das datas, podemos ver que a informação não procede.
Da Inglaterra, ela foi levada primeiro para os Estados Unidos, onde, como vimos, passou a ser chamada de “Virginia Reel” e, mais tarde, para várias regiões da Europa, onde, por volta do ano de 1900, com o nome de “Sir Roger”, acabou se tornando verdadeira moda.
Às vezes, o que é moda por um tempo acaba caindo no esquecimento logo depois. Contudo, a “Virginia Reel” foi eternizada também no cinema. Ela era tão popular que um pequeno trecho seu ganhou destaque no filme americano “E o Vento Levou” (1939), tendo como dançarinos os protagonistas Scarlett O'Hara e Rhett Butler.
Quer saber mais?
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26.09.2023 - Muffline

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26.09.2023 - A “Muffline” quer dizer “Tia Helena”?
Já dizia um conhecido ditado “não confundir alhos com bugalhos”, já que são coisas totalmente diferentes. Quem sabe se pudesse dizer em alemão, com sentido similar, “verwechsle bitte nicht Muffline und Muslime”?
O nome da dança “Muffline”, também chamada de “Mufline” ou “Muhmlene”, é um diminutivo carinhoso para “Muhme Madalena” - “Tia Madalena/Helene”. Já “Muslime” quer dizer “muçulmano”. Se errar na pronúncia os sentidos se alteram totalmente.
A dança “Muffline” não tem nenhuma conotação religiosa, pelo contrário, está ligada ao namoro, com um jogo engraçado de sinais. Suas três etapas poderiam ser descritas como: 1. encontro, 2. pergunta, 3. comemoração. A segunda é interessante: o rapaz gira seu par para a esquerda, ele olha para ela e diz “E jo!” - seria como um “sim” - e ela retorna, mira o par e responde, acenando com a mão esquerda, “Na, na!” - como um “Não”. Ao repetir a figura, a dama, ao final, apontando-lhe o dedo, responde “Na, jo” - que poderia ser “talvez” ou “ok”.
E onde aparece a Helena nessa história? Será que a pergunta era para ela e, ao final, disse um “talvez” e “ficou para titia”? Ou será que a “tia Madalena” ajudou o casal de alguma forma? Muitas vezes essas danças eram contextualizadas em rimas populares ou canções típicas, que, com o tempo, acabavam perdidas ou dissociadas umas das outras.
O que é possível afirmar é que a “Mufflina” foi publicada em uma coletânea de danças do Schönhengstgau, por mais que o próprio material esclareça que ela não era de lá, contudo sendo ali popular. Outras referências de local da dança seriam Teßtal e a Morávia do Norte. Ela está presente na “Sudetendeutsche Tanzfolge”.
Existe uma outra forma como ela era chamada: “Spitze, Ferse, Fuß”. Esse faz referência direta à primeira parte da coreografia, quando os pares expõem “a ponta, o calcanhar e o pé”. Neste caso, se verifica que nem sempre os dançarinos eram muito criativos nas escolhas dos nomes… mas melhor ser simples e falar certo do que confundirem com outra coisa.
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25.09.2023 - Walzer für Mona

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25.09.2023 - A “Walzer für Mona” é uma dança típica do ABBA?

A banda sueca ABBA é conhecida internacionalmente. Formada em 1972, ela liderou as paradas musicais de vários países nas décadas de 70 e 80. Com grandes sucessos como “Dancing Queen”, “Mamma Mia” e “Fernando”, ABBA é conhecida pelos públicos de diferentes idades.

Mas será que a banda também teve algum sucesso nas danças típicas da Suécia?

Isso é pouco provável, mas entre as novas danças típicas suecas surgiu uma que está ligada ao grupo: “Walzer für Mona”, ou, no original, “Födelsedagsvals till Mona”.

Sabe-se que o nome ABBA vem das letras iniciais dos nomes dos seus componentes, mas, nenhum deles se chama “Mona”. Então, como essa música está ligada à banda?

Os compositores dessa melodia são nada mais nada menos que Benny Andersson e Björn Ulvaeus. Ambos representam as duas letras “bê” no nome do grupo musical. Ela foi um presente para a segunda esposa de Benny, chamada Mona Nörklit, por ocasião de seu aniversário de 40 anos em 1983.

Claro que, na ocasião, ela não passava de uma bela valsa com melodia “folk”, uma das paixões de Andersson. Porém, os compositores não tinham nenhuma pretensão de que ela se tornasse uma dança típica. Pelo contrário, era apenas uma homenagem à Mona. Em 1987, a música foi lançada no primeiro álbum solo de Andersson, o “Klinga mina klockor”, reunindo diferentes “folks” suecos. Em pouco tempo, o disco tornou-se um grande sucesso nos países escandinavos.

Algum tempo depois, Ann-Louise Jönsson criou uma coreografia para essa música. Rapidamente, ela se tornou um sucesso entre os grupos típicos suecos, especialmente pela bela melodia e também pela interação constante entre os dançarinos.

Apesar de não ser uma dança típica da famosa banda sueca, podemos dizer, contudo, que eles também foram responsáveis por essa criação única, afinal, sem essa bela música, talvez não teríamos essa bela dança.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja a dança em https://youtu.be/4fUCBLIp2-Y e Benny Andersson tocando em https://youtu.be/h96dPxmmJ8I . E acompanhe às quintas-feiras, 20h, nosso “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br.

24.09.2023 - "Sterntanz” bávara?

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24.09.2023 - Qual a coreografia correta da “Sterntanz” bávara?

Considerada uma das mais bonitas danças bávaras, a “Sterntanz” é da família das “Laubentänze”: coreografias onde um par guia os demais, todos conduzindo arcos enfeitados com ramos e fitas, a realizarem figuras, ao estilo “Polonaise”. O que a diferencia de sua prima “Reifentanz” e sua irmã “Kronentanz” é o uso de arcos com pontas.

Segundo o “Bayerischer Tranchtenverband”, após Sepp Pfleger, de Peißenberg, ter apresentado pela primeira vez a “Kronentanz” - Dança da Coroa - em 1927, com seus arcos arredondados, Hartl Mayer, de Weilheim, teria tido a ideia da “Sterntanz”. Supostamente em uma noite estrelada, ele vislumbrou a possibilidade de usar arcos com pontas para compor sua nova dança.

Ela foi apresentada em agosto de 1930, em Rosenheim, no grande “Trachtenaufmarsch”, sendo considerada perfeita para o evento. Mostraram 15 figuras, entre elas as realizadas em círculos, fileiras e em formações cruzadas, com os arcos na horizontal e vertical. Não demorou para que outras associações de trajados - “Trachtenvereine” - adotassem a dança.

Em 1952, Sepp Pfleger publicou uma versão “melhorada” da “Sterntanz”. Com seis pares, ele agregou figuras, como as pirâmides, formações em trios, a cúpula dos rapazes e novas estrelas expostas na vertical. Frente às novidades de Pfleger, os grupos que já a praticavam simplesmente passaram a misturá-la com o que fora apresentado por Mayer. Mais do que uma dança, surgiu um estilo.

O que se observa na atualidade é que a “Sterntanz” se tornou uma dança “viva”, já que seus intérpretes acabam apresentando-a de diferentes maneiras, com quantidade distinta de pares, mesmo que tenham como base os trabalhos de Mayer e Pfleger. Geralmente fazem uso de marchas tradicionais bávaras para conduzir os dançarinos, não tendo um tempo limite para sua execução. Mantêm um diálogo constante entre o passado e o presente, fazendo com que cada execução seja única.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz  e veja a dança em https://youtu.be/0aQrpemKhu4  . E acompanhe às quintas-feiras, 20h, nosso “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br  .

23.09.2023 - Stockholms Schottis

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23.09.2023 - Será que a “Stockholms Schottis” é realmente de Estocolmo?

Já vimos aqui que muitas danças que levam o nome de um lugar, geralmente, não têm origem naquela região. Será esse o caso da “Stockholms Schottis”?

O nome Estocolmo tem origem na junção das palavras suecas “stock”, que significa tronco e também pode significar fortificação, e “holm”, que significa pequena ilha, uma referência à pequena ilha de Stadsholmen, que deu origem à cidade. Essa “ilha fortificada” se tornou a maior cidade de toda a Escandinávia.

Ao que tudo indica, esse xote realmente vem da Suécia, cuja capital é Estocolmo. Porém, nenhum registro indica que sua origem seja exclusivamente na capital. De qualquer forma, é uma homenagem a essa importante cidade.

O que poucos sabem é que a dança é acompanhada por uma canção. Nela, uma pessoa pergunta:

“Você quer vir até mim?

Deitar aqui ao meu lado?”

E ela continua:

“Eu não vou fazer nada

Olhar, mas não tocar”

“Então, quando você adormecer

Profundamente e completamente adormecida”

“Então, minha pequena Greta

Você não vai saber o que está acontecendo”

Claro que a canção permite uma série de interpretações. Ao pensarmos na função de uma canção em uma dança popular, muitas vezes ela servia apenas para auxiliar na contagem dos compassos e a gravar a melodia da dança para que, caso os músicos não estivessem disponíveis, ela pudesse ser executada mesmo assim.

Já outras canções trazem situações que procuram ensinar algo, semelhante à função dos contos de fadas. Outras ainda já trazem uma conotação de diversão, de ofensa ou até de cunho sexual. Com o tempo, muitas dessas canções deixaram de ser registradas, pois, quem a estava anotando, considerava a letra inadequada ou inclusive depravada.

A canção acima pode ser interpretada como um ensinamento para os jovens não caírem na lábia de certas pessoas que, apesar de dizer que não vão fazer nada, estão cheios de más intenções.

Porém, isso tudo é suposição. Assim como a exata origem da “Stockholms Schottis”.

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22.09.2023 - Honakischer

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22.09.2023 - Você gosta de dançar a “Honakischer”?

“Honakischer”: amada ou odiada? Por vezes ganha posição de destaque no cronograma de danças dos bailes típicos bávaros e austríacos… em outras nem é cogitada… Mas por qual motivo há essa dualidade?

Primeiramente, a “Honakischer” é também chamada de “Honakisch” ou “Wadl-Schinter”. Com base em registros, foi recolhida em 1941 pelo Prof. Otto Eberhard, em Henndorf am Wallersee, na região austríaca de Salzburg.

O motivo real do nome é uma incógnita, contudo existem algumas teorias. De acordo com o “Salzburger Volksliedwerk”, no século XVIII apareceu em Mark uma dança chamada “Hannakischer” e esta se tornou moda nos círculos sociais urbanos. Era uma espécie de mazurca lenta, onde os casais, em “Kreuzfassung”, apoiavam-se nos calcanhares.” Será que teriam ligação?

Mas não é pelo nome que ela ganhou afetos e desafetos: é pela coreografia. A “Honakischer” não só exige condicionamento físico, como também, para muitos, parece estranha. Daí alguns dançarinos se perguntam: vale a pena se cansar por ela?

Dividida em três partes, a última é a mais diferenciada: com a mão direita tanto o rapaz quanto a dama seguram a perna esquerda do seu par, por trás do joelho dobrado, e aos pulos com a outra perna, dão voltas no diâmetro do círculo do casal. E há uma observação interessante na partitura: nessa etapa deve-se acelerar a música. Claramente não se trata de uma figura “polida”.

Como destaca Erna Schützenberger e Hermann Derschmidt, “talvez essa forma de dança grosseira e selvagem tenha sido ainda mais exagerada”. Vê-se que a “Honakischer” soma adjetivos não muito positivos… por mais que, por uma parcela dos espectadores, ela seja considerada engraçada.

Da mesma forma que ela, para uns, é grosseira, para outros é diferente e um tanto cômica. Para estes ela consegue inovar e alegrar. E sempre há um baile que insiste em agregá-la ao “menu”, para o deleite de seus fãs. O que seria do vermelho se todos gostassem do azul? Gosto não se discute.

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21.09.2023 - Ostländisches Viergespann

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21.09.2023 - A “Ostländisches Viergespann” é uma dança militar?

Segundo os registros encontrados, a dança “Ostländisches Viergespann” surgiu entre os anos de 1932 e 1933 na cidade de Königsberg, Prússia Oriental. Apesar de a música já ser bastante conhecida entre os militares das guarnições do leste do Império Alemão, não haviam registros oficiais sobre seu compositor. Acredita-se que a melodia seja do dirigente musical da 3ª Infantaria dos Granadeiros no período em que esteve em Gumbinnen na década de 1880.

Na partitura da música, indicava-se que ela era conhecida como “Kulligkehmer Nationaltanz”. “Kulligkehmen” era um vilarejo próximo a Gumbinnen. Acredita-se que o nome tenha sido dado já que o lugar ficava próximo do campo de exercícios dos soldados, ou seja, um lugar bastante conhecido por todos. Por ser bastante popular, ela chegou a ser usada em 1932 como a abertura de um programa de rádio de Königsberg.

Apesar de sua música ter tido certa origem militar, a dança “Ostländisches Viergespann” não tem relação alguma com as unidades de infantaria. Além disso, como sua coreografia foi criada entre 1932 e 1933, não é possível classificá-la como dos camponeses da Prússia Oriental.

Contudo, ela faz parte de um grupo de danças típicas conhecidas como “novas danças alemãs”. Ela foi escrita pelo professor Hermann Huffziger, uma grande referência no trabalho com jovens da região próxima a Gumbinnen. Ele foi o responsável por retomar antigas danças típicas e criar novas na região.

Seu nome “Viergespann” vem da formação da dança com quatro pares. Já a referência “Ostländisches” aponta para a localização da própria Prússia Oriental no território leste do Império Alemão. Assim, em tradução livre, pode-se dizer que essa é a quadrilha das terras do leste.

Após a Segunda Guerra Mundial, toda a região da Prússia Oriental passou para o domínio soviético. Hoje, Königsberg é a cidade russa conhecida como “Kaliningrado”.

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20.09.2023 - Chote Carreirinho

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20.09.2023 - O “Chote Carreirinho” é primo do “Siebenschritt”?

O “Chote Carreirinho”, também dito “Carreirinha”, foi coletado na cidade de Parobé-RS, em 1956, no Vale do Paranhana - Brasil, uma área com forte imigração alemã. Na região a dança também era chamada de “Ritsch-Polka”, uma variante em dialeto para o “Rutschpolka”, a “Polca Escorregada”. É claramente uma versão da “Siebenschritt”, não só pela estrutura coreográfica, como também pela melodia e letra.

Sobre a música, era popular nas comunidades teuto-brasileiras ser cantada em alemão. Contudo, provavelmente com a proibição de idiomas estrangeiros nos anos 1940, também surgiram versões em língua portuguesa, como neste exemplo: “este chotes carreirinho / é um chote muito amoroso /pois foi dançando ele / que morreu José Fragoso”. Pode-se notar que não se trata do texto usualmente cantado hoje nos CTGs: "os pares vão marcando e logo desvirando / e a prenda do meu lado faz voltinhas pela mão / o chotes carreirinho é um chotes bonitinho / e todos vão cantando a marcação".

A letra popularizada pelos tradicionalistas gaúchos provavelmente foi adaptada por Paixão Côrtes, “que também criou música regional para aplicar a essa dança”. Mesmo havendo a contagem de 1 até 7, vista em muitos idiomas, seria improvável no Vale do Paranhana da primeira metade do século XX serem recorrentes termos “gaudérios”, como “Prenda” e “Chinoca”, mencionados na música atual. A canção foi “agauchada” dentro do contexto da época, o que seria muito compreensível. 

Na atualidade o “Chote Carreirinho” faz oficialmente parte do cânone das danças tradicionais gaúchas. Está em publicações e se faz presente em grandes eventos culturais, como na Semana Farroupilha, além do destacado ENART - Encontro de Artes e Tradição Gaúcha. É exemplo de como as identidades regionais, repletas de manifestações, estão amplamente interligadas, mesmo quando não se fazem perceptíveis as suas pontes.

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19.09.2023 - Untersteirer Ländler

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19.09.2023 - A “Untersteirer Ländler” soma “Gstanzln” e “Paschen”?

A “Untersteirer Ländler”, segundo registros, foi recolhida nos anos de 1940 junto às localidades de Mureck, Bad Radkersburg e Klösch, na divisa com a Eslovênia. O nome da dança faz referência à Baixa Estíria - Untersteiermark -, região que fica em grande parte dentro de território esloveno, enquanto que a área da Estíria Central e do Norte estão dentro do austríaco.

A "Untersteirer Ländler" é um bom exemplo de dança que soma coreografia típica, “Gstanzln” e “Paschen”. Mesmo estando dentro de uma mesma melodia, cada etapa tem seu momento específico.

Iniciando pela coreografia, essa Ländler tem como característica movimentos rápidos, com três passos corridos por compasso. Seus movimentos ligeiros e controlados, com flexões leves dos joelhos, dão-lhe dinamismo e fluidez. Uma de suas principais características é que os casais, através de seus giros, pareçam ficar com os braços enozados.

Já os “Gstanzln” ocorrem na segunda parte desta dança. São rimas de quatro ou oito versos - como as “quadrinhas” -, cantadas em dialeto pelos rapazes. Geralmente têm temáticas como a vida no campo e relacionamentos, mantendo tom irônico e zombeteiro - “Spottlieder”, como se vê neste exemplo - em tradução livre:

“Mei Dirndl hoaßt Anerl, (minha mulher se chama Anna)

Hot schneeweiße Zahnerl, (tem dentes brancos como a neve)

Und schneeweiße Knia, - (e joelhos brancos como a neve)

Oba gsegn hab is nia.” - (mas ver eu nunca vi)

Já os "Paschen" são palmas ritmadas feitas pelos homens, bastante típicas em danças alpinas. Podem ocorrer também no contra-tempo da melodia. Elas interagem com a música como uma grande brincadeira, sendo que os participantes não necessariamente atuam em sincronia.

Assim, trata-se de uma composição alegre, que não só se manifesta através da melodia e coreografia, mas também pela canção, idioma, percussão corporal e forte identidade regional. Um belo exemplo de como a cultura popular pode ser plural e multifacetada.

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18.09.2023 - Stettiner Kreuzpolka

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18.09.2023 - A “Stettiner Kreuzpolka” já foi dançada no rádio?

Na década de 1930, uma publicação contava sobre uma dança pomerana que se tornou famosa em uma época em que não havia discos e nem rádio. Ela teve origem em um vilarejo da região de Pyritz e ganhou o mundo.

Apesar de a coreografia ser mais antiga, a música foi composta por Siegmund Schlichting. Morador de Beyersdorf, foi lá que, no ano de 1879, ele compôs a “Beyersdorfer Kreuzpolka”. Executada pela primeira vez em uma festa do vilarejo, logo se espalhou pelas demais localidades da região. Em 1883, ela foi publicada por uma editora de Stettin com outro nome: “Stettiner Kreuzpolka”. A partir de então, a melodia se tornou muito popular em toda a Europa.

Mas, tendo feito sucesso em um período em que a radiodifusão nem existia, será que a “Stettiner Kreuzpolka” já foi dançada no rádio? Tocada, talvez sim. Mas dançada?

Em 1926, a rádio de Stettin trouxe um programa com quadrilhas da Pomerânia. Para o momento, a música foi tocada ao vivo pela orquestra da emissora e as coreografias ficaram sob responsabilidade do “Stettiner Tanzschar”. Como a dança é algo para os olhos, antes da execução, cada dança foi explicada aos ouvintes pelo professor Willi Schultz.

Será que o programa agradou os ouvintes?

O retorno foi muito positivo! Alguns relataram como foi bom poder ouvir verdadeiras melodias de camponeses e não apenas músicas da moda, ainda mais podendo escutar e acompanhar os passos, saltos e batidas dos dançarinos, como em um salão de baile. Outros, especialmente os mais antigos, conseguiam até imaginar a dança acontecendo.

Com isso, um segundo programa foi realizado em 1927, no mesmo estilo, mas com outras danças pomeranas, não apenas quadrilhas. Será que a “Stettiner Kreuzpolka” estava junto? Imagina-se que sim! Porém, como não foi encontrado mais nenhum registro da rádio sobre suas atividades, não é possível precisar.

Você conhece algum programa de rádio que toca danças típicas? Conte aí para nós!

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17.09.2023 - Schlupper

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17.09.2023 - A “Schlupper” é uma Ländler do Hessen?

No sul do Hessen fica uma região repleta de história: o Odenwald. A área também se estende para dentro de Baden-Württemberg e da Baviera, já que sua demarcação é anterior ao próprio mapa atual da Alemanha. Foi lá que o pesquisador Hans von der Au (1892-1955) registrou a “Schlupper”.

Diferente dos tradicionais movimentos rodados, devidamente posicionados de modo enlaçado ou em círculo, que mantêm estruturas clássicas das Volkstänze, a “Schlupper” seguiria, em sua origem, uma tendência mais livre e menos presa aos compassos. Teria se comportado quase como uma brincadeira.

Sobre ela, Herbert Oetke coloca: “uma dança típica e difundida no Hessen é o “Schlupper”, em que os dançarinos giram com os braços arqueados - “schluppen”, como se costuma dizer por lá. A execução desta figura é recorrente em muitas danças dessa região, como na “Schnicker” e na “Lauterbacher”. O “Schlupper” combina as antigas formas de Ländler e de valsa, como são geralmente conhecidas.”

E o que quer dizer “schluppen”? Pode ser “escorregada” ou também tem a chance de representar um movimento de laço. Observando a dança, lembra um “looping”, um giro. A descrição do passo, na publicação “Deutsche Volkstänze” de 1952,  diz: “o rapaz e a moça se dão as duas mãos ou engancham-se com os dedos do meio. Se mantendo no lugar, fazem uma volta sob os braços levantados com dois contra-passos - ele girando para a esquerda e ela para a direita.” Também é possível ver movimento similar na tradicional “Schwälmer”, igualmente do Hessen, de conhecimento de Hans von der Au.

Assim, a “Schlupper” não seria somente uma dança do Odenwald: ela sintetizaria parte de um modo das comunidades do Hessen de se expressarem através do movimento. Se ela é encarada como uma Ländler ou uma valsa, é um elemento secundário. Como teria dito um viajante ao conhecer esse repertório regional “deve ser uma felicidade dançar essas danças”.

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16.09.2023 - Münchner Polka

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16.09.2023 - A “Münchner Polka” é a dança da Oktoberfest?

De modo objetivo, a resposta é NÃO! Mesmo que Munique seja a cidade onde iniciou a “Oktoberfest”, em 1810, inexiste relação entre a festa e a “Münchner Polka”. Por sinal, essa dança nem nasceu na capital bávara, o que a distancia ainda mais de uma relação histórica com a popularmente chamada “Wiesn”.

Mas de onde veio, então, a “Münchner Polka”? Christoph e Michael Well afirmam que Erna Schützenberger a registrou em 1930 em Nottau, na Floresta da Baviera, a cerca de 200 km de Munique. De toda forma, ela pode ter nascido em outro lugar. Também há apontamentos que a ligam à Floresta da Boêmia.

Qual o motivo, então, de chamarem-na de “Polca de Munique”? Segundo os irmãos Well, o termo viria de “Langsame Polka”, a “Polca Lenta”. Já de acordo com Walter Bucksch, haveria uma localidade conhecida como “München” em Markt Hutthurm, a aproximadamente 15 km de Passau, sendo o nome da dança ligado à esta comunidade e não à capital bávara.

O que se pode afirmar com certeza é que a melodia e a coreografia acabaram por se espalhar para outras partes da Baviera - inclusive para a capital Munique, como pode ser visto no famoso “Kochelball” ou no “Kirchweihtanz”. Também cruzou as fronteiras do Estado, chegando à Baden-Württemberg e à Áustria. Ganhou, nesse movimento, variantes, sendo apresentada de modos diferentes em diversas publicações.

De toda forma, por mais que na Oktoberfest de Munique se toque música ao vivo nos vários pavilhões da festa, atingindo mais de 120.000 pessoas sentadas, há pouquíssima incidência de espaço para dançar - praticamente restrito a dois locais com tablados pequenos na “Oide Wiesn”. O tradicional local da “Festa de Outubro” para os amantes da dança é em cima dos bancos - de 177 cm x 23,5 cm - dos pavilhões das cervejarias, onde podem dar uns pulinhos. Ali, infelizmente, não há espaço suficiente para as “Volkstänze”, nem mesmo para a “Münchner Polka”.

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15.09.2023 - Seyras

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15.09.2023 - A “Seyras” tem origem em uma canção revolucionária?

Entre as danças de Hamburgo e região, é comum encontrar o termo “Sayra” ou “Seiras”, como sinônimo de “quadrilha”, como por exemplo, nas danças “Seyras” e “Kontra Sayra”.

Mas de onde vem esse termo, já que ele não parece ser em alemão ou “Plattdeutsch”? Segundo um artigo da “Bundesverband für Deutsche Tänze”, é provável que a expressão tenha origem na canção revolucionária francesa “Ça ira”, cuja base melódica remonta à quadrilha francesa “Le Carillon National”, trazida para o norte da Alemanha pelas tropas napoleônicas.

A evidência dessa origem da palavra está num artigo de um jornal de Hamburgo/Altona por volta de 1830, listando as danças populares da época, incluindo a “Ça ira des Küstenfischers”, também chamada de “Seiras Cuntra”.

Com o tempo, o significado original do termo “Sayra” foi perdido e muitas quadrilhas foram renomeadas usando o termo “Quadrille” ou até mesmo “Bunte Tänze”.

No entanto, no início do século XX, ainda era possível encontrar algumas poucas quadrilhas chamadas de “Sayra”. Uma delas é a “Seyras”. Ela foi encontrada na região de Wendland, no estado de Niedersachsen. O que chama atenção é sua figura inicial encontrada também nas danças americanas “square dance”, conhecida como “grand square”, o grande quadrado - já que os dançarinos se movimentam sobre a linha de um quadrilátero.

Aí que surge a dúvida, como essa figura atravessou o oceano? Acredita-se que ela tenha sido dançada inicialmente na Alemanha e, posteriormente, levada por imigrantes alemães para os Estados Unidos, onde a figura foi incorporada nas danças locais.

Apesar de não ter nenhuma relação melódica com as quadrilhas francesas ou americanas, “Seyras” representa a aproximação entre culturas a partir de seu nome e de sua principal figura.

Curiosidade: apesar de, na dança alemã, ela ter virado sinônimo de “quadrilha”, a expressão “Ça ira” significa “vai ficar tudo bem”, e assim iniciava o texto da canção revolucionária francesa.

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14.09.2023 - Heilsberger Dreieck

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14.09.2023 - “Heilsberger Dreieck” é uma dança da Prússia Oriental ou de Berlim?

Esta dança traz em seu nome alguns aspectos históricos bastante interessantes. Ela foi criada pelo compositor alemão Heinz Lau, nascido em Stettin, e que viveu a última década de sua vida em Berlim. Talvez ela tenha ficado um pouco ofuscada por outra produção do compositor: “Das Fenster” (17.02.2023).

O nome “Heilsberger Dreieck” é muito mais conhecido na história da Alemanha do que na dança. Ele nada mais era do que uma posição fortificada para proteger a Prússia Oriental, construída entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.

Após o Tratado de Versalhes (1919), a Prússia Oriental foi isolada do Império Alemão, não tendo mais ligação territorial. Por isso, algo precisava ser feito para proteger a área ao redor de Königsberg (hoje: Kaliningrado, Rússia). Contudo, as disposições do Tratado de Versalhes previam uma distância mínima de 50 km da fronteira para a construção de fortificações e instalações militares. Com isso, na Prússia Oriental, elas somente podiam ser construídas em uma área triangular próxima à cidade de Heilsberg. Foi exatamente ali que foi edificado este complexo militar chamado “Heilsberger Dreieck”: o triângulo de Heilsberg.

Agora está tudo explicado: a dança tem relação com essa fortificação militar construída antes da Segunda Guerra Mundial! É isso? Claro que não!

 

Vamos adiante. Apesar desse interessante aspecto histórico, a origem da dança é mais simples. Ao pesquisarmos um pouco mais, o nome “Heilsberger Dreieck” aparece também em Berlim para indicar uma área triangular junto à rua Heilsberger Allee, próximo ao Estádio Olímpico de Berlim (Olympiastadion Berlin). Era nessa região que residia o Heinz Lau (lembra dele?) Isso mesmo, o compositor da “Heilsberger Dreieck” - e da “Das Fenster” - residia ali e nomeou sua composição a partir do seu endereço.

Simples não? Agora sim o mistério está resolvido! Essa nova dança alemã tem sua origem em Berlim.

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13.09.2023 - Quatro Passi

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13.09.2023 - O Chote de “Quatro Passi” se canta em italiano no Brasil?

Sim! Segundo publicação do extinto Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore - IGTF, o “Chote de “Quatro Passi” é uma variante do Chote Gaúcho, com letra em italiano, também conhecido como “Chote a lá Italiana”.

Segundo o mesmo material, “ele teria sido recolhido em janeiro de 1966 por Antônio Augusto Fagundes entre professores rurais, que se encontravam no município de Osório por ocasião de um curso de formação para professores e que procediam dos municípios de Anta Gorda, Arvorezinha e Erexim”, todos no Rio Grande do Sul”.

Em Arvorezinha era conhecido como “Chote Figurado”, “Quatro Passos” ou mesmo “Tiritomba”. Há relatos de que dança similar teria sido vista no município de Pinto Bandeira, também uma comunidade formada por imigrantes italianos.

E se visto e ouvido, pode-se perceber que o Chote de “Quatro Passi” é parente direto de outras danças de sete passos encontradas na Itália, como o “Settepassi”, “I Siet Pas” e o “Cori cori Bepi”. Também tem relação com versões da “Siebenschritt” encontradas na Áustria, Suíça, Alemanha, República Tcheca, Luxemburgo, Polônia, entre outros locais.

Vejamos a primeira estrofe da “Quatro Passi”: “Quatro passi si fá cosi, cosi / Quatro passi si fá colá, colá / Due di quá due di lá / Lá biondina me vuoi abraciar”. Já a “I Siet Pas” italiana fala: “Un, doi, trê, cuatri, cinc, sîs, siet (2x) /  Un, doi, trê, (2x) / bambinute ven cun me”. Além de ambas terem a mesma métrica musical, as duas também usam o sistema de contagem dos passos como tema da canção. É um contexto visto também nas variantes de outros idiomas.

Mas quem sabe para os gaúchos o parente mais destacado do “Quatro Passi” não seja uma melodia européia. Provavelmente o primo distante, que veio com a imigração alemã, seja o mais “íntimo”: o “Chote Carreirinho”. Sobre ele seguiremos a conversa em 20.09.2023 no “Ein Tanz pro Tag”.

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12.09.2023 - Marchfelder Landler

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12.09.2023 - A “Marchfelder Landler” é um presente de aniversário?

Existem diferentes “Landler” nos Alpes e grande parte delas tem relação com um local, como a de Blindenmarkt, Feistritz, Ottenschlag, Untersteirer, Zillertal. Estas são só algumas delas. E quando uma localidade ou região não tem sua própria Landler? Ou podem se conformar com isso, ou acabar criando uma.

Na região de Marchfeld, na Baixa Áustria, isso também aconteceu, mas por um motivo especial e diferenciado: dois aniversários marcantes, dos dançarinos Franz Binder e Robert Fritz da “Volkstanzgruppe Marchfeld”. A ideia veio por decisão do grupo já que a data era especial: ambos completaram 60 anos. Uma dança seria o presente perfeito para eles. Desse modo, incumbiram o músico principal do grupo, Gerhard Kinast, para essa tarefa.

Assim surgiu a “Marchfelder Landler”. O trabalho foi cumprido em apenas três dias, somando passos típicos e uma melodia que Gerhard já tinha em mente. Segundo o próprio grupo, a criação da dança não teve influência de outras pessoas da comunidade. “Todos gostaram imediatamente. Foi feita com o objetivo de ser variada, divertida e não muito difícil. A música deveria ser adaptada aos participantes.”

O teste da “Marchfelder Landler” foi realizado por um casal de dançarinos do grupo em uma semana de danças típicas em Bad Waltersdorf. Após testada “a dança foi finalizada e o grupo pôde começar a aprendê-la, para ser a surpresa do aniversário”, contaram. Em 31.08.2019 ocorreu a tão esperada festa.

A “Marchfelder Landler” está alinhada a um princípio base do seu grupo: o enriquecimento da vida cotidiana. Ela trouxe pluralidade, mantém tradições e tem um real significado para a identidade local. Aos poucos ela está se espalhando e chegando a outros locais... e já chegou à região de Viena!

Mostra que a qualidade e o valor de uma dança não dependem do tempo de sua existência: seu significado e sua estrutura fizeram toda a diferença. Agradecemos à “Volkstanzgruppe Marchfeld” pela bela iniciativa. 

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11.09.2023 - Pankepolka

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11.09.2023 - “Pankepolka” é a polka de um rio?

“Pankepolka” é uma das novas danças de Berlim e faz menção ao “Panke”, o quarto maior rio de Berlim. Ela foi criada pelo “Berliner Volkstanzkreis” e, de certa forma, o rio é especial para seus integrantes, uma vez que seu percurso passa exatamente pela região onde o grupo está estabelecido. Por isso essa homenagem a ele.

Sua nascente é em Bernau, cidade ao norte de Berlim. De lá, ele passa pela comunidade de Panketal e, depois, vinte de seus vintenove quilômetros estão dentro de Berlim, no distrito de Pankow. Tanto Panketal quanto Pankow recebem seus nomes a partir do rio.

O nome “Panke” tem origem eslava e possivelmente vem da palavra “pak”, que significa “botão” (de planta), pois a bacia do rio vai crescendo no mesmo formato que o botão de uma planta. Outra possível origem seria o termo eslavo “ponikwa”, que significa “água em turbilhão”, por causa do volume do Panke, especialmente nas enchentes de outono e primavera.

O Panke convida os moradores de Berlim a belos passeios. Um dos lugares mais procurados é o Schlosspark (ver a dança de 22.05.2023), em Pankow. Porém, hoje, a beleza do Panke está escondida ao longo de seu percurso. Por isso, especialmente em seu trecho final, ele deverá ser “renaturalizado” nos próximos anos.

Mas o que é isso? Algumas medidas serão adotadas para que o Panke, apesar de ser um rio limpo, possa ter mais vida dentro da água e também em suas margens. Uma ação é a construção de uma escada para peixes, facilitando o deslocamento no período de reprodução. Outra intervenção a ser feita é dar novamente a ele a possibilidade de ter curvas em seu percurso, especialmente nas regiões de várzeas. Com o tempo, o leito do rio foi alterado em alguns locais e, em outros, as margens foram concretadas, tirando do Panke seu caráter natural.

O distrito de Pankow e toda a cidade de Berlim estão prontos para devolver ao Panke suas características naturais.

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10.09.2023 - Da Howansook

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10.09.2023 - O que tem no saco de aveia da “Da Howansook”?

Para uma parcela dos agricultores do Egerland o cultivo da aveia era uma parte importante da economia, assim como o da cevada, trigo e linhaça. Do beneficiamento desses produtos, parte feito no moinho, era aproveitado quase tudo, tanto para a comunidade quanto para os animais.

A aveia também fazia parte de algumas tradições do Egerland, como o “Ostersaat”: contam que dez dias antes da Páscoa se colocava em pratinhos sementes e estas eram postas ao sol. Onde viessem brotos era colocado um ovo pintado. Outro exemplo era dar o “G'leck” - uma ração com aveia, farelo, sal e, muitas vezes, maçãs e nozes - aos animais na véspera de Natal. Há diferentes usos da aveia durante todo o ano, inclusive como produto de troca.

E qual a relação dela com a dança “Da Howansook”? O nome! Também chamada de “Der Habernsack” - em Hochdeutsch “Der Hafersack”, em português “O Saco de Aveia”. O termo pode ser sinônimo de “saco de tecido para carregar cereais”, ou uma bolsa para alimentar cavalos. Sobre esse contexto, veja a narrativa a seguir, que está dentro da canção da “Da Howansook”:

Um agricultor, provavelmente jovem, vai ao moinho, mas ele ainda não juntou os cereais. Chegando lá, ele conversa com a moleira: “Olá, olá, Sra. do Moinho! Onde coloco meu saco de aveia?”. Ela responde: “Ah, coloque naquele canto! Encoste-o na cama da minha filha!”. E assim ele fez. E não demorou, no saco de aveia aparecem “mãos e pés”… e se escutou a filha chamando: “Mamãe!”.

Esse “Howansook” está mais para “Cavalo de Troia”? Tinha alguém lá dentro? Com certeza não era aveia. É interessante que nesta estrofe final os dançarinos estão em pares - diferente dos círculos vistos anteriormente. Pode ser um indício de que estava no saco o parceiro da filha dos trabalhadores do moinho? …ou um pretendente? Mas se ela chamou pela mãe, o plano dele não deu certo.

A vida é cheia de tradições e surpresas. Como diria um ditado albanês: “Quando você tem figos em seu “saco de aveia”, sempre vão procurar a sua amizade”. E se tiver uma pessoa lá dentro? Hum…

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09.09.2023 - Kegelkönig

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09.09.2023 - O que é o“Kegelkönig”?

Na Romênia existe uma comunidade de língua alemã bastante conhecida: o “Siebenbürgen”, também chamada de “Transilvânia”. Nesta região, muitos hábitos dos alemães e austríacos, que há séculos para lá migraram, se mantêm vivos. Com o passar do tempo, esses modos de vida foram acrescidos de novos elementos, assimilando características locais e se ajustando às realidades específicas.

O projeto “Ein Tanz pro Tag” já mostrou anteriormente algumas das que vieram do “Siebenbürgen”, como a “Siebenbürger Rheinländer” (07.07.2023) e a “Neppendorfer Landler” (06.03.2023). Por outro lado, algo que nem sempre é abordado é que o jogo de Bolão, o “Kegel”, acabou chegando lá. É da soma desse esporte com os bailes típicos que provavelmente surgiu o “Kegelkönig”.

Quem é o “Kegelkönig”: nos territórios onde se fala alemão, ele é o Rei do Bolão, o vitorioso do campeonato desse esporte - um parente do Boliche. Esses vencedores ficam registrados no “panteão” das sociedades de bolão, que é geralmente uma parede ou placa onde é imortalizada a “realeza” de cada ano.

O nome do jogo é relacionado ao pino central - o “Kegel” -, de um conjunto de nove, que fica posicionado em formato de losango ao final da pista. Recebe mais pontos aquele que, com a pesada bola, consegue derrubar todos. Em alguns locais é normal gritarem “Alle” - tudo - quando isso acontece.

Já sobre a dança, não há realmente uma precisão de onde nasceu a “Kegelkönig”, por mais que ela seja atribuída ao “Siebenbürgen”. Como existem outras coreografias de “Kegel” no norte da Europa, com estrutura similar à dita romena, é possível que sua base tenha vindo de fora e, depois, acabassem ajustadas pelos Siebenbürger Sachsen. Há a possibilidade dela ter sido trabalhada pelos emigrados da Transilvânia em outro local, inclusive pelos que voltaram para a Alemanha no pós Segunda Guerra.

Mesmo sem precisar informações sobre a dança do “Kegelkönig”, ela carrega em si muito do contexto do Bolão e como esse esporte amador se manifesta na comunidade. Também mostra como a cultura transita de modo não linear.

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08.09.2023 - Gänserich

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08.09.2023 - Quem é o ganso na “Gänserich”?

Brincar! É um processo atribuído às crianças… mas é presente junto a todos os seres humanos. Para os adultos pode ser chamado de jogo, ou distração, ou passatempo, … e em muitos casos pode também se manifestar como uma dança, mesmo ainda sendo uma brincadeira. Sem dúvida a “Gänserich” faz parte dessa realidade.

Essa dança austríaca é simples, intuitiva e instigante. Há um rapaz a mais do que o número de moças. Elas formam uma roda, com a face virada para o centro, e erguem as mãos formando portões. Paralelamente o dançarino puxador da fileira conduz, em marcha, os demais, em corrente, pelas torres das damas. Quando o ritmo da música muda de surpresa- geralmente para uma valsa ou chote - os rapazes se soltam e correm para capturar rapidamente um par.

O homem que sobrar é chamado de “ganso” e vai ser o próximo a liderar a fila, reiniciando a brincadeira. Daí que vieram os nomes “Gänsetanz” - Dança do Ganso -, “Gänserich” - Ganso -, “Ganausertanz”- Dança do Ganso, em dialeto -, “Spatzentanz”- Dança do Pardal -, entre outras variantes. Há versões onde o primeiro da fileira que encontra um par acaba por sair do “jogo”, tornando a coreografia eliminatória. Os últimos dois rapazes disputam ferrenhamente quem ficará com a dama restante. É como a brincadeira da “Dança da Cadeira”: ninguém quer perder.

Assim como acontece em uma recreação, na “Gänserich” existe bom humor, risadas e piadas entre os presentes, com trotes e disputas cômicas. Contam que em alguns lugares um dos presentes pergunta “Onde está o Schwab?” e eles respondem “Aqui está o Schwab!”, fazendo menção ao “ganso”.

Nestas figuras simples existe um jogo de improvisos e surpresas, instigando que um tente ganhar do outro. Contudo, mais do que a vitória, se busca um passatempo lúdico. E sendo uma tradição, essa dança passa a ter um papel acolhedor dentro da comunidade, onde podem se divertir do mesmo modo que seus antepassados o fizeram.

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07.09.2023 - Lauterbacher

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07.09.2023 - Quem dança a “Lauterbacher” perde uma meia?

Contam que, com espírito aventureiro, um jovem fabricante de meias decidiu sair do sul da Alemanha e viajar pelo mundo. Quando o frio do inverno chegou, ele teve que dar uma pausa em seu tempo de andarilho: encontrou na pequena localidade de Lauterbach, junto a um mestre fabricante de meias, trabalho e alojamento.

Quando despontou a primavera ele viu que podia continuar sua jornada e fez as malas; contudo, acabou esquecendo lá um pé de meia. Em cada lugar que fosse ele relatava o caso da meia perdida e sobre Lauterbach. Ao encontrar outro viajante, este com dotes musicais, teriam composto uma canção sobre essa história: “Perdi minha meia em Lauterbach e não voltarei para casa sem ela”, cantavam. Teria surgido, assim, a “In Lauterbach hab' ich mein' Strumpf verlor'n”.

Ninguém pode provar a existência desses personagens, entretanto a cidade de Lauterbach hoje tem uma forte base turística e inúmeras representações de seu andarilho sem meia: em souvenirs, monumentos, comércio e, claro, lojas de meias. Algumas vezes ele é representado como uma criança desnuda, somente com uma meia no pé e uma bolsa em forma de tubo. As variantes se multiplicam.

Já a dança está entre as recolhidas pelo conhecido Hans von der Au, por mais que outras publicações também a descrevam. Sua variante mais popular, vista por toda a Alemanha, Áustria e Suíça, usa a base dessa canção. Herbert Oetke destaca que a “Lauterbacher” provavelmente tem suas bases no século XVIII, ganhando versões no passar do tempo. Ela ainda hoje é dançada e cantada nas "Lindenfelser Burgfeste".

Um dado interessante é que, na descrição da primeira parte da coreografia, indica que as moças cantam a “In Lauterbach hab' ich mein' Strumpf verlor'n”. Mostra que, de alguma forma, a história do andarilho segue viva, contada e recontada. A pergunta que fica é: alguém achou sua meia? Naquela época não tinha máquina de lavar roupas para “comê-la”.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e escute uma das versões da música em https://youtu.be/N1u9P9F9uoM  e compare com a dança realizada na localidade de Lauterbach em https://youtu.be/gj2A1YGWC8M .

06.09.2023 - Kesselflicker

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06.09.2023 - “Kesselflicker” é a dança de um artesão ou de um encrenqueiro?

É interessante observar que várias danças dinamarquesas estão presentes no repertório do norte da Alemanha (“Halbe Kette” - 04.07.2023; “Sonderburger Doppelquadrille” - 20.08.2023). Isso se deve especialmente ao fato de que, no início do século XX, muitas publicações em língua alemã sobre danças típicas trouxeram diferentes títulos da Dinamarca e da Suécia.

Uma delas é a “Kesselflicker”. Ela nada mais é do que a dança do remendador de chaleiras. Em seu nome e também em seu passo característico, ela traz o trabalho artesanal desse funileiro que passa em cada vilarejo consertando caldeirões de cozinha e remendando quaisquer rachaduras ou buracos que tenham surgido em chaleiras e outros utensílios de metal.

Algumas obras descrevem esses funileiros como uma espécie de caldeireiros que viajam pelo país com cobre velho e suas ferramentas. Eles passam especialmente por vilarejos no campo e outros lugares mais afastados, nos quais há demanda, porém falta o profissional.

Assim como os amoladores de tesouras, os fabricantes de vassouras e outros artesãos, eles se deslocavam de um lugar para outro com suas carroças e suas famílias. Eles acampavam perto das aldeias e ali montavam sua fogueira e, principalmente, sua oficina. Quando iam às aldeias, recolhiam as panelas e frigideiras que precisavam de conserto.

Eles costumam vagar pelas ruas das cidades e anunciar seu trabalho gritando. Por isso, eles também eram considerados encrenqueiros. Em língua alemã, várias expressões são derivadas dessa profissão: “Ele xinga / bebe como um Kesselflicker” ou “Eles batem / brigam como os Kesselflicker”. Ambas querem dizer que você se manifesta de forma excessiva e barulhenta.

Apesar de a dança ser de origem dinamarquesa, esse artesão existiu e existe ainda hoje em diferentes regiões e países.

E, na sua cidade, também passam profissionais oferecendo seus serviços?

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja-a em https://youtu.be/c-r0NsGeNpM e o áudio em https://youtu.be/q4JiYWfDGSE . Acompanhe nossas redes sociais e o “Boletim Der Hut” às quintas-feiras, 20h, em www.imperial.fm.br .

05.09.2023 - Fjäskern

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05.09.2023 - “Fjäskern” é uma dança apenas para jovens?

“Fjäskern” é uma dança típica encontrada no sul da Suécia. Alguns relatos indicam que ela possa ser dinamarquesa, mas a maioria dos registros aponta que ela é sueca. Parte desses escritos sugerem ainda que é para jovens. Será?

Seu nome significa algo como “corra depressa”. É comum que ela seja dançada durante as comemorações de “Midsommar”, a segunda maior festividade do ano na Suécia depois do Natal. A maioria dos suecos a celebra com parentes, amigos e vizinhos. O “Midsommar” é o solstício de verão e costuma ser festejado na sexta-feira que cai entre os dias 19 e 25 de junho.

Na véspera, é comum erguer-se o “Midsommarstång”, um tronco de árvore decorado com folhas verdes e flores coloridas. Ao redor dele, as pessoas se divertem com diferentes danças típicas suecas.

Antigamente, acreditava-se que a noite de “Midsommar”, de sexta para sábado, era mágica. Os elfos dançavam e os trolls ficavam atrás das árvores. Também era dito que o sereno da manhã poderia curar os animais e as pessoas doentes. Por isso, o orvalho era coletado em uma garrafa para ser usado posteriormente para a cura.

Mas será que a “Fjäskern” é uma dança apenas para jovens?

Sabe-se que ela é uma dança em círculo para casais, na qual os homens ficam do lado de dentro e as mulheres do lado de fora. Ela inclui muita repetição, troca de lugar com os parceiros e palmas. Tanto os homens quanto as mulheres seguem os mesmos passos. A “Fjäskern” começa devagar, mas, à medida que avança, acelera seu ritmo. Porém, quem tem fôlego para ir até o fim? Os mais velhos ou os mais jovens?

 

Especialmente nos dias atuais, sabemos que existem muitos jovens que não têm o pique de muitos idosos. Por isso, não é possível classificar a “Fjäskern” como dança para uma determinada faixa etária. Assim como as comemorações do “Midsommar”, ela é aberta para todas as pessoas da comunidade. O importante é a alegria e a diversão das comemorações do solstício de verão.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a música em https://youtu.be/k39TGcjjZN8 . Acompanhe nossas redes sociais e o “Boletim Der Hut” às quintas-feiras, 20 horas, em www.imperial.fm.br .

04.09.2023 - S’ Luada

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04.09.2023 - A canção da “S’ Luada” tem um xingamento ou elogio?

Interpretar o que se fala é mais do que traduzir, mas quando se tem uma canção em dialeto, como saber seu significado (real)? A letra diz algo positivo ou negativo? Para entender melhor essa situação um bom exemplo é a “S’ Luada”.

Erna Schützenberger coletou essa dança em 1949 na localidade de Hinterschmiding, um distrito de Freyung-Grafenau, na Floresta da Baviera, próximo à divisa da Alemanha com a República Tcheca. Trata-se de uma “Zwiefache”, estilo musical popular entre os bávaros do sul.

Em sua coreografia a primeira parte é uma mescla de giros e valsas - típicas das “Zwiefache” - e a segunda são momentos em que a dupla se separa e se reencontra. Repete quantas vezes a música for tocada. Neste tipo de dança a sincronia do casal é importante, já que os movimentos são rápidos e fluidos.

E onde está a polêmica? Nas duas frases principais: “Luada, kimm a wengerl her” e “Du rumperts, pumperts Luada du”.

Em dialeto bávaro “Luada” significa “Luder”, como se o nome da música fosse “A vaca” ou “A vadia”. Mas analisando o contexto da dança, não teria nenhum sentido, pois em nenhum momento há xingamento ou espaço para chamar a parceira de mulher obscena. Seria como “Vaca, venha um pouco aqui”, algo totalmente grosseiro.

Isso não parece ter sentido. “S’Luada” é um xingamento? Segundo Bernhard Stör, “o termo inicialmente tem um significado negativo: uma mulher obscena. Mas num determinado contexto “Luder” também pode ser um reconhecimento.” Seria quando, em um exemplo, uma moça ganha de rapazes em um jogo de cartas, como Poker, e um deles diz “essa vaca ganhou com dois pares”. Seria um sinônimo de ser “astuta”. Claro que não se trata de uma linguagem formal… e muito menos polida.

Por essa interpretação, “S’Luada”, falando em um contexto popular, pode representar uma mulher hábil e sagaz. Seria ela chamada de “vaca” pelo seu amado, mesmo ironicamente? Quem sabe por tê-lo conquistado, sendo ele um homem rude e complicado. Talvez. Na atualidade existem músicas com um linguajar muito pior do que esse.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a dança em https://youtu.be/4Emalu3M0eI .

03.09.2023  - Schäi(n) lustigh

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03.09.2023 - Qual a grafia correta da dança “Schäi(n) lustigh u kearngout”?

“Schaulustig”, “Schai(n) lustig”, “Schäi(n) lustigh u kearngout”, “Schau lustig”, “Schön lustig”,... É grande a quantidade de grafias encontradas para o nome desta dança. Qual é o certo? Antes de entrar em possíveis polêmicas ortográficas, cabe conhecer um pouco melhor essa dança.

A melodia e letra, de nome “In Eghaland is schäi(n)”, são atribuídas à Rudolf Sabathil, nascido em 1875 na localidade de Sangerberg, atualmente República Tcheca. Ele era professor, músico e pesquisador de culturas locais - com destaque às tradições e dialetos. Seu conhecimento profundo dos ritmos do Egerland lhe permitiu fazer composições muito fiéis às estruturas musicais de lá somado a bases de marchas. Isso lhe agregou reconhecimento.

Já informações sobre sua coreografia não são precisas. Ela pode tanto ser originária de comunidades no Egerland ou ter sido montada por elas fora de lá, posteriormente à saída desses alemães da região (após 1945). Há um registro que liga essa dança à cidade de Dinkelsbühl, na Baviera, onde muitos “Egerländer” se estabeleceram. Outra descrição cita que foi transmitida por Walter Helm, do Eger, também apontando o Jugendgruppe Wendlingen, do Baden-Württemberg. Pelo arrojo das figuras, ela não é resultado de formação espontânea.

Mas, voltando à forma de escrita do nome, qual delas é correta? Não se tem como precisar isso, pois os dialetos se guiam pela oralidade, sendo o modo de seu registro plural. Assim, há muitas maneiras de escrever a mesma coisa. Além disso, “o que” e “como” se fala algo se altera de aldeia para aldeia, se refletindo na transcrição. É usual encontrar a citação dela como “Schäi(n) lustigh”. O significado pode diferir levemente, dependendo do dialeto e da forma de escrita ou fala, variando em torno de ser muito divertido. A variante mais longa se refere também à letra da música e sobre o Egerland ser um lugar bonito e bom.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a música em https://youtu.be/EoIEFIuH-Ao (minuto 19:00). Acompanhe nossas redes sociais e o “Boletim Der Hut” em www.imperial.fm.br .

02.09.2023 - Anne Marthe

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02.09.2023 - “Anne Marthe” é uma dança de despedida de solteiro?

Em muitas partes da Alemanha, existe ainda hoje uma tradição que antecede o dia do casamento, na qual os amigos costumam comemorar esse momento tão especial com os noivos: a “Polterabend”. Apesar de não ser a mesma coisa, muitos a comparam com uma despedida de solteiro. Já para o matrimônio em si, eles convidam apenas os familiares e as pessoas mais íntimas.

Na antiga Pomerânia, quando tinha casamento no vilarejo, era comum que os jovens juntassem a louça que não podia mais ser usada e levassem para a “Polterabend” na casa dos noivos. Em frente à porta, eles jogavam essas cerâmicas e porcelanas no chão, sobrando apenas cacos. Na manhã seguinte, a noiva deveria varrer tudo e, quanto mais fragmentos ela encontrasse, mais feliz seria sua vida conjugal. Teve vezes que a noiva chegou a recolher uma carroça de lascas de pratos, travessas e baixelas.

Um rapaz em especial também teria muita sorte em sua vida conjugal. Sabe quem? Aquele que se casasse com a bela Anne Marthe. Por quê? Por ser uma bela moça, “leal, trabalhadora e inteligente. Como ela, não tem igual.” Pelo menos é o que diz a canção que é cantada junto à coreografia da “Anne Marthe”. Por sinal, não podiam faltar danças em um matrimônio pomerano. 

E tem mais: a Anne Marthe, para a casa nova, ganhou de sua mãe panelas e frigideiras, e também um grande espelho, além do fogão. Para a subsistência do casal, ela ganharia ainda uma das melhores vacas do estábulo, um barril de cerveja, uma ratoeira (provavelmente precisavam!), doze galinhas e um porco gordo. E, por fim, uma cama pura e limpa como a neve.

E, no refrão da dança acompanhado de palmas, todos cantavam:

“Sim, sim, sim, ela vai ganhar isso, ela vai ganhar isso,

sim, sim, sim, ela vai ganhar tudo isso.”

“Anne Marthe” é uma dança típica da “Polterabend” pomerana e representa em sua canção essa bela tradição do casamento no norte da Alemanha. Costumes semelhantes também são encontrados em outras regiões.

E quais eram as tradições presentes no casamento da sua comunidade?

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e escute às quintas-feiras, 20h, o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

01.09.2023 - Schmetterlingstanz

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01.09.2023 - A “Schmetterlingstanz” e a “Annemarie-Polka” são a mesma dança?

Por volta do ano de 1900, em toda a região de Berlim, era encontrada uma dança chamada “Schmetterlingstanz”. “Schmetterling” nada mais é do que o termo em alemão para “borboleta”. Por muitos, ela também era conhecida como “Berliner Polka”, afinal, era uma polca bastante conhecida nesta cidade.

Em um bom baile, ela não poderia faltar! Existem relatos contando que ela era presença constante na lista de danças das melhores festas. Claro que ela não era conhecida apenas na capital alemã e nas proximidades. Foi levada até aos Estados Unidos e, lá, recebeu o nome de “Butterfly”.

A partir de outros registros, percebeu-se que o nome da dança acabava sendo o mesmo da música usada para ela. Em uma publicação de 1934, sugeriu-se que, para ensaiar a coreografia, poderia ser cantada até a tão popular “eine Seefahrt, die ist lustig”.

Hoje, sabe-se que a “Schmetterlingstanz” é uma dança originária da região do “Altmark”, ao norte do estado de Sachsen-Anhalt. Curioso é que, com o transcorrer do tempo, ela passou a ser mais conhecida em Berlim e no estado de Brandemburgo.

Especialmente nas regiões de Lausitz e do Spreewald, ela é encontrada como “Annemarie-Polka”, já que, para dançá-la, costumava-se usar a música “Liebchen, adé”, popularmente conhecida como “Annemarie” ou “Annemarie-Polka”. No texto da canção, o soldado estava partindo e pedia a ela um beijo de despedida.

Porém, como a “Annemarie-Polka” tem direitos autorais, muitos grupos costumam dançá-la com a melodia “Berliner Polka”, cujos “copyright” são livres. Para a “Berliner Polka”, existe também o registro de uma coreografia de “Kreuzpolka” lançada pela antiga Walter Kögler Verlag, mas daí já são danças diferentes.

Dessa forma, pode-se dizer que sim, a “Schmetterlingstanz” e a “Annemarie-Polka” são a mesma dança.

E você teria alguma sugestão de qual outra melodia se encaixa com a “Schmetterlingstanz”? Conta aí para nós!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja as duas danças em  https://youtu.be/b6XKIQLxBmw  e https://youtu.be/adFQyHD3cao . E às quintas-feiras, 20h, tem o “Boletim Der Hut”, em www.imperial.fm.br .

31.08.2023 - Bayrisch-Polka

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31.08.2023 - Quantas variantes tem a “Bayrisch-Polka”?

De modo direto, é possível dizer que a “Polca Bávara” tem muitas variantes. Ela é descrita como austríaca; pois apesar de sua base ser a tradicional “Boarische” alpina e estar intimamente ligada ao sul da Alemanha, ela ganhou “sotaques” e foi variada na Áustria. Ela também teria ligação estrutural com as “Rheinländer”.

Karl Horak, em seu livro “Tiroler Volkstanzbuch”, trouxe 9 diferentes opções de “Bayrisch-Polka”, recolhidas na Áustria: Erl, Thiersee, Gallzein bei Schwaz, Vögelsberg bei Wattens, Sarntal, Virgen in Osttirol e Kals in Osttirol. Provavelmente muitas outras existem ou existiram, inclusive tendo outros nomes.

Segundo Horak, a “Bayrisch-Polka” tradicional segue 4 compassos básicos: o par dá um contrapasso para separar-se, outro para novamente juntar-se e, nos dois compassos finais, em posição fechada (Geschlossene Fassung) giram duas vezes. É repetida a sequência tantas vezes quanto a música permitir.

O que se visualiza é que em cada versão da “Polca Bávara” ou é alterada uma figura existente ou uma nova é acrescida; contudo, mantém-se a lógica básica. A maioria das variantes utiliza os mesmos 4 compassos originais em uma sequência coreográfica, mas isso não é uma regra: também pode ser formada por múltiplos de 4.

Mas a pergunta se mantém: quantas variantes tem a “Bayrisch-Polka”? Não se tem uma resposta, pelo menos nesse momento. Se for considerado que essa dança pode já ser uma variante da “Boarische” e, por sua vez, uma subárea da “Rheinländer”, isso faz o cálculo se tornar mais complexo.

Quem sabe a real questão não seja o volume de parentes que uma dança tenha e sim considerar que a cultura popular seja uma grande rede de conexões. Tanto a “Bayrisch-Polka” quanto outras são partes de um grande todo. O importante é saber que tudo está, de alguma forma interligado… só ainda não sabemos como. É o mistério da origem das tradições.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e veja a danca em https://youtu.be/ue5YFJyQU2k . Acompanhe nossas redes sociais e escute o Boletim Der Hut às quintas-feiras, 20h, em www.imperial.fm.br .

30.08.2023 - Almelose Kermis

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30.08.2023 - “Almelose Kermis” é uma dança de Kerb?

Um dos festejos mais tradicionais nas comunidades alemãs no Brasil é o “Kerb”. Geralmente, ele é uma festa em comemoração à consagração da igreja (nas comunidades luteranas) ou ao padroeiro (nas comunidades católicas) - contudo, podem existir algumas variações.

A palavra “Kerb” tem origem no termo “Kirchweihe” ou “Kirchenweihe” (consagração da igreja), mesma origem do termo “quermesse”, em língua portuguesa. Nos Países Baixos, é comum encontrar a quermesse com o nome de “Kermis”. Lá, uma festa bastante antiga e conhecida é a quermesse de Almelo, cidade localizada a 10 km da fronteira com a Alemanha. Originalmente, ela era realizada no outono e durava dois dias. A primeira edição foi em 1346. Isso mesmo! Há quase 700 anos.

Em Almelo, as festividades iniciavam com uma celebração religiosa e, na sequência, o toque dos sinos sinalizava a abertura da feira da cidade. O “Kermis” em Almelo sempre foi uma grande festa popular. No início do século XX, ele durava quatro dias: a terça-feira era para as crianças, a quarta-feira para os mais velhos, a quinta-feira para os agricultores e os camponeses e o último dia foi para os mais velhos.

Em toda a região próxima de Almelo, era comum que as festas iniciassem com uma determinada dança que animasse todos a participar. Uma delas era a “Almelose Kirmestanz”. Quando tocavam os primeiros acordes, ninguém ficava parado, todos iam para a pista dar início ao baile.

Mas então, ela é uma dança de “Kerb” ou não?

Possivelmente, a “Almelose Kermis”, assim como outras, fazia parte do repertório das diferentes festividades da região. Estima-se que sua origem seja a própria quermesse de Almelo, a qual, reflete a alegria e a popularidade do festejo na própria dança.

Em 2023, a festa em Almelo ocorre entre os dias 5 e 10 de setembro, de terça a domingo. Que tal conhecer de perto essa festa tão especial?

E como eram as festas de Kerb na sua cidade? Compartilhe conosco nos comentários!

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29.08.2023 - Knopfloch

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29.08.2023 - A “Knopfloch” é uma dança inglesa?

Nem todas as danças apreciadas pelos alemães são da Alemanha. Por sinal, é muito comum que algumas coreografias e músicas tenham ultrapassado suas fronteiras nacionais, se espalhando por outras nações. É o exemplo da “Knopfloch”.

Traduzindo o nome em alemão se teria “Casa de Botão”. Provavelmente assim a chamaram porque a dança tem movimentos que são comparáveis à costura. De toda forma, trata-se de uma hipótese.

Internacionalmente ela é conhecida como “Durham Reel”. Sua origem é popularmente atribuída à Inglaterra, como aconteceu com outras tantas coreografias em fileiras. O nome confirmaria essa informação, pois faz referência a uma cidade no norte do país, Durham. Já “Reel” seria um tipo de dança típica com melodia rápida, muito popular na Grã Bretanha e Irlanda.

Há registros da “Durham Reel” em publicações do início do século XX. A londrina “Five popular country dances”, de Arnold Foster, de 1933, é considerada a primeira. Já o “The Country Dance Book” também teria sua descrição.

Uma apostila de 1971, ligada à comunidade judaica norte-americana, aponta que a Sra Violet Orde teria recolhido essa dança em Durham. Segundo essa fonte, outras versões dela poderiam ser encontradas em Goathland, North Yorkshire e Idmunbeyer in Durham: ela mudaria de aldeia para aldeia - o que irritaria aos que gostam de coreografias “imutáveis”.   

Uma curiosidade: um clube de danças típicas de 1947, nos EUA, - “UNH's folk dance club” da “University of New Hampshire”, se assumiu com o nome de “Durham Reel”. Dentro de seu repertório já constaram títulos como “Weggis”, da Suíça, “Puttjenter”, da Alemanha, e “Oxdansen”, da Suécia.

O exemplo da “Knopfloch” / “Durham Reel” mostra que as danças populares não se prendem a endereços, idiomas ou credos. Elas se movimentam com o trânsito das informações e das pessoas. São conexões vivas de culturas, mesmo antes de existir a Internet.

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28.08.2023 - Hahn im Korbe

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28.08.2023 - A “Hahn im Korbe” se dança dentro do galinheiro?

O que será que Anna Helms e Julius Blasche pensaram quando publicaram a dança “Hahn im Korbe”? Depois de quase um século, sobraram poucas informações sobre como ela surgiu; contudo, por algumas pistas encontradas em livros e partituras, pode-se fazer algumas especulações.

Segundo Michael Krumm, esse “Korbe” ou “Korb” “refere-se a gaiolas de ráfia/fibras trançadas nas quais costumavam transportar frangos para o mercado. Na maioria das vezes, havia somente galinhas no cesto, mas, de vez em quando, também tinha um galo no meio”, o “Hahn im Korbe”. Desta forma, a expressão quer destacar quando há somente um rapaz em um ambiente com muitas damas.

Muitas comunidades de língua alemã fizeram ou fazem uso dessa frase popular. Ela poderia ser comparada a ideia de “um homem no harém”, contudo com certo tom satírico. Ela deu título a cartões postais, lojas - inclusive de venda de frangos assados -, livros, audiovisuais, marca de cigarro, entre outras… inclusive ao nome desta dança.

Tratando da dança, suas fontes mais conhecidas são o “Bunte Tänze 4”, de Anna Helms e Julius Blasche, de 1928, e “Die Tanzkette”, de 1953, no qual, a descrição da criação de Anna Helms é republicada. Ela, apontada como uma “Tanzspiel” - uma espécie de brincadeira -, seria dançada por 6 damas (com a possibilidade de 8) e um rapaz. É composta por 6 partes, somando teatralidade e bom humor.

Pelo que consta na partitura, a melodia é provavelmente popular, recolhida de comunidades suábias. Já a coreografia é uma criação da Anna Helms e deve ter sido trabalhada no “Geestländer Tanzkreise”.

Vê se que, mesmo na construção coreográfica no contexto das danças populares, há um amplo diálogo entre tradições, narrativas e entretenimento. Sem motivação, não há manutenção de identidades. Nesse sentido, Anna Helms fez um ótimo trabalho, inspirando ainda hoje gerações de dançarinos. 

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27.08.2023 - Unspunnen Mazurka

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27.08.2023 - A “Unspunnen Mazurka” foi coreografada no Brasil?

Na Suíça, em Interlaken, surgiu em 1805 uma grande festa: a “Unspunnenfest”. Contou com atividades de música, tiro, arremesso “de pedra”, entre outras. Foi um sucesso! Sua segunda edição foi em 1808. Hoje, ela ocorre a cada 12 anos.

Contam que desde o princípio a família de Walter Balmer participou da Unspunnenfest. Quando se aproximou a edição do ano de 1968, dizem que ele já estava pensando em fazer uma nova composição para a festa. Teria surgido ali a melodia da “Unspunnen Mazurka”... mas ela não foi apresentada ao público.

Quase 50 anos depois, em 2016, a coordenação do evento e a Schweizerischen Trachtenvereinigung - Federação Suíça de Trajes Típicos - organizaram um concurso para dar uma coreografia à música composta por Walter Balmer. As sugestões para a nova dança deveriam vir anônimas, permitindo uma escolha imparcial do júri especializado. E assim foi feito.

E você sabe de onde veio a coreografia vencedora? Do Brasil! Foi criada pelo “Volkstanzgruppe Johannetertal”, de Picada Café-RS. Vocês conseguem imaginar o rosto desses jurados ao descobrirem isso? Provavelmente quem ficou mais surpreso com a notícia foi o seu compositor: “até hoje, não sei dizer exatamente como eles chegaram lá”, disse Walter Balmer, na época com 71 anos.

E não bastou ganhar: o “Johannetertal” conseguiu se organizar, batalhou para juntar recursos e foi para a Unspunnenfest de 2017. Em frente ao grande público presente, os dançarinos mostraram “ao vivo e a cores” a sua “Unspunnen Mazurka”. Como resultado, foram ovacionados pelos presentes, em uma cena emocionante… com direito à sambinha.

Segundo Christoph Wyss, pesquisador da história da festa, “as Unspunnenfeste abrangem costumes e tradições de toda a Suíça. Tal como há mais de duzentos anos, o festival promove a compreensão e a tolerância mútuas.” O que vemos agora é que nessa cultura helvética também há um pouquinho da alegria teuto-brasileira.

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26.08.2023 - Freischütz

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26.08.2023 - Por que a Freischütz foi proibida?

No ano de 1821, estreou em Berlim a ópera chamada “Der Freischütz”, conhecida em português como “O Franco-Atirador”. Contudo, um “Freischütz” não é apenas alguém com uma mira certeira, mas sim alguém que faz uso de uma munição especial, geralmente recebida a partir de um pacto sobrenatural. Essa munição fará com que o atirador sempre acerte o seu alvo de forma precisa. Porém, esse pacto pode ter consequências terríveis, como visto na ópera citada.

Até onde se sabe, a dança “Freischütz” não tem relação com a ópera. Assim, já podemos descartar a hipótese, de ela ter sido proibida por ter dançarinos armados e em posse de munição, digamos, especial.

A dança foi registrada pelo professor Otto Ilmbrecht e publicada no ano de 1937. Ele a encontrou nas regiões de Schaumburg-Lippe e Minden, com algumas pequenas variações. Na sua descrição, algo chama a atenção e a destaca entre as demais Volkstänze:

“Quando os dançarinos estão animados ou são ovacionados pelos espectadores, na terceira figura, os dois rapazes correm o mais rápido que podem, fazendo com que as moças percam o chão sob os seus pés. Então, como resultado, elas flutuam horizontalmente. A moça deve segurar o pescoço do rapaz com firmeza com as duas mãos. É considerado um sinal de destreza quando as moças flutuam para cima e para baixo em linhas onduladas, balançando.”

E que perigo isso! Essa juventude com certeza estava perdida. Por isso, a polícia da época precisou intervir e proibir temporariamente a execução da figura.

Por causa dela, a dança também foi conhecida como “Slüürdanz”, nomeada a partir do verbo “schlüren”, do dialeto vestfaliano, com o significado de “carregar”, “arrastar”. Afinal, é a dança em que as moças são carregadas, praticamente arrastadas!

Assim, está resolvido o mistério! Hoje, ela não precisa mais ser proibida, pois os dançarinos agem como verdadeiros “Freischützen”, executando sua tarefa com precisão.

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25.08.2023 - Ahrntaler Ländler

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25.08.2023 - A “Ahrntaler Ländler” veio de um vale mal assombrado?

É sabido que no norte da Itália há várias comunidades de língua alemã e também muitas danças típicas. No vale do rio Ahr não é diferente. O que muitos desconhecem é que lá, no Ahrntal, também existem muitas narrativas horripilantes. Um escritor, Konrad Steger, buscou recolher essas histórias e trazê-las a público.

Aparecem em narrativas coletadas por Steger a figura do “diabo”, que supostamente teria ido algumas vezes ao Ahrntal. Contam que em uma de suas visitas “o canhoto” arrancou, na localidade de St. Jakob, uma enorme pedra e atirou contra um pároco e seus coroinhas, que estavam a caminho de dar os “últimos sacramentos” a uma senhora. Todos se salvaram, pela graça de Deus, mas as garras do “demônio” teriam ficado marcadas num rochedo.

Em outros relatos aparecem lutas onde o “capeta” esteve presente, tendo artimanhas para enganar os aldeões. Já uma narrativa destaca que tremores ocorreram no Ahrntal, sacudindo panelas e frigideiras, em decorrência de gritos horrendos do “pestilento”.

E esses fenômenos sobrenaturais influenciaram a “Ahrntaler Ländler”? Provavelmente não. Contudo, suas figuras teriam sido registradas por 1940 em eventos de St.Jakob, St.Peter e Prettau - mesmos locais citados em muitas das narrativas catalogadas por Steger. Seria mera casualidade?

O que se pode dizer é que a “Ahrntaler Ländler” ganhou admiradores e é hoje dançada tanto na Áustria como no sul da Alemanha, transpondo as barreiras naturais do seu vale de origem. Será que esse sucesso veio com uma ajudinha do “tinhoso”? Claro que não! Isso é só uma brincadeira… ou será que não?

Se você quer conhecer mais sobre o Ahrntal e suas narrativas, pode visitar essa bela região ou ler alguns dos trabalhos de Konrad Steger. Além de textos de ficção, ele publicou “Als noch Kartoffelfeuer brannten” e “Als wir noch Kinder waren”, ambos sobre a história do Vale do Ahr.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz veja a “Ahrntaler Ländler” em https://youtu.be/1DkXI_kcX-A . E nos acompanhe nas redes sociais, além de nos escutar no Boletim Der Hut às quintas-feiras, 20h, na www.imperial.fm.br

24.08.2023 - Feuerfest

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24.08.2023 - A “Feuerfest” é a dança nacional da Boêmia?

Algumas polcas e valsas famosas, com destaque às compostas pela família Strauss, ganharam visibilidade internacional. Por sua estrutura complexa e simultaneamente cativante, caíram no gosto também de coreógrafos, tanto de ballet quanto de danças populares.

Uma dessas composições, que atualmente está presente junto a muitos grupos de danças típicas alemãs no Brasil, é a “Feuerfest”, de Josef Strauss, referenciado como irmão do conhecido “Rei da Valsa” Johann Strauss. Mesmo ela não sendo uma melodia tradicional, assim como a coreografia, acabou caindo no gosto de muitas “Volkstanzgruppen”.

A “Feuerfest - Polka Française op.269” não faz referência a uma festa ou festival do fogo, mas sim a “resistente ao fogo”, já que o termo “fest” também quer dizer “firme”. Franz von Wertheim teria encomendado-a em 1869 a Josef Strauss para comemorar a feitura de seu cofre de número 20.000. Diziam que Wertheim colocava seus cofres em fogueiras, para provar que eram imunes às chamas.

Já a coreografia teria uma fonte bem distinta. De acordo com Walter Bucksch, haveria uma pluralidade de versões, inclusive para ballet. Contudo, ele encontrou muitos vídeos dela que seguem a base da descrição de 1984 de Richard Powers, que lecionava danças na Universidade de Stanford, nos EUA.

Powers, por sua vez, relatou em um texto de título “Bohemian National Polka”, que usou a estrutura da polca “Nasim Devam”, do tcheco František Bonuš, para sua “Feuerfest”. Provavelmente é dessa fonte que ela passou a ser conhecida como “Polca Nacional da Boêmia”, já que a música em si não tem vínculos com os tchecos.

Assim, a composição de um austríaco para um fabricante de cofres acabou coreografada por um norte-americano que, por sua vez, se inspirou em uma dança de um tcheco. Para deixá-la mais interessante, se conclui a história dizendo “que ela ficou popular no Brasil pelas mãos de grupos de danças alemãs”. Para que facilitar, se pode complicar?

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja uma versao da “Feuerfest” em https://youtu.be/tXi0m4E53Kg e da “Nasim Devam” em https://youtu.be/g59BiUx3IKU .

23.08.2023 - Selker Bayrisch

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23.08.2023 - A “Selker Bayrisch” é da Baviera ou da Alta Áustria?

No sul da Alemanha e norte da Áustria, se popularizou um estilo de danças e músicas que ficaram conhecidas como “Bávara”. Em alemão, é a “Bayerische” ou, em dialetos locais, “Boarische”, assim como outras variantes gráficas. É similar ao  adjetivo “bávaro” ou “bávara”, que é dado a pessoas ou elementos ligados ao Estado Livre da Baviera. Esse é o maior Estado alemão, que faz divisa com Áustria e República Tcheca.

Uma típica “Boarische” é dançada em pares, podendo ou não estarem em um círculo. É comum ter duas partes: a primeira, em quatro compassos, na qual as duplas soltam-se as mãos, cada um dá dois passos laterais, separando-se, e mais dois se juntando; a segunda é quando, no mesmo período, giram juntos em posição convencional. Podem também agregar batidas de pés.

Mesmo sendo a formação base, esta permite muitos improvisos. Esta dança é executada como uma divertida brincadeira entre os presentes, podendo, inclusive, gerar certa competição, querendo mostrar quais duplas tem mais vitalidade.

Em alguns locais, variantes dessa dança acabaram se enraizando junto à comunidade, tornando-se típicas. Internamente, mantinham o nome genérico “Boarische”, mas para quem via de fora, a coreografia e a melodia ganhavam uma nova denominação. Segundo Walter Bucksch, quando se dança uma “Boarische” somada a palmas, ela ganha o nome de “Tuschboarische” ou “Tuschbairische”. A “Selker Bayrisch”, a “Bávara de Selker”, está nesse contexto.

A cerca de 20 quilômetro de Linz, na Áustria, existe uma localidade de nome Selker. Lá, essa variante da “Boarische” com palmas se tornou popular, ganhando novas figuras, sendo conhecida por “Tuschbairisch” ou “Selker Bayrisch”. Assim, seria uma bávara austríaca? Na prática, sim. De toda forma, é preciso lembrar que as manifestações culturais não se limitam a fronteiras físicas: elas mantêm um diálogo amplo e duradouro. Ainda bem!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a danca em https://youtu.be/LZwdd_ezZh4 . Acompanhe nossas redes sociais e escute o Boletim Der Hut às quintas-feiras, 20h, em www.imperial.fm.br

22.08.2023 - Kirmstrick

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22.08.2023 - Na “Kirmstrick”, os pares se curvam?

Em algumas danças, há polêmicas quando os pares realizam movimentos exagerados, como braços muito erguidos, posturas tortas e joelhos dobrados demais. Qual o limite entre o excesso e a correta execução de uma figura?

Na “Kirmstrick”, é convencional que os pares realizam passos em que eles se curvam ou abaixam, sendo sua principal característica. Mas por qual razão? O motivo dessa postura, provavelmente deve-se ao tema da dança. Segundo fontes, o termo “Kirm” ou “Kiam” estão ligados a “Kiepe”, que é uma grande cesta de galhos de salgueiro, vime ou outra fibra natural. Para facilitar o transporte, eram acrescidas alças, geralmente feitas de cordas trançadas - o que provavelmente seja o “strick” -, para levá-la nas costas, como uma mochila.

É natural que alguém, ao carregar algo pesado, caminhe com os joelhos mais dobrados ou com o dorso mais arqueado. O andar curvado, como se carregasse um grande cesto lotado nas costas, explicaria essa postura.

Via essa perspectiva, não seria exagero se curvar bem na “Kirmstrick”, imitando o carregar da “Kiepe”. Uma teatralização adequada, por sinal, tornaria mais explícito o seu contexto, deixando claro ao público que não se trata de um excesso na forma como ela é dançada. Além disso, de acordo com a vitalidade dos participantes, também é agregado um tom festivo ao movimento, deixando-o mais intenso.

Desta forma, vemos que a “Kirmstrick” é mais um exemplo de dança camponesa que carrega em si características do dia a dia no ambiente rural. São detalhes como estes que representam o esforço do trabalhador do campo e que guardam valiosas informações de outrora. Em muitos casos, músicas e coreografias podem atuar como museus vivos das comunidades.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e conheca a “Kirmstrick” em https://youtu.be/tsBGhMtq4v8 . Escute nosso Boletim Der Hut todas as quintas-feiras, às 20h, em www.imperial.fm.br e acompanhe as nossas redes sociais.

21.08.2023 - Föhringer Kontra 

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21.08.2023 - Como a Föhringer Kontra foi preservada?

Anna Helms foi uma das responsáveis por registrar dezenas, senão centenas de danças típicas no norte da Alemanha. Em um de seus relatos, ela conta como chegou às da Ilha de Föhr nas primeiras décadas do século XX:

“Nós também passamos pela Ilha de Föhr para procurar algumas danças junto aos moradores. Muitos desconfiavam de nós: o que o pessoal da cidade quer com nossas danças? Mas nenhuma delas sabia nos dizer algo sobre as danças.

Assim, ficamos esperando o próximo barco à vapor para ir embora de Föhr. Em um banco, estava sentado um velho senhor. Me sentei perto dele e logo começamos a conversar. Quando perguntei se ele conhecia alguma dança antiga, ele me respondeu cordialmente: ‘Antigamente, vivia um velho músico aqui na ilha. Ele sempre tocava seu clarinete para os demais dançarem. Hoje, ele já é falecido, mas sua filha ainda vive e ela gosta muito de dançar. Vá até a casa da velha Ingred. Nesse horário, ela ainda está na rua com seu carrinho de verduras; mas se você descer por esse atalho aqui em frente, provavelmente vai encontrá-la em frente ao comércio para o qual ela vende frutas.’

Rapidamente seguimos as orientações do velho senhor e encontramos a Ingred. Ela não aparentava estar tão desconfiada como os demais. Como estava trabalhando, combinamos de nos encontrar na casa dela.

Ela nos recebeu vestindo o traje de Föhr. Prontamente, começou a tocar as melodias de sua juventude que ganhavam vida novamente. Ao mesmo tempo, ela mostrava como era cada dança. Ela nos puxava para cá e para lá para que tomássemos posição e pudéssemos imaginar os demais pares da quadrilha. Ela era tão rápida que quase não conseguíamos acompanhar. Mas tomamos nota de tudo.”

Possivelmente, a quadrilha citada é a Föhringer Kontra, uma contradança da cidade de Wyk, na Ilha de Föhr, publicada em 1918. Graças ao trabalho incansável de Anna Helms, acompanhada de Julius Blasche, muitas danças foram preservadas.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a danca a partir do minuto 3 do vídeo https://youtu.be/KqjbgCu6USo . Nos escute em www.imperial.fm.br às quintas-feiras, às 20h, e nas redes sociais do Der Hut.

20.08.2023 - “Sonderburger Doppelquadrille

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20.08.2023 - “Sonderburger Doppelquadrille” é alemã ou dinamarquesa?

A grande popularidade da “Sonderburger Doppelquadrille” não se deve apenas à dança ser relativamente simples, mas também à música que vai direto do ouvido ao coração.

Alguns registros indicam que ela era uma dança social surgida entre 1800 e 1820. Sua formação em colunas indica a possibilidade de ter uma origem comum com outras semelhantes. Contudo, o fato de ela ser em oito pares a torna muito distinta.

A propósito, lá em Sønderborg, na Dinamarca, ela é conhecida apenas como “Dobbelt Kvadrille”. Faz sentido, não é?

Mas será que ela é uma dança dinamarquesa?

Alguns pesquisadores alemães indicam que a dança é alemã, pois Sønderborg pertenceu à Alemanha de 1864 a 1920. Da mesma forma, pesquisadores dinamarqueses afirmam que algumas danças de Schleswig são dinamarquesas, pois a área pertencia à Dinamarca até 1864.

Com a volta da região ao domínio dinamarquês em 1920, muitos moradores de lá e região optaram por se mudar para Hamburgo. Lá, formaram a sociedade dinamarquesa Sønderborg. Foi ali que, alguns anos depois, Anna Helms conheceu a dança “Dobbelt Kvadrille”, publicada por ela em 1928 na Alemanha. Um impresso dinamarquês dela surgiu apenas em 1934.

Então, ela é uma dança alemã?

Bem, outro elemento que temos é o compositor. H. C. Lumbye, nascido em Copenhagen, capital da Dinamarca, que fez a melodia em 1861. Porém, ele não a compôs para a dança, contudo para outra finalidade. Mais tarde, músicos de Sønderborg a “emprestaram” para a “Dobbelt Kvadrille”. É interessante observar que, antes disso, outra música era usada para a coreografia.

Agora sim, a dança é dinamarquesa! É isso?

Ainda não há consenso. Para alguns, é uma dança dinamarquesa, pois Sønderborg fica na Dinamarca. Para outros, é uma dança alemã, pois Sønderborg pertenceu à Alemanha e, com o tempo, ela se espalhou pelo norte do país.

E para você, ela é dinamarquesa ou alemã? Conte aí nos comentários!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Gartenstadt, de Blumenau-SC, com a dança em https://youtu.be/wzEUcNDNIjU .

Escute o Boletim Der Hut toda a quinta-feira, às 20h, no www.imperial.fm.br

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19.08.2023 - Polsterltanz

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19.08.2023 - Na “Polsterltanz”, os dançarinos ajoelham no travesseiro?

A “Polsterltanz” - “Dança da Almofada” -, também chamada em alguns locais de “Kissentanz”, é encontrada em muitas partes do mundo, assim como as com pau de fitas, arcos, espadas, varas, entre outras. Sua lógica padrão traz bases coreográficas muito similares, mesmo em continentes distintos.

Ela é uma dança de roda, na qual uma pessoa de fora, trazendo uma almofada, entra e anda no círculo. Depois, ela escolhe um dos presentes e coloca o estofado a sua frente, sobre o qual, ambos se ajoelham. Sob o olhar de todos, os dois se beijam e dançam juntos no centro.

Há versões em que todos os participantes ficam do início ao fim da dança. Noutras, ocorre como uma brincadeira eliminatória, quando, ao final, sobra somente uma pessoa. Por não ser para palco, era muito executada em festividades - como noivados e casamentos.

Mas se um não quiser beijar o outro? Daí, de surpresa, pode-se trocar de lugar com alguém da roda. Ou, quando a almofada é posta no chão, podem roubá-la. Por isso, nessas danças, é preciso pensar e agir rápido, já que ela pode ter muitos improvisos.

A “Polsterltanz” foi registrada em muitas regiões de língua alemã da Áustria, da República Tcheca, da Alemanha, entre outras. Jakob Gauermann, em uma pintura de nome “Polsterltanz am Grundlsee”, datado de 1821, retrata essa dança no Salzkammergut. Em outros pontos da Europa, pode-se ainda hoje vê-la.

E ela pode ser feita sem o estofado? Isso também acontece. Na Ilha da Madeira - com o “Baile da Viuvinha” - e no Arquipélago dos Açores - com o “Pai do Ladrão”-, ambos territórios portugueses, são vistos alguns exemplos similares às “Polsterltänze”, mas sem almofadas. No Brasil, a “Dança da Vassoura” também faz papel parecido.

Esse estilo de danças são verdadeiros jogos para encontrar relacionamentos. Em tempos em que o contato dos jovens era “controlado” pela comunidade, qualquer momento de aproximação deveria ser bem aproveitado. E mesmo em tempos de tecnologias avançadas, essas tradições podem ainda fazer sucesso. 

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja uma “Polsterltanz” em https://youtu.be/tVBEok8iNwE .

18.08.2023 - “il sot da la quatter pêra

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18.08.2023 - “il sot da la quatter pêra”: da corte francesa para um vale na Suíça?

Contam que o jovem Martin Peiderpadrotsch de Schmidi von Grün-Eg de Fettan im Engadina, um mercenário suíço, teria servido como tenente no regimento de Salis na França. Depois de retornar a Graubünden, sua terra de origem, ele escreveu um livro volumoso em reto-românico, idioma local. Ali relatou sua história em território francês, compreendendo o período de 1773 a 1777. Ao final desta publicação ele incluiu a descrição de 20 quadrilhas, danças que ele havia lá presenciado.

A motivação para escrever o livro no vilarejo provavelmente veio por ter tempo livre - somado à impaciência dos moradores com ele, pois achavam que sua conversa os distraíam do trabalho. Ele não se fazia uma figura muito popular na região.

A dança “il sot da la quatter pêra” - “a dança dos quatro pares” - não faz parte dessas 20 coreografias… e nem a música tem influência francesa. Por mais que Martin desejasse dançar suas quadrilhas com o círculo das pessoas mais importantes de Engadin, isso não aconteceu. A população local, vendo a publicação do jovem, acabou criando sua própria quadrilha em estilo parecido, mas ao invés de instrumentos, eles cantavam uma canção em seu dialeto romanche-ladino. Isso aconteceu por mera birra? Não se sabe a real resposta.

O texto da música trata, em princípio, de uma menina que está com raiva por ter perdido o seu amor - provavelmente para uma concorrente. No fim ela volta a ter uma vida feliz: “hoje eu quero ser feliz e dancar”. E termina com “o que eu quero eu pego” e “cada um encontra o seu par”.

Todo o ano, no dia 6 de janeiro, no “bal da Babanîa” - no qual somente solteiros podem participar - um verdadeiro desfile de pretendentes -, a “il sot da la quatter pêra” é lá realizada Im Dorf Ardez, no Engadin. Todo o salão canta junto,... porém dançar somente quatro pares podem: é tradição que sejam os mais jovens da festa.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a dança em https://youtu.be/ouBJ3YRW2ZA .  Nos acompanhe nas redes sociais e escute nosso “Boletim Der Hut” todas as quintas-feiras às 20h, em www.imperial.fm.br .

17.08.2023 - Agattanz

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17.08.2023 - A “Agattanz” é uma antiga dança de casamento?

Como identificar uma dança como antiga ou nova? Trata-se de um trabalho quase de detetive. Vejamos o exemplo da “Agattanz”, que foi recolhida na primeira metade do século XX na Áustria.

Primeiro passo: essa dança foi vista uma única vez? Não! Foi registrada em diferentes momentos, assim como em distintas localidades alpinas. Um dos relatos dela, segundo Karl Horak, é dos anos 1930 de uma festividade de casamento em Thiersee, no Tirol. Na região de Salzburg, também foi encontrada coreografia similar.

Segundo passo: sua estrutura é típica? Sim! A “Agattanz” apresenta elementos de tradições antigas. Sequências e melodias muito similares foram relatadas anteriormente em festas de carnaval, com rapazes mascarados. “Schwerttänze” - Danças de Espadas - e outras “Kettentänze” - de Correntes - têm bases comuns a ela. É recorrente na cultura popular haver uma lógica geral que guia muitas das manifestações da comunidade.

Terceiro passo: a coreografia é fácil de ser retransmitida? Esta é uma questão relativa. É certo que melodias simples e danças curtas - que se repetem -, tinham mais chance de memorização. Por outro lado, algumas presentes em rituais sazonais eram mais arrojadas, mas usando figuras já conhecidas, o que ajudava a serem recordadas. Vemos na “Agattanz” a presença de túneis e caracóis, como aparecem nas “Auftänze”, por exemplo; ou círculos duplos e o baixar dos homens, encontrados nas “Mühlräder”; ou nós e fileiras recorrentes nas “Reiftänze”. 

Há outras “pistas” para a datação de uma dança, como elementos da melodia, formação de pares, sequência de figuras, teatralidade, entre outras, igualmente aplicáveis à “Agattanz”. De toda forma, mais do que uma tradição encontrada em um casamento, ela é um indício plural da cultura da comunidade, expondo suas pontes com outros locais e tradições. Pode-se ver muito mais numa dança do que sua mera execução estética.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a “Agattanz” em https://youtu.be/j8TIzYiZpK4 . Acompanhe nossas redes sociais e o "Boletim Der Hut" na Imperial FM, às quintas-feiras, 20 horas, 104,5 ou no www.imperial.fm.br .

16.08.2023 - Schneidertanz

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16.08.2023 - “Schneidertanz” é uma dança em homenagem ao alfaiate?

A “Schneidertanz” - ou “Sniderdanz” em Plattdeutsch - é uma dança camponesa que representa o trabalho artesanal do alfaiate. Nela, podemos ver a caracterização de alguns elementos deste ofício, como botar o fio na agulha e o ato de costurar. Em toda a Alemanha, existem diferentes coreografias que trazem esse artesão como personagem principal.

Nas pequenas aldeias, o alfaiate era visto como alguém que passava fome. Como ele não estava acostumado com o trabalho braçal do campo, todos zombavam dele, porque ele só tinha sopa de batata para comer, de segunda a segunda. Claro que ele não gostava e logo ficava emburrado.

Em alemão, o equivalente para emburrado pode ser “bockig”, palavra que vem de “Bock”, bode. Por isso, na canção que acompanha a dança, o pobre coitado é chamado de “Ziegenbock”.

Na dança, não apenas os versos da canção fazem graça com o alfaiate, mas também os dançarinos. Todos os cumprimentos são executados com a “graça” um pouco exagerada dos bodes: as cabeças se batem levemente e as pernas são levantadas para trás. Uma figura engraçada que trás muita diversão a todos.

Todos esses elementos foram registrados pela professora Marie Peters, responsável por recolher diferentes danças na região de Mecklenburg. Posteriormente, durante o período da Alemanha Oriental, foi realizado um trabalho coreográfico preparando a dança para destacar tanto a versão tradicional dela quanto uma versão que ressalta a importância do trabalho do alfaiate.

Compare conosco as duas versões:  https://youtu.be/G6SDnMin17o . A primeira representa a dança como foi registrada por Marie Peters e a segunda a versão coreografada para representar o alfaiate em ação.

De qual você gostou mais? Conte aí para nós!

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15.08.2023 - Mexikanischer Walzer

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15.08.2023 - Mexikanischer Walzer” é do México?
Muitas danças têm em seus nomes designações de locais. Algumas fazem referência ao seu ponto de origem; já outras buscam dizer que seguem um “estilo” ligado a uma determinada região ou país. Em qual delas se encaixa a “Mexikanischer Walzer”?
Vejamos. A melodia “Mexikanischer Walzer” é um trecho da tradicional “La Chiapaneca”, dança típica ligada à cultura do sul do México, em especial à cidade de Chiapa de Corzo. Fontes apontam que essa música é da primeira metade do século XX e do mesmo período vem também uma base coreográfica para ela e uma releitura das indumentárias locais, caracterizadas por grandes saias floridas.
Observando os movimentos dessa dança no México, é característico dela o tremular das saias das damas, os giros e o bater de palmas. É comum ver somente mulheres apresentando-a, o que se justificaria pelo próprio título “La Chiapaneca” - às moças da cidade de Chiapa. Mesmo que a melodia seja em ritmo ternário, não se vê a realização do passo de valsa propriamente dito.
Já a “Mexikanischer Walzer” agrega homens, tira o foco do movimento intenso das saias delas e dá destaque ao valsar dos pares. Isso poderia ser tanto uma variante mexicana feita para casais, transmitida e difundida no exterior, quanto uma adaptação promovida fora do país. Algumas partituras registram ser dos EUA. Na publicação de Christoph e Michael Well eles explicitamente dizem que ela não é original do México.
Assim, pode-se pressupor o seguinte: a “Mexikanischer Walzer” é inspirada na “La Chiapaneca”, usando inclusive parte da sua melodia, contudo não parece ser realmente mexicana. Se for uma criação de lá, provavelmente será de fora de Chiapa de Corzo, já que as lógicas coreográficas delas não se combinam. De toda forma, ainda há chances de aparecerem novidades sobre ela. É bom considerar que “as aparências podem enganar”.
Quer saber mais? Veja o vídeo da “La Chiapaneca” em
https://youtu.be/TNZLOKsLcMs e compare com o da “Mexikanischer Walzer” em https://youtu.be/XeXYdUvYQzo . Acompanhe nossas redes sociais e o "Boletim Der Hut" na Imperial FM, às quintas-feiras, 20 horas, 104,5 ou no www.imperial.fm.br .

14.08.2023 - Chiemgauer Dreher

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14.08.2023 - Na “Chiemgauer Dreher” tem Schuhplattler?

Uma realidade bastante comum na Baviera, no sul da Alemanha, é o acréscimo de sapateados a danças típicas pré-existentes. Esta é uma tendência geralmente vista em “Trachtenverein” - Associações de Trajados - que tem a tradição de manter viva a “Schuhplattler”.

Na região do Chiemgau, na Alemanha e que faz fronteira com a Áustria, isso não é diferente. Lá a melodia do seu típico giro, o “Chiemgauer Dreher”, também adicionou o sapateado bávaro. O mesmo é possível ver com a “Kreuzpolka”, “Sterntanz”, “Kronentanz”, “Sternpolka”, entre outras.

A “Chiemgauer Dreher”, também chamada de “Kittl auf”, originalmente é bastante simples: nos primeiros dois compassos o rapaz conduz a dama a dar um giro completo para a direita, ele fazendo, ao final desse movimento, uma batida de pé direito no chão; na sequência o mesmo ocorre para o sentido invertido. A conclusão é com o casal, em posição convencional, realizando o par dois giros, retornando à formação inicial. Toda ela acontece em apenas oito compassos, reiniciando-a quantas vezes os músicos repetirem a melodia.

Essas ampliações de “Schuhplattler” acontecem geralmente após a música ser tocada uma ou duas vezes completa. Assim, não há uma mudança efetiva na coreografia tradicional: usam, sim, da repetição da melodia delas para fazerem o sapateado. Por outro lado, a postura usual dos dançarinos, reta e firme, se mantém durante a execução de toda a dança.

Não se pode dizer que é certo ou errado incluir a “Schuhplattler” nessas danças, já que o fazem em coreografias que estão dentro de um mesmo contexto regional, além de, efetivamente, não alterarem a estrutura básica delas. O que se verifica é a construção de composições que “atualizam” os símbolos locais, dando nova vitalidade às tradições - que são vivas nas comunidades. E nesse sentido é importante lembrar: o costume se mantém em uso se há interessados nele.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a  “Chiemgauer Dreher” com Schuhplattler + Kreuzpolka: https://youtu.be/oeC8l0OoQKI . Veja nossas redes sociais e escute o “Boletim Der Hur” na Imperial FM, 104,5 FM ou em www.imperial.fm.br .

13.08.2023 - Treskowitzer Menuett

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13.08.2023 - A “Treskowitzer Menuett” é uma dança da fidalguia?

Algumas formações coreográficas que eram tradicionais da aristocracia centro-europeia, por ironia, sobreviveram com o passar dos séculos, em comunidades rurais do leste. Minuetos são exemplos disso: mesmo historicamente sendo danças da nobreza, em Treskowitz - localidade tcheca hoje chamada de Troskitovic -, por exemplo, eles ficaram conhecidos como “Bauernmenuett”, por serem de camponeses.

Como era muito comum que os fidalgos de localidades pequenas e distantes imitassem seus coirmãos das grandes cortes - como Paris, Berlim e Praga -, isso levou hábitos culturais destes para fora dos grandes centros urbanos. Não tardou para que os camponeses, vendo a aristocracia, buscassem copiar tais manifestações.

Claro que em um movimento de cópias a partir de outras cópias, houve uma gradual mutação dos conteúdos. Com os minuetos não foi diferente. Mesmo que as danças cortesãs contrastassem com as campesinas, ocorreu nesse trânsito uma simplificação das melodias e passos, aproximando os dois estilos. Houve casos também onde o povo parodiava seus nobres.

Refletindo sobre a “Treskowitzer Menuett”, ela apresenta posturas mais delicadas do que normalmente seriam feitas pelos camponeses, assim como mantém formações de quatro pares - Quadrille - também convencionais neste contexto. De toda forma, não se pode dizer que há somente uma possibilidade de dançá-la, já que relatos trazem variações de sua coreografia, com mudança de passos e ritmo.

Assim, observa-se que, em muitos casos, é nas localidades interioranas que se pode encontrar antigos indícios das tradições da corte, mesmo sendo um espaço rural. Mudadas ou ajustadas, elas ainda trazem pistas de como era o peculiar ambiente da fidalguia européia. De toda maneira, é importante ressaltar que também nelas se manteve viva a cultura popular. Uma ponte entre duas realidades distintas.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo da “Treskowitzer Menuett” em https://youtu.be/cclfvZr-olA e nos acompanhe nas redes sociais do Der Hut e escute nosso programa de Rádio às quintas-feiras à noite, 20 horas, em www.imperial.fm.br .

12.08.2023 - Tschu tschu wa

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12.08.2023 - “Tschu tschu wa” é uma dança ou uma brincadeira?

É interessante observar como as brincadeiras infantis acabam rodando o mundo. Ainda mais hoje com as mídias sociais. Uma delas que é encontrada em vários idiomas é chamada em português de “Tchutchuá”.

Claro que, em alemão, também temos a versão chamada “Tschu tschu wa”. Porém, hoje, vamos falar de uma versão escrita e gravada pelo músico alemão Volker Rosin. Com mais de cinquenta obras lançadas, entre CDs, DVDs e Musicais, ele é hoje uma das principais referências para músicas e composições infantis na Alemanha.

A partir da brincadeira Tchutchuá, ele criou uma nova composição: “Tschu tschu wa - Die Eisenbahn”, ligando a brincadeira ao trem de ferro.

Que tal aproveitar essa brincadeira tão conhecida para trabalhar a língua alemã e o movimento com as crianças? A partir dessa canção infantil, podemos fazer uma dança cheia de movimentos e diversão!

Nela, todas as crianças andam com o trem de ferro. A cada sequência, mais um novo elemento é adicionado, como se fosse uma das etapas da viagem e todos precisam repetir os gestos!

Primeiro, antes de entrar no veículo, todos representam as rodas pequenas do trem; depois, as rodas maiores do trem. Em seguida, todos cumprimentam o cobrador, que, em alemão, é chamado de “Schaffner”, e mostram a ele sua passagem. Já durante a viagem, todos passam por altos montes, que não são para os bem pequenos! Todos abanam e, de repente, todos param! O que será que aconteceu? Ah, é só uma das paradas do trem… e a viagem continua!

Todos os trechos são ligados pelo refrão “Tschu tschu wa” e pelo apito tão tradicional do trem de ferro.

Que tal embarcar nessa viagem tão especial com os pequenos? Acompanhe o vídeo animado da música “Tschu tschu wa - Die Eisenbahn”: https://youtu.be/67-QX_6LnC4 Você conhece alguma canção com “trem de ferro” em português? Conta para nós nos comentários!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja também as redes sociais do Der Hut, assim como escute nosso programa de rádio às quintas-feiras, às 20 horas, em www.imperial.fm.br .

11.08.2023 - Maike

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11.08.2023 - Na “Maike” o nome faz referência a uma dama ou a um cavalheiro?

O professor Otto Ilmbrecht registrou duas variações da dança Maike. Uma delas em um livro de danças da Vestfália e outra em um de Bückeburg. Apesar de ser a mesma dança, ambas se diferenciam um pouco na melodia e na coreografia. Mas o principal é que as duas variações apresentam a moça como figura central.

Apesar de muitos acharem que “Maike” seria um nome feminino, ela é, na verdade, a palavra em dialeto vestfaliano para “moça” ou “menina”. Em uma das publicações, a dança foi chamada de “Maike, wutt du noch nich up“, primeiro verso da canção associada à dança.

Vamos conhecer um pouco mais sobre essa moça da canção?

O verso que dá início à dança nos apresenta: “Menina, você não quer levantar e ordenhar sua vaca? O pastor leva (o rebanho de gado) para a aldeia, chama e você sempre dorme.” Percebe-se que é, de certa forma, uma canção de brincadeira, uma “Scherzlied”. Na dança, nenhuma das dançarinas representa essa moça, mas, entre os camponeses, era sabido que, aquela que era preguiçosa, não arranjaria um bom casamento e, na época, as canções populares ajudavam a lembrar e a perpetuar isso.

Apesar da canção dizer indiretamente que a moça é preguiçosa, a dança “Maike” cumpre o seu papel dando às damas um lugar de destaque positivo. A figura em que elas são deixadas ao meio da roda pelos seus pares não deve ser vista como um abandono, mas sim, o momento em que elas estão no centro das atenções, afinal, o interior de uma quadrilha é um palco, um lugar de honra. Quem está ali se encontra em uma posição especial e é o destaque dos acontecimentos.

“Maike” é um dos mais belos exemplares da dança popular da Vestfália, a qual, segundo o professor Otto Ilmbrecht, faz com que todo o comedimento e a retração, características comuns entre os vestfalianos, sejam superados. Nada mais justo do que enaltecer o importante papel desempenhado pelas moças.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a música em https://youtu.be/aLudKQRoRpA . Acompanhe nossas redes sociais e o “Boletim Der Hut” na Imperial FM, 104,5 ou www.imperial.fm.br .

 

10.08.2023 - Die Räder vom Bus

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10.08.2023 - “Die Räder vom Bus” é uma dança típica?

Em português, “Die Räder vom Bus” significa “as rodas do ônibus”. Seu ritmo parece ser bastante conhecido, não é? Ela foi escrita em língua inglesa pela americana Verna Hills e publicada em dezembro de 1937, com o nome “The Bus” - o ônibus -, mas, com o tempo, passou a ser conhecida por “The Wheels on the Bus”.

Mas como essa canção infantil chegou até os grupos de danças no Brasil?

Pois bem, primeiro, ela passou pela Alemanha. O músico britânico-alemão Robert Metcalf a traduziu e a lançou em seu CD “Robert feiert Geburtstag” em 1995. Por ter um ritmo cativante e uma letra fácil, a canção acabou se tornando muito popular entre as crianças.

Mas ela é uma dança típica?

Não, ela é uma canção infantil bastante popular. Contudo, mesmo não sendo uma dança típica, com seu ritmo alegre e seus movimentos simples, ela nos permite trabalhar diversos aspectos com os pequenos: como o idioma e a interculturalidade - sendo muito boa também para as aulas de língua alemã!

Na parte do idioma, o vocabulário é simples e as repetições permitem a introdução e a fixação de palavras e de pequenas expressões. Já em relação à interculturalidade, pode ser abordada a presença do ônibus na rotina diária das crianças. Tanto no Brasil quanto na Alemanha, é comum ir de ônibus até a escola. Então, por que não comparar como é o deslocamento para a escola no Brasil e na Alemanha?

“Die Räder vom Bus” é com certeza uma possibilidade de trazer a dança e o movimento para o dia-a-dia das crianças. Com algumas diferenças de versão, são representadas algumas situações:

- A porta do ônibus abre e fecha;

- A roda do ônibus gira;

- O limpador de para-brisa em ação;

- O barulho da buzina;

- O motorista controlando a passagem;

- As pessoas conversando;

- As crianças fazendo bagunça;

- Os bebês dormindo.

Para as crianças, é muito mais do que apenas uma música, é uma verdadeira viagem de ônibus através da dança.

E você como vai/ia para a escola? Conta aí! Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a música em https://youtu.be/dlCHEwZ4q1o .

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09.08.2023 - Schwedische-Quadrille

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09.08.2023 - A “Schwedische-Quadrille” é uma herança sueca na Alemanha?

Você sabia que algumas regiões do norte da Alemanha já estiveram sob domínio sueco? E não foi por pouco tempo! Entre os séculos XVII e XIX, parte do estado de Mecklenburg-Vorpommern pertenceu ao reino sueco.

Hoje, é muito comum encontrar no norte da Alemanha a expressão “Alter Schwede”. Mas, de onde ela surgiu e o que ela significa? Após a Guerra dos Trinta Anos (século XVII), experientes soldados suecos foram trazidos para ensinar os soldados de Brandenburgo. Aos poucos, eles passaram a ser chamados de os velhos suecos, ou seja, “die alten Schweden”. Com o tempo, a expressão “Alter Schwede” passou a ser usada para expressar surpresa, sendo esse um de seus usos.

Também, na dança, ficaram resquícios da presença sueca na região. Uma delas é a “Schwedische-Quadrille”. Possivelmente, ela possa ter surgido a partir de alguma dança que chegou com os suecos. Algumas versões apresentam ela para quatro  e outras para oito pares.

Outra variação que, aparentemente, não tem relação com os suecos é a canção que acompanha uma das partes da dança. Em um registro, aparece o seguinte texto:

“Schenk mir deine Liebe

und dein treues Herz

ganz aus freiem Triebe

und nicht zum bloßen Scherz.”

Cuja tradução livre seria:

“Me dê de presente o seu amor

e o seu fiel coração

totalmente por livre vontade

e não por pura brincadeira.”

Já um outro registro apresenta a seguinte canção:

“Kennst du die Liebe,

kennst du den Schmerz?

Kennst du mein’n Wilhelm

und sein treues Herz?”

Tradução:

“Você conhece o amor,

você conhece a dor?

Você conhece o meu Guilherme

e seu coração puro?”

Seria esse Wilhelm (Guilherme, em português) algum sueco que ficou pela região? Infelizmente, isso é apenas especulação. Possivelmente, o nome Wilhelm foi escolhido apenas por rimar melhor com a palavra “Liebe”.

De qual canção você mais gostou? Conta aí pra nós! E que tal, na próxima vez que você dançar a “Schwedische-Quadrille”, cantar também a canção? Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e conheça essa e outras dancas. E nos acompanhe nas redes sociais e em nosso programa “Boletim Der Hut” às quintas-feiras, 20h, na 104,5 FM ou www.imperial.fm.br

08.08.2023 - Jägermarsch

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08.08.2023 - Na “Jägermarsch” os rapazes fazem gestos obscenos?

Com certeza não! Na “Jägermarsch” - uma dança tradicional do sul da Alemanha, Áustria, norte da Itália e Boêmia - as figuras são até bastante “comportadas” - mesmo que, muitas vezes, os camponeses não o fossem. Mas de onde vem esse rumor?

Primeiramente é importante destacar que a “Marcha do Caçador” - “Jägermarsch” - faz parte de um conjunto conhecido como “Marsch-Walzer”, que nada mais são do que danças que somam uma metade do tempo de marcha e outra de valsa. Estão entre elas a “Sautanz”, “Dürrwanger Liebe”, “Schweinerner”, “Bauern-Francaise”, “Gänsemarsch”, “Schützenmarsch”, “Burgenländische Quadrille”, entre outras.

Na “Jägermarsch” descrita por Karl Horak, por exemplo, os pares marcham no círculo nos primeiros 8 compassos. Depois, se separam, formando dois círculos concêntricos: rapazes por dentro - batendo palmas -, seguindo no sentido anti-horário, e moças por fora, em direção contrária. Após esse período podem se formar novas duplas e estas valsam por 16 compassos. Mas onde existiria obscenidade aqui?

A questão não está na coreografia, mas em um gesto substitutivo às palmas dos rapazes: nesta outra opção eles batem a palma da mão direita sobre a esquerda fechada. O mesmo aparece em outras danças, a exemplo da teatrada “Holzhacker”. Se para a cultura alpina este movimento pode imitar o som desencontrado dos tiros das espingardas, dando sentido ao nome “Jägermarsch”, para o espectador desavisado isso pareceria um gesto rude e de cunho sexual.

Assim, ela não tem nenhuma intenção de ser imoral: é uma interpretação equivocada. Isto ocorre exatamente na falta de compreensão de uma cultura. E por um segmento da população não compreender esses gestos eles devem ser banidos da “Jägermarsch”? Provavelmente não, por mais que poucos dançarinos os usem. De toda forma, é importante haver esclarecimentos… ninguém quer ganhar a fama indevida de obsceno.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja esta danca em https://youtu.be/LKvXoQwsTN0 . Compartilhe nossas publicações das redes sociais e escute nosso “Boletim Der Hut” às quintas-feiras, 20 horas, em www.imperial.fm.br .

07.08.2023 - Wolgaster

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07.08.2023 - A Wolgaster é uma dança típica ou uma brincadeira?

Na antiga Pomerânia, em dia de festa, uma multidão se encontrava à tarde na praça. De longe, era possível ouvir os músicos: o baixo, o violino, o clarinete e o trompete. As crianças corriam e brincavam no gramado e os adultos se encontravam em grandes mesas para animadas conversas durante o café da tarde.

Eis que, após o intervalo de uma dança, alguns dos que estavam sentados se levantavam e uma moeda era lançada sobre a mesa dos músicos. Esse era o sinal para tocarem a próxima dança: a de Wolgast.

Em grupos de quatro pares e com muita postura e graça, aqueles homens e mulheres se deslocavam em círculo para a esquerda e para a direita. Dois pares formavam uma torre, enquanto que os outros dois homens giravam graciosamente suas damas pela cintura e as conduziam através das torres.

Porém, parecia que a música trazia à lembrança daquelas mulheres algumas travessuras juvenis. Aparentemente, passar apenas uma vez pelas torres não bastava para elas: queriam atravessar novamente e mostrar para os rapazes que elas conseguiriam fazê-lo sozinhas. Eis que então, após os giros, elas passavam novamente pelas torres, voltando a sua posição inicial. Surpresos, percebiam que, para eles, restara apenas uma torre para a passagem. Assim, os dois grandalhões precisavam se espremer naquele pequeno espaço para voltar para suas damas.

Claro que eles não deixariam por isso. Na próxima figura, ao cruzar com o próximo par, os rapazes rapidamente procuravam a mão da outra moça para formar uma pequena corrente. E ao voltarem aos seus lugares, era possível ver em seus rostos um grande sorriso com a expressão: “Vocês sabem brincar! Mas nós também sabemos!”.

Ao descrever a dança “Wolgaster”, originária da pequena localidade pomerana de Wolgast, no norte da Alemanha, o professor Willi Schultz mostra exatamente o que é a dança típica: um momento de diversão, brincadeira e interação entre os dançarinos.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo do Gartenstadt, de Blumenau-SC, em https://youtu.be/QXk4nv-AlAE . Visite as redes sociais do Der Hut e acompanhe nosso programa de rádio.

06.08.2023 - Schlamperer

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06.08.2023 - A “Schlamperer” é uma nova dança da Francônia?

Contam de modo anedótico que, se perguntado a alguém da Francônia - região que fica dentro do Estado Livre da Baviera - se este é bávaro, de pronto ele responderia: “não, sou francônio”. Seria o bairrismo.

Foi buscando fomentar essa identidade regional que teria nascido a coreografia da “Schlamperer”. Segundo artigo de Heidi Christ, o Prof. Hans Beier estava na Baixa Francônia nos anos 1950 quando iniciou atividades com o “Volkstanzkreis Aschfeld” e se deparou com a ausência de danças da região.

Beier teria procurado bibliografias e só encontrado de outros locais. Ao contatar a Frankenbund - Liga da Francônia - para pedir publicações sobre Volkstänze regionais, veio uma contraproposta: se ele mesmo poderia escrever algo, já que eles não o tinham. Assim, o professor começou a juntar conteúdos para fazer seu próprio impresso.

Ele recebeu materiais encaminhados por parte da Liga e dados coletados por Hellmuth Hingkeldey. O problema é que mesmo assim as informações seguiam sendo insuficientes. O que fazer? A solução encontrada por Beier foi criar novas danças.

Neste contexto que nasceu a coreografia da “Schlamperer”: Beier teria recebido da Bayerischen Rundfunk - Rádio Bávara -, via Josef Ulsame, material de músicas típicas. Sobre isso, o professor escreveu em 13 de setembro de 1955 à Ulsamer: “O número de danças da Francônia é extremamente baixo. Portanto, desenvolvemos novas [...] para algumas melodias da Francônia que você indicou... A melodia [da “Schlamperer”] causou grande entusiasmo e eu ficaria muito grato a você por melodias semelhantes.”

Assim, em 1957, quando Hans Beier e a Frankenbund publicaram a “Fränkische Tänze” lá estava a “Schlamperer”. Hoje, é uma das mais destacadas danças regionais da Francônia, trazendo também a público sua letra divertida “Mei Schatz, des is a Schlamperer, / dra-diri-di-ru-la-la-la-la”. Quem escuta fica instigado a dançar e a cantar… tanto francônios quanto bávaros.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja https://youtu.be/5P3eWi50AZM . Acompanhe as redes sociais do Der Hut e às quintas-feiras, 20h, nosso programa em www.imperial.fm.br

05.08.2023 - Die goldene Brücke

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05.08.2023 - "Die goldene Brücke” é uma dança ou uma brincadeira?

Duas crianças combinam: “Qual fruta você quer ser? Eu quero ser pêra! Eu quero ser maçã!". E, por fim, mais uma decisão: “Você quer ser anjinho ou diabinho?” Depois de tudo acertado, elas se dão as mãos e formam uma ponte. As demais crianças, formam uma fila e passam por baixo. Enquanto isso, todos cantam alguns versos.

Em determinado momento, a dupla que forma a ponte baixa os braços, prendendo um dos participantes. Daí a criança precisa definir qual fruta quer: pêra ou maçã? Conforme a escolha, ela vai para trás de um da dupla e forma uma fila. A brincadeira continua até todos serem pegos.

Por fim, é revelado quem são os anjinhos e quem são os diabinhos. Então, todos os diabinhos saem correndo para caçar os anjinhos, terminando a brincadeira quando todos foram caçados.

Será que isso se passa na Alemanha ou no Brasil?

Com variações em relação à forma de jogar e também à canção, brincadeiras semelhantes a essa são encontradas não só no Brasil e na Alemanha, mas também em outros países.

A descrição acima foi feita a partir da “Passa passará” encontrada em partes do Rio Grande do Sul, mas ela é bem parecida com a alemã “Die goldene Brücke”.

Na “Passa passará”, encontramos esse texto entre algumas variações:

Passa passará

Quem de trás ficará

Seu Martim Pescador

Dá licença de eu passar.

O primeiro, o segundo,

O terceiro, eu vou pegar.

Já na “Die goldene Brücke”, uma das variações apresenta a seguinte canção:

Ziehe durch, ziehe durch

Durch die goldne Brücke

Sie ist entzwei, sie ist entzwei

Wolln sie wieder flicken

Der erste, der zweite

Der dritte muss gefangen sein

Mas é apenas uma brincadeira ou também uma dança? A princípio, é uma brincadeira que é acompanhada de uma canção infantil. Mas, se ela é divertida e todos gostam, é isso que importa.

Conta aí pra nós que outras brincadeiras você conhece! E que tal retomarmos elas com nossos pequenos?

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a “Die goldene Brücke” em https://youtu.be/EI9XuP2l6MY , a  “Passa passará” em https://youtu.be/J7epApBldpI e a “Bom barqueiro” em https://youtu.be/JEeqoFhWtic .

04.08.2023 - Zillertaler Hochzeitsmarsch

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04.08.2023 - “Zillertaler Hochzeitsmarsch” é pseudo-típica?

Você conhece a “Marcha do Casamento do Vale do Ziller”? Se não reconhece o nome, quem sabe tenha escutado ela como “Dança do Emagrecimento”? Pode parecer estranho, contudo a “Zillertaler Hochzeitsmarsch” já foi - ou ainda é - chamada assim por bandas brasileiras de música alemã. Mas qual sua história e coreografia?

Mesmo sendo antiga, a música da “Zillertaler Hochzeitsmarsch” chegou às paradas de sucesso nos anos 1980 pelas mãos da banda “Zillertaler Schürzenjäger”. Na interpretação deles, ela parece mais uma polca do que realmente uma marcha. Sua coreografia é “moderna”, desse mesmo período, e teria sido feita para atender aos shows do conjunto.

Contam que a melodia dela já transitava, provavelmente desde o século XIX, de modo itinerante, com músicos do Zillertal, região do Tirol austríaco. Por certo tempo teria sido chamada de “Zillertaler Tramplan”, do francês “Polka tremblante” - “Polca trêmula”. O cantor Rolf-Dietmar Schuster, nos anos 1970, lançou “Loß mer jet no Neppes jon” que é incrivelmente parecida com a hoje “Zillertaler Hochzeitsmarsch”. Como ela não tinha um nome oficial, também pode ter sido gravada com outros títulos e ter caído no esquecimento.

E por qual motivo a coreografia é dita “pseudo-típica”? Ganhou esse adjetivo, pois suas figuras não seguem uma estrutura tradicional de dança típica, mesmo que traga algumas formações características. Outro ponto que a diferencia das Volkstänze é a métrica da melodia e sua interpretação em ritmo mais “pop” - ao estilo “Schlager”.

Seria uma questão de tempo para ela se tornar uma dança típica? Nem tudo se resolve esperando… De toda forma, sua fama e popularidade pelo menos já a garantem entre os símbolos das tradições austríacas contemporâneas. Agora é saber como ela será vista no futuro… Pior do que ser associada ao emagrecimento, como acontece no presente, não pode ficar.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz  e veja a dança com o Zillertaler Schürzenjäger em  https://youtu.be/mXpgqh_SROE . E acompanhe o Boletim Der Hut nas Redes Sociais e na rádio, às quintas-feiras às 20h: www.imperial.fm.br 

03.08.2023 - Es geht eine Zipfelmütz

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03.08.2023 - “Es geht eine Zipfelmütz” é a dança da carapuça?

Canções e brincadeiras de roda são muito comuns entre diversos povos. Dificilmente, consegue-se identificar o momento exato em que a brincadeira surgiu e qual variação é a original. De qualquer forma, o mais importante é que essas canções contribuem muito para o desenvolvimento das crianças, seja na parte motora, linguística, social ou cultural.

Entre as canções de roda em língua alemã é encontrada a “Es geht eine Zipfelmütz”. Ela é bastante conhecida entre as crianças e apresenta semelhanças com outra cantiga de roda chamada “Es tanzt ein Bi-Ba-Butzemann”. Como exposto acima, é difícil dizer se uma originou a outra ou se ambas têm alguma origem comum.

Como é tradicional em brincadeiras de roda, a própria canção vai dizendo às crianças o que elas devem fazer. Tudo começa com uma delas no centro do círculo representando a “Zipfelmütze” - a carapuça - e os demais cantam que “uma carapuça está andando na roda”.

Na sequência, são cantados alguns números. Os versos podem variar, conforme a versão da canção. Em uma delas, as crianças entoam: “Três vezes três é nove, cada um canta o seu; Vinte é duas vezes dez, a carapuça fica parada, fica parada, fica parada”.

É na terceira parte que a “carapuça” escolhe uma nova criança ou para lhe fazer companhia no centro do círculo ou para substituí-la: “Ela se sacode, ela se chacoalha, ela joga as pernas pra trás de si, ela bate palmas, nós dois somos parentes”. E começa tudo de novo.

É interessante observar que, entre as brincadeiras infantis em língua alemã, existem outras canções que apresentam a carapuça como elemento. E no folclore brasileiro, você conhece algum personagem que usa carapuça? Escreva aí nos comentários, essa é fácil!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja uma versão da música em https://youtu.be/wj1KOIoKdHo .

02.08.2023 - Hulaner

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02.08.2023 - A “Hulaner” é a dança dos lanceiros?

Algumas tradições têm sua origem imprecisa, mas isso não as impede de contarem histórias bem preciosas. Um exemplo disto é a “Hulaner”, que é atribuída a diferentes locais e tem no nome uma rica narrativa.

Uma versão da “Hulaner” foi registrada nas proximidades da nascente do rio Oder, no território tcheco. Lá também seria chamada de “Schwingtanz” - “Dança do balanço [da perna]”, sendo vista na Morávia do Norte, no Kuhländchen e no Odergebirge. Já outra variante dela apareceu a quase 560 km daquele ponto, no Kärnten austríaco, como “Soldaten-Landler” - “Landler dos Soldados”. Assim como estaria presente na “Suábia Turca”, área da atual Hungria. Elas se parecem e tem ligação…

Já o nome “Hulaner” viria de “Ulan”/ “Ulaner” / “Uhlanen” / “Ułani”, designação dada a cavaleiros armados com lanças. Seriam derivados da palavra turca “oğlan”, que quer dizer "jovem". Esses soldados teriam se estruturado lentamente a partir do século XVII em áreas da atual Polônia. Há ainda registros da atuação deles na Primeira Guerra Mundial, como uma espécie de infantaria.

E existe uma letra para a melodia da dança. Será que ela fala de campanhas militares ou bravura dos cavaleiros?

O texto, em tradução livre, diz: “Pule duas vezes, gire duas vezes, assim dançamos nós dois a Hulan. A minha mãe traz o bolo para dentro, e nós o comemos juntos. / O bolo eu nunca mais como contigo, ele esfria-me muito os pés. Para minha querida alegro-me mil vezes mais, isso provavelmente nunca mais vai me irritar.” Mesmo que a letra possa ter outros sentidos regionais, com certeza não se parece nem um pouco com um conto de fadas e seus cavaleiros valentes.

E para complicar um pouco mais, as coreografias da “Hulaner” se parecem em demasia com a “Familienwalzer”, muito presente na Dinamarca. Como explicar essas pontes culturais entre locais tão distantes? Acreditar que os lanceiros espalharam essa dança parece improvável - por mais que esses muitos quilômetros de distância possam ter sido cruzados a cavalo… mesmo sem lanças. 

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja uma versão da Hulaner em https://youtu.be/veMalY0astc .

01.08.2023 - Dr Seppel

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01.08.2023 - A letra de qual música os suíços sabem melhor: o Hino Nacional ou a Dr Seppel?

Resposta: hino nacional suíço. Este tem suas próprias estrofes em alemão, francês, italiano e reto-românico - ou seja, todas as quatro línguas nacionais da Suíça -, cantadas com a mesma melodia. No feriado nacional de 1º de agosto, alguns suíços fazem uso de uma camiseta com o texto escrito de cabeça para baixo: então você pode ler a letra olhando da barriga até o peito.

Já do “Seppel”, a maioria das pessoas sabe pouco mais do que uma linha: "Dr. Seppel isch en brave Maa" - “Dr. Seppel é um homem bom”. E fica nisso. Seria um dialeto difícil? Mesmo sendo uma música famosa, o texto não é lá muito cantado… pois é desconhecido para a imensa maioria - por mais irônico que isso possa parecer.

A melodia é atribuída a Dominik Kürzi, supostamente de 1845. O texto da “Kapelle Druosbärg-Büeblä” é provavelmente o mais original - https://youtu.be/ObcLymCecFE . Mas existem algumas variantes da letra circulando, também de cantores pop. Como acontece tradicionalmente nas canções populares, o que é cantado também muda com o passar do tempo, sendo adaptado aos acontecimentos atuais e ao “espírito do momento”.

A música de Seppel tem mais de 100 anos, já a coreografia só foi criada em 1970, por Martin Hotz. De toda forma, todos os grupos de dança típicas da Suíça a têm em seu repertório… e ela não pode faltar em nenhum festival de Volkstänze helvéticas.

Visto desta forma, por ser muito famosa, ela definitivamente pode ser comparada à dança “Der Nagelschmied”: todo mundo a conhece. Por outro lado, ao contrário desta - em que vários locais fora da Suíça erroneamente reivindicam ela para si - ninguém questiona a nacionalidade da Seppel. Provavelmente seja por causa do texto… que não se consegue cantar.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a dança em https://youtu.be/krRHj3MZqe4  e escute a versão moderna da canção em  https://youtu.be/oHj83sd6yOY . Siga nossas publicações nas redes sociais do Boletim Der Hut e nosso programa de rádio todas as quintas-feiras, às 20h: www.imperial.fm.br .

31.07.2023 - Der Millionär

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31.07.2023 - Se eu dançar a “Der Millionär”, vou me tornar milionário?

A busca pelo milhão está presente na cultura popular de muitos países. Tanto no Brasil quanto na Alemanha, o jogo de perguntas e respostas com prêmio de um milhão é muito popular. Também no cinema, por exemplo, encontramos diversos personagens em busca pelo tão estimado valor.

E quem não lembra do personagem dos quadrinhos, o muquirana “Tio Patinhas”? A propósito, você sabia que, em alemão, o personagem se chama “Onkel Dagobert” (ou também “Dagobert Duck”)? Se bem que ele está mais para bilionário do que para milionário.

Quem não quer ser um milionário, não é?

Então, se eu dançar a “Der Millionär”, vou me tornar um milionário?

Infelizmente, não é tão fácil assim. Vamos entender a relação desta dança típica com o seu nome.

No estado alemão da Turíngia, foi encontrada uma dança com o nome de “Der Millionär”. O professor Arno Schlothauer descreveu a dança como uma das mais queridas pelos antigos moradores da região de Ruhla. Segundo ele, essa bonita e extremamente agradável dança era executada na região há quase dois séculos. E, como eles a estimavam como algo muito especial, a chamavam de “a milionária”. Sua música é composta por trechos de antigas melodias da Turíngia.

Desde então, a dança ganhou novamente vida nas mais diferentes festividades tanto em Ruhla quanto também em outras regiões. Para sua execução, sugere-se o mínimo de quatro pares. Além disso, a troca de passos e figuras deve acontecer de forma bastante elegante (afinal, é a milionária!)

Quem já dançou a “Der Millionär” sabe bem do que estamos falando. Ela representa muito bem a junção perfeita entre melodia e variação de figuras, o que a torna “a milionária”. Um adjetivo que representa muito mais do que valor financeiro, mas sim valor artístico e cultural. Afinal, mesmo não tendo muito dinheiro, podemos ser ricos em outras áreas! Por isso, vamos dançar a “Der Millionär” e valorizar cada vez mais as diferentes manifestações culturais!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja essas e mais informações deste projeto.

30.07.2023 - Tsjerkessia

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30.07.2023 - A “Tsjerkessia” e a “Fröhlicher Kreis” são parentes?

O nome “Tsjerkessia” se refere ao povo circassiano, grupo étnico originário da região do norte do Cáucaso, localizado entre o mar Negro e o mar Cáspio e que forma a fronteira entre Europa e Ásia. Cristãos desde o século VI, os circassianos adotaram o islamismo no século XVIII para se unirem a outros estados islâmicos dos Impérios Persa e Otomano contra o czar russo. Durante a Guerra Circassiana (1763-1864), mais da metade de seu povo morreu e cerca de um quarto foi deportado.

Mas como uma dança circassiana chegou aos primeiros israelenses?

De acordo com o estudioso de dança israelense, Dr. Zvi Fridhaber, os circassianos e os grupos de imigrantes judeus da área do Cáucaso, antes e durante as primeiras ondas de imigrantes pioneiros, tinham um background comum para suas danças e músicas. Então, em algum momento, os judeus que migraram do sul da Rússia e da Ucrânia - para onde o Czar havia realocado os circassianos - e os imigrantes circassianos - reassentados na Palestina pelos otomanos - inspiraram os judeus que viviam na Palestina a adaptar os motivos circassianos a uma ou mais danças chamadas “Cherkessia”.

Por isso, desde 1940, é possível encontrar publicações de diferentes danças que se referem a esse nome. Entre elas, está a “Tsjerkessia” - termo holandês - ou “Cherkessia”. Podemos dizer que ela é uma dança de Israel com características das circassianas.

Se você leu até aqui, talvez já tenha percebido que o nome “circassiano” soa até familiar, não é? A dança “Fröhlicher Kreis” (30.07.2023) também é conhecida como “Circassian Circle” - círculo circassiano. Porém, é pouco provável que as duas tenham a mesma origem. Talvez elas até possam ser parentes muito distantes. Contudo, é possível que tenham sido nomeadas assim por conterem alguns elementos comuns nas danças circassianas, especialmente a vitalidade acompanhada de uma melodia cativante.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja essa música em https://youtu.be/CRoeesbkJEQ . Nos acompanhe nas redes sociais do Der Hut e escute o nosso Boletim às quintas-feiras, 20h, na http://www.imperial.fm.br/ .

29.07.2023 - Koseder

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29.07.2023 - Koseder é a dança mais representativa da Cassúbia?

Era uma vez, em um pequeno povoado na Cassúbia, uma menina muito alegre e sonhadora. Um dia, ela ficou encarregada de levar o almoço para sua avó. Durante o caminho, a jovem acabou se distraindo e sujando seu lindo avental branco. A pequena se entristeceu, parecendo que nunca mais voltaria a sorrir.

Ao chegar à casa da avó, a menina não tinha mais o brilho em seu olhar como outrora. A pobre senhora quase não reconheceu a neta. Temendo que a pequena morresse de tristeza, a vovó teve uma ideia: pegou o avental e correu para o campo.

Como era primavera, a doce senhora encontrou todo o colorido da flora da Cassúbia. Uma a uma, ela foi colhendo as flores: o amor-perfeito, o lírio, a margarida, o cravo, a tulipa e a rosa. Com cuidado, foi colocando cada uma sobre o avental, formando um belo desenho. E, com suas mãos rápidas, foi bordando cada flor. Em poucos instantes, a avó fez uma representação do que havia de mais bonito ao seu redor.

Ao ver seu avental, os olhos da menina voltaram a brilhar e a tristeza desapareceu. E, assim, como costumam terminar os contos de fadas, a avó e a menina viveram felizes para sempre!

Assim como podemos identificar os cassubianos pelos bordados que trazem, o mesmo acontece via suas danças. Em seu repertório, uma de suas mais representativas é a “Koseder”. Seu nome vem de uma antiga expressão eslava que significa “cortar” ou “cortar com os pés”, movimento que é visível na dança.

E há alguma relação entre esse “corte” na “Koseder” e o “colher” das flores, como na história do avental? Muito improvável. Há alguns que acreditam que ela seja uma dança da colheita, mas não de flores e sim de alimentos. Seguindo essa lógica, estaríamos falando de uma dança camponesa provavelmente executada em períodos quentes. É uma hipótese.

Sendo da colheita ou não, a Koseder é com certeza uma das mais antigas e também principais danças da Cassúbia. Como ela se relaciona com suas lendas e narrativas é uma questão que, no momento, não temos como elucidar.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e https://youtu.be/3PI3A0CA1_g . Acompanhe as redes sociais do “Der Hut”.

28.07.2023 - Hohenbuckoer Springer

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28.07.2023 - A “Hohenbuckoer Springer” é uma dança pomerana da colheita?

No período da Alemanha Oriental, Gertud Küster dedicava suas férias de verão para pesquisar danças típicas. Ela passava por pequenos vilarejos e perguntava sobre antigas coreografias e melodias que os moradores talvez conheciam. Não era fácil ganhar a confiança dos mais velhos.

Em outra ocasião, Gertud participou de um curso que reuniu em Cottbus instrutores de Volkstänze. Nele, esteve presente Manfred Schmidt, do grupo da MTS Hohenbucko. Ele relatou que sabia uma dança que ninguém mais conhecia ou tinha registrado. Uma que ele aprendeu com sua avó.

Posteriormente, Gertud foi até Hohenbucko, no Brandenburgo, para conhecê-la. Ela quase não podia acreditar no que seus olhos viam. Uma dança típica alemã com tanta energia e empolgação! E os jovens executando ela com grande entusiasmo!

Logo, Gertud percebeu que a melodia era semelhante a da “Steieregger”. Outra dúvida que surgiu foi, como uma dança alemã tinha tantos saltos? Manfred explicou que, possivelmente, ela tenha as mesmas influências que a própria história da região de Fläming, onde fica Hohenbucko, a qual recebeu imigrantes belgas da região de Flandres e também de Boêmios com raízes eslavas.

Até o final do século XIX, a “Hohenbuckoer Springer” costumava ser executada na região em festas da primavera entre Páscoa e Pentecostes. Mas também durante o período da colheita, a “Springer” era dançada nos campos. Porém, nas festas da colheita, ela não tinha lugar.

No Brasil, a dança ficou muito conhecida por fazer parte da “Erntefest”, uma representação da festa da colheita na Pomerânia. Contudo, como podemos ver acima, a “Hohenbuckoer Springer” é uma dança do sul de Brandenburgo.

Aqui, vai um pedido: pergunte aos seus avós, se eles conhecem alguma dança, mesmo se você achar que eles não saibam. Pode ser que, em cem, teremos apenas uma resposta positiva, mas ela com certeza valerá a pena!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a Erntefest em https://youtu.be/yPd_IjCbGCA e https://youtu.be/54qh220PaQ0 .

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27.07.2023 - Der Trülli

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27.07.2023 - “Der Trülli” deveria ser uma lenta dança da Suíça?

Responda: qual é a capital da Suíça?

A) Basileia;

B) Zurique;

C) Berna;

D) Genebra;

Você errou se escolheu “B”! Zurique é a maior cidade, com 400.000 habitantes, mas Berna é oficialmente a capital da Suíça, mesmo com seus módicos 130.000 moradores.

O povo de Berna tem a reputação de não ser “muito rápido”. Em 1848 essa também teria sido a razão da escolha dela como sede do governo e do parlamento. Diziam que “nada estava acontecendo em Berna” e por isso os governantes não se distrairiam: “trabalhariam muito”. Provavelmente a mais importante justificativa era que lá tinham o melhor elo, no território helvético, entre os falantes do alemão e do francês.

Mas sendo a música da “Der Trülli” de Berna, ela teria que ser lenta e tranquila, não? Pelo contrário: a expectativa não correspondeu à realidade. Ela é bastante rápida e requer dançarinos experientes. Annelies Aenis criou a coreografia, na Basiléia, porque gostou muito da melodia e queria propor algo desafiador.

Ela provou que mesmo detalhes sutis podem embaralhar as ideias dos dançarinos mais bem preparados. O tradicional “taco, ponta e contrapasso” - “Ferse, Spitze, Wechselschritt” -, por exemplo, teve a ordem alterada: "contrapasso, taco, ponta do pé". Parece simples, mas essa mudança já causou muito “trabalho mental” a quem está determinado a dançá-la.

E uma curiosidade: o nome da música era diferente do atual da dança. Essa composição de Märku Hafner chamava-se “Där luschtig Gätzibrunner” - “O alegre morador de Gätzibrunnen”. Provavelmente isso ocorreu por "Trülli" ser uma denominação mais curta, fácil de dizer e descrever muito melhor o caráter dela: “trullen” significa “virar rapidamente”.

Assim, não se deixe levar pelas aparências, ou "sonoridades". A legendária “Huusmusig Jeremias vo Bärn” - “Casa de Música de Berna” - tocava-a com frequência. Portanto, se você se guiasse por isso e pela sua origem, a música deveria ser muito lenta e calma… “Só que não”.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz .  Nos acompanhe nas redes sociais do “Boletim Der Hut” e às quintas-feiras, às 20h na www.imperial.fm.br .

26.07.2023 - Sommermorgenwalzer

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26.07.2023 - “Sommermorgenwalzer” é uma dança ou uma canção?

Traduzindo seu nome, “Sommermorgenwalzer” é a valsa da manhã de verão. Parece meio aleatório existir uma valsa exclusivamente para a manhã de verão, não é?

Mas como chegamos a essa manhã de verão?

A “viagem” começa na Frísia, região que pertence tanto aos Países Baixos quanto à Alemanha. Com uma cultura bastante peculiar e um dialeto próprio, os Frísios possuem várias canções, mas poucas danças típicas.

Dessa forma, algumas danças foram criadas a partir de antigas canções. É o caso da “Sommermorgenwalzer” que, em dialeto frísio, é chamada de “Simmermoarnwals”. Ela foi coreografada pelo holandês Jan Kloetstra a partir de duas músicas: a “Simmermoarn” - que a nomeia - e a “Silerssankje”, ambas compostas no século XIX.

A canção “Simmermoarn” nos fala realmente de uma manhã de verão no campo. O narrador conta como é adorável vivenciar esse momento: o sol nascente sorrindo, o galo cantando e tudo o que vive está contribuindo para esse momento. Diante de tanta perfeição, ele não queria estar dormindo. Ele se sente maravilhosamente confortável. Tudo está feliz e ele também está feliz nessa manhã de verão.

Já a “Silerssankje” - canção do marinheiro - nos convida para um passeio de barco: “O vento sopra forte. Basta entrar! A água brilha ao sol. Entre no nosso barco!” O narrador continua contando que o timoneiro já está no leme e que a vela está içada. Enquanto passeiam, eles cantam alegremente. Nenhum lugar é melhor do que estar navegando naquelas águas.

Esta é uma verdadeira obra prima de Jan Kloetstra, unindo duas canções carregadas de sentimentos em uma dança simples, possibilitando aos dançarinos e aos espectadores serem levados pelas lembranças de uma manhã de verão, rememorando momentos em que a vida era tão mais simples.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Volkstanz- und Trachtengruppe des Heimatvereins Aurich em https://youtu.be/Ye4WYDaFM9Y . E nos acompanhe nas redes sociais, curta, compartilhe e comente. Na Imperial FM o programa “Boletim Der Hut” passa todas as quintas-feiras, às 20 horas - www.imperial.fm.br .

25.07.2023 - Siebenschritt

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25.07.2023 - A “Siebenschritt” imigrou para o Brasil em 1824?
É possível contar quantas variantes da dança “Siebenschritt” existem? Difícil. Só na região dos Sudetos, hoje parte da República Tcheca, há mais de meia dúzia catalogadas somente em um único livro. Some ainda as da Áustria, da Alemanha, da Itália, da Polônia, da Suíça, de Luxemburgo,... chega-se a uma quantidade impressionante.
Com o passar do tempo surgiram novas letras, nomes e coreografias para ela. Por isso, procurar só por “Siebenschritt” / “Sete Passos” pode ser insuficiente. Se necessitaria estudar em profundidade um grande conjunto de músicas e danças para promover um catálogo que levasse a esse resultado… e demoraria muitos anos para concluí-lo. É como procurar várias agulhas em um palheiro.
Vejamos algumas estrofes dessa canção na versão bávara:
Bauer, bind‘ dein Pudel an,
dass er mi net beißen kann.
Beißt er mi, verklag i di,
tausend Taler kost er di. 
É similar à vêneta? Não, é bem diferente:
Córi, córi Bepi, se te me vo ciapàr,
córi, córi Toni, se te me vo ciapàr,
un, due, trè e un, due, trè;
fin ca córo no' me ciapè!
O que as une, então? A melodia e a coreografia. O mesmo vemos nesta outra versão popular:
Brüderchen, komm, tanz mit mir!
Beide Hände reich ich dir.
Einmal hin, einmal her,
rundherum, das ist nicht schwer.
E dentre tantas canções, uma faz referência à emigração para a América:
Eins zwei drei vier fünf sechs sieben
wo ist denn mein Schatz geblieben
ist nicht hier , ist nicht da
ist wohl in Amerika
E ela também foi para o Brasil? Sim! Não se tem como precisar se chegou em 1824, quando é considerado o início da imigração alemã no país. De toda forma, já no século XIX ela se enraizou junto às comunidades locais, sendo conhecida, entre outros nomes, como Rutsch-Polka - “Polca que Escorrega”.
Mas essa história merece ser melhor contada… Assim, aguarde nossa postagem do projeto “Uma dança por dia” de 20.09.2023 e conheça mais sobre a “Siebenschritt” brasileira.
Quer saber mais?
https://www.culturaalema.com.br/tanz  , aprenda a dança em https://youtu.be/WY_AInwBPQs e ouça a música vêneta em https://youtu.be/OKHB4Ny_mjs .
“Boletim Der Hut” - quintas-feiras, 20h - Imperial FM,
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24.07.2023 - Oxtanz

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24.07.2023 - O “Oxtanz” está na peça “Sonho de uma noite de verão” de Shakespeare?
Teatro dentro das danças típicas não é uma novidade, sendo uma junção antiga. O que se altera, de um lugar para o outro, é a temática, por mais que algumas narrativas clássicas sejam universais.
A “Oxtanz” - também chamada de “Oxdansen”, “Rüpeltanz”, “Rippeltanz”, “Männertanz aus Schweden”, entre outras denominações - é uma dança-pantomima que representa um conflito entre dois rapazes. Cada repetição da música teatraliza um tipo de agressão física - soco, pontapé, tapa,... - e termina com caretas e gozações - ou vice-versa. Já foram registradas 48 figuras em uma única sequência.  
É provável que ela tenha surgido na Suécia, onde é popular. O nome original “Frikassé” teria dado lugar a “Oxdansen” - “Dança do Boi” - por influência dos estudantes de Karlstad, na província de Värmland. Seria uma ironia mostrar, no início, homens brutos que viram, ao final, pessoas cultas. O contrário também é verdadeiro, com um princípio educado e uma conclusão aos tabefes. Teria ido para comunidades de língua alemã pelos anos de 1930.
Mas como pode essa dança estar na peça “Sonho de uma noite de verão”, de William Shakespeare, da década de 1590? Essa confusão está em uma casualidade do nome: quando Felix Mendelssohn Bartholdy compôs, no século XIX, uma música inspirada nesta comédia, uma de suas partes foi denominada “Rüpeltanz”. Ela ficou muito famosa. De toda forma, o título é o mesmo, mas não é uma variante “Oxdansen” sueca.
Assim, “Oxtanz” ganhou popularidade e ainda hoje faz parte do repertório de muitos grupos de danças. Mesmo não sendo uma inspiração shakespeariana, já foi “encenada” em muitos palcos escolares suecos, assim como em audiovisual de língua alemã -
https://youtu.be/kMgHfEVr9Z8 . Cada uma tem sua própria fama.
Quer saber mais?
https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo dela em https://youtu.be/xJqKv3a2kUU . Acompanhe nosso trabalho nas redes sociais, compartilhe, curta e deixe seu comentário. Às quintas-feiras, às 20 horas, tem o “Boletim Der Hut” na Rádio Imperial FM, www.imperial.fm.br , 104.5 FM de Nova Petrópolis.

23.07.2023 - Hageln

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23.07.2023 - Cai granizo quando dançam o “Hageln”.

“Nunca vi chover canivete, mas granizo do tamanho de um ovo, já.” Pode parecer conversa de pescador, contudo grandes pedras de gelo realmente caem do céu quando as condições climáticas são propícias. Nos Alpes há muita chance de isso acontecer. Foi por isso que surgiu lá uma dança com esse tema? O “Hageln” - “Granizo” -, também chamada de “Hagelpolka” ou “Hagl-Polka”, foi registrada na Alta Áustria.

Como o granizo tende a apresentar a forma esférica, ele é associado a ovos ou bolas, como a de golfe. Surge a partir de nuvens muito úmidas de elevada altitude: temperaturas negativas e a alta circulação de vento ajudam a transformar a água do estado gasoso para o sólido, gerando as pedras de gelo. Seu efeito nas plantações, casas, estábulos, ... pode ser devastador, deixando telhados perfurados como um queijo suíço. Quem viveu isso não esquece.

Essa dança tem praticamente só figuras circulares e com giros. Isso ligaria ela ao formato redondo do granizo? Pode ser que sim, se visto que uma das partes é chamada por alguns de “Hageln”: quando os rapazes ao centro formam uma roda com a mão esquerda no ombro do da frente e as moças circundam eles no sentido contrário.

Contudo, há outras referências que discordam dessa interpretação: o nome viria de “Hakeln” ou “Einhaken”: “enganchar”. Poderia ser um coloquialismo. Nestas é considerado “Hageln” a parte em que os pares se encontram e engancham os braços, promovendo giros.

Olhando as duas interpretações, a segunda parece mais factível. É mais provável que se destaque o “enganchado” de uma Volkstanz do que o “granizo”. De toda forma, após o nome dado, muitos podem ter reinterpretado essa coreografia, dando-lhe outro sentido. Um dado é real: nem todos os dias são de sol; às vezes é interessante haver uma tempestade para mudar o ambiente, nem que seja numa dança.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo em https://youtu.be/wqEsmitoNYk . Acompanhe nosso trabalho nas redes sociais, compartilhe, curta e deixe seu comentário. Às quintas-feiras, às 20 horas, tem o “Boletim Der Hut” na Rádio Imperial FM, www.imperial.fm.br , 104.5 FM de Nova Petrópolis.

22.07.2023 - Schwedischer

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22.07.2023 - A “Schwedischer” é uma sueca da Áustria?

“Schwedischer” quer dizer, em alemão, o adjetivo “suéco”. “Schweden” é Suécia. É bom observar que muitas palavras terminadas em “er” tem o significado de “que são de algum lugar”. São exemplos disso a “Berliner” - berlinense -  da “Berliner Kontra”, ou “Deutscher” - alemão - do “Deutscher Dreher”.

O interessante é que a dança “Schwedischer” não é realmente sueca: é registrada como austríaca. Não se tem certeza de sua origem exata: ela é atribuída à Tragöß, no Steiermark, contudo pode ser mais antiga do que a versão registrada por lá. Ela segue um tradicional estilo alpino com três partes básicas: 1. lançar de pernas; 2. giro da dama; 3. valsa com o par. Após ela repete de acordo com a vontade dos músicos.

É bom saber que são considerados similares à “Schwedischer” os seguintes títulos: “Lustiger”, “Hausschlüsselwalzer”, “Hausschlüsseltanz”, “Haxenschmeißer” e “Vogel hupf auf”, entre outras. Por ser uma dança simples, muitos dos nomes podem ter surgido espontaneamente no “boca à boca”. Exemplos: um músico falando com o outro diz “me passa a partitura daquela música ALEGRE”; ou um dançarino conversando com o outro sugere “podíamos pedir para a banda tocar aquela que JOGA O JOELHO”. E assim vai.

Mas por qual motivo foi denominada de “sueca”? Na prática, parece ser uma antiga confusão. Dizem que em alguns locais as valsas eram chamadas de “Schwedischer”. O problema é que, na verdade, elas queriam dizer “Schwäbischer”. Por duas letras trocaram totalmente o povo de referência: deixou de ser “suábio” - comunidades do sul da Europa - para virarem “suecos” - do extremo norte.

Assim, seja por “qual” nome for chamada, ou de “quando” ou “onde” veio, a “Schwedischer” é mais um exemplo de cultura popular que se multiplicou no estilo “telefone sem fio”: guardando muitas tradições e também sofrendo transformações. Nesses caminhos conturbados, os suecos tiveram sorte de serem associados gratuitamente a uma bela dança dos austríacos. Faz parte das histórias a serem contadas.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz  , veja a dança em https://youtu.be/U3_801Of8zs e acompanhe o “Der Hut” nas redes sociais.

21.07.2023 - Der Webstuhl

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21.07.2023 - “Der Webstuhl” é a dança do tear ou da filha do cortador de palha?

“Rapidamente, prá lá e pra cá; cada vez, trocando o fio. Rapidamente, prá lá e pra cá; os fios vão e voltam. Hei, hei, pule por cima; assim como a lançadeira. Hei, hei, pule por cima; isso é tecelagem adequada.”

Ao vermos a dança “Der Webstuhl”, logo compreendemos o seu texto em alemão, traduzido acima. Ela representa o trabalho de um tear, no qual, os pares demonstram tanto a passagem do fio com a lançadeira, quanto a formação da trama e a batida com o pente.

Ela foi lançada na Alemanha, a partir de uma publicação Holandesa, a qual procurou registrar danças de diferentes países para crianças. Esta que conhecemos como “Der Webstuhl” (o tear), teve inspiração na dança francesa “La fille du coupeur de paille”, ou seja, “a filha do cortador de palha”, publicada na obra “Dix danses simples des Pays de France” - dez danças simples da França -, de J. M. Guilcher.

A canção é bastante popular na França e apresenta algumas variações na dança. Em seu texto, é cantado: “No caminho, conheci a filha do cortador de palha. No caminho, conheci a filha do cortador de trigo. Sim, sim, eu conheci a filha do cortador de palha. Sim, sim, eu conheci a filha do cortador de trigo.”

Como você pode perceber, o texto francês e o texto alemão não tem mais nenhuma relação, porém, alguns elementos da dança ainda são semelhantes. Aqui, podemos dizer que, a partir da inspiração original, teve-se a criação de uma nova dança com a mesma melodia.

“Der Webstuhl” proporciona tanto a quem dança quanto a quem assiste a possibilidade de conhecer como funciona um tear. E, que tal, a partir da coreografia, promover o resgate dessa arte? Essa técnica de produção de tecidos está presente no patrimônio de diferentes povos e permite um interessante trabalho intercultural.

E você já viu um tear de perto? Confira o vídeo do Sebrae apresentando técnicas da tecelagem manual: https://youtu.be/aeAc_3IxRbM

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20.07.2023 - Einzugs-Stets

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20.07.2023 - A “Einzugs-Stets” é para entrar na pista de danças?

“Rituais” são importantes em festas típicas. Em alguns lugares, por exemplo, os rapazes precisavam “reservar” uma dança das moças: elas anotavam os nomes dos sortudos em uma caderneta - que ficava presa à cintura. O registro dos casais para cada momento da comemoração poderia também ser feito em cartões. Em outros bailes eles “compravam” músicas, dando um donativo para a comunidade.

Em algumas situações os interessados já planejavam com antecedência o encontro com as pretendidas, garantindo o aceite antecipado. Tudo tinha que ser feito com a maior transparência possível. O objetivo era, na Auftanz - Dança de Abertura -, estar com a pessoa certa: questão de “sobrevivência social”.

Na região de Schönhengstgau, formada por povos da Silésia, nos antigos Sudetos Alemães, um momento importante das festas era a abertura com a “Einzugs-Stets”. O nome já esclarece se tratar de uma dança importante: a “Entrada Elegante”, em dialeto. Ela tinha três partes básicas: o desfile, o embalar das mãos dadas e o girar das damas. Provavelmente pelos seus movimentos leves e suaves que ela se destacou pela elegância.

Em sua terceira parte os presentes podiam também cantar. Veja o exemplo dos versos da primeira estrofe: O que o Hans deve estar pensando, já que ainda não apareceu: “Wos wet sich denn mein Hons gedenka, daẞa gar net zou ma kimmt, Eich wer on missn Bronntwein schenke, daß a meich zu'n Tonze nimmt. / Gela Husn, ruta Pandla, grüß dich Got, mein Schatz Mariandla! Eich wer mo a, eich wer mo a, gela Husn lusn machn a.”

A “Einzugs-Stets” / “Einzugstets” também faz a abertura do Potpourri “Sudetendeutsche Tanzfolge”, na parte em que os casais entram na pista de baile. Neste caso, tem que ter bom diálogo com as moças do grupo de danças: caso não haja ali uma boa parceira, não vai ter caderneta e nem gorjeta que salve sua reputação de pé de valsa.

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19.07.2023 - Cha-cha-cha

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19.07.2023 - Na “Cha-cha-cha”, deu a louca nos animais?

O que será que a gansa Agathe e o peru estão aprontando? É exatamente sobre isso que fala a canção infantil “Trat ich heute vor die Türe”, também conhecida como “Cha-Cha-Cha”.

O narrador conta que entrou pela porta e adivinha o que ele vê? A gansa Agathe e o peru dançando Cha-Cha-Cha. É possível? E não bastasse isso, os demais animais também faziam a festa: as galinhas e as pombas estavam balindo e mugindo! E, para completar, o cavalo, com suas ferraduras, batia no compasso.

Parece doideira, não é? Mas é isso mesmo que acontece na canção infantil do ano de 1968 escrita por Christel Süßmann e com música de Heinz Lemmermann. Eles retratam uma verdadeira loucura no curral!

O narrador conta ainda que o Max, o burro, dançava muito feliz a três com os porcos. Até mesmo a vaca Babette balançava no compasso de valsa. A gata Mieze latia, o Karo ronronava e a cabra, que estava sobre o estrume, cacarejava até sua garganta ficar rouca.

E vocês sabem por que os animais estavam se comportando assim? Vamos dar uma dica: em qual época do ano as pessoas costumam vestir fantasias?

Exatamente: no carnaval! E, segundo a música, os animais estão assim estranhos, só porque é carnaval!

Agora sim está tudo explicado. Com coreografia publicada pela editora alemã Fidula e com gravação feita pelo coral “Der Kölner Kinderchor”, esta dança é sucesso entre as crianças o ano todo e não apenas no carnaval!

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18.07.2023 - Krawall im Stall

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18.07.2023 - A “Krawall im Stall” representa um motim no estábulo?

Alguns anos antes do lançamento do famoso “1984”, onde ficou eternizada a imagem do “Big Brother”, o escritor George Orwell se destacou por outro título: “Animal Farm”. No Brasil foi traduzido como “Revolução dos Bichos” e trata de uma releitura da história da Revolução Russa, tendo nos animais a representação dos revolucionários. Nesse cenário, seria a dança “Krawall im Stall” uma versão suíça deste livro? Claro que não!

O compositor e clarinetista Bruno Brot é um entusiasta da cultura helvética e “Krawall im Stall” é o seu trabalho mais popular. Ele compõe músicas que alegram os ouvidos, assim como instigam movimentos do corpo, impulsionando dançarinos por toda a Suíça. Nesse contexto, seria mais fácil a ideia desse “conflito animal” ter vindo de inspirações regionais. Por que não perguntar ao próprio Brot?

Segundo Felix Mugwyler, que conversou com ele, a inspiração é regional: um cartão de propaganda do Cantão de Graubünden. Nele apareciam bebendo em um cocho diversas vacas e, entre elas, um cabrito montanhês. Abaixo vinha a frase: “Die Bündner Gastfreundschaft spricht sich halt herum”, ou seja, “A hospitalidade do Graubünden é conhecida por aí”.

Porém, o que tem essa imagem, um tanto cordial e bem humorada, com a ideia de um conflito entre animais? Exatamente da presunção de que aquela cena não acabaria bem… vem a ideia do “Krawall im Stall”.

O cabrito montanhês - “Steinbock” - é a marca deste cantão, havendo recorrentes publicidades com ele. O bom humor nessas publicações é habitual. Já o gado leiteiro tem grande ligação com a imagem internacional da Suíça. Unir essas duas espécies é um contexto pouco provável, contudo bastante simbólico.

Após a música criada e denominada, veio a coreografia em 2006, através do trabalho de Ina e Mario Albin. Trata-se de uma dança nova, dentro de um movimento cultural repleto de diálogos com tradições e inovações. Espera-se que dessa efervescência criativa venham boas e divertidas danças… sem conflitos.

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17.07.2023 - Dunkelschatten

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17.07.2023 - Na “Dunkelschatten”, onde ficam as sombras escuras?

Na Alemanha, as quadrilhas também foram amplamente aceitas pela população

rural. Enquanto as “Quadrille” de salão foram cada vez mais padronizadas pelos mestres de dança, os “Tanzmeister”, as assim chamadas quadrilhas rurais se desenvolveram em uma variedade colorida e, em muitos casos, apresentando elementos das Volkstänze.

Estima-se que muitas das quadrilhas que conhecemos hoje, como a “Dunkelschatten”, já eram dançadas até antes de 1800. Apesar de não se ter uma data precisa sobre quando ela surgiu, a “Dunkelschatten” foi registrada em um livro sobre cultura pomerana ainda no final do século XIX.

Classificada como uma quadrilha em fileiras, ela é acompanhada de uma canção, cujos versos dão nome à dança:

“Komm mit mir in dunkeln Schatten,

Komm mit mir ins Branntweinhaus;

Wi will’n as de Katten

Kieken unnre Oken ‘raus.”

Venha comigo até as sombras escuras,

Venha comigo até a destilaria;

Nós queremos, como os gatos,

Olhar para fora do sótão.

Cada região apresentava alguns versos diferentes. Alguns até mesmo impublicáveis. Em Gilow, o final cantado era mais romântico:

“Kumm, min Leiwing, kumm man her,

Segg mi doch, wat ‘s din Begehr!”

Venha, minha amada, venha aqui,

Me diga então, qual é o seu desejo!

Já em Treptow no rio Rega, os versos eram mais cômicos:

“He, Mutter, he! Wo bieten mi dei Flöh!”

“Kumm mit mi in’n dunkeln Schatten,

Ick will di dei Flöh afklappen.”

“He, Mutter, he! Wo bieten mi dei Flöh!”

“Hei, mãe, hei! Como as pulgas me mordem!”

“Venha comigo nas sombras escuras,

Eu quero esmagar as pulgas.”

“Hei, mãe, hei! Como as pulgas me mordem!”

Independente do texto cantado, com certeza os camponeses se divertiam muito com esta dança.

De quais versos você mais gostou? Conta aí para nós!

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16.07.2023 - Besentanz

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16.07.2023 - A “Besentanz” é uma música, um teatro, um jogo ou uma dança?

Por mais que você só conheça a “Dança da Vassoura” do conjunto de pagode “Molejo” - “Diga aonde você vai, que eu vou varrendo…”-, existem no mundo muitas interpretações para esse tema. Nas comunidades de língua alemã ela é conhecida como “Besentanz”, não tendo, na prática, uma coreografia ou música específicas. 

Basicamente ela tem a seguinte sequência: os pares estão a bailar, mas uma pessoa, que está sozinha, usa uma vassoura como parceiro. Em algum momento, que é surpresa, o objeto cai e todos precisam buscar um novo companheiro. Quem sobrar pega a vassoura e reinicia o processo.

Essa mesma lógica pode ocorrer de muitas formas. Há registros dessa dança, por exemplo, em partes da Áustria e Alemanha, com variações de posições, volume de participantes, maneiras de brincar com a vassoura, entre outros pontos. É uma atividade integrativa que podia se manifestar em festas e eventos.

Provavelmente antes de ter uma vassoura, a brincadeira já existia sem objeto algum, a estilo “Dança da Cadeira”, onde quem fica sem acento precisa sair do jogo. Há em diversos locais da Europa, por exemplo, danças de roda onde alguém sozinho entra e pega uma pessoa do círculo, remanejando os pares existentes e recomeçando o processo. Ou simplesmente há trocas repentinas de pares e quem sobra precisa “pagar uma prenda” - cumprir uma tarefa. As próprias “Kegeltänze” estão neste contexto.

A “Besentanz” é um exemplo de dança típica que tem na espontaneidade sua principal característica. Não há coreografia fixa, nem música específica, nem compasso exato. Tem coisas nas quais as regras são intuitivas, com a simples lógica do entretenimento, mas que por algum motivo estão conectadas a um instinto de familiaridade. As vezes é por uma releitura teatral dessas danças… outras vezes é no som alegre e popular do pagode. 

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz , veja uma variante da dança em  https://youtu.be/bVz0ohHp80M e também uma música sorábia da vassoura em https://youtu.be/zTGAFqSj-co . Acompanhe as postagens no Instagram e no Facebook do Boletim Der Hut.

15.07.2023 - Nagelschmied

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15.07.2023 - A “Nagelschmied” é uma dança da Transilvânia ou da Turíngia?

Na cultura popular as músicas e coreografias se deslocam: uma pessoa aprende em uma cidade e ensina na outra. Com a “Nagelschmied” isso também aconteceu; contudo, diferente do movimento lento das danças dos séculos XVIII e XIX, esta suíça nascida no XX já se espalhou através das mídias.

Quando Rosmarie Mast e Sämi Gasser criaram essa dança em 1972, na “Lenker Tanzwoche” em Bernese Oberland  - no cantão de Berna, na Suíça -, eles não imaginavam que a “Nagelschmied” se tornaria tão difundida. Não demorou para que grupos dos diversos cantões do país acrescentassem ela em seus repertórios.

Com o advento das gravações fonográficas, filmes, publicações em livros, vídeos, conteúdos escritos e audiovisuais na internet, entre outros, se tornou muito fácil para uma dança chegar aos mais distintos cantos do mundo. Assim, hoje vários grupos de fora da Suíça já consideram a “Nagelschmied” como “parte dos seus”.

Sami Gasser e Rosmarie Mast foram diretores de dança no cantão de Berna por muitos anos. Naquela época, eles escreveram coreografias para muitas músicas de Luzi Bergamin, como por exemplo “Der Bärnermutz tanzt”, “Alter Marsch”, “Schäri Marsch”, “Meitschi Schottisch”, “Winterbärg-Schottisch” e muitas outras. Apesar de uma diversidade de criações a cada ano, elas "grudavam" nos dançarinos.

Já o nome “Nagelschmied” vem de uma profissão extinta: o ferreiro que faz pregos de metal. Antes da produção industrial dos pregos, feitos hoje em alta escala, era uma arte moldá-los um por um, mesmo para os ferreiros mais bem treinados. Era um ofício fundamental, seja para pregar uma esquadria na casa, seja para fixar uma ferradura em um cavalo.

Assim, por mais que as pessoas sintam que “Nagelschmied” “pertence” a seu grupo, cidade ou país, é Fakenews dizer que ela é de outro local fora a Suíça … ou quem sabe seja uma “Fakelore”? E faça a referência correta: os suíços agradecem.

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14.07.2023 - Platschletanz

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14.07.2023 - A “Platschletanz” é sinônimo de “Zigeunerpolka”?

Duas gêmeas bivitelinas, que são tecnicamente diferentes, mesmo que nascidas juntas, são a mesma pessoa? Claro que não! Igualmente as univitelinas, que em teoria teriam até o mesmo DNA, mostram-se distintas logo após o parto. Cada indivíduo é único e acentuam suas particularidades com o decorrer da vida. Então, por qual motivo com danças irmãs o resultado seria outro?

A ideia de tradições irmãs ou primas estão relacionadas a hábitos vindos de uma base comum. A “Platschletanz” / “Der Plotschtanz”, além de um conjunto de danças de nome “Zigeunerpolka”, são exemplos dessa realidade, estando nos chamados “Sudetos Alemães”, atual República Tcheca. A dificuldade é precisar quais manifestações surgiram antes, para definir a “semente” original. Nestes casos é pouco provável conseguir, com precisão, definir quem veio primeiro.

Segundo Ursel Großschmidt, “a Plotschtanz foi registrada no Schönhengstgau pelos anciãos do ‘Mährisch Trübauer Wandervogels’ e descrita na publicação ‘Schönhengster Volkstänze’.” Ela faz parte das “Klatschtänze” - “Danças de Palmas”, assim como a “Zigeunerpolka”, que teria sido coletada no Kuhländchen.

Na prática, mesmo tendo melodias parecidas e coreografias com estrutura similares, esse conjunto de danças também guarda diferenças de formação. As suas peculiaridades, mesmo que consideradas pequenas, as fazem únicas. E observando suas estruturas em geral, é nas partes das palmas que há seus maiores destaques.

Assim, confirmando, essas danças não são iguais. Elas são, sim, aparentadas. O que é preciso garantir, neste contexto, é que uma não se sobreponha à outra. Provavelmente uma das garantias de sobrevivência da “Platschletanz” seja ela estar dentro do Potpourri “Sudetendeutsche Tanzfolge”, por mais que a maioria das pessoas que a vê achar que se trata da sua irmã mais conhecida, a “Zigeunerpolka”.

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13.07.2023 -  Bauernmadl

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13.07.2023 - Na “Bauernmadl” as camponesas trocam de pares?

A “Bauernmadl” é um claro exemplo de movimento cultural no estilo “telefone sem fio”. Ela faz parte do grande grupo de “danças de sete passos”, tendo na “Siebenschritt” a mais conhecida delas. É prima, se assim pode-se dizer, da “Settepassi” - ou “Cori, cori, Bepi” italiano - e do “Chote Carreirinho” - do sul do Brasil.

O que muitas vezes dá o nome para uma dança ou para uma variante é o texto que é cantado junto a ela. Isso também está presente na “Bauernmadl”, já que os versinhos que a acompanham falam da “Camponesa”:

Bauernmadl, Bauernmadl, d’Musi spielt scho auf,

Bauernmadl, Bauernmadl, tanz‘ ma no oan drauf!

Bauernmadl hin, Bauernmadl her, juche,

Gibts denn auf der ganzen Welt koa Bauernmadl mehr?

Como visto nessa primeira estrofe, a letra, ao falar que “a música já começou”, conta sobre o convite à camponesa para dançar e a pergunta retórica, talvez, sobre não haver mais moças do campo no mundo. Nas demais partes da canção as rimas seguem tratando do olhar dos rapazes em relação a essas moças, como no cortejo, nos elogios, como dançam, entre outros.

E como é tradicional nas antigas danças passadas de modo oral, não só as canções são formadas por versos simples - que vivem se alterando -, como também o mesmo acontece com as coreografias, que não são complexas e se repetem muitas vezes. Um exemplo é, em algumas versões da “Bauernmadl”, o acréscimo de uma parte de valsa entre os recomeços da melodia, deixando-a mais dinâmica. Outro detalhe que se popularizou foi a troca de pares ao final de cada etapa.

Assim, vê-se mais um exemplo de como a cultura popular é dinâmica e plural, estando em constante mutação espontânea. A ideia de uma tradição engessada é ilusória, vista geralmente por quem está de fora desse processo.

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12.07.2023 - Mime Suse

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12.07.2023 - “Mime Suse” é uma dança criada ou típica?

O primeiro registro encontrado sobre a dança “Mime Suse” foi feito por Kurt Wölfer, da cidade de Halle, Sachsen-Anhalt, no ano de 1763. Nele, aparecem informações sobre a melodia e a coreografia, além de Hettstedt como local de origem, na região de Mansfelder Land.

A dança não era mais executada na região, mas, no período da Alemanha Oriental, alguns moradores antigos ainda se lembravam dela. Foram eles que deram importantes informações para o resgate da “Mime Suse”, trabalho feito por Rosmarie Ehm-Schulz (ver dança do dia 12.07.2023).

“Mime Suse” é marcada pelo contraste entre a primeira parte, mais calma e sóbria, e a segunda, mais ligeira e alegre. Para que a dança seja muito bem executada, as passagens dos momentos rápidos para os mais lentos e vice-versa precisam ser muito bem ensaiadas pelos dançarinos.

Para completar o espetáculo, Rosemarie Ehm-Schulz sugere que os rapazes usem o “Mansfelder Kumpeltracht”, o tradicional traje festivo dos mineradores da região de Mansfeld, o qual, com sua cor preta e os adornos dourados, acompanhados do penacho branco do chapéu, trazem à dança, especialmente no início, uma grande presença. Já para as moças, ela sugere o traje do sul do Harz: saia colorida listrada, blusa estampada com mangas compridas e avental e lenço claros bordados, acompanhados de touca de seda rosa. Mas, como a dança era encontrada em toda a região próxima a Hettstedt, outros trajes do sul do Harz também seriam adequados.

Rosemarie Ehm-Schulz foi uma das fundadoras e responsável pelas coreografias do “Staatliches Folklore Ensemble der DDR”, o Balé Folclórico da Alemanha Oriental. Seu trabalho de pesquisa sobre danças típicas e as adaptações que criou para o palco ainda fazem parte do repertório de muitos grupos.

Dessa forma, “Mime Suse” é sim uma dança típica, mas a versão aqui citada é uma coreografia adaptada para o palco, a partir da dança e da música originais.

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11.07.2023 - Dubeningker Wechselpolka

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11.07.2023 - Na “Dubeningker Wechselpolka”, conseguimos voltar para nosso par?

Dubeningken é um antigo vilarejo que ficava localizado na Prússia Oriental - Ostpreußen - e faz divisa com partes da Lituânia e da Bielorússia. Por estar em uma região fronteiriça, ele sofreu muito com os dois grandes conflitos mundiais. Após a Segunda Guerra, a população alemã teve que deixar a região e Dubeningken passou a pertencer ao território Polonês, sendo parte da voivodia de Ermland-Masuren.

É de lá que vem a dança “Dubeningker Wechselpolka”. Dubeningken junto com várias outras localidades próximas a Goldap apresentava um forte movimento cultural. Esta dança foi registrada na região exatamente no período entre as duas Guerras Mundiais, em abril de 1929.

Em um relato sobre a melodia, foi anotado também uma canção em dialeto prussiano:

“Wat schient de lewe Mond so hell

On sitt so frindlich ut?

Dat mokt, wilt eck nu gone wöll

To Lieske, miene Brut.

Se ward all wachte lang opp mi

On sehne hen on her -

Ach, wenn eck doch man erscht bi di,

Mien lewet Lieske, weer!”

Em tradução livre, seria algo como:

Por que brilha tanto a querida lua

E parece tão tranquila?

Isso pode ser, porque quero ir agora

Para Liese, minha noiva.

Ela espera por mim acordada há tempo

E olha pra cá e pra lá -

Ah, se eu já pudesse estar contigo,

Minha amada Liese!

A canção segue com mais três estrofes, na qual o rapaz continua falando sobre seu amor pela Liese e que queria estar com ela. Há ainda uma observação que, se o círculo não for muito grande, a dança pode ser repetida tantas vezes até que o rapaz volte para sua moça, afinal, o rapaz quer chegar novamente até sua Liese!

Essa manifestação típica da Prússia Oriental é um dos poucos legados culturais deixados pelas comunidades alemãs de lá e que ainda permanece vivo entre os grupos de danças.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Grupo Folclórico Grünes Tal, de Jaraguá do Sul, com esta dança em https://youtu.be/vjcCNdtv8VA  .

10.07.2023 - Zwoasteyrer

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10.07.2023 - A “Zwoasteyrer” foi registrada em cartões postais?

No final do século XIX a fotografia se tornou popular no mundo ocidental. Mesmo ainda não sendo comum as máquinas portáteis, os retratistas iam nos eventos com seus grandes equipamentos e registravam os acontecimentos da sociedade. Colocavam cenários e buscavam aproveitar a iluminação natural.

Se por acaso um fotógrafo não estivesse por perto para fazer um retrato dos noivos no dia do casamento, por exemplo, a lembrança matrimonial poderia ser reencenada até meses depois, quando ele estivesse por ali de passagem. O ato não era somente para guardar uma lembrança para a posteridade: a presença desse profissional era um “acontecimento” por si só.

Um fato curioso é que a “Zwoasteyrer” foi uma dança que teve todas as suas figuras registradas fotograficamente, já em 1907. Segundo as fontes, foram ao todo 20 imagens, posteriormente publicadas em forma de cartão postal. O mentor da ideia foi o presidente do “Trachtenverein Alpinia Salzburg”, August Neubauer, também desta cidade austríaca. Teria sido a primeira experiência desse gênero de uma associação ligada à preservação dos trajes típicos.

Devido a esse trabalho, detalhou-se cada etapa da “Zwoasteyrer” da primeira década do século XX, que era chamada de “Salzburger Almtanz”.Nas imagens se pode ver formações de vários tipos, como cruzadas, janelas, sapateado típico - Schuhplattler -, entre outras. Cada parte é executada em um “Gsatzl”, que corresponde ao tempo de oito compassos.

Interessante é que décadas depois, em 1924, um procedimento similar foi feito, inclusive com a mesma dança, o mesmo cenário, entre outros pontos. E após essas duas primeiras, outras se sucederam, retratando variantes e expondo detalhes de como uma dança ganha novas nuances no decorrer do tempo.

As fotografias do passado, os vídeos digitais do presente e o que mais vier no futuro. Esse caso da “Zwoasteyrer” é o exemplo de como as tecnologias se mantêm em diálogo com as expressões populares: às vezes o método de registro chama mais a atenção do que o que está sendo registrado.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja uma variante desta dança em https://youtu.be/6YYlyGeaI7c  .

09.07.2023 - Guten Morgen, Frau Fischer

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09.07.2023 - “Guten Morgen, Frau Fischer” é uma dança, uma canção, um teatro ou um filme?

“Bom dia, Senhora Fischer. Hoje teremos clima ruim e não poderemos ir para casa. Nós precisamos ir agora para casa”. Essa é a base da canção “Guat Morgn, Frau Fischer”, ou “Guten Morgen, Herr Fischer”, além de outras pequenas variantes. Uma dança sem figuras que aparece com frequência em fechamentos de eventos no sul da Alemanha e Áustria.

Um dado interessante é que há várias referências ao nome “Guten Morgen, Herr Fischer” em manifestações culturais de comunidades de língua alemã. Isso vai da música ao cinema. Mera casualidade?

Segundo Christoph e Michael Well, a melodia e coreografia que se popularizaram na Baviera seriam de 1931, atribuídas à Erna Schützenberger, em Oberfrauenwald, na Floresta da Baviera. Já Walter Bucksch acrescenta que Hermann Derschmid já teria publicado ela em 1924, em Rohrbach im Mühlviertel.

Anterior a isso, há registro de que, em Munique, pela metade do século XIX, existia uma “Bockbierlied” - Canção de Cerveja Escura - com o mesmo nome. Há também uma gravação em disco de vinil, provavelmente de 1910, de nome “Guten Morgen Herr Fischer”, da “Tyroler Bauernkapelle” - um conjunto de sopros austríaco. Nesta os versos iniciais, tanto na letra quanto na melodia, são similares com a versão de Erna Schützenberger. Todas viriam de uma base comum?

Outra citação interessante deste nome é uma opereta atribuída a W. Friedrich, com músicas de Eduard Stiegmann, que teria sido publicada na primeira metade do século XIX. Um folheto do “Städt. Schloßpark - Theater Steglitz” de Berlim já apresenta-a na sua programação em 1946. Também aparecem registros de um filme homônimo, feito na capital alemã, em 1915.

Todas essas referências, de diferentes procedências, seriam casualidade? Não há como dizer… pelo menos não neste momento. O que se pode precisar, com certeza, é que na cultura popular, como em um efeito dominó, alguns temas se espalham e inspiram novas manifestações artísticas. Quem imaginaria onde um simples “Bom dia, Sr. Fischer”, poderia chegar.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a danca em https://youtu.be/gD7HqgAz2r4 .

08.07.2023 - Tamseler Dreigespann

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08.07.2023 - Qual é o problema na “Tamseler Dreigespann”?

A dança “Tamseler Dreigespann” faz referência à localidade de Tamsel, próximo a Küstrin. Originalmente, é um vilarejo de pescadores e um dos mais antigos da região chamada de “Neumark”. Atualmente, ela está em território polonês e, junto com Küstrin, faz fronteira com a Alemanha.

Com coreografia de Arthur Nowy e Dolf Giebel, da antiga Tanzgruppe Oberspree, de Berlim, essa “Jugendtanz” tem como música uma valsa do austríaco Wolfgang Amadeus Mozart. A composição data de fevereiro de 1791, ano de sua morte. Nessa obra, Mozart compôs o que chamou de seis danças alemãs para orquestra, o que serviu de base para o arranjo da “Tamseler Dreigespann”.

Acredita-se que a dança tenha surgido na década de 1920. Logo, ela passou a ser muito apreciada por todos que a conheciam. Porém, desde então, ela vem sempre sendo dançada de diferentes maneiras. Como assim?

Para isso também existe uma explicação. Diferentes descrições desta mesma dança estão em circulação. A grande dúvida é para qual direção as torres se deslocam: no sentido da dança ou em sentido contrário?

Em uma de suas primeiras publicações em 1929, Nowy havia descrito que as torres se deslocam no sentido contrário da dança. A mesma descrição é publicada novamente, sem alteração, na obra “Dreigespann”, de 1933. Porém, em uma nova edição de 1951 do mesmo livro, ele corrigiu indicando que as torres se deslocam, na verdade, no sentido da dança. Para deixar isso bem claro, no impresso de 1951, “Tanzkette”, foi feito até um desenho mostrando o deslocamento das torres.

Mas o que fazer se pares de distintos grupos se juntarem para dançar? O jeito é conversar e combinar antes. De qualquer forma, a regra é clara: tolerância com quem dança diferente! Às vezes, essas particularidades são pequenas variantes que não conhecemos, mas que existem e têm uma explicação.

E você, para qual direção vão suas torres da “Tamseler Dreigespann”? Conta aí pra nós!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a música da composição original de Mozart em https://youtu.be/KXsNIb-omws e o vídeo da danca em https://youtu.be/xZJvlyj4jAs

07.07.2023 - Siebenbürger Rheinländer

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07.07.2023 - A “Siebenbürger Rheinländer” é da Transilvânia?

Segundo a visão de um conjunto de pesquisadores, antes do irlandês Bram Stoker lançar o romance “Drácula”, em 1897, a imagem da Transilvânia era bem menos conhecida do grande público. Ele não inventou Vlad III, o Empalador, e nem a figura dos vampiros, mas foi ali que houve um novo interesse popular pelo tema.

Assim como Stoker popularizou uma história ligada à Transilvânia, Eduard Charvat teria feito o mesmo com uma dança: a “Siebenbürger Rheinläder”. Contam que antes da Segunda Guerra Mundial, pelos anos de 1930, ele teria levado-a da Transilvânia para a Áustria, onde esta teria ficado conhecida por ter troca de pares. Provavelmente por sua melodia leve, acabou transpondo fronteiras.

Trata-se de uma música em ritmo ternário ao estilo “Rheinländer” que tem a coreografia formada por três partes simples: passeio, círculo com cumprimento e giro do par, tendo toda a sequência executada em oito compassos. Ela se repete ao gosto dos instrumentistas. É interessante que em toda a dança não é utilizada a posição típica das “Rheinländer”, a “Kiekbuschfassung” ou também chamada de “Rheinländerfassung”.

Pelo estilo dela, não haveria dúvidas que se trata de uma dança típica. O que alguns põe em dúvida é se sua melodia e coreografia são inteiramente do Siebenbürgen ou se, no seu trânsito para a Áustria, recebeu outras influências. De toda forma, ela também tem registros semelhantes feitos por outros pesquisadores, o que permite presumir que sua estrutura não sofreu grandes mudanças na sua “caminhada”.

Mas essa Rheinländer vem da Transilvânia ou do Siebenbürgen? Na verdade os dois nomes são sinônimos, sendo “Sete Burgos” a tradução para a segunda. Trata-se de uma região no coração da atual Romênia que, por muito tempo, foi uma ilha de falantes de língua alemã.

E quando for dançar a “Siebenbürger Rheinläder”, não precisa levar alho ou estaca: sem a posição do Rheinländerfassung não tem risco do seu par ficar mirando sorrateiramente o seu pescoço. Vai ver que por isso ela não é utilizada.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja e dança em https://youtu.be/zmUQPijHTwQ .

06.07.2023 - Kuss-Quadrille

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06.07.2023 - “Kuss-Quadrille” é a dança para arranjar namorado?

O beijo é um dos poucos símbolos presentes em praticamente todas as culturas do mundo. Ele pode ser usado como expressão de amor ou amizade e até para cumprimentos e despedidas.

Não podemos esquecer que um beijo também tem o poder de acordar uma princesa, como no conto “A Bela Adormecida” dos Irmãos Grimm, ou de transformar um sapo em príncipe, como no filme “A Princesa e o Sapo”, animação da Disney.

É claro que também vamos encontrar o beijo na dança típica alemã. Em diversas regiões do norte da Alemanha, são encontrados antigos registros de “danças do beijo”: “Kuss-Quadrille” (região do Mark), “Küssertanz” (Mecklenburg), “Kussquadrille” ou “Fünftour mit dem Kuss” (Pomerânia). Cada uma delas apresenta pequenas variações e, inclusive, algumas canções!

Em uma encontrada em Mecklenburg, os dançarinos cantam algo mais ou menos assim:

Em um lugar escondido,

Lá está meu amado.

Sob a Tília,

lá eu posso encontrá-lo.

Gosto dele,

Sou sua amada.

E, ao fim,

Sou beijada.

A dança representa uma brincadeira entre os pares que dão um beijo com consentimento. Como ela é conhecida por todos os dançarinos, eles já se preparam sabendo que vão beijar! Mas calma, não precisa tirar as crianças da sala! É um beijo com carinho e amizade, representando uma verdadeira brincadeira.

Mas vai que esse beijo de brincadeira não dá certo e pode virar namoro? Não custa tentar, não é?

Internacionalmente, no dia 6 de julho, é comemorado o dia do beijo. Que tal comemorar com a “Kuss-Quadrille”?

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja essa e outras danças do nosso projeto.

05.07.2023 - Éisleker

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05.07.2023 - Na “Éisleker” se pode dançar e comer sorvete?

As danças tradicionais de Luxemburgo são bastante interessantes. Este Grão-Ducado traz um conjunto cultural repleto de diálogos entre comunidades de idiomas luxemburguês, alemão e francês, gerando um espaço de múltiplas identidades.

É de lá que vem a música da “Éisleker”. Pelo título, essa seria a dança do “Sorvete”? Certamente não! Por mais que no alemão a palavra “Eiscreme”, ou simplesmente “Eis”, esteja ligada a esse doce gelado, não tem real ligação com esse nome. A origem do termo vem de “Éislek”, uma região de Luxemburgo ao norte do país.

Assim, “Éisleker” trata-se de um adjetivo do que vem de “Éislek”. São exemplos de produtos assim designados o “Éisleker Ham” - presunto defumado típico - e o “Éisleker Kéis” - tipo de queijo local. Mas não só de gastronomia que vive a região: as belas florestas chamam a atenção dos turistas, com suas trilhas para caminhada e ciclismo, assim como charmosas edificações nos seus vários vilarejos.

E é de lá a dança típica “Éisleker”? Pode ser que ela tenha uma abrangência mais ampla. No francês a mesma música é chamada de “Valse Ardennaise” - a “Valsa das Ardenas”. Ardenas é a área que tem uma ligação territorial com a Bélgica, França e Luxemburgo. A parte luxemburguesa desse conjunto é o “Éislek”, também chamada de “Ösling”. Assim, ela pode ser internacional.

Um dado interessante é que a “Éisleker” foi gravada junto a uma coletânea, em forma de CD, de danças de Luxemburgo, onde figura entre os músicos Julot Faber, famoso entusiasta do folclore luxemburguense. Será que ele se envolveu com a pesquisa dessa melodia e/ou coreografia? Isso não temos como precisar… pelo menos não “ainda”.

Que surpresas novas pesquisas podem nos trazer? A cultura e as tradições de Luxemburgo são muito ricas e quem está de fora tem muito a conhecer. E se for possível fazer um passeio, veja tudo em loquo, dance com a comunidade, prove as iguarias locais… e porque não tomar um bom sorvete? Em cada lugar pode se ter uma nova experiência.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja essa danca com o “Lët'zFolk Lëtzebuerger Folklor” em https://youtu.be/1-3cYOxvBxY .

04.07.2023 - Halbe Kette

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04.07.2023 - A “Halbe Kette” é uma dança da mitologia nórdica?

“Die halbe Kette” ou “Den halve kæde” é o nome desta dança vinda da ilha dinamarquesa de Seeland. Mas, o que uma dança da Dinamarca faz na Alemanha?

É comum encontrar algumas danças dos países escandinavos em publicações alemãs. A “Halbe Kette” é um exemplo disso. Ela tem esse nome por causa da figura de meia corrente executada pelos pares. Se tornou popular entre os grupos alemães especialmente a partir da gravação do áudio do conjunto musical “Schmelztiegel”, de Schleswig-Holstein, divisa com a Dinamarca. Segundo eles, como o norte da Alemanha até a região de Altona, em Hamburgo, já esteve sob domínio dinamarquês, esta dança típica foi escolhida para fazer parte de seu repertório.

Que tal conhecer um pouco mais sobre Seeland?

Ela é a maior e mais populosa ilha da Dinamarca, onde também está localizada sua capital: Copenhague.

Segundo a mitologia nórdica, a ilha de Seeland, em sua origem, era uma península ligada ao oeste dinamarquês. Mas, em sua jornada para chegar até Asgard, a terra dos deuses nórdicos, o rei sueco Gylfi ofereceu à deusa Gefjun parte de seu território, mas somente aquilo que ela pudesse arar em um dia com quatro bois.

Prontamente, Gefjun aceitou o desafio e, para a tarefa, convocou seus quatro filhos gigantes. Ela os transformou em bois e os usou para arar a terra. Será que eles conseguiram?

Não só conseguiram, como também acabaram arrancando essa parte do território do reino de Gylfi. Durante a tarefa, eles criaram sulcos tão profundos que a então península se separou do continente, formando a ilha de Seeland.

Apesar de não ter relação direta com a dança, a origem mitológica de Seeland se tornou também parte da história da Dinamarca. Hoje, na capital Copenhagen, pode ser vista uma estátua da deusa Gefjun segurando um arado e sendo puxada por quatro bois, seus quatro filhos gigantes.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Büsumer Reetdänzer, do Schleswig-Holstein, com a “Halbe Kette” em https://youtu.be/ieVsCupLK7I .

03.07.2023 - Fackeltanz

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03.07.2023 - A "Fackeltanz” é uma cerimônia pagã com tochas?

A origem das danças com tochas é variada e está ligada a tradições pré-cristãs, intimamente feitas à noite. Seguem, em muitos casos, as mesmas bases de coreografias de espadas, de paus ou de arcos. Elas se manifestam principalmente em rituais e momentos festivos, como casamentos, datas religiosas e celebrações profissionais.

Há vários registros de casamentos da nobreza onde tochas ou velas são utilizadas em danças. Este costume também foi visto junto às pessoas comuns de língua alemã. Richard Wolfram relata que no Steiermark, na Áustria, há um caso onde as velas acesas são colocadas dentro do “Gugelhupf” - bolos enfeitados com furos no meio. Estes eram postos na cabeça das moças e elas precisavam manter o equilíbrio e dançar até as chamas se apagarem. Após, este doce era cortado e dividido entre os presentes.

Em algumas regiões, antes do amanhecer na Páscoa, os agricultores fazem fogueiras, trazendo luz à escuridão, e ali se acendem tochas, conduzidas em marcha. As “Fackeltänze” ocorrem ainda, neste contexto, em frente às igrejas. Também é possível encontrá-las em eventos natalinos. Em muitos casos a “chama” da vida está relacionada ao nascimento ou à ressurreição de Cristo.

Em períodos anteriores à 1900 era comum que lampiões, tochas e velas iluminassem cidades, vilarejos, oficinas e residências. Não é anormal que esses objetos incandescentes participassem de outros eventos com danças. Como as conhecidas festas ligadas às profissões, que já na Idade Média se usavam de bastões com chamas para promover coreografias. Eram verdadeiros espetáculos, para deleite dos espectadores.

Ainda hoje é possível observar que em festas populares, por todo o mundo, coreografias que unem movimentos à objetos flamejantes, realizando verdadeiros shows pirotécnicos. Uma tradição antiga que se ressignifica com o passar dos séculos, em diferentes contextos. O fogo é um elemento que atrai as comunidades, inclusive as de língua alemã, efeito que transcende ao tempo.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja exemplos de Fackeltänze em https://youtu.be/HrS2Ml_PPFY e em https://youtu.be/8Djgr48JOjY .

02.07.2023 - Winneweh, kreuz und quer

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02.07.2023 - A “Winneweh, kreuz und quer” foi salva pelo Hans von der Au?

Enquanto que no norte da Alemanha predominam quadrilhas e contradanças, em Hessen e regiões próximas, as danças de pares, chamadas de “Paartanz”, estão em maior número. É o caso da “Winneweh, kreuz und quer”.

E pode uma dança ser salva por uma pessoa? Sim, pode! E foi isso que aconteceu com a “Winneweh”. Na década de 1920, o então jovem Hans von der Au, percorreu diversos vilarejos do estado de Hessen, especialmente em sua terra natal, o Odenwald. Em suas excursões, von der Au foi recolhendo e anotando diferentes danças típicas. O repertório encontrado passou de 160 títulos.

Um dia, ele se deparou com a dança “Winneweh”. Na verdade, ele ouviu falar dela. Um fazedor de quepes chamado Karl Wolf, de 81 anos, morador de Höchst, no Odenwald, contou para von der Au sobre uma dança típica que conheceu em Rimbach. Com sua curiosidade aguçada, von der Au saiu a procura de mais informações em outros vilarejos e eis que, por acaso, ele encontrou um antigo músico de 71 anos de idade, o senhor Valentin Hönig, do vilarejo de Hummetroth. Pouco antes de sua morte, Hönig compartilhou com von der Au a coreografia até então conhecida da “Winneweh”.

Segundo os relatos, a dança recebeu esse nome a partir da expressão “Winde wehen”, ou seja, “os ventos sopram”, indicando que, durante a dança, as pessoas se divertiam tanto que as pesadas saias pareciam que estavam voando. Por outro lado, a partir de uma explicação etimológica, “Winneweh” seria uma variação do termo “Menuett”, o minueto, dança muito popular entre os nobres europeus no séculos XVII e XVIII. Mas, do minueto, a “Winneweh, kreuz und quer” não tem nada.

Graças ao trabalho do professor Hans von der Au, muitas danças e inclusive o traje do Odenwald, no estado de Hessen, puderam ser preservadas e mantidas vivas até hoje.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja essa e outras danças.

01.07.2023 - Russenpolka

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01.07.2023 - Seria a “Russenpolka” uma dança dos russos em Berlim?

De onde veio o nome desta dança, pouco se sabe. Acredita-se que, para ela, tenha sido usada uma composição do flautista e compositor austro-húngaro Adolf Terschak. Mas com certeza, ela não tem nenhuma relação com a presença russa na capital alemã.

Já a coreografia, sabe-se que foi escrita por Arthur Nowy, coordenador do Tanzgruppe Oberspree, que, segundo uma carta do próprio Nowy datada de 02.02.1935, foi fundado em 1921, sendo, então, o grupo mais antigo de Berlim. Arthur Nowy foi o responsável pela criação de várias outras danças, como “Tamseler Dreigespann” e “Spielmann”, por exemplo.

Aqui, é interessante observar algumas informações, especialmente sobre o “Spree” (a pronúncia é com dois “es” mesmo - e não com “i”, como no inglês!). Oberspree é uma região que fica em Berlim, nas proximidades do bairro de Niederschöneweide, às margens do rio Spree. Esse curso d'água tem três nascentes na região chamada de Lausitzer Bergland, na fronteira com a República Tcheca, correndo do sul para o norte e passando pelos estados da Saxônia, Brandenburgo e Berlim, desembocando no rio Havel.

Você deve ter achado estranho um rio ter três nascentes. Mas há uma explicação para isso!

Reza a lenda que um gigante chamado Sprejnik reinava na região de Lausitz e, para proteger melhor seu reino e seus súditos, ele construiu um arco e flechas. Um dia, ele resolveu testá-los para ver quão longe as flechas chegariam. Quando os súditos foram procurar as flechas, eles as encontraram exatamente na região de Lausitzer Bergland, em um vale. Mas quem disse que eles conseguiram arrancar as flechas do chão? Eles precisaram cavar para retirá-las da terra. Dos buracos que surgiram, começou a correr água fresca. Assim, surgiram as três nascentes do Spree, que, fora assim chamado, em homenagem ao bondoso gigante Sprejnik.

Mas, voltando à dança, infelizmente, o Tanzgruppe Oberspree não existe mais. Contudo, seu legado permanece vivo em muitas danças conhecidas ainda hoje!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Folkloregruppe Linsengericht com a Russenpolka em https://youtu.be/7mkd-4fw7yc .

30.06.2023 - Holzauktion

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30.06.2023 - “Holzauktion” é a famosa música onde a Oma vai de moto ao galinheiro?

Se você for passear pela capital alemã pode conhecer uma belíssima área verde, com rodovias, ferrovias, ciclovias, lagos e estrutura de lazer: o Grunewald. Contam que no final do século XIX, quando faziam as melhorias na região, se instalou por lá uma venda de madeira, o que teria motivado a primeira frase da popular música “Im Grunewald ist Holzauktion”.

“Holzauktion” poderia ser uma venda de madeira promocional ou um leilão. Especulam que o produto seria resultado do corte das árvores nos locais das benfeitorias feitas na região à época. Um dos versos diz que “Der ganze Klafter Süßholz kost nen Taler, nen Taler kost er nur”, destacando que um montante de madeira custa somente “um Taler” - antiga moeda vigente na Prússia. Há versões da letra que colocam que “lá se vende tudo por um Taler”.

Sendo ou não essas informações verídicas, a canção se tornou um sucesso, sendo apresentada e gravada de diversas formas. A coreografia que passou a acompanhá-la provavelmente já existia, sendo uma simples sequência de passos no estilo “Rheinländer” - uma variante do chote, popular na Europa da metade do século XIX. Com o tempo a “Holzauktion” - como também ficou conhecida - tornou-se uma dança característica de Berlim.

E qual a conexão dessa música com a “Meine Oma fährt im Hühnerstall Motorrad” - “Minha avó vai de motocicleta ao galinheiro”? Na terceira parte da “Holzauktion”, onde originalmente trata do custo de madeira, passaram a criar novos versinhos, grande parte bem-humorados. Assim, foi provavelmente a partir dos anos de 1920 que fizeram paródias atribuindo à vovó o uso de algumas “modernidades”, como ir motorizada ao trabalho rural. A nova letra tornou-se tão famosa que praticamente virou música independente da original, caindo nas graças das crianças.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz  e veja também a “Holzauktion” em https://youtu.be/WI_JFUg-V-Q  , escute a música em https://youtu.be/_pPsHH1Aj7M e veja a canção da Oma em https://youtu.be/xPYeBv5R6qk .

29.06.2023 - Natanger Allemande

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29.06.2023 - A “Natanger Allemande” é uma dança de corte?

O nome “Allemande” significa algo como “a dança alemã”. Seria ela a representação de todas as danças alemãs? Bom, é interessante observar que, em português, temos o gentílico “alemão” e o nome do país “Alemanha”. Mas, em outros idiomas, como o inglês, por exemplo, há os termos “german” e “Germany”, enquanto que, no próprio alemão, “deutsch” e “Deutschland”. São termos com três origens diferentes, mas, hoje, com o mesmo significado.

A língua portuguesa adotou o termo a partir do francês, no qual, indicava inicialmente o povo “Alamano” (Alamannen ou Alemannen, em alemão), que vivia no território da atual fronteira entre Alemanha e França. Posteriormente, a expressão passou a ser usada em francês e em outros idiomas, como o português e o espanhol, para indicar todos os alemães e o país Alemanha.

Já no contexto cultural, alguns pesquisadores indicam que “Allemande” era o nome dado a algumas danças alemãs de corte no século XVI, as quais logo foram levadas à nobreza francesa, de onde se difundiu para outros países. Como manifestação camponesa, ela é encontrada em diferentes regiões. Assim, não estamos falando sobre “a” dança alemã, mas “uma” delas.

Hoje, é difícil identificar se a dança surgiu primeiro entre os camponeses ou entre os nobres, pois faltam registros da época. Sabe-se que as “Allemande” eram muito queridas na corte. Já como dança popular, uma das versões bastante conhecidas foi encontrada na costa do Mar Báltico e, por lá, também era chamada apenas de “Fischertanz” (dança do pescador).

Uma versão bastante conhecida foi escrita por Rosemarie Ehm-Schulz, coreógrafa responsável pelo Staatliche Folklore Ensemble der DDR, o Balé Folclórico da antiga Alemanha Oriental. Nela, Ehm-Schulz procurou dar um caráter teatral típico para o trabalho dos pescadores no mar, a partir dos registros feitos anteriormente por Reinhard Leibrandt e Hermann Huffziger sobre essa Allemande de Natangen.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a dança com o Blumenberg Volkstanz, de Petrópolis-RJ, em https://youtu.be/rUA8fyj-sTI .

28.06.2023 - Sarajevka Kolo

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28.06.2023 - Qual a relação da “Sarajevka Kolo” com o Atentado de Sarajevo?

VIENNA - A notícia do attentado de Sarajevo causou profunda consternação nesta capital. Por toda a parte se vêm bandeiras a meio páo. Os theatros estão fechados desde hontem.

VIENNA - Telegramma recebido de Sarajevo informa que a população realisou ali hontem e hoje várias manifestações hostis á Servia, tendo apedrejado a casa de um chefe político sérvio.

BELGRADO - Causou grande consternação nesta capital a notícia do attentado contra o príncipe herdeiro da Áustria e sua esposa. As festas que hontem se estavam realisando para commemorar a reconquista das provincias servias, perderam todo o brilho e enthusiasmo ao chegar aqui essa notícia.

LONDRES - O “Times” publica um telegramma de Sarajevo, communicando que o anarchista Prinzip, antes de fazer uso do revólver, atirou sobre o archi-duque Francisco Fernando uma bomba de dynamite, que não chegou a explodir.

Esses são telegramas publicados pelo jornal carioca “A Notícia” um dia após o Atentado de Sarajevo, que vitimou o arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do Império Austro-Húngaro, e sua esposa, a duquesa Sofia de Hohenberg, em Sarajevo, capital da Bósnia. Esse atentado foi executado em 28 de junho de 1914 por Gavrilo Princip, membro da organização nacionalista sérvia “Mão Negra”. Foi considerado o estopim para a Primeira Guerra Mundial.

É desse mesmo local que vem a “Sarajevka Kolo” ou apenas “Sarajevka”: a “Moça de Sarajevo”. Em sua canção, ela nos fala do romance entre dois jovens em uma Sarajevo livre de guerras e conflitos:

“A linha da roda gira; no círculo, um jovem canta docemente, alegremente. Pule levemente, querida menina. Serão dois, três beijos. Quatro, cinco e talvez dez! Beije-me, belo jovem, para sempre. Eu vou te beijar, adorável garota de Sarajevo, que seja ouvido de longe.”

“Sarajevka Kolo” é uma dança tradicional dos sérvios moradores da Bósnia, grupo étnico do qual fazia parte Gavrilo Princip.

Talvez, se, naquele dia 28 de junho, o jovem Princip estivesse dançando com sua “Sarajevka”, os rumos da história do século XX teriam sido outros.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja essa e outras danças.

27.06.2023 - Memphis

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27.06.2023 - “Memphis” é uma cidade ou uma dança?

Se você viajar à América do Norte pode visitar a metrópole no Tennessee chamada Memphis; ou não sair de casa, tocar uma música e sair praticando a “Memphis”. E dá para dançar “Memphis” em Memphis. Essa conversa está ficando meio estranha? É… e tem como ficar mais confusa ainda.

Pelo que se conta, originalmente a coreografia, de poucos passos e feita com base no estilo “Line Dance”, foi escrita em 1965 para o sucesso das pistas “Memphis, Tennessee”, do cantor, guitarrista, poeta, compositor e um pioneiro do Rock 'n' Roll, Chuck Berry. E mesmo o autor sendo dos EUA e a narrativa da música se passando lá, a dança teria sido criada do outro lado do oceano: na Inglaterra.

E do que trata a letra dessa canção? Ela fala de duas pessoas que querem se reencontrar, deixando recados uma para a outra. No texto o cantor apresenta Marie: “ela é a única que me ligaria de Memphis-Tennessee; a casa dela fica no lado sul, no alto de um cume; apenas a meia milha da ponte do Mississippi”. Chuck Berry é do estado norte-americano do Mississippi, vizinho ao Tennessee. Ao final da música consta: “Tente me colocar em contato com ela, em Memphis, Tennessee”.

 

Uma curiosidade é que, com o tempo, as figuras da dança “Memphis” se tornaram muito populares e se independizou da música “Memphis, Tennessee”. Hoje ela se encaixa em diversos ritmos, seguindo os impulsos da moda. Ela não é “típica” e nem é para apresentações. É uma coreografia considerada para festas, pistas de dança e atividades de integração do coletivo.

Então, você pode dançar a “Memphis” em Memphis, Tennessee. Ou pode fazê-lo com a música “Memphis, Tennessee” ou com outra que você desejar. O importante é poder festejar, seja onde for, quando for, com quem for… e se a Marie estiver junto, melhor ainda. Uma música e uma coreografia que não só são uma ponte para o Mississippi, como para o mundo.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a música “Memphis, Tennessee”, Chuck Berry, em  https://youtu.be/KrbPlr4Wskc . Já as figuras da dança para festas “Memphis” pode ser vista em https://youtu.be/IH7ZH7mOKvs e https://youtu.be/VH6DKL_guDA .

26.06.2023 - Orientexpress

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26.06.2023 - Vale a pena uma viagem na “Orientexpress”?

O nome “Orientexpress” - Expresso do Oriente - chama atenção entre as tradições alemãs. Com coreografia de Helma Boltze e música de Martin Ströfer, essa “nova dança alemã” da década de 1990 faz menção à famosa linha de trem que ligava a Europa a Constantinopla (hoje, Istambul).

Já no primeiro acorde, percebemos que essa relação não está apenas no nome. O apito do trem convida a todos a embarcar nesta viagem. Inaugurada em 1883, a rota do Expresso do Oriente, apesar de algumas alterações ao longo de sua história, saia originalmente de Paris e passava por cidades como Munique, Viena, Budapeste e Sofia, antes de chegar em Istambul. Com vagões de altíssima qualidade, sendo considerado o trem mais luxuoso do mundo, seus passageiros eram, em sua maioria, membros das altas classes.

O auge do Expresso do Oriente foi na década de 1930, período em que, além da qualidade da estrutura, a excelência do serviço aos passageiros também era destaque. Com possibilidade de embarcar nas principais cidades europeias, os passageiros tinham ao seu dispor o conforto das cabines e também chefes renomados no preparo das refeições, já que a viagem durava vários dias.

Porém, em 1977, a viagem direta entre Paris e Istambul chegou ao fim. Algumas partes mais curtas e com necessidade de troca de trem continuaram sendo oferecidos. Hoje, algumas linhas são mantidas em alguns trechos como entre Paris e Veneza, resgatando o glamour e mantendo a nostalgia em torno do famoso Expresso do Oriente. Especula-se também uma volta da linha em 2024 ligando Paris e Istambul.

Talvez a referência mais conhecida a esse trem seja o livro “Assassinato no Expresso do Oriente”, da escritora britânica Agatha Christie, o qual recebeu também versão para o cinema. A ligação entre o mundo ocidental e oriental proporcionava um certo mistério, excelente para compor o enredo de diferentes histórias.

E então? Prontos para embarcar nesta viagem?

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Die Siebenbürgische Kindertanzgruppe Augsburg com essa dança em https://youtu.be/yBrnHnV3hFA .

25.06.2023 - Matrosentanz

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25.06.2023 - Os pescadores da Matrosentanz seriam os culpados pela diminuição do número de focas?

Em uma música popular de marinheiros chamada “Hal mi den Saalhund”, registrada em 1832 na ilha de Rügen, os pescadores pedem para que a foca seja buscada da praia para a terra, pois ela vai comer todos os peixes e estragar as redes. Assim como a maioria das canções desse tipo, ela era entoada em “Plattdeusch”- dialeto do norte da Alemanha. Alguns relatos apontam que para a melodia também existia uma dança que era executada no litoral antes de os marinheiros iniciarem a caça às focas.

Deixando as brincadeiras e as ameaças de lado, afinal, o pescador do mar Báltico tinha motivos para estar bravo com as focas por estragarem suas redes. É interessante observar que essa mesma canção também servia de introdução para a “Matrosentanz” (Dança do Marinheiro) encontrada nos povoados de pescadores alemães ao longo da costa do mar Báltico.

No século XIX, foram registradas várias canções entre esses homens do mar. Eram músicas que serviam de acompanhamento para a execução das tarefas. Em geral, elas eram adequadas ritmicamente e serviam para coordenar e sincronizar o trabalho do grupo de tripulantes, como, por exemplo, o empurrar e o puxar, o levantamento de âncoras, a armação de velas ou o remar.

Esse tipo de canção é conhecido em português como “celeuma” e, em alemão, como “Shanty”. No norte da Alemanha, ainda existem corais que se dedicam a esse tipo de canto, tendo em seus nomes a palavra “Shanty”, como o “Shanty Gruppe De Schweriner Klönköpp.” e o “Rostocker Shanty Chor Luv un Lee”.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja também o Shanty Gruppe De Schweriner Klönköpp (https://youtu.be/XJfHwc3PQkU ) e o Rostocker Shanty Chor Luv un Lee (https://youtu.be/2GPeyjitxoc ).

24.06.2023 - Großes Triolett

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24.06.2023 - A “Großes Triolett” é a dança mais bonita?

Outro dia, em uma discussão sobre quais títulos deveriam fazer parte do repertório de uma Tanzfest, os participantes estavam tentando equilibrar a representatividade de danças do sul e do norte da Alemanha. Mas, quando chegaram na “Großes Triolett”, uma frase apenas bastou: “weil es einfach schön ist!”, ou seja, porque ela é simplesmente bonita. Não era mais necessário levar a discussão adiante, pois todos estavam de acordo que ela não poderia faltar na festa.

A “Großes Triolett” foi escrita por Volkhard Jähnert em 1958 no grupo Volkstanzkreis Reinickendorf de Berlim. Posteriormente, ela foi publicada em 1964 junto com outras novas danças berlinenses. Desde então, ela não pode faltar nas festas dos grupos de danças da capital alemã.

Foi Martin Ströfer que compôs e deu a esta dança uma melodia. Ele foi responsável por compor mais de 700, mas talvez a mais conhecida seja ainda “Großes Triolett”. Não adianta ter uma coreografia bonita se a música não ajuda. E, neste caso, essa é perfeita!

Uma vez tive a oportunidade de aprendê-la com uma antiga aluna de Jähnert. Lembro bem de algo que me marcou. A dança é fluída e não travada. O círculo deve andar e não ficar parado no lugar. Desde então, observo bastante a diferença entre velocidade e a fluidez nas danças. Quando uma dança “sai do chão”, não significa que ela precisa ser rápida. Pelo contrário, ela segue o ritmo da música, mas os (bons) dançarinos se deslocam pela pista.

“Großes Triolett” não é uma dança simples. É uma verdadeira obra de arte. O próprio autor relatou uma vez que, anos depois, gostaria de ter aprimorado algumas partes dela, mas, como ela já havia sido publicada, isso apenas traria confusão entre os dançarinos.

Mesmo que alguém ache que ela não seja a dança mais bonita, vai concordar que, ao menos, ela é uma das mais belas que conhecemos. Se não achar isso, “bom sujeito não é! É ruim da cabeça ou doente do pé!”

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Volkstanzkreis Reinickendorf, de Berlin, com essa dança em https://youtu.be/hhAVy7FhplQ

23.06.2023 - Bravade

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23.06.2023 - Aquele que dança a “Bravade” é um fanfarrão?
Ao pesquisar o termo “Bravade”, descobre-se que ele tem origem no italiano “bravata”. Em português temos essa mesma palavra, com igual origem e com significado semelhante: ameaça, intimidação. Em alguns idiomas, encontra-se o sinônimo “fanfarrice”. Será que é isso que a música e a dança querem transmitir?
A melodia foi composta no século XVII pelo holandês Jacob van Eyck. Ele era um “Glockenspieler”, um “carrilhonista”, na cidade de Utrecht. Por suas habilidades, ele foi considerado um expert em carrilhões. Para quem não sabe, esse é um instrumento musical formado por um teclado e por um conjunto de sinos colocados geralmente em altas torres.
Também no século XVII, o inglês John Playford publicou em sua obra de danças populares inglesas uma chamada “Argeers”, coreografia para a música "Bravade", de van Eyck.
Recentemente, na década de 1950, o trabalho do holandês teve uma nova e moderna publicação. Possivelmente por esse motivo, a música “Bravade” voltou a ser novamente popular no país, surgindo, nas décadas de 1980 e 1990, algumas gravações da música. Em um trabalho conjunto entre Marita Kruijswijk e a banda holandesa de Folk “De Perelaar”, foi criada a coreografia conhecida atualmente. Aparentemente, não há nenhuma relação com a “Argeers”, de Playford, passando a dança a ter o mesmo nome que a música: “Bravade”.
Mas, quem dança a “Bravade”, afinal, é um fanfarrão?
O que poucos sabem é que o compositor van Eyck era cego de nascença. Com isso, ele desenvolveu muito mais outros sentidos. Tanto que o famoso filósofo e matemático francês René Descartes elogiou sua audição aguçada e muitos carrilhonistas se mudaram para Utrecht para estudar com ele. Em momento algum, van Eyck se deu por vencido na vida, superando todos os desafios.
Seria a “Bravade”, então, uma bravata frente às dificuldades que encontrou? Como ele não deixou nenhum relato conhecido sobre isso, só nos resta dançar em homenagem a seu legado.
Quer saber mais?
https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja também o Folkloreorchester Ohrwurm em https://youtu.be/HMqIVQcohAc e a composição original de Jacob van Eyck em https://youtu.be/h1E13b1wWVg 

22.06.2023 - Maym, Maym

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22.06.2023 - Por que “Maym, Maym” é uma cerimônia à água?

No início do século 20, o fluxo de judeus voltando para se estabelecer na “Terra Prometida”, em torno de Jerusalém, tornou-se constante. A região era habitada por uma população de maioria muçulmana, com uma população judaica crescente e cada vez mais determinada a criar um estado soberano.

Uma marca registrada do assentamento judaico na Palestina foi o Kibutz – um pedaço de terra de propriedade coletiva organizado como uma comunidade agrícola, que, em sua maioria, buscava a autossuficiência. Frequentes reuniões de grupo apresentavam não apenas discussões sobre economia, agricultura e política, mas também interesses sociais e artísticos. Frequentemente, uma reunião começava com uma dança em grupo criada lá mesmo.

Foi nesse contexto que surgiu a dança “Maym, Maym”. Com música composta por Yehuda Sharett, canção de Emanuel Pugashov e coreografia de Else Jeanette Dublon, ela foi executada pela primeira vez no Kibutz Na’an, em junho de 1937. A ocasião era um festival da água, porque, depois de uma busca de sete anos, o poço vital para Na'an poderia ser perfurado.

A canção é um verso da Bíblia Hebraica, cuja tradução diz: “Com alegria, você tirará água das fontes da salvação.” (Isaías 12:3), sendo que a palavra “Maym” significa “água”.

Anos depois, Dublon deu o seguinte relato sobre sua coreografia: “Yehuda me deu sua música Ushavtem, que ele havia orquestrado, e eu fiz uma verdadeira cerimônia com ela.” O passo inicial representa o movimento das ondas. Já a segunda parte, na qual os dançarinos entram na roda, expressa o fluxo da água da nascente. Por fim, a terceira parte da dança, com os saltos e as palmas, foi acrescentada ao longo dos anos por diferentes grupos.

Para muitos, “Mayim Mayim” é o principal exemplo de uma dança performática que surgiu no movimento Kibutz. Ela foi destaque no primeiro festival de danças israelitas em 1944 no Kibutz Dalia, na Galileia, e é considerada hoje a dança israelita mais antiga ainda em execução.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Surrey International Folk Dancers em https://youtu.be/nsY3WWlK46A .

21.06.2023 - Sünnros

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21.06.2023 - A “Sünnros” é a quadrilha do girassol?

Nas regiões onde há períodos de inverno intensos, quando as plantas hibernam por meses a fio, o florescer delas tem significado especial. Na Alemanha uma tem destaque: a “Sonnenblume” - o girassol. Ele é uma flor de verão, tendo na Europa sua época de junho a outubro. O seu movimento de acompanhar o sol demonstra uma linda dança da natureza.   

Observando as frias terras no entorno de Hamburgo, não é de estranhar que uma antiga dança da localidade de Vierlande faça referência a essa flor de verão: a “Sünnrus”. O nome é a versão em dialeto para “Sonnenrose” - a Rosa do Sol - um dos sinônimos para girassol. Há registros dela tanto de Friedrich Friedrichs quanto de Anna Helms e Julios Blasche, importantes estudiosos das Volkstänze, além de constar em diversas outras publicações.

Em sua terceira parte, tem como figura principal dois círculos concêntricos que se entrelaçam. Essa formação é a “Flechtkranz” ou “Stirnkreis” e já apareceu desenhada em artefatos da antiguidade. Segundo Herbert Oetke, a “Sünnros” tem ligação com outras danças da mesma região, como a “Windmüller”, da Lüneburger Heide, por exemplo. Mesmo com temas diferentes, a estrutura delas é parecida na coreografia e na melodia.

Um dado interessante é que esta dança é acompanhada de letra cantada. Na parte referente ao girassol ela diz em dialeto: “Du büst min Sünnros, du büst min Hartensblom, Du büst min Sünnros, du büst min Blom.” O texto faz menção ao fato da pessoa ser seu girassol, sua flor.

E de tão descontraída, há registros que dizem que, quando os dançarinos estavam empolgados, na última repetição da figura do “girassol”, eles podiam, de surpresa, com os braços, erguer as moças - a estilo cadeira de balanço. Se vê, assim, que a “Sünnros” não é só antiga, como um registro imaterial da história: é também uma forma de divertimento, que atravessa o tempo mantendo vivos canto e dança.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a “Sünnros” em https://youtu.be/JMarqDdcP00  , com o Trachtengruppe Laisa, do Hessen.

20.06.2023 - Körbletanz

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20.06.2023 - É preciso usar cestos de vime na “Körbletanz”?

Nem cestos de vime, nem de palha e muito menos de plástico. O que gerou a inspiração de uma dança não obrigatoriamente tem que ser utilizado nela. A “Körbletanz” tem uma coreografia de trios, que é atribuída à pequena região do Kuhländchen, nos Sudetos Alemães - hoje na República Tcheca. Ela não usa nenhum adereço na sua execução.

O que provavelmente deu nome à “Körbletanz” - Dança do Cesto - foram os movimentos dos rapazes junto às duas damas, que parecem se trançar, indo e voltando. Através dessas formações é que pode ter ocorrido a lembrança do método de fazer os balaios. Fora isso, sua coreografia simples não nos permite gerar mais especulações.

Por sinal, uma característica das danças nascidas junto ao povo é a simplicidade de sua estrutura e um diálogo com o cotidiano da comunidade. Ali se manifesta, indiretamente, a história viva das pessoas: como trabalhavam, suas memórias, valores e tradições. Fazer menção ao tramar de cestos, por exemplo, é condizente com áreas rurais do final do século XIX e do início do século XX.

É considerada antiga, descrita como “Altfränkischer Körbletanz” nos relatos de quando foi coletada. É muito provável que até o início do século XX tenha sido transmitida dentro da cultura oral. Fritz Kubiena a documentou e publicou e há referências a ela também em dialeto como “Italiener Kewletanz”. Por sua popularidade, acabou em muitos manuais de danças, o conhecido Karl Horak escrevendo sobre a mesma.

Segundo ele: “Na “Körbletanz” há dois estilos de danças que são característicos das regiões da Morávia-Silésia e dos Cárpatos: dança em trio e as batidas múltiplas com o mesmo pé - Tupftritt - não são transmitidas com tanta frequência em nenhuma outra paisagem. Não se pode descartar que essas peculiaridades remontam a formas mais antigas de dança de salão da corte, como o minueto e a contradança. Os modos de vida das classes altas foram facilmente imitados nas pequenas cidades do interior e, a partir daí, se espalharam junto às aldeias.”

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo da “Körbletanz”, no minuto 15:25, em https://youtu.be/AcuNdPeblM0 .

19.06.2023 - Der Mollner Tanz

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19.06.2023 - “Der Mollner Tanz” tem que ser dançado no moinho?

Por mais que em alguns dialetos e idiomas a palavra “Møller” tenha relação com moendas ou moleiros, aqui é preciso cuidar da grafia. Em “Der Mollner Tanz” o nome quer dizer “A Dança de Molln”, e não do moinho: faz referência à localidade pertencente à Kirchdorf, na Alta Áustria. Mas o que tem de diferente neste pequeno recanto austríaco?

Molln tem grande destaque no Ecoturismo, fazendo parte do “Nationalpark Gemeinde Molln”, com mais de cem quilômetros de trilhas para caminhadas ou ciclismo. Lá também é área de peregrinação religiosa, com a  famosa “Wallfahrtskirche Frauenstein”, igreja onde está uma das madonas esculpidas pelo artista Gregor Erhart, do século XVI.

Um elemento bastante icônico na história local foi uma série de assassinatos atribuídos aos “caçadores furtivos”, ocorrido entre 1918 e 1919. Devido à fome do Pós-Primeira Guerra Mundial, muitos passaram a desconsiderar as regras vigentes sobre o abate de animais silvestres, o que resultou na caça ilegal de servos. A situação chegou a tal ponto que um massacre ocorreu na pousada Dolleschall, em Molln, onde a guarda militar matou um grupo desses caçadores, supostamente depois de um conjunto de mal-entendidos.

E a dança? É bastante tradicional nas comunidades alpinas que elas tenham suas próprias Ländler ou Steirische. No caso de “Der Mollner Tanz” - também chamada de “Mollner Steirer” ou simplesmente “Mollner” - isso também acontece, contudo com mais figuras e elementos do que é normalmente visto em outras composições austríacas. Soma várias figuras dos casais e em grupo; tem mudanças de velocidade na melodia; há partes com canto, não abdicando do típico Gstanzl. Uma destacada sequência coreográfica que provavelmente surgiu no final do século XIX, tendo seus registros no início do XX.

Seja nos aspectos naturais ou no turismo religioso, seja nos fatos históricos ou nas danças tradicionais, Molln se mostra um destino atrativo aos visitantes… mesmo que os moinhos não estejam entre seus pontos de destaque. Não se pode ter tudo.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a o vídeo da dança em https://youtu.be/EhoSDkqnjTM .

18.06.2023 - Schwälmer

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18.06.2023 - A “Schwälmer” é a dança da Chapeuzinho Vermelho?

Um dos contos mais populares publicados pelos Irmãos Grimm, é “Rotkäppchen” - “Chapeuzinho Vermelho”. O que nem todos sabem é que ele é atribuído à região do Schwalm, no norte do Hessen, na Alemanha. A história não só se passaria lá, onde o lobo perseguiu a menininha e comeria sua vovó, como também as vestimentas regionais teriam influenciado no seu nome.

Primeiramente, o traje do Schwalm não se parece com as vestimentas da “Chapeuzinho Vermelho” dos livros. Provavelmente devido a traduções, o “Kappe” da história acabou sendo interpretado como um capuz. Na verdade, ele é um pequeno enfeite que envolve o coque das damas, como um mini chapéu. Podia ser de diferentes cores, como preto, para casadas, e roxo, para viúvas. Como as crianças usavam esse “Käppchen” em cor vermelha, provavelmente dizer “Rotkäppchen” seria sinônimo de “menininha jovem e pura”.

E qual a relação da Chapeuzinho Vermelho e a dança “Schwälmer”? A conexão é a região e sua indumentária. Por mais que, na coreografia ou na música, não citem a “Rotkäppchen”, ao ver a “Schwälmer”, muitos liguem ao “Schwälmer Tracht” e suas muitas saias, assim como seu “Käppchen”. Não por acaso o turismo local explora muito essa combinação.

É interessante que registros no século XVII apontem a existência de melodia com esse nome, designando que “era de Schwalm”. Já a coreografia, também antiga, segundo apontamentos, era comum em festividades, contudo não se fixava a uma única música. Mesmo sendo a junção de ritmos e passos já conhecidos, a sua composição e forma de execução, devido às peculiaridades da indumentária, a fazem única.

A “Schwälmer”, assim, se tornou uma das principais manifestações típicas da Alemanha, por destacar toda uma região. Se a Chapeuzinho Vermelho, já crescida, teria dançado ela, daí fica no campo da ficção. Agora, um dado é certo: imaginar a narrativa da “Rotkäppchen” com a menina trajada como no Schwalm traz uma perspectiva toda nova do conto.

Quer saber mais, https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o documentário com o Tanz- und Trachtengruppe Loshausen, com a “Schwälmer” em 2:38: https://youtu.be/nJhO9A_bbKg .

17.06.2023 - Zweischritt aus Pommern

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17.06.2023 - A “Zweischritt aus Pommern” é uma dança indecente?

Segundo o professor Willi Schultz, as danças com “Zweischritt” eram muito apreciadas na Pomerânia por terem movimentos animados e belas melodias. O registro que ele fez foi a partir das anotações de um camponês e músico do vilarejo de Stöckow, na região de Kolberg-Körlin.

Com certeza, você já deve ter ouvido a música “Zweischritt aus Pommern” e ficou imaginando belas paisagens da antiga Pomerânia e seus camponeses em belos trajes executando a dança. Porém, poucos sabem que ela já foi considerada uma dança indecente!

Isso mesmo! Por causa do contato muito próximo entre o rapaz e a moça para poder executar os giros, muitas delas frequentemente se recusavam a dançá-la. Por isso, restava para eles dançar rapaz com rapaz. Além disso, na região de Franzburg, próximo a Stralsund, era conhecida uma canção que acompanhava a coreografia. Mas ela continha versos tão indecentes que não puderam ser divulgados.

Agora fica a dúvida: que versos impublicáveis são esses?

Um outro autor também faz referência à dança “Zweitritt”. Segundo ele, após a colheita, as pessoas se encontravam na eira - Tenne -, onde se separava o grão da palha dos cereais e, ali, bebiam a “Austbier”, cerveja feita especialmente para a colheita. Todos se divertiam com belas danças, entre elas, uma não muito decente conhecida como “Zweitritt”.

E agora? “Zweitritt aus Pommern” é indecente ou não? A aproximação do rapaz e da moça durante a coreografia, pelo menos para os padrões do século XIX, era vista como algo inapropriado. De toda forma, hoje, sabemos que não há nada de mais nisso e que, bem executada, ela é, ao mesmo tempo, uma grande diversão para quem dança e um belo espetáculo para quem assiste.

Contudo, o conteúdo da canção que costumava acompanhar sua melodia, de tão indecente, ainda permanece desconhecido.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Grupo Folclórico Heimatland, Cerro Largo-RS, realizando esta dança em https://youtu.be/YdL2ls8JWtI .

16.06.2023 - Kontra Dreitritt

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16.06.2023 - Quanto custa para tocar a “Kontra Dreitritt”?

Não bastasse uma, existem duas “Kontra Dreitritt” na região de Lüneburger Heide, no Norte da Alemanha. E, para completar, são conhecidas seis diferentes melodias para elas.

Mas, quanto custa para que os músicos toquem a “Kontra Dreitritt”?

Antigamente, nas diferentes localidades de Lüneburger Heide, era comum que, ao longo do ano, fossem realizadas diferentes festividades: festa da igreja, do tiro, da colheita, carnaval e, é claro, os casamentos. Não somente os camponeses, pescadores e artesãos, mas também os músicos esperavam ansiosos por esses dias.

Os salões de festa geralmente eram a taverna do vilarejo ou uma sala maior em uma das casas. Em um dos lados, ficava a mesa dos músicos e, sobre ela, os copos (eles não podiam passar sede!) e as partituras. Quando escurecia, era ali colocada uma vela ou lanterna para iluminar. Ao centro da sala, era deixado espaço para a pista de dança e as cadeiras eram colocadas ao redor.

Quando a festa começava, todos queriam dançar em frente à mesa dos músicos, afinal, era o melhor lugar da sala. Para ter essa honra, era preciso pagar. O registro feito pelo professor Eduard Kück indica que, na segunda metade do século XIX, em alguns vilarejos, uma “Bunte” (contradança com várias sequências), como a “Kontra Dreitritt” custava para cada rapaz do círculo em frente aos instrumentistas a quantia entre um “Doppelschilling” e dois “gute Groschen”, equivalente a cerca de 12 a 24 centavos do dinheiro da época.

Em outras localidades, era comum que apenas um rapaz pagasse um “Doppelschilling” - podendo ser o par número 1 e, algumas vezes, podendo escolher a música, além de dançar em frente aos instrumentistas - e os demais participavam de graça. Mais tarde, no século XX, era comum que cada cavalheiro pagasse um valor fixo para cada dança, indiferente de onde dançaria, ou, então, uma quantia equivalente para a festa toda.

E você? Já calculou quanto gastaria em uma festa? Conta aí pra nós!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja essa e outras danças do nosso projeto.

15.06.2023 - Erntetanz

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15.06.2023 - A “Erntetanz”, Dança da Colheita, usa foice e ancinhos?

No outono das comunidades de língua alemã, após a conclusão do período de safra, é típica a realização das Festas da Colheita - a Erntefest, Erntedankfest, ou simplesmente chamam-na de Festa Popular - Volksfest -, celebrando e agradecendo pela boa produtividade da terra. Por ser uma comemoração de destaque, ela motivou também o surgimento de muitas danças com este tema: as “Erntetänze” ou nomes relacionados.

Em algumas localidades era comum usar o último feixe de feno cortado como símbolo do final da colheita. Com ele podia ser feito também o “Hafermann” - uma espécie de boneco “Homem de Palha”. Cada local tinha sua peculiaridade. O “Erntekranz” - uma guirlanda especialmente feita para essa ocasião -, aparece em muitas tradições, de norte a sul da Europa. Por vezes essa coroa era colocada no campo, onde dançavam em sua volta. Outras vezes o festejo ocorria no galpão de armazenagem da propriedade rural.

Na Baviera, por exemplo, foi registrada uma variante do “Erntetanz” onde os participantes formavam uma fileira, estando os homens com suas foices e as mulheres com os ancinhos. Aqui se vê um caso onde também os instrumentos do dia a dia entraram na coreografia, ficando visível, neste tipo de dança comemorativa, o acréscimo de elementos simbólicos. São representações dos momentos vitais da comunidade.

Enquanto no hemisfério sul o outono ocorre de março a junho, no norte se faz de setembro a dezembro. De toda forma, indiferente do momento, na atualidade muitos grupos interpretam suas “Erntetänze” a qualquer momento, não só pela festividade da colheita, mas também por elas terem belas coreografias e músicas vibrantes. E se for analisar as novas tecnologias do agronegócio, que fazem a terra produzir muito em vários períodos do ano, quem sabe não seja um exagero ter essas danças em todas as estações. Mais importante do que uma data é o simbolismo que traz à comunidade.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja uma das variantes da “Erntetanz” em https://youtu.be/jaM0SQ6mmHQ .

14.06.2023 - Baarer Polka

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14.06.2023 - Alguém vai para o inferno se dançar errado a “Baarer Polka”?

Um grande problema em lidar com seres sobrenaturais é que, segundo as histórias, em grande parte das vezes, eles são onipresentes: veem tudo em qualquer lugar. E se alguns deles cuidassem de uma coreografia em específico, espiando quem a realiza de modo errado? E se fosse ela a “Baarer Polka”? Provavelmente isso seria uma boa maneira dos instrutores de dança pressionarem seus pupilos nos ensaios, para que não se desconcentrem e cometam um deslize.

Mas por qual motivo os demônios "protegeriam" essa polca? Em Baar, de onde surgiu a “Baarer Polka”, existem as Höllgrotten, as “Cavernas Infernais”. Essa formação geológica está localizada na Suíça Central, próxima à conhecida e rica cidade de Zug, capital do cantão de mesmo nome. Nesta lógica, o que nasceu no entorno desse “acesso ao submundo” mereceria uma proteção especial.

Crendices e brincadeiras à parte, o Höllgrotte é hoje um ponto turístico que leva muita gente a desbravar suas entranhas. Suas estalactites, que parecem vindas de uma realidade paralela, encantam e mexem com o imaginário de quem as vê: criam um mundo à parte. E realmente esse cenário não é tão infernal, já que, tanto quanto se sabe, todos os seus visitantes voltaram a ver a luz do dia após um belo passeio.

A “Baarer Polka” foi coreografada em outubro de 1974 por Martin Hotz, de Baar. Ele era dono de uma padaria, então estava acostumado com coisas “quentes”.Também é conhecido um de seus outros títulos, que hoje faz parte do repertório de todos os grupos de dança suíços: o “Seppel”. Já a melodia é de Walter Betschart, do conjunto “De Lützler Seebi”.

E não tendo um Cérbero mitológico na porta do Höllgrotte, quem sabe o que mais assuste os visitantes seja o ingresso de 12 francos suíços para adultos. E se alguém quiser burlar a cobrança e entrar de modo clandestino, que não se esqueça dos demônios: eles podem não vigiar realmente algumas danças, contudo sabem perseguir com destreza quem não paga o ticket.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a “Baarer Polka” em  https://youtu.be/COcZUASLYHU .

13.06.2023 - Choriner Vierer

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13.06.2023 - A “Choriner Vierer” foi inspirada em um mosteiro?

Ao falarmos da dança “Choriner Vierer”, é preciso conhecer um pouco mais sobre Chorin, cidade localizada no estado de Brandemburgo. Seu nome vem do adjetivo eslavo “chory”, que, em alemão, significa “krank” e, em português, “doente”. Mas o porquê de a localidade ser chamada assim não tem relação com alguma doença. Como é um adjetivo, ele foi relacionado ao lago da região, o “Choriner See”, o qual não era doente, mas sim com poucos peixes.

Acredita-se que o vilarejo tenha sido criado antes do século XIII, quando foi construído o Mosteiro de Chorin, o qual passou a exercer grande influência e representatividade no Mark Brandenburg. Por cerca de trezentos anos, o mosteiro foi responsável pela administração da região, uma atuação muito mais administrativa e econômica do que religiosa.

Porém, no ano de 1542, as atividades no mosteiro chegaram ao fim. O poder administrativo passou das mãos da Igreja para a família real regente, no caso, os Hohenzollern. Poucos monges ainda permaneceram morando lá, mas, a partir de 1550, o complexo religioso ficou abandonado. Alguns de seus prédios foram desmontados por moradores locais para usar suas pedras na construção de casas. Outros, foram se deteriorando com a ação do tempo, sendo usados até como estábulo.

Foi apenas no início do século XIX que o Mosteiro de Chorin voltou a chamar atenção. Primeiro, pela beleza de suas ruínas às margens do lago e, posteriormente, pela importância de sua arquitetura e de sua história. Desde então, ele passou por diferentes processos de restauro e, hoje, serve de local para diferentes atividades religiosas e culturais.

É pouco provável que o mosteiro tenha influenciado diretamente na dança. Contudo, ele pode ser considerado responsável por tornar Chorin uma referência regional. Com composição de Heinrich Dieckelmann e coreografia de Herbert Oetke, a “Choriner Vierer”, o Quarteto de Chorin, procura representar essa importante cidade do antigo Mark Brandenburg, valorizando o seu legado.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Arbeitskreis für Jugendtanz der DGV com essa dança em https://youtu.be/yFE_3YH6tmo  .

12.06.2023 - “Kurnauer Durl

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12.06.2023 - “Kurnauer Durl” é a dança do enamorado da Dorotéia?

No Egerland, região muito próspera da antiga Boêmia, existe uma localidade de nome Haid, que, em tcheco, chama-se Bor. Segundo Ursel Großschmidt, no entorno deste local, teria surgido uma dança: “Kurnauer Durl”. Ela é o exemplo claro de diálogo de culturas, somando diferentes musicalidades e passos populares.

A canção conta, através do ponto de vista de um rapaz, a sua ida a Kurnau - Kornau, distrito no entorno de Eger - com a Doroteia - que, em dialeto, é chamada de “Durl”. Diz o texto da primeira estrofe: “Eu vou com a Doroteia, eu danço com a Doroteia, até Kornau. (2x) Quando nós chegamos a Kornau, tiraram a Doroteia de mim (2x)”. Já na segunda parte da letra, ele canta os positivos atributos da moça: que ela vale ouro, que se “encaixava” perfeitamente bem em sua cama e que nunca mais na vida ele encontraria outra como ela.

Vendo sua parte melódica, na primeira etapa da “Kurnauer Durl”, há o ritmo tradicional de mazurca. Provavelmente ela tenha ligação com a canção alemã “Tanz ich mit der Durl bis nach Schweinau”: tem uma clara similaridade entre as duas melodias, por mais que os textos sejam bem diferentes.

Já na segunda etapa, o ritmo muda para uma Ländler, não mais mazurca. Karl Horak destaca que a  “Kurnauer Durl” conseguiu somar esses dois populares ritmos da época em uma única música. Também os dois tipos de passos são claramente vistos em sua coreografia. Ela foi registrada em um conjunto de publicações, como no tradicional “Egerländer Tanzfibel”, de Josef Heil. Ali, o autor, que apresenta duas variantes da coreografia, destaca: “essa dança é muito rápida em sua execução. Os pares devem se olhar sempre e sorrir um para o outro”.

A “Dorotéia de Kornau”, como seria a tradução, conseguiu atravessar o tempo preservando melodia, narrativa, dialeto e passos típicos das comunidades de língua alemã do Egerland. É um belo exemplo de como uma dança pode guardar muito mais do que mera coreografia.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a dança em https://youtu.be/5UiIvYHd0kQ .

11.06.2023 - Pommerscher Krakowiak

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11.06.2023 - Na Pomerânia, também existia uma Krakowiak?

Conhecida como “Krakowiak” ou “Cracovienne”, essa música típica da região de Cracóvia se desenvolveu não apenas como uma dança nacional polonesa, mas também se tornou, no século XIX, uma das mais apreciadas em toda a Europa. Como coreografia popular, ela apresenta variações conforme as diferentes regiões onde é encontrada.

Mas, será que na Pomerânia também existia uma variação da Krakowiak?

Uma grande referência para as tradições da Pomerânia é o professor Willi Schultz. Em uma de suas obras, ele publicou a dança chamada “Krakowiak”. Nela, há uma observação de que a música se repete três vezes e, na terceira, os dançarinos ou os pares se colocam em fileira e improvisam o “Kossak”.

A partir do registro de Schultz, o grande pesquisador da cultura pomerana, Eike Haenel, fundador do Tanz- und Folkloreensemble Ihna, trabalhou uma coreografia para seu grupo, à qual ele deu o nome de “Pommerscher Krakowiak”, afinal, era preciso diferenciar a “Krakowiak” pomerana das demais. O conjunto dos passos se manteve praticamente fiel ao registro de Schultz, tendo alguns aprimoramentos para o palco. Inclusive a última parte, onde seria necessário improvisar o “Kossak”, foi mantida.

Porém, para o “Kossak”, Haenel precisava saber um pouco mais e deu sequência a suas pesquisas. Segundo ele, no período da colheita, vinham trabalhadores da Ucrânia e da Polônia para a Pomerânia para ajudar no campo. Como nas festas da colheita havia muita dança, possivelmente esses trabalhadores também tivessem mostrado alguns de seus passos, o que foi assimilado por moradores locais, chamando essas figuras de “Kossak”.

É interessante observar que, hoje, a “Pommersche Krakowiak” é muito mais conhecida entre os grupos de danças brasileiros do que entre os alemães. Tudo isso se deve ao trabalho incansável de Eike Haenel e do grupo Ihna que, em suas turnês e em seus cursos pelo Brasil, despertaram o interesse de muitos pela cultura pomerana.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Landjugend Geismar, do Hessen, interpretando-a em  https://youtu.be/_KznC4j-wFQ e o Grupo Grünes Tal, de Jaraguá do Sul, em https://youtu.be/_KznC4j-wFQ

10.06.2023 - Utrecht Hornpipe

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10.06.2023 - Qual a relação entre “Utrecht Hornpipe” e “Lord of the Dance”?

Quem ouve ou assiste a dança “Utrecht Hornpipe” nem imagina toda a história que está por trás dela. Para compreender um pouco mais sobre sua origem, vamos precisar juntar algumas peças:

a) Onde fica Utrecht?

b) O que é Hornpipe?

c) Quem escreveu essa dança?

Aí vão as respostas:

a) Utrecht é uma das cidades mais antigas dos Países Baixos. Ela foi construída ao redor da catedral da cidade e é conhecida internacionalmente por seus canais.

b) “Pipe”, em inglês, significa “canos”. Seria então a dança dos canos (ou dos canais) de Utrecht? Não! O termo “Hornpipe” remete a um estilo de dança inglesa tradicional. Ela tem esse nome por causa de um antigo instrumento de sopro homônimo.

c) A dança “Utrecht Hornpipe” foi registrada pelo coreógrafo holandês Cor J. Hogendijk, especialista em contradanças inglesas. No ano de 1973, ele a publicou no volume I do livro “English or Double Dutch”, com gravação de áudio da banda Dutch Comfort.

Agora, está tudo explicado. Cor J. Hogendijk procurou divulgar novas coreografias ao estilo das antigas contradanças inglesas. Aqui, ele registrou uma dança no formato Hornpipe para a cidade de Utrecht.

E você não tem a impressão de já ter ouvido essa música em algum lugar?

Ao pesquisar um pouco mais sobre a origem da música, é possível encontrar uma canção religiosa chamada “Lord of the Dance”, composta pelo inglês Sydney Bertram Carter em 1967, cuja melodia também se baseou em outra canção litúrgica chamada “Simple Gifts”, composta em 1848 e atribuída ao americano Joseph Brackett.

Logo após a canção “Lord of the Dance” ser composta por Carter, ela teve notáveis gravações dentro do movimento Folk na Irlanda, Escócia e Inglaterra. É provável que Cor J. Hogendijk tenha tido ali contato com sua melodia, tendo a inspiração necessária para sua dança “Utrecht Hornpipe”.

Poderíamos, agora, analisar a letra da canção ou ainda observar as semelhanças com o famoso musical “The Lord of the Dance”. Mas tudo isso é tema para outras narrativas!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Grupo Kunstkraft, de Esteio-RS, em https://youtu.be/exU8Ek-ySO4 .

09.06.2023 - Lübarser Reihentanz

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09.06.2023 - Foi o Lubas que criou a “Lübarser Reihentanz”?

Campos vastos, prados verdejantes e piquetes com cavalos. Essa descrição se encaixa com diferentes lugares, menos com a capital alemã Berlim. Certo? Errado! Bem-vindos a Lübars, o vilarejo mais antigo da capital alemã! É uma localidades do distrito de Reinickendorf. Com sua paisagem excepcional, é difícil de acreditar que Lübars está apenas a 30 minutos do centro da cidade. Com sua parte histórica, fazendas, criações de cavalos e oficinas de artesãos, a rotina diária do local é muito diferente daquela vida estressante de da grande metrópole.

As casas antigas, a igreja, o cemitério, a escola e, claro, a taberna formam o antigo centro histórico, o Alt-Lübars. Em seu nome tem a palavra eslava “Ljuba”, que significa “Liebe”, ou seja, “amor”. Sua designação também pode indicar que o vilarejo pertenceu a uma pessoa chamada “Lubas”. Porém, quem é esse Lubas? Foi ele o criador da “Lübarser Reihentanz”?

Lubas é um nome eslavo e é encontrado ainda hoje em algumas regiões. Porém, não se sabe quem era essa pessoa, o possível dono das terras do vilarejo. Apesar de sua origem ser mais antiga, os primeiros documentos que citam Lübars datam do século XIII, mas sem nenhuma menção ao senhorio.

Mesmo não se conhecendo quem é o Lubas, sabe-se que não foi ele que criou esta dança. Assim como algumas outras de Berlim (“Hermsdorfer Dreikehr” - 09.06.2023; e “Reinickendorfer Mühle” - 09.06.2023), ela é produto do trabalho do professor Volkhard Jähnert.

O título “Lübarser Reihentanz” surgiu a partir de suas figuras em fileiras (Reihen) e do nome de Lübars. Assim, ela nada mais é do que a “Dança de Fileiras de Lübars”. É interessante observar que o professor Jähnert nomeou algumas https://www.culturaalema.com.br/tanz de suas danças a partir das localidades do distrito berlinense de Reinickendorf, local de origem de seu grupo “Volkstanzkreis Reinickendorf”.

Quer saber mais?  e veja o “Volkstanzkreis Reinickendorf” com a Lübarser Reihentanz em https://youtu.be/gwERdovPmZs

08.06.2034 - Großvatertanz

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08.06.2023 - Seria a “Großvatertanz” uma homenagem ao Opa?

“Opa” ou “Opi” é como os alemães chamam carinhosamente o avô, assim como temos em português o “vô”, “vovô”, “vovôzinho” ou “voinho”. Seria, então, a “Großvatertanz” a dança do avô?

Na Alemanha, existe uma antiga canção cuja melodia remonta ao século XVII e até já foi citada por famosos compositores como Johann Sebastian Bach e Robert Schumann. Para ela, eram cantados alguns versos:

Als der Großvater die Großmutter nahm

da war der Großvater Bräutigam

und die Großmutter war die Braut

da wurden sie beide zusammen getraut

E foram esses versos que deram nome à melodia e, posteriormente, à dança: “Großvatertanz”, ou seja, a dança da música do avô. Na canção, é dito que, quando o avô levou a avó, ele era o noivo e ela era a noiva e os dois se casaram. A melodia ficou muito popular em diversas regiões, sendo encontrados também diferentes textos para ela. Inclusive, para a parte rápida da música, há uma segunda estrofe.

Também conhecida como “Kehraus”, a “Großvatertanz” costumava ser dançada ao final dos casamentos, antes do “Braut austanzen”, momento em que a noiva fazia a passagem oficial de solteira para casada. Ela era executada por todos da festa, como uma Polonaise, passando por todos os espaços. Com o tempo, ela também foi tocada ao final de diferentes festividades. Segundo o historiador Franz Magnus Böhme, ela era a última dança, para que todos os convidados pudessem se divertir mais uma vez na conclusão do evento.

Atualmente, a melodia é conhecida internacionalmente através do famoso ballet “O Quebra-Nozes” (1892), do compositor russo Tchaikovski. No primeiro ato, antes da despedida dos convidados, todos dançam ao som da “Großvatertanz”.

Mesmo não sendo uma homenagem direta ao avô, a “Großvatertanz” retrata um belo costume (o que foi mantido até em sua citação no ballet): o alegre encerramento de uma grande festa. Que tal se voltássemos a resgatar essa tradição trazendo essa dança ou outra “Kehraus” para os encerramentos de algumas festividades?

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a Großvatertanz, no “O Quebra-Nozes” - The New York City Ballet - em https://youtu.be/g55F5n3Js3o .

07.06.2023 - Hackenschottisch

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07.06.2023 - Como a “Hackenschottisch” chegou ao Rio Grande do Sul?

Em sua infância na cidade pomerana de Kolberg, o professor Willi Schultz registrou uma dança de taco e ponta chamada “Hackenschottisch”. Segundo ele, o “taco e ponta, 1, 2, 3”, ritmo de marcação dela, foi o precursor das “Kreuzpolka” (09.02.2023), mantendo sua presença entre as tradições de diferentes regiões até os dias de hoje.

Com diferentes melodias, essa dança típica ainda é encontrada em vários repertórios. Na Alemanha, encontramos algumas coreografias com o nome de “Schmetterlingstanz”, “Hackschottisch”, “Hack-Schottisch”, “Hacke-Spitze”, entre outros.

Mas como a “Hackenschottisch” foi parar no livro “Danças e Andanças da Tradição Gaúcha” publicado em 1975 por Paixão Cortes e Barbosa Lessa, expoentes da dança gaúcha?

Nessa obra, os dois pesquisadores relataram, entre outros achados, as danças típicas que presenciaram nas festividades das colônias alemãs no Rio Grande do Sul: “Herr Schmidt”, “Kreuz-Polka” e “Hacken-Schottisch”, por exemplo. Preocupados com o resgate das coreografias e das melodias tradicionais gaúchas, Paixão Cortes e Barbosa Lessa não podiam deixar de fora as encontradas entre os descendentes de alemães no estado gaúcho, mencionando-as também em sua obra.

E qual será a “Hackenschottisch” que eles encontraram? Foi a versão trazida pelos imigrantes pomeranos? Ou foi uma versão dos da Boêmia, ou, quem sabe, da Vestfália? Ou, ainda, alguma trazida pelos alemães do Hunsrück? Sabe-se que os costumes trazidos pelos imigrantes europeus tiveram grande influência na cultura gaúcha em vários aspectos: culinária, festejos, música, dança, entre outros. Tanto é que, entre as danças gaúchas, encontramos algumas com fortes semelhanças com as danças de origem alemã, como o Chote Carreirinho e o Chote do Dedinho. E não é que existe até um Chote Ponta e Taco?

Teria o Chote Ponta e Taco parentesco com a “Hackenschottisch”? Bom, isso já é assunto para uma próxima história!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a Schmetterlingstanz em https://youtu.be/b6XKIQLxBmw , assim como o ACTG Portal da Serra, de Dois Irmãos-RS, com a "Ponta e Taco" em https://youtu.be/ZR3_NHUFuqc .

06.06.2023 - Phraze Graze Mixer

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06.06.2023 - A “Phraze Graze Mixer” é um jogo de Videogame?

Nos anos de 1970 era muito popular na Europa a venda de discos de vinil com coletâneas de danças internacionais. Eram títulos gregos, junto com suecos, alemães, romenos, portugueses, entre outros… geralmente acompanhados de uma breve descrição de como realizar cada uma delas. Vários desses LPs acabavam ou em escolas, sendo base de material didático para professores, ou em grupos que trabalhavam o folclore internacional, chegando a adultos.

A “Phraze Graze Mixer” é um desses exemplos. Ela faz parte do grande grupo das “Mixer”, seguindo claramente suas características, com musicalidade norte-americana típica da primeira metade do século XX. Ela está presente em um conjunto de coletâneas populares.

As “Mixer”, geralmente em círculo, tem como principal característica a troca constante de pares: a cada repetição da melodia as duplas se desfazem e formam novas. A ideia era “misturar” os participantes. Podem ou não ter um narrador - “caller”, "Master of Ceremonies", "prompter" ou "cuer" - guiando os participantes ao dizer a sequência de passos vindouros.

Mas é mesmo uma dança dos EUA? Provavelmente sim, porém, não localizamos uma fonte precisa que assim confirme. Um dado interessante é que um dos intérpretes da “Phraze Graze Mixer” é a tradicional “Nationaal Volksdansorkest”, conjunto holandes que publicou vários LPs de músicas internacionais. Pode ser meramente efeito da moda… ou ela pode parecer ser de um lugar, não necessariamente sendo.

E como ela poderia ser um software de videogame? Um dado que parece ser casual é ter existido um Arcade - esses grandes aparelhos que ficavam em Fliperama, com TVs de tubo -, com o mesmo nome: “Phraze Graze”. Ele é de 1986 e o jogo era do estilo “descubra a palavra”, como se fosse um antepassado do “Roletrando”.

E seja no jogo eletrônico ou seja no “game” da dança, a “Phraze Graze” marcou gerações. A diferença é que a primeira sumiu do mapa… a segunda segue viva nas pistas de baile. Nem sempre as novidades tecnológicas ganham. 

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a “Phraze Graze Mixer” em https://youtu.be/Gz-t2qejN5g .

05.06.2023 - Ratzeburger Viertour

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05.06.2023 - Todos os caminhos levam para a “Ratzeburger Viertour”?

Para descobrir a origem de algumas danças, é preciso percorrer diferentes caminhos. Será que todos eles nos levam a “Ratzeburger Viertour”?

Os poucos registros conhecidos nos conduzem para ao Schleswig-Holstein, no norte da Alemanha, especialmente para a cidade de Ratzeburg. Contudo, hoje, a dança não é muito conhecida entre os moradores locais.

 

Ao conhecer a região, descobre-se que os seus primeiros registros têm mais de mil anos. Seu centro histórico nada mais é do que uma ilha cercada por quatro lagos. Será que o nome da dança está relacionada a isso, “Ratzeburger Viertour” seria a dança de quatro sequências de Ratzeburg? Apesar de ser uma explicação muito bonita, ela é pouco provável.

 

Algumas fontes apontam que ela foi publicada pela primeira vez pelo prof. Wilhelm Stahl em sua coletânea de danças do norte (Niederdeutsche Volkstänze). Lá, ela recebeu o nome de “Viertourig”, por causa de suas quatro figuras a cada sequência, mas sem indicar se ela era específica de alguma cidade ou região.

 

Seria esse o caminho que nos leva à origem desta dança?

Sabe-se que Stahl concentrou suas pesquisas no norte da Alemanha em localidades próximas a Lübeck, entre elas o Principado de Ratzeburg. Durante seu trabalho, ele registrou muitas informações, especialmente a partir dos “Fichtelbücher”, livros dos músicos dessas pequenas localidades.

Para eles, nem sempre era importante registrar a localidade de origem de cada dança. Às vezes, era uma coreografia encontrada em vários pontos ou, então, ela era tão conhecida que seria óbvio e até redundante registrar o local de origem em seu nome.

Assim, outro “caminho” que nos leva à origem da “Ratzeburger Viertour” é a possibilidade de que, tempos depois, algum músico acreditou ser importante dar o nome de um local para diferenciar essa “Viertour” de outras, sendo escolhido, assim, a região de Ratzeburg.

Independente do caminho escolhido, a “Ratzeburger Viertour” nos proporciona um verdadeiro passeio pela história das danças populares.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Landesarbeitsgemeinschaft Schleswig-Holstein em https://youtu.be/7MN0XGFGcTc .

04.06.2023 - Beim Kronenwirt

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04.06.2023 - Beim Kronenwirt”, é preciso levantar as moças?

No livro “Alte niederdeutsche Volkstänze”, aparece no título “Beim Kronenwirt” a seguinte descrição: “Assim como a canção popular de mesmo nome, esta dança típica também é muito difundida”. Realmente antes de ter uma coreografia famosa, a “Beim Kronenwirt”, ou simplesmente “Kronenwirt”, se destacou como música da moda.

“No Kronenwirt, tem, hoje, alegria e dança”. A letra, que pode ser encontrada em diferentes dialetos, fala de uma festa de casamento que acontece em um restaurante - tipo taberna ou estalagem. Em cada verso, há a descrição do que está acontecendo e a apresentação de alguns personagens. A dança, a gastronomia e o discurso são partes dessa narrativa.

É atribuída ao escritor Heinrich Binder a letra, que teria sido publicada por volta de 1909. Já a melodia seria mais antiga, recolhida na tradição popular. Nas primeiras décadas dos anos 1900, ela se destacou como sucesso, ganhando gravações fonográficas e sendo transmitida pelo rádio. Foi interpretada por destacados artistas, como Freddy Quinn, Jonny Hill e o popular Coral de Gotthilf Fischer - o Fischer Chöre.

É provável que as coreografias foram se encaixando com o tempo à melodia da “Beim Kronenwirt”. As versões mais simples devem ter surgido de modo espontâneo, enquanto as mais arrojadas nasceram do trabalho de instrutores de dança, não necessariamente vindo de uma semente comum. De toda forma, é tradicional se ver nesta dança partes com palmas. Já a bela figura do círculo em que os rapazes erguem as damas, não aparece em todas as versões.

Seja só no canto popular, seja com dança e festa, a “Kronenwirt” para muitos está no imaginário dos casamentos populares do norte da Alemanha. Mesmo que a melodia possa ter surgido no século XIX, ou mesmo antes, foi com a disseminação das tecnologias fonográficas do séc. XX que ela virou moda, chegando com vivacidade ao XXI.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Blumenberg Volkstanz, de Petrópolis-RJ, apresentando a “Beim Kronenwirt” na XXI Bauernfest em https://youtu.be/drwi6lGXS5s .

03.06.2023 - Letkis

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03.06.2023 - Letkis: dança típica ou da moda?

“Letkis” é uma dança da moda que se originou na Finlândia no início dos anos 1960 sob o nome de “Letkajenkka”. É baseada na tradicional “Jenkka”. O que chama a atenção nela são os movimentos de salto. Originalmente, foi composta por Rauno Lehtinen e gravada pela banda finlandesa “The Finnish Jenka Allstars” sob o nome “Letkis”. Na Alemanha, ela se tornou um hit com a gravação “Letkiss” (1965) de Roberto Delgado.

Mas, em que parte da dança está o beijo? Afinal, “Letkiss” não significa “vamos beijar”?

Tendo como nome original “Letkis”, com apenas um “s”, a música de Lehtinen passou a ter outros nomes em outros idiomas. Para facilitar a pronúncia, foi rebatizada para “Letkiss”, “Let’s kiss”, “Lasst uns küssen”. Mas, na verdade, não tem nada a ver com beijo. Essa ideia foi introduzida por falantes não finlandeses, que pensaram que o título da música soava como “vamos beijar”. Em finlandês, “Letkis” é apenas a abreviação de “Letkajenkka”.

Na Alemanha, na década de 1960, existia um programa no canal de televisão ARD que era apresentado uma vez por mês em um sábado à tarde. Ele era chamado de “Tanzparty mit dem Ehepaar Fern” - Festa Dançante com o Casal Fern. Com banda ao vivo e convidados, os Fern ensinavam ao público de casa dois ritmos em cada programa. Eles dançavam, explicavam e colocavam todos para fazer a coreografia.

A dança se tornou rapidamente um sucesso. Com um ritmo animado e uma coreografia simples, ela era facilmente assimilada até mesmo por aqueles que não eram, digamos, “pés de valsa”. O sucesso foi tão grande que a conhecida revista alemã “Der Spiegel”, em uma matéria de 1965, anunciou: “A febre de Letkiss evoluiu para uma verdadeira psicose.”

Com beijo ou sem, ela se tornou rapidamente um hit. Em 2001, ela teve uma nova gravação em estilo pop feita pelo grupo Darling. E, em pleno 2023, com o TikTok, é possível ver vídeos dela! Independente da época, “Letkis” é sempre um grande sucesso por onde passa.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz

 e você quer aprender inclusive as figuras da Letkis? Então, confira o vídeo da aula do casal Fern para a TV alemã: https://youtu.be/eq7myqy_E9U .

02.06.2023 - Kornmäher

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02.06.2023 - Karschnatz ou Kornmäher: qual é a origem dessa dança da colheita?

Ela é de Luxemburgo, no lado esquerdo do rio Our, ou da Alemanha, da margem direita? Na primeira, chama-se “Karschnatz”, na segunda, “Kornmäher”. Sua coreografia e melodia são praticamente as mesmas. Assim, qual veio primeiro?

Na descrição da “Karschnatz”, há a referência a ela ser de Prüm, município alemão no Eifel, próximo a Luxemburgo. Assim, a dúvida estaria resolvida? Não necessariamente: nessa região, as fronteiras mudaram várias vezes e Prüm chegou a fazer parte da França no século XVIII, assim como o Ducado de Luxemburgo também. Uhm… e como ela se chamava lá? Tinha o nome de “Kornmäher”.

Bom, de modo geral, a dança parece ser parte de uma espécie de "Ação de Graças" no final do período de colheita anual. Seu ritmo rápido e caráter animado sugerem uma ocasião festiva. É um raro exemplo, no caso luxemburguês, de coreografia que imita o passo a passo do trabalho dos agricultores. Mostra como plantavam o cereal, o modo que o cortavam e, por fim, o jeito que amarravam seus feixes.

E essa dança é para quantos pares? Teoricamente, um número ilimitado; contudo, é usual serem cinco ou seis. Geralmente, todos os pares assumem uma vez o papel de protagonistas, repetindo a melodia conforme sua quantidade. Assim, tendo música ao vivo, havendo muitas pessoas, faria a “Kornmäher” - ou “Karschnatz” - ser extremamente longa. De toda forma, há comunidades que apreciam as extensas.

E mais uma curiosidade: na língua luxemburguesa, o termo “Karschnatz” é a expressão para o oitavo mês do ano (agosto). Apesar de não ser muito comum, a palavra continua a ser usada. O significado deve ser entendido no sentido de “época da colheita do grão”, “mês da colheita”.

Assim, observando as peculiaridades das áreas do Eifel, que não seguem as fronteiras nacionais, possivelmente não se consiga precisar exatamente se essa dança é, na atualidade, de um país ou de outro, ou mesmo da Bélgica. Supõe-se, assim, que ela fazia parte dos três: do patrimônio cultural compartilhado da região.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a “Karschnatz” com o Uucht - La Veillée: https://youtu.be/Wo3Kvew_jpQ  .

01.06.2023 - Na Birnbaum

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01.06.2023 - Na Birnbaum, os dançarinos chutam as peras?

A fruta mais popular das comunidades alemãs é, sem dúvida, a maçã. Segundo pesquisas, na Alemanha, entre 2021-2022, houve uma média de consumo de 22,5 kg por ano. Sem conseguir competir de perto com esses índices, a pera alcançou, no mesmo período, a quantia de 2,5 kg ano. De toda forma, ela não deixa de ser lembrada nas atividades culturais, sendo sua árvore protagonista de canções, histórias e até mesmo de uma dança.

A “Birnbaum”, ou “Birnenbaum”, é uma dança da antiga região de língua alemã do Kuhländchen, atualmente no território tcheco, que tem como tema exatamente o período de colheita das peras. Ela é realizada com trios - Trioletts, de um homem e duas mulheres - e sua melodia e coreografia têm três partes distintas, cada uma com sua própria narrativa.

A primeira é o passeio junto às pereiras: teatraliza o empurrar, com os pés, das peras caídas, colocando-as para o lado. A segunda apresenta as duas damas disputando o rapaz, cada uma puxando-o para junto de si. Já a terceira, a conclusão, é o tradicional “Kutsche”, quando o trio representa uma carruagem sendo conduzida pelo cocheiro.

Trata-se de uma dança alegre que retrata costumes regionais, provavelmente sendo a junção e adaptação de outras danças em trios, ressignificadas pela comunidade alemã do Kuhländchen. É o exemplo de formação cultural que, simultaneamente, dialoga com outras populações de identidade comum e, a partir delas, gera suas próprias manifestações típicas. Se elas se tornam, posteriormente, muito consumidas - como as maçãs -, ou se fazem modestamente presentes no cotidiano das pessoas - como as peras -, somente o tempo é que diz.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja uma seleção de danças do Kuhländchen, entre elas a “Birnenbaum”, em https://youtu.be/AcuNdPeblM0  .

31.05.2023 - Schnupftabak Polka

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31.05.2023 - Na Schnupftabak Polka, é preciso usar rapé?

Existem alguns hábitos que, aos poucos, foram se tornando raros, ou pelo menos peculiares. Um deles é o uso do rapé, ou também chamado, em língua alemã, de Schnupftabak: o tabaco em pó para cheirar. Se no dia a dia ele saiu praticamente de cena, em uma dança típica dos Alpes austríacos, sua presença se mantém ativa.

A história do rapé teria origem nos povos ameríndios, provavelmente ligados a rituais religiosos, por motivos diversos. O tabaco em pó foi da América para a Europa, provavelmente pelas mãos dos ibéricos, ainda no século XVI, mas se popularizou somente no XVIII, virando moda. A palavra francesa “râpe” - o ato de raspagem, de ralar - teria se associado à imagem do moer fumo para cheirar. Com o tempo, foi caindo em desuso, todavia sobrevive como um hábito “cult”.

Um dado curioso é que, analisando a “Schnupftabak Polka”, a melodia e a coreografia, é possível verificar que ela tem como base a estrutura da popular “Drei lederne Strümpf”; tendo no lugar das palmas teatralizações. Pesquisadores já relataram que o mesmo acontece com a “De Hierig”, do Appenzell suiço, que é praticamente "irmã" desta dança austríaca: em ambas, os participantes representam o cotidiano “conflitivo” das pessoas, com brigas e reconciliações. 

 

Mas por que, então, a referência a este tabaco para cheirar? O nome “Schnupftabak Polka” provavelmente veio de duas partes bem humoradas da dança, as quais imitam o consumo do “Schnupftabak” e, como reação, expiram de modo desajeitado. Seria um diferencial dessa coreografia frente a outras similares, caracterizando-a assim - mesmo não sendo sua parte principal.

Desta forma, os participantes não usam realmente o rapé durante a dança, só promovendo uma encenação. Uma pantomima que satiriza o cotidiano dos camponeses e expõe ironicamente suas pequenas grosserias e prazeres.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja os amigos de curitiba apresentando a “Schnupftabak Polka” em https://youtu.be/KgAq1YVNolQ e compare com a “De Hierig” em https://youtu.be/fUIueRBuiVk .

30.05.2023 - Gah von mi

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30.05.2023 - Gah von mi: é para ir embora ou é para voltar?

Certa vez, o professor Willi Schultz escreveu sobre essa dança:

“Toda estranheza deixou a pista de baile após a dança de abertura. As últimas inibições caem com a travessa Winktanz. Todos conhecem a canção e, portanto, também sabem que o que está contido nela não deve ser tomado de forma tão trágica. Dançando conforme a melodia, meninas e meninos executam seus passos. Eles acenam um para o outro de forma marota, e, com um fingido aborrecimento, mandam um ao outro embora!

Desejar, declinar e arrepender-se estão uniformemente distribuídos em ambos os lados, e a malandragem brilha nos olhos de todos. Assim, vai um por um, e, quando se completa o círculo, o riso irrompe. Todos os dançarinos tornaram-se pessoas alegres que não são mais inibidas por mil amarras da vida, mas que se sentem como jovens cheios de vida.”

Em suas palavras, o professor descreveu muito bem o que se vê durante essa dança. Tudo não passa de uma brincadeira entre os participantes, escolhendo seu par. Em sua canção, que costuma ser cantada em Plattdeutsch, eles dizem: “Sai de perto de mim (2x), eu não quero te ver,/ Venha até mim (2x), estou tão sozinho(a).”

Primeiro, mandam a pessoa embora, mas, rapidamente, já procuram um novo parceiro. E, com esse novo par, eles querem dançar. Porém, a alegria dura pouco: logo já estão entediados e despacham também esse dançarino para, em seguida, chamar outro.

Essa é uma das coreografias que a oficina de dança da escola Grundschule Demerthin, no estado de Brandenburg, ensaia em seu repertório. Quando as crianças ouviram pela primeira vez a canção em Plattdeutsch comentaram: “Nossa, mas isso parece inglês! Parece que estão dizendo ‘go’”. Outro comentário interessante foi que, ao ouvir o verso “Ick bin so alleen”, uma aluna prontamente disse: “Assim minha avó também fala! Ela também diz ‘ick’ e ‘alleen’”.

Uma dança que era encontrada em várias partes do norte da Alemanha e que proporciona não apenas a brincadeira, mas também o contato dos mais jovens com o idioma que era amplamente difundido na região.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja também a canção em https://youtu.be/C8U-8f1tz48 .

29.05.2023 - Mühlenpolka

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29.05.2023 - Mühlenpolka é uma dança que representa um patrimônio histórico cultural?

Você sabia que, na Alemanha, existe até o “Dia Nacional do Moinho”? Ele acontece sempre na segunda-feira após Pentecostes e, em 2023, está sendo comemorado hoje, no dia 29 de maio.

Essa data foi estabelecida pela Associação Alemã de Moinhos - Deutsche Gesellschaft für Mühlenkunde und Mühlenerhaltung e.V. - com o objetivo de chamar atenção para a proteção dessas estruturas, como patrimônio cultural. Busca conscientizar a população tanto do valor histórico dessas edificações, quanto da importância das antigas técnicas de moagem.

Neste dia, em toda a Alemanha, os mais de 1100 moinhos de vento e de água participantes da ação, estão abertos a visitação e passeios. Além disso, um programa diverso complementa essas atividades.

Geralmente, o “Deutscher Mühlentag” é aberto com uma saudação do primeiro-ministro do respectivo estado federal em um moinho selecionado anteriormente. Em 2023, comemora-se a 30ª edição do evento e a abertura será na cidade de Büren, no estado de Nordrhein-Westfalen.

Entre as danças típicas alemãs, também encontramos muitas referências ao moinho. Com coreografias diferentes, além de diversas variações, elas são geralmente chamadas de “Mühle”, “Müllertanz”, “Mühlradl”, entre outros nomes.

Também temos uma “do moinho” entre as danças criadas recentemente na Alemanha: a “Mühlenpolka”. Foi composta por Martin Ströfer em 1992 e coreografada em 1993 por Helga Preuß, do grupo de trabalho “Arbeitskreis Tanz Nordheide”, no norte da Alemanha. O nome foi dado por causa da sua figura central, executada pelos rapazes e pelas moças. Ela pode ser realizada por três, quatro ou cinco pares.

Curiosamente, a dança surgiu em 1993 e, em 1994, foi comemorado pela primeira vez o “Dia Nacional do Moinho” em toda a Alemanha. Coincidência? É possível que sim, porém, podemos perceber, através desses exemplos, a importância desse Patrimônio Cultural, que transcende ao tempo e vive ainda no cotidiano da sociedade, se destacando em meio a campos e cidades.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja essa e outras danças.

28.05.2023 - Pfingstfreitag in der Probstei

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28.05.2023 - Pfingstfreitag in der Probstei: uma dança ou um cortejo?

A região de Probstei tem uma história bastante peculiar. No século XIII, a parte norte do atual distrito de Plön foi cedida ao mosteiro beneditino de Preetz, para que a região pudesse ser colonizada e cristianizada. Os fazendeiros de lá, tinham certos privilégios em comparação com camponeses de áreas próximas, pois precisavam pagar apenas valores baixos de impostos ao mosteiro de Preetz. Dessa forma, os “Probsteier” puderam prosperar.

Os moradores de lá se destacam não somente em seus trajes, mas também na dança típica. A “Pfingstfreitag in der Probstei” remete à sexta-feira de Pentecostes. No século XIX, como parte dos festejos desse período, havia uma espécie de desfile acompanhado por uma banda de música. O cortejo ia de casa em casa, liderado pelo morador mais velho ou chefe da comunidade - der Ältermann -, visitando primeiro as residências dos camponeses, depois dos artesãos e, por fim, dos pescadores.

Ao chegar em uma casa, era servida uma cerveja escura. O Ältermann indicava ao casal proprietário a primeira dança a ser executada por eles. Um fato curioso é que o dono da residência anterior dançava com a esposa da próxima a ser visitada. O mesmo poderia ocorrer com uma empregada e o senhorio, assim como com a anfitriã e um trabalhador do local .

Atualmente, essa procissão acontece em apenas um dos vinte vilarejos de Probstei. Todos os anos, cerca de trinta casas são visitadas e, em cada uma delas, o ritual acontece com muita dança e bebida, mantendo esse costume vivo.

Alguns pesquisadores acreditam que a música registrada para a “Pfingstfreitag in der Probstei” é muito longa para uma dança, podendo muito bem ser uma melodia para cortejo, como no caso das festividades de Pentecostes. Ou seria para as duas coisas? Nela, como visto, existem alguns momentos para os quais serve muito bem a coreografia registrada. Infelizmente, muita coisa se perdeu com o tempo e não há registros que comprovem isso.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo do Probsteier Tanz- und Trachtengruppe em https://youtu.be/byLcL0W9xiU

27.05.2023 - Schwarzerdner Pfingsttanz

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27.05.2023 - A “Schwarzerdner Pfingsttanz” é um dança de Pentecostes?

Por mais que seja popularmente conhecida somente por “Schwarzerdner” -, a “Dança de Pentecostes que vem de Schwarzerdnen” pode não necessariamente ter uma origem “religiosa”. Uma tradução de forma apressada poderia sugerir que q coreografia teria alguma relação com “terra preta”, mas isso não corresponde à realidade. O nome faz referência a uma Escola - a “Schwarzerden Schule”, da região de Rhön, na Baviera.

Já outros detalhes sobre ela ou não são precisos, ou são desencontrados. Uma fonte afirma que ela é de 1944, e teria sido criada nesta escola. Outra aponta que seu autor, o compositor e coreógrafo Karl Lorenz (1915-2009), teria se inspirado em uma coreografia feminina do século XIX, criada na Schwarzerden Schule. Outra destaca que a melodia é antiga, vinda da Áustria, de Obersteiermark, de aproximadamente 1800. Seriam informações complementares ou desconexas?

E por qual motivo há a referência à Pentecostes? Dentro do cristianismo esse é o momento quando se rememora a chegada do Espírito Santo junto aos apóstolos de Jesus, por mais que venha de uma tradição do Antigo Testamento. A data está relacionada a 50 dias após a Páscoa, o que justifica o seu nome grego. Mas não se sabe claramente a razão de chamarem-na de “Pfingsttanz”. De toda forma, pode-se fazer algumas especulações: teriam criado-a neste período? O autor a pensou como ideal para esse feriado? Os movimentos podem ter alguma referência litúrgica? Ou nenhuma das opções anteriores? Perguntas que ainda não se tem resposta. Contudo, se analisada a coreografia, o que vocês diriam?

Hoje essa dança está presente em repertórios de vários grupos no mundo, tanto de Volkstänze, quanto das “Danças Circulares Sagradas”. Uma coreografia que, por sua sutileza somada à leveza melódica, cativa os dançarinos das mais distintas faixas etárias. Mesmo sem um possível elemento religioso, há nela uma rica oportunidade para concentrar-se e celebrar a vida.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz .

26.05.2023 -Krüsel-Konter

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26.05.2023 - O que surgiu primeiro: a Krüsel-Konter ou a Ältester Galopp?

Na região dos atuais estados de Berlim e Brandemburgo, chamada outrora de “Mark” - Marquesado ou Marca Brandemburgo -, existiam registros antigos sobre a existência de algumas danças chamadas “Krüsel-Quadrille”, “Krüseltanz” e “Kreiseltanz”. A princípio, elas teriam semelhanças entre si, especialmente na melodia, e uma observação chamava atenção: o ritmo delas era bastante acelerado.

Tendo Berlim como origem, foi anotada uma dança chamada “Krüsel-Konter”, também conhecida como “Ältester Galopp”. O termo “Krüsel”, em baixo-alemão, corresponde aos termos “Kreisel”, “Wirbel” e “Strudel”. Seu significado tem relação com dar voltas, podendo ser um pião ou um redemoinho, por exemplo. Ao conhecermos sua coreografia, entendemos por que essa seria a “Contradança do Giro”, uma vez que, em vários momentos, são realizados rodeios bastante intensos.

Mas como ela também ficou conhecida como “Ältester Galopp”, o “Galope mais Antigo”? O pesquisador Franz Magnus Böhme, em seu trabalho sobre a história da dança na Alemanha, apresenta os diferentes ritmos existentes até então. Entre eles, o galope. Segundo alguns registros, o mais antigo composto em uma obra clássica foi o presente na comédia musical “Die Wiener in Berlin”, do ano de 1825. Seria esse “galope mais antigo” o mesmo da “Krüsel-Konter”?

Essa peça musical conhecida como “Os vienenses em Berlim” foi composta pelo alemão Heinrich Marschner. Para suas composições, ele costumava se inspirar em canções e músicas típicas, sendo comum que suas obras tivessem trechos dessas melodias. E, para nossa surpresa, não é que, em uma parte de “Die Wiener in Berlin”, é possível reconhecer trechos da “Krüsel-Konter”?

Mas qual delas surgiu primeiro? Apesar de não haver nenhum registro oficializando isso, acredita-se que Marschner tenha se inspirado nessa antiga dança da capital alemã para compor o que seria o galope mais antigo em uma obra clássica. Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e veja o Blumenberg Volkstanz, de Petrópolis-RJ, dançando ela em https://youtu.be/JbL5IAVnCzI e o Grupo Folclórico Pomerano, de Pomerode-SC, em https://youtu.be/uZvryGtGzpE 

25.05.2023 - Unkener Stelzentanz

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25.05.2023 - “Unkener Stelzentanz” é dançada sob pernas de pau?

Alguns costumes antigos na atualidade parecem crenças um tanto estranhas. O que diriam se aparecessem em sua fazenda homens sob pernas de pau vindos para expulsar o inverno? E se essa personificação do frio viesse em forma de bruxa? É no mínimo um contexto curioso. Trata-se de uma das vertentes da tradição do Trester, que acontece em uma forma bastante particular, unicamente na comunidade de Unken, na região de Salzburg, próximo da divisa entre a Áustria com a Alemanha.

Contam que no século XVII uma grande enchente tomou Unken, nos Alpes, o que impediria que fosse realizado lá o tradicional Perchtenumzug, um costume pagão a ser anualmente reencenado. No que ele consistia: com a passagem do Dia de Reis, era hora de garantir que o frio fosse embora, para voltarem a plantar. Assim, era preciso "exorcizar o medo e pedir pela fertilidade”, passando nas casas das propriedades rurais tanto para realizarem o “bater de pés” e tocar os sinos, quanto para fazer suas danças com sapateado. Mas como contornar a cheia? Segundo as narrativas, usaram pernas de pau para ficarem sobre as águas, promovendo o ritual de expulsão do inverno, “garantindo” a vinda do calor.

Se foi realmente assim, não se tem como saber. De toda forma, ainda hoje em Unken se rememora esse acontecimento com a “Unkener Stelzentanz” - Dança das Pernas de Pau de Unken -, podendo ser seguida de uma Bändertanz - Dança das Fitas -, um costume que, segundo fontes, retornou após a II Guerra Mundial. Somente apresentada por homens, a 60 cm acima do chão, eles fazem figuras tradicionais das Ländler, se mantendo sempre em movimento - caso contrário podem cair. Uma personagem vestida de bruxa também faz parte do conjunto.

Podemos ver que não são só de hoje, nas comunidades de língua alemã, os “aficcionados pelo calor”. E olha que naquela época não tinham ainda o interesse pelas viagens à Palma de Mallorca ou ao litoral da Croácia.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja as atividades do Tresterer em Unken em https://youtu.be/vfuC2RFoOIM e o Volkstanzgruppe Tanz mit uns, de Porto Alegre, com uma versão do Stelzentanz em https://youtu.be/JrYyLhECnO0 .

24.05.2023 - Patty Cake Polka

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24.05.2023 - A “Patty Cake Polka” é uma dança alemã nos EUA?

Há danças que não se tem certeza de onde vieram e, muitas vezes, nem todos os locais para onde foram. Um exemplo especialmente interessante é a “Patty Cake Polka”, música assinada pelo escritor e compositor John Hugh McNaughton (1829-1891), famoso pelo hino “Love at Home”.

Em uma  publicação da “Patty Cake Polka” de 1860, consta na letra: “Patty cake, patty cake, baker's man! Pick it, & roll it, & throw it in the pan!”. Essa rima não é realmente nova. Trata-se de um verso muito parecido com o também popular “Pat a cake” ou “Patty cake”: “Patty Cake, Patty Cake, Baker's Man; That I will Master, As fast as I can”. Esse texto tem um de seus primeiros registros em 1765, anterior ao nascimento de McNaughton, e outra de 1698, um pouco diferente.

Já na coreografia da “Patty Cake Polka”, vê-se que tem similaridade com a brincadeira com palmas presente na “Pat a cake”. Simultaneamente, no norte da Europa, em países como Finlândia, Suécia e Alemanha, há danças praticamente iguais, inclusive com a melodia com a mesma métrica da de McNaughton. É o exemplo da “Klappdans”. Será que a música veio do velho mundo ou foi para lá?

Richard Wolfram destaca a classificação de um conjunto de coreografias como “Klatschtänze” - Danças de Palmas. Basicamente a parte principal delas é a interação entre os participantes através de palmas. Neste grupo, segundo ele, estariam as conhecidas “Vögelischottisch”, “Spitzbuama”, “La Vinca”, “Deutschkatholischer”, “Fingerpolka”, entre outras, sem esquecer da “Kappdanz”.

Assim, a “Patty Cake Polka” poderia ser uma variante de “Klatschtanz” que se desenvolveu nas Américas e assumiu texto com base nas tradições locais. Ou poderia ser uma antiga tradição dos EUA que acabou se espalhando na Europa e igualmente se adaptando às culturas regionais. Certeza absoluta não se tem da origem de sua base. O que se pode afirmar é que, no passar dos séculos, em ambos os continentes, elas sobreviveram com o mesmo “taco e ponta”.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a “Patty Cake Polka” em https://youtu.be/mQKZDFB9UWk?list=RDQMB-GzfmQyBRQ .

23.05.2023 - Bohnenpott

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23.05.2023 - Bohnenpott: uma dança ou uma comida?

A “Kreuzpolka” é um tipo bastante específico de coreografia da metade do século XIX e é encontrada em toda a Alemanha. Talvez a música mais popularizada para essa “Polca Cruzada” tenha sido a “Bohnenpott”, a qual também era conhecida, especialmente no norte da Alemanha, como “Rosenpolka”.

Conforme a região, vamos encontrar pequenas variações nesta melodia e também na canção, além da presença de mímica para encenar o texto cantado em Plattdeutsch ou em Niederdeutsch. A maior parte das canções nos diz que:

“Se aqui tiver um pote com feijão, e lá um pote com mingau.

Então, eu deixo o mingau e o feijão parados

E danço com minha Marie.

E se a Marie não sabe dançar,

então ela tem pernas tortas.

Eu visto nela uma saia longa,

então ninguém vai ver.”

Nesse contexto, é interessante conhecer o relato de um grupo de danças da cidade de Parchim, no estado de Mecklenburg-Vorpommern. Após a Segunda Guerra Mundial, eles estavam retomando a “Rosenpolka” e, após uma apresentação, os dançarinos foram abordados por um casal de mais idade. Emocionados, os dois contaram que, quando jovens, em seu vilarejo, também haviam dançado a mesma “Bohnenpott”. Eles lembravam que os jovens da época a realizavam com mais agitação e mais “batidas”, chegando a demonstrar como era feito.

Após a conversa, o grupo teve a ideia de fazer uma parte dramatizada da “Rosenpolka” . Inicialmente, conforme a canção, um rapaz está procurando a sua Marie, a qual se esconde e não quer dançar com ele. E, como ela está fugindo dele, ele faz graça, dizendo que ela tem as pernas tortas. Depois, um casal mais velho (assim como aquele que chegou até os jovens após a apresentação), mostra para os dois uma coreografia. Por fim, todo o grupo executa com empolgação essa “Kreuzpolka”.

Independente de quando e onde a “Bohnenpott” é dançada, com certeza ela traz ao público e aos dançarinos muita diversão.

Ah! A propósito, “Bohnenpott” também é um ensopado feito de feijão, mas, aqui, você já sabe que ela é uma dança, não é?

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e escute a música em https://youtu.be/Z_WTa-vmoqs ou https://youtu.be/iRgnuLwinm0 .

22.05.2023 - Schlossparkwalzer

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22.05.2023 - De qual palácio é a Schlossparkwalzer?

O parque do palácio (Schlosspark) em Pankow é apenas um dos espaços verdes espalhados pela capital alemã. Com uma história única, a visita ao local e também ao palácio Schönhausen valem a pena.

Esta edificação ficou conhecida como residência de verão da rainha Elisabeth Christine von Braunschweig-Wolfenbüttel-Bevern, esposa do rei da Prússia, Friedrich II. Enquanto seu marido passava os meses de verão no palácio Sanssouci, em Potsdam, ela ficava esse mesmo período ali em Schönhausen. Foi especialmente nesses veraneios, entre os anos de 1740 e 1797, que o jardim em torno do palácio foi ganhando forma em estilo rococó.

À primeira vista, dificilmente suspeita-se, mas o jardim foi ampliado e remodelado muitas vezes em seus mais de 300 anos de existência. Na época de Elisabeth Christine, ele era considerado um dos mais belos jardins barrocos da Prússia. Vestígios de todas as épocas são visíveis hoje, mas não há um conceito geral coerente.

Atualmente, o parque é muito frequentado por moradores de https://www.culturaalema.com.br/Berlim e visitantes. Com seus trinta hectares, o Schlosspark em Pankow é um pequeno oásis dentro da metrópole Berlim. Nele, é possível encontrar acácias, carvalhos e castanheiros, fazer passeios pelos caminhos sinuosos, acompanhar o curso do rio Panke, levar as crianças para brincar na pracinha e, inclusive, cultivar pequenas hortas conhecidas como “Schrebergärten”.

Já a dança “Schlossparkwalzer” é uma coreografia criada por Claudia Schier, do Berliner Volkstanzkreis. Nela, encontram-se figuras tradicionais das Volkstänze alemãs executadas no ritmo da valsa. Recebeu esse nome em homenagem ao parque do palácio Schönhausen, que ainda hoje é um dos mais belos locais frequentados pelos berlinenses.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e veja esta e outras narrativas.

21.05.2023 - Schustertanz

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21.05.2023 - Existe somente uma “Schustertanz”, dança do sapateiro?

Até meados do século XX a figura do sapateiro era obrigatória em qualquer cidade. Por sua importância, é um dos profissionais que mais aparecem entre os temas de danças, sendo estas muito tradicionais. As “Schustertänze” podem ser vistas nas atuais Alemanha, República Tcheca, Áustria, Polônia, Romênia, entre outros, tanto junto às crianças quanto com os adultos. Mostram o reparo dos calçados e a feitura. O cortar do couro, costurar, pregar a sola, lustrar o sapato pronto são algumas das partes mais vistas nas coreografias, geralmente teatralizadas.

Um dado interessante é que muitas das danças dos sapateiros surgiram a partir de canções populares. Por isso, as letras, por vezes, também conduziam as figuras, descrevendo os acontecimentos a serem encenados. Uma delas dizia o seguinte: “Sim, é assim que embrulhamos, (2x) / rasgamos (2x) / martelamos (3x). / A sapataria é divertida / o sapateiro canta sua música / canta sua música sem parar / até que o cadarço no sapato arrebentar. / Ah, caro sapateiro, você conserta o meu sapato! / Os sapatos são em pares. / O sapateiro os faz novos.”

Não é preciso grande imaginação, ao ler a letra, para perceber o que acontece nesta dança. Esse tipo de coreografia acaba sendo simples e de fácil aprendizado, o que justifica não ter sido esquecida no passar das gerações. E mesmo com o contexto dos calçados tendo mudado, as melodias com suas figuras expressivas sobreviveram, muitas vezes pelos cantares das crianças. É importante lembrar que a ideia de uma sapataria com muitos produtos à pronta entrega, com múltiplas numerações, é uma característica da atualidade.

Assim, novamente a cultura popular serve de indício para contar aspectos da sociedade do passado, preservando tradições. Isso não impede que os dançarinos do presente imaginem de modo todo atualizado os significados das canções: cada um é produto de seu próprio tempo, seja dançando de tamanco de madeira, de sapatos de couro, ou de tênis de lona.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e veja a Schustertanz da Alsácia em  https://youtu.be/UHSeHzf9zXU e da Áustria em https://youtu.be/0iclPhMzYcM .

20.05.2023 - Puttjenter

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20.05.2023 - Como surgiu a dança Puttjenter?

Muitas vezes, dançar é voltar no tempo. Para conhecer um pouco a “Puttjenter”, é preciso realmente fazer uma viagem. Convidamos você a nos acompanhar até o vilarejo de Hille, na Vestfália, no século XIX. Não em um dia qualquer, mas sim, em um dia de feira: o Hiller Markt!

Em um documento de 26 de agosto de 1564, o duque de Braunschweig-Lüneburg deu aos moradores de Hille oficialmente o direito de realizar uma feira três vezes ao ano. Tudo começou como um mercado de gado e de objetos e, com o tempo, passou a ser também para entretenimento com brinquedos, música, comida e bebida.

É assim que vamos encontrar o Hiller Markt em nossa viagem. Ao darmos uma pequena volta pela feira, vamos ouvir comerciantes negociando cavalos, bois, porcos e outros animais, além de outros bens mercantis produzidos na região. Mais adiante, vemos crianças e adultos se divertindo e se deliciando com algumas iguarias regionais. E, ao longe, ouvimos diferentes melodias executadas por um grupo de músicos.

É nesse momento que um rapaz dá ao conjunto algumas moedas, pedindo: “Toquem aquela de puxar para trás!”. E, rapidamente, pequenos grupos vão se formando e os músicos já começam a introdução da dança. Em poucos instantes, surge uma figura em que os rapazes conduzem as meninas para trás de si, como se fosse uma corrente, na qual eles ficam parados no lugar. Claro que as moças também iriam repetir essa parte fazendo o mesmo com os rapazes.

Agora está explicado, o porquê de ela ter sido chamada de a dança de “puxar para trás”. “Puttjenter” nada mais é do que uma palavra em baixo-alemão (Niederdeutsch ou Plattdeutsch) que tem esse significado. Ela acabou levando o nome de uma de suas figuras, pela qual era mais conhecida entre os músicos e o público em geral. Era típica na feira em Hille.

Já que descobrimos a origem da dança “Puttjenter”, nossa viagem de hoje fica por aqui. Esperamos que tenha gostado e nos acompanhe em nossas próximas excursões!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Grupo de Danças Folclóricas Alemãs Edelweiss, de São Paulo, com a Puttjenter: https://youtu.be/lQ0_y48Cn08 .

19.05.2023 - Marschkonter

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19.05.2023 - A Marschkonter indica quem é o seu futuro pretendente?

Na zona costeira da Pomerânia, a vista abrangia extensões planas de terra e mar. A paisagem literalmente obrigava as pessoas a passear pelos campos. O andar ritmado do passeio parecia uma marcha. Não é de se admirar que existam tantas manifestações conhecidas como “danças de marcha”.

Uma delas é a “Marschkonter”. Ela tem origem na aldeia de Zülkenhaben, no distrito de Neustettin. Ela é marcada exatamente pelo caminhar ritmado dos pares. Para muitos, era o momento que se tinha para ficar a sós, mas sob o olhar atento dos demais.

Mas como saber se o amor era recíproco ou se essa era a pessoa certa?

Para isso na antiga Pomerânia havia brincadeiras e superstições entre os jovens, permitindo supor o nome do possível pretendente.

Para descobrir quem seria seu futuro marido, as moças costumavam folhear o baralho, dizendo alguns versos. Quando virassem uma determinada carta, o Rei de Copas, por exemplo, a palavra do verso dita naquele momento seria a indicação do amor vindouro: “Costureiro, pastor de ovelhas, fazedor de vassoura, realejo ou limpador de chaminés. / Imperador, rei, fidalgo, advogado ou um Zé Ninguém.”

De forma semelhante, tanto os rapazes quanto as moças procuravam descobrir se seu amor era correspondido. Enquanto viravam as cartas do baralho, diziam o seguinte verso: “Ele (ela) me ama: de coração - com dor - além de todas as medidas - não pode evitar - um pouco - quase nada.”

Por fim, sabe aquelas manchinhas brancas que às vezes temos nas unhas? Então, na antiga Pomerânia, elas tinham um significado muito peculiar. Se elas apareciam no dedo anelar, poderiam significar amor ou que a pessoa estava prestes a se casar. Ou ainda, o número delas simbolizaria os pretendentes que a pessoa tinha ou a quantidade de presentes que ela receberia.

Apesar de a dança “Marschkonter” não ter nenhuma fórmula mágica para indicar se o seu par é o seu futuro pretendente, com certeza ela permite perceber se a pessoa está em harmonia com você. Para todo o resto, podemos aproveit e conheça essa e outras histórias.r as superstições pomeranas!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz  e conheça essa e outras histórias.

18.05.2023 - Västgötapolska

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18.05.2023 - Como a Västgötapolska, da Suécia, chegou à Alemanha?

Uma dança pode nascer e se movimentar de muitas formas. Vejamos o exemplo da sueca “Västgötapolska”, em alemão “Westgötatanz”. Há diferentes narrativas sobre isso, inclusive uma que atribui o aprendizado dela pelos alemães séculos atrás.

Contam que, com o fim da Guerra dos Trinta Anos, em 1648, com a chamada “Paz de Vestfália”, a Suécia tomou o controle de territórios de língua alemã, como da Pomerânia, Ilha de Rügen, da cidade hanseática de Wismar, se estendendo aos mares de Verden e Bremen (áreas de forte comércio). Essa presença sueca teria gerado vários diálogos comerciais e também culturais. Com base nesse relato, para a “Västgötapolska” estar nesse contexto, ela teria sido criada em meados de 1600 e 1700, o que parece pouco provável.

 

Já segundo outra narrativa, ela surgiu em 1906, quando uma associação em Göteborg - uma grande cidade sueca - decidiu criar uma nova coreografia para uma festividade. Esse trabalho ficou a cargo da Sra. Lotten Aström, que trouxe figuras tradicionais como círculos, fileiras, portões, torres, corrente e movimentos em pares. Como por esta cidade passa o rio Göta e já existia uma dança de nome “Ostgötapolska” - Polca do Oeste do Göta -, teria assim vindo a ideia de fazer a variante do Leste: “Västgötapolska”.

Seguindo essa segunda versão, a ida da “Westgötatanz” para fora da Suécia teria ocorrido no início do século XX. Dados apontam que isso aconteceu provavelmente nos anos de 1930, em seminários ligados a danças para jovens, no norte da Alemanha. Lá o passo principal passou a ser chamado de “Westgötaschritt”, por não ter um equivalente junto às danças tradicionais alemãs.

Então, ela surgiu e se espalhou no século XVII ou no XX? A segunda opção parece ser mais fácil de acreditar, além de ter mais fontes que indiquem essa história. O que se pode afirmar com certeza é que ela é uma linda dança: não necessariamente algo precisa ser muito antigo para ser valioso para sua comunidade. Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e veja também a dança em https://youtu.be/wVx5RJojwnA com o Skansens Folkdanslag.

17.05.2023 - Der Kobold

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17.05.2023 - “Der Kobold”: um duende mitológico na dança alemã?

A dança “Der Kobold” foi composta por Heinrich Dickelmann e coreografada por Herbert Oetke; já o motivo exato para dar esse nome, infelizmente, não nos é conhecido. Eles foram os mesmos criadores das danças “Schwingkehr” (12.02.2023) e “Märkische Viertour” (24.02.2023), promovidas na década de 1920, em meio ao Movimento da Juventude Alemã (Jugendbewegung).

“Kobold” um nome bastante interessante, pois ele é um duende presente na mitologia de diferentes povos, entre eles o alemão, o britânico e os escandinavos.

Segundo essas tradições, ele é um espírito doméstico que protege a casa, mas que também gosta de provocar seus ocupantes sem fazer mal algum. Por exemplo, ele pode aparecer na forma de uma pena que cai no nariz enquanto você dorme, causando um espirro. Barulhos de batidas e cortinas esvoaçantes podem ser obra desses seres. Em outras culturas, surgem também seres semelhantes, como por exemplo, o gnomo, o goblin e o leprechaun.

O “Kobold” também deu nome ao elemento químico cobalto. Como assim? Na Idade Média, esse minério era frequentemente confundido com prata e cobre. No entanto, como não podia ser processado e exalava mau cheiro quando aquecido (devido ao teor de arsênico) era considerado enfeitiçado. Supostamente, os “Kobold” comiam a preciosa prata e excretavam minérios prateados inúteis em seu lugar. Por isso, os mineiros chamaram esse elemento de “cobalto”.

Caso você suspeite de ter em casa um “Kobold”, não se preocupe! Para agradá-lo, basta deixar à noite uma tigela de leite e, de presente, algo brilhante. Eles adoram! Pode ser uma pedra, um cristal ou algum enfeite antigo de metal. E, caso você queira se comunicar com ele, deixe à disposição um sininho de prata. Assim, ele pode avisar que está por perto sem se deixar ver. Ah! E se você colocar farinha ao redor da tigela de leite, poderá ver os rastros dele.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e veja a dança executada pelo Arbeitskreis für Jugendtanz der DGV em https://youtu.be/DEuZhACymrg

16.05.2023 - Kastilliano

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16.05.2023 - Kastilliano é uma dança castelhana?

Especialmente para os brasileiros moradores da fronteira com a Argentina e com o Uruguai, o termo “castelhano” é muito comum no dia a dia. Ainda mais quando chega um “castelhano” na cidade ou, no rádio, é sintonizada uma frequência com música e notícias em “castelhano”. Até mesmo nas praias do litoral do sul do Brasil é possível encontrar muitos destes “castelhanos” na alta temporada. Esses “hermanos” que vem de países vizinhos, assim como o idioma espanhol, são chamados popularmente de “castelhanos”.

O termo vem de “Castela”, reino que se uniu ao de “Aragão” e formou a atual Espanha. Porém, teria a dança pomerana “Kastilliano” origem hispânica? De onde ela vem é difícil de identificar, pois ela já existe na Alemanha há muitos anos, especialmente na região de Stralsund. Alguns pesquisadores acreditam que é bastante antiga e que, muito provavelmente, teve origem nos movimentos em colunas. Seu nome pode ter vindo de alguma canção que acompanhava a coreografia e, provavelmente, continha a palavra “Kastilliano”, sendo, assim, nomeada a partir dela.

Contudo, outros estudiosos tentaram ir mais longe. Devido a idade da “Kastilliano”, precisou-se buscar informações sobre a história medieval da Europa. Poucos sabem que boa parte do território da atual Holanda, Bélgica e Luxemburgo foi governado por cerca de dois séculos pela coroa espanhola. Essa influência hispânica foi forte na cultura da região.

Acredita-se que marinheiros holandeses, com influências culturais espanholas, possam ter disseminado especialmente nos países nórdicos e nas regiões costeiras do Mar Báltico, algumas danças, entre elas a “Kastilliano”. Com o tempo, ela foi incorporada à cultura local e o seu nome foi mantido para indicar que era a “castelhana” ou a “dança dos castelhanos”.

Assim, apesar de parecer estranho existir alguma dança de origem espanhola na Alemanha, é possível sim que a base da “Kastilliano” realmente tenha vindo de lá. E será que cantariam “Kastilliano se você me ama… me diz”? Acho que não.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e conheça mais danças de nosso projeto.

15.05.2023 - Hämperglünggi

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15.05.2023 - A “Hämperglünggi” é da Basiléia ou de Zurique?

Uma dança não nasce sem uma melodia e uma coreografia. Se o compositor é da Basiléia e o coreógrafo é de Zurique, de onde, então, é essa combinação? Às vezes a resposta pode ser simples, como no caso da “Hämperglünggi”, de Urs Mangold, Johannes Schmid-Kunz, Nelli e Martin Dubach .

Urs Mangold é conhecido como o difusor da “Volksmusik” na Basiléia, sendo lá um músico de destaque. Segundo especialistas, ele conseguiu pluralizar esse estilo na região, onde comandou dois conjuntos: o Oberbaselbieter Ländlerkapelle e o Sissecher Holzmusig. Sabe tocar Schwyzerörgeli (um tipo de acordeon diatônico), clarinete, violino, violão e flauta doce. Um artista de primeira linha.

Contudo, mesmo tendo uma relação especial com a Basiléia, Urs Mangold compôs um de seus títulos com base em uma situação vista em Zurique: em uma das suas apresentações ele percebeu que as camisas dos dançarinos constantemente saiam para fora das calças enquanto se divertiam na pista de baile. Essa inspiração gerou a “Der Hämperglünggi”: em dialeto Hämper pode ser sinônimo de camiseta ou camisa e Glünggi pode significar um tecido que saiu do seu lugar.

Já a coreografia é claramente de Zurique: escrita por Johannes Schmid-Kunz, famoso instrutor do Volkstanzkreis Zürich, juntamente com Nelli e Martin Dubach. Eles agregaram à melodia passos como a Ländler, mazurca e muitas formações com giros. Será que tantas voltas que a dança dá tem alguma relação com as camisas retorcidas? Provavelmente não, mas tentar imaginar uma relação entre elas não custa nada.

Assim, seja pela melodia, seja pela coreografia, a “Hämperglünggi” está ligada à maior cidade da Suíça: Zurique. De toda forma, ela deve trazer em seu íntimo uma conexão com a Basiléia, base de seu compositor e músicos.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e veja a “Hämperglünggi” sendo apresentada pelo Volkstanzkreis Zürich em https://youtu.be/RBOJr3tVVZY .

14.05.2023 - Uri Zion

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14.05.2023 - “Uri Zion”: uma canção em homenagem à independência de Israel?

Nos primórdios da dança israelense, por volta de 1940, muitos coreógrafos tentaram incorporar raízes autênticas da comunidade em suas criações. Para elaborar novas danças, muitos passaram a considerar também as antigas escrituras. Isso aconteceu por três motivos:

1. Vários dos eventos festivos realizados nos kibutzim (comunidades coletivas voluntárias de caráter social, militar e agrário) foram baseados em feriados judaicos, cujas referências podem ser rastreadas até os textos sagrados.

2. A dança na tradição e na história judaica é mencionada por escrito. Alguns desses textos têm mais de 2.500 anos.

3. Muitos compositores e letristas procuraram buscar raízes tão remotas quanto possível e materiais autênticos, optando por utilizar em suas canções letras que vieram diretamente dos textos que compõem o Antigo Testamento.

Um dos temas favoritos era o povo judeu despertando de séculos de sono para começar uma nova vida. As palavras do profeta Isaías (52:1,2) foram relevantes para essa composição de Moshe Wilenski, no ano de 1959, capturando a emoção desse renascimento: “Desperte! Desperte!, ó Sião, vista-se de força. Vista suas roupas de esplendor, [...] Sacuda para longe a sua poeira; levante-se, sente-se entronizada, ó Jerusalém. Livre-se das correntes em seu pescoço, ó cidade cativa de Sião.”

“Uri Zion”, que, em hebraico, significa “Desperte, ó Sião”, é a primeira frase desse trecho do texto do profeta Isaías e também o primeiro verso da canção. Sião é uma referência ao Monte Sião, uma das colinas de Jerusalém e que, por extensão, tornou-se sinónimo da Terra de Israel.

Mas “Uri Zion” seria uma canção em homenagem à independência de Israel? Apesar de não haver muitos registros sobre a motivação da composição, em um documento, a música de Moshe Wilenski é relacionada a essa data, ocorrida no dia 14 de maio de 1948. Apenas no ano de 1968, Rivka Sturman criou uma coreografia para a canção, tornando-se logo muito popular entre os grupos de jovens. Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e veja a danca explicada e demonstrada em https://youtu.be/oMNLwK8L4Os

13.05.2023 - Feistritzer Ländler

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13.05.2023 - A “Feistritzer Ländler” tem compassos e figuras fixas?

A pequena comunidade de Feistritz am Wechsel, que pertence à Neunkirchen, na Baixa Áustria, tem pouco mais de 1000 habitantes e apresenta aos visitantes, além de seu castelo, um elemento em destaque: a tradição. É de lá que vem a “Feistritzer Ländler”. Em antigos registros ela é apresentada sem contagem dos compassos; já nos mais recentes há precisão dos tempos e dos detalhes das figuras. Por qual motivo isso acontece?

Um dado secular é que esse tipo de dança, que tem formações com nós e giros, era executada como numa pista de baile: mesmo que no círculo, cada par dançava de modo independente, sem preocupação com o sincronismo dos participantes. Dentro desta lógica, quem registrava as coreográficas não via sentido em informar o número de compassos de cada etapa: os acontecimentos simplesmente fluíam.

Contudo, depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) muita coisa mudou. Houve simultaneamente um movimento cultural de preservação e de renovação: se, de um lado, queriam garantir a sobrevivência dos antigos costumes das comunidades rurais, de outro, os melhoraram instintivamente. Segundo Simon Wascher, nesse movimento de "restauração" das tradições, pelos anos 1930, passaram a implementar o que as pessoas “imaginavam” ser a vida no campo “de antigamente”, de modo um tanto idealizado. Isso fez com que, por exemplo, as antigas danças fossem aprimoradas, com maior cuidado no sincronismo e arrojo na estética.

Assim, hoje é possível dançar a “Feistritzer Ländler” tanto de modo mais livre, quanto com maior apuro visual. Só é preciso compreender que, no primeiro caso, possivelmente, muitos achem as figuras “dessincronizadas” um pouco estranhas, pressupondo que estão erradas. Isso é compreensível, já que a nova estética do pós-guerras “reeducou”, através do “folclore”, o olhar da sociedade sobre a cultura popular: a fez parecer em um produto bonitinho e “perfumado”, mesmo que assim não o fosse.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja também o vídeo da “Feistritzer Ländler” em https://youtu.be/BLXtVD7umhA .

12.05.2023 - Familienwalzer

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12.05.2023 - A “Familienwalzer” era dançada somente com a família?

A “Familienwalzer” - Valsa da Família - é um grande exemplo de dança coletiva. Sua coreografia se espalhou rapidamente, mas sem se fixar a uma única melodia: as comunidades passaram a agregar músicas regionais de ritmo ternário. As muitas pesquisas apresentam dúvidas quanto à data que foi criada, mas pressupõe-se que não seja nova, já que ganhou vários nomes, como  “Kreiswalzer”, “Rosenwalzer”, “Ringwalzer”, “Familjevalsen”, “Famliy Waltz”, “Familie Vals”, “Familievals”, entre outras. Ela também tem similaridades com a variante em círculo da “Hulaner”.

E como ela é? Segundo Richard Wolfram “a chamada "Familienwalzer" é popular em festivais de dança na Dinamarca, mas também na Suíça. Todos os casais se posicionam em um grande círculo. Com quatro balanços leves das pernas, o casal vira alternadamente para os vizinhos esquerdo e direito, em seguida, desfazem a posição circular e ele com a dançarina da esquerda faz quatro compassos de valsa, de modo que elas fiquem do lado direito dos rapazes quando todos se juntarem novamente em formação de círculo. Isso continua até que todos tenham dançado uns com os outros, no avanço constante dos dançarinos.”

E quando era realizada? Não há dados para trazer afirmações concretas sobre isso. Uma possibilidade é que tenha sido executada em festas de casamento, pois é o momento da formação de uma nova família e ponto alto de recordar a sua importância. De todo modo, trata-se de uma especulação. Walter Bucksch destaca que “a “Familienwalzer” é frequentemente utilizada para que os participantes em noites de danças se conheçam ou para encerrá-las.”

Seja qual for o motivo de sua origem, essa dança ganhou importância pelo seu potencial inclusivo, sua formação em círculo e suas trocas constantes de pares - que ampliam o contato entre os participantes. Ela mexe com a curiosidade das pessoas, que buscam explicá-la através de suas próprias realidades, gerando novas narrativas, deixando-a cada vez mais “familiar” ao imaginário coletivo. Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a “Familienwalzer” em https://youtu.be/uV0VGiz_s-o .

11.05.2023 - Figaro

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11.05.2023 - “Figaro” é a dança do Barbeiro de Sevilha?

Com certeza, o “Fígaro” mais conhecido no mundo é o personagem da comédia “O Barbeiro de Sevilha” (1773), do francês Pierre Beaumarchais. Nesta peça, pertencente a uma trilogia, Fígaro é o nome do profissional que cuida da barba e cabelos dos moradores dessa cidade espanhola: ele sempre dá um jeito de participar de todos os planos e intrigas que acontecem na narrativa.

Sua fama se espalhou pelo mundo após a história se tornar óperas, especialmente as compostas pelo austríaco Mozart (As Bodas de Fígaro, 1786) e pelo italiano Rossini (O Barbeiro de Sevilha, 1816). Por causa do sucesso delas, o termo “Figaro” passou a ser usado por muito tempo em alemão como sinônimo para “barbeiro”.

Porém, como pode existir uma dança alemã chamada “Figaro”? Bem, são comuns no norte da Alemanha as coreografias que levam esse nome, apresentando algumas variações. O que elas têm de similar é a formação em fileiras de dois pares, frente a frente. Muitos pesquisadores dizem que as “Figaro” seriam uma meia “Tampet”, outro estilo parecido, mas com quatro pares.

E qual seria, então, a relação dessas danças com “O Barbeiro de Sevilha”? Infelizmente, não existem dados que os unam. Provavelmente seja mera casualidade. Nas óperas ligadas ao Figaro também não são reconhecidas melodias que acompanhem as coreografias recolhidas sob esse nome.

Quem sabe, teria, então, a “Figaro” alguma relação com a profissão do barbeiro? Muito difícil. Sobre isso, não há nenhum registro. Há sim, em diferentes regiões, as Barbiertänze (ver “Ein Tanz pro Tag” de 19.01.2023 - Der Bartschrapertanz). Geralmente, elas são teatralizadas, encenando a ação de um profissional do setor e de seus aprendizes, levando todos a muitas risadas. Todavia, essas, novamente, nada tem de ligação com as “Figaro”.

Fica, assim, a dúvida sobre a origem desse nome para essa formação coreográfica. De qualquer forma, ao conhecermos a Volkstanz “Figaro”, não tem como não lembrar de um dos trechos da ópera “O Barbeiro de Sevilha”, quando ele repete várias vezes o seu nome: “Figaro, Figaro, Figaro…”!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz .

10.05.2023 - Giuvens Grischuns

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10.05.2023 - “Giuvens Grischuns” tem base em uma dança sueca?

Segundo Karl Klenk, “no verão de 1939,[...], os suecos convidaram grupos de dança e de folclore [...] para uma grande reunião de fraternidade em Estocolmo. A juventude da Europa foi chamada a fazer amigos em todas as fronteiras e, assim, evitar a guerra iminente. A Suíça delegou o Volkstanzkreis Zürich, que, na época, era o único grupo de dança capaz de representar todo o país, [a ir no evento].”

Foi lá que eles tiveram contato com o animado “Hambo”: “ficamos todos entusiasmados com sua beleza e leveza [...]. O Hambo é dançado ao som de uma mazurca sueca lenta chamada polska.” Seriam dois passos fortes para a frente, seguidos por três graciosos que preparam para, em posição fechada, o movimento rodado no círculo.

Após a guerra, em Borgonha, houve um novo encontro com os suecos, com variantes da Hambo. Em uma noite, ao retornarem aos alojamentos, tiveram a oportunidade de dança-la à luz do luar. Ali, a instrutora do Volkstanzkreis Zürich, Klara Stern-Müller, teria sussurrado: “Poderíamos muito bem usar esta figura para nosso novo Zürcher Mazurkatanz”. Assim, somaram a mazurca suíça a elementos do Hambo suecos.

Ironicamente a melodia de Hans Luzi Flury e a criação de Klara, feita para Zurique, acabaram tendo outro destino: o “Schweizerische Trachtenvereinigung”, pediu que uma das novas danças do Volkstanzkreis Zürich fosse usada para representar o povo do Cantão dos Grisões na festa em Interlaken, pois estes não tinha coreografia própria. “Com o coração pesado, demos a eles nossa mazurca e a chamamos de “Giuvens Grischuns” - “Jovens Grisoenses”,” disse ela. E mais: o grupo foi ao Unspunnenfest de 1955 e apresentaram a sua “nova dança" usando trajes de Engadin, uma região grisoense. Mas por qual motivo os dançarinos de Zurique usariam a indumentária de outro local? “Naquela época, também tínhamos mulheres vindas do Graubünden - Grisões - em nosso grupo de dança”, justificou-se. Na verdade, queriam manter em sigilo a história toda.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e vejam a “Hälsingehambon Hambo contest Final 2010” com a Hambo suéca em https://www.youtube.com/watch?v=vQuzdLd6iwM .

09.05.2023 - Warschauer

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09.05.2023 - Como a dança Warschauer se difundiu?

Poucas são as danças que podemos relacionar a muitas culturas e regiões diferentes. Uma delas é a Mazurca. Especialmente na Europa, é possível encontrar em quase todos os países variações dela.

Como apresentado no dia 13.04.2023 (La Varsovienne), acredita-se que uma variante da Mazurca conhecida como “Varsovienne” ou “Warschauer” tenha saído da Polônia e caído no gosto dos dançarinos dos salões franceses, de onde foi difundida, tornando-se popular em várias regiões e países, especialmente nas regiões de língua alemã.

Acredita-se que ela tenha se difundido a partir de uma melodia composta por Johann Strauss Filho chamada “Warschauer Polka”. A música teria sido composta por ele durante uma turnê pela Polônia e, com a passagem por Varsóvia (em alemão, Warschau), tem-se a explicação de seu nome. Por isso que a dança é ora chamada em alemão de “Warschauer”, ora em francês de “Varsovienne”.

Contudo, ela também é conhecida por outros nomes como “Dreh dich mal um”, “Wask use Jenne” e “König von Rom”, entre outros. Uma das canções que acompanham a dança foi registrada em Mecklenburg. A tradução livre seria mais ou menos assim:

“Vire-se uma vez, porém não curvada,

mas belamente reta, como um soldado.

Escorrega o orvalho, escorrega o orvalho,

e agora fique parado.”

Já na Westfália, o texto em tradução livre nos diz o seguinte:

“Lave-nos Jenne, lave-nos Jenne, ela está suja!

Ela não fica parada, ela não fica parada, a água está molhada.

Vire-se uma vez, não seja boba.

Vire-se uma vez, não seja boba.”

Por fim, também é conhecida uma outra rima que zomba da queda do domínio de Napoleão na Europa:

“O rei de Roma, filho de Napoleão,

era jovem demais para ser imperador.”

Independente da rima criada e de como a dança é executada, “Warschauer” nos mostra como uma coreografia simples consegue se adaptar e ganhar novos traços, tornando-se uma Volkstanz em diferentes grupos culturais.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja também o vídeo da  https://youtu.be/RrorEG8f010 com um conjunto de gravações e https://youtu.be/s06nu1Q1sZc com a instrucao do Deutsche Gesellschaft für Volkstanz e.V.

08.05.2023 - Iseltaler Masolka

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08.05.2023 - A “Iseltaler Masolka” é dançada a 1000 metros acima do nível do mar?

Um ritmo que se popularizou muito na Áustria faz alguns séculos foi a mazurca. Ela se irradiou por lá e alcançou as comunidades dos mais longínquos Vales, ganhando seus próprios trejeitos e intensidade, se encaixando aos estilos locais. A “Iseltaler Masolka” é um exemplo clássico desse movimento cultural e é, para os amantes das Volkstänze, um dos símbolos dessa linda região.

Por não ser tão extenso, em torno de 27 km de comprimento, o Iseltal é bucólico e menos conhecido do turismo de massa. Está localizado no lado austríaco do Tirol, com altitude entre 975 a 673 metros acima do nível do mar, e sua primeira referência conhecida é como "in regione Isala", nos arquivos do Bispado de Brixen, datados de 1065-1077.

Devido às belas paisagens naturais, a região desenvolveu, na atualidade, um caminho para amantes das “pedaladas”: a ciclovia de Isel conecta Lienz com St. Johann im Walde e Matrei in Osttirol, seguindo o curso do rio. Cascatas, arquitetura típica, castelos e pequenos vilarejos são atrativos aos visitantes, assim como seus restaurantes e hospedarias.

É de lá que veio a “Iseltaler Masolka” e ela tem uma peculiaridade: depois dos compassos iniciais com mazurcas - mais “leves” do que aqueles realizados no norte da Europa -, há trocas de posições no par, havendo meio-giros em passo ternário. Essa mudança é a tônica da coreografia. Por mais que essa figura possa acompanhar outras melodias regionais - inclusive visto em Mazurkas, a exemplo da “Varsovienne” -, nesta dança austríaca ela tem papel de destaque.      

É interessante que, se fosse na atualidade, com tantas tecnologias e mídias, provavelmente essa dança não teria surgido, pelo menos não nesse formato: ela veio do processo de transmissão oral das informações e das músicas por partitura, sem ter uma gravação para comparar. Desta forma,

à medida que as melodias e coreografias eram repassadas, ganhavam novos detalhes e regionalismos. 

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo da “Iseltaler Masolka” com o “Volkstanzgruppe Villanders” em https://youtu.be/2UyosGYPD6c

07.05.2023 - Schäfflertanz

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07.05.2023 - A Schäfflertanz foi dançada na Peste Negra?

Segundo os relatos, tudo começou em 1517. A Peste Bubônica havia voltado à Munique após dois anos de pausa. Assim, as pessoas se esconderam em suas casas temendo a morte. A cidade ficou moribunda e as associações profissionais - guildas - entraram em profunda crise, inclusive a dos tanoeiros. Nesse contexto, um membro da corporação resolveu animar a população a sair às ruas e retomar suas vidas. Ele viu como “remédio” um desfile em forma de dança: a “Schäfflertanz”. E deu certo. O nome ficou associado aos fazedores de barris - “Schäffler”.

Mas como se pode provar isso? A primeira referência que se tem da “Dança dos Tanoeiros” de Munique é de 1702. Assim, tudo antes disso foi transmitido pela tradição oral. Mesmo assim, em 2017 comemorou-se o 500º aniversário da “Schäfflertanz”, tendo apresentações “fora de época”. Mas qual é o período certo? Diz a tradição que, a cada 7 anos, os membros da “Fachverein der Schäffler Münchens” executam-a.

E sua coreografia? Como no princípio, ela ainda hoje é executada por homens usando arcos enfeitados. A sequência de figuras foi mudando com o passar do tempo, tendo destaque a cobra, o arco, a cruz, a coroa, além de várias formações em círculos. Os personagens que compõem essa grande encenação são: os Schäfflertänze, dançarinos tanoeiros; os dois Vortänzer, os puxadores, com suas flâmulas; o Reifenschwinger, membro que faz um solo girando arcos; os Kasperln, uma dupla de pierrôs que, desde 1802, alegram o espetáculo; a Münchner Kindl, personagem com capa que personifica o símbolo de Munique. 

Em 2022, após a pandemia do Covid19, eles fizeram aparições especiais na cidade; contudo, a próxima temporada oficial deles será em 2026. Já quem quiser presenciar os Schäffler dançarem fora de época, podem vê-los representados nos bonecos do carrilhão da Prefeitura de Munique: no mínimo uma vez por dia o mecanismo, ao som de sinos, faz um pequeno show.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo da Schäfflertanz produzido pelo “Boletim Der Hut” e “Imperial FM” em https://youtu.be/4CU_Ts7VgFM . A dança completa está em https://youtu.be/6v9UYsJP8Oc .

06.05.2023 - Gigsi

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06.05.2023 - A Gigsi repete a coreografia 7 vezes para dar sorte?

Quando se dançam coreografias onde há um solo - quando uma pessoa ou par tem destaque individual - é normal que haja o número suficiente de repetições para que todos tenham chance de serem solistas. Trata-se de dar as mesmas oportunidades a cada dançarino. Já a “Gigsi” reinicia sete vezes, mesmo feita para quatro pares. Por qual motivo?

Esta dança sueca na verdade não traz novidades, tendo seus coreógrafos se inspirado em tradicionais formatos de Squaredance: as repetições não seguem a quantidade de solos e nem são guiadas por uma crendice numérica. A intenção é outra. Nas primeiras quatro partes há os solos dos pares 1 a 4; já na quinta e sexta as duas duplas que estão frente a frente (1 e 2 + 3 e 4) fazem as figuras simultaneamente. A conclusão está na sétima, com todos executando a coreografia principal ao mesmo tempo.

Como numa ópera ou em um filme, a Gigsi tem seu “clímax”, seu ponto alto: na sétima repetição, onde todos dançam a figura “solo” juntos, os participantes se cruzam, gerando uma composição esteticamente bonita. As primeiras quatro partes são como uma preparação, pouco interessante visualmente para o espectador - mas divertida para os dançarinos. Já a quinta e sexta trazem novidades, deixando quem vê curioso. A “cereja do bolo” vem somente ao final. Assim, geram uma crescente de expectativa, que sem esse processo a conclusão pareceria simplória.

“Gigsi” pode ser um nome ou apelido, como Gigi. É interessante que a dança “Madeleine” / “Marleentje”, de música francesa e coreografia dos Países Baixos, que igualmente tem sete repetições, muito se assemelha com esta sueca. Será que é casualidade que ambas tenham prenomes? No mundo da cultura popular nada é de se duvidar.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo da Gigsi sendo interpretada pelo Siebenbürgische Kindertanzgruppe Herzogenaurach: https://youtu.be/WnAZ1RuF-EY .

05.05.2023 - Holzhacker

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05.05.2023 - A Holzhacker é uma música? Uma dança? Ou duas?

Algumas músicas são “hits” por décadas… outras por séculos. Uma delas é a “Tiroler holzhacker buab'n” - “Os Jovens Lenhadores Tiroleses”, de Josef Franz Wagner (1856 - 1908). Esse compositor vienense, o “Rei da Marcha”, com mais de 200 títulos, conseguiu atingir o interesse do grande público de seu tempo, escrevendo muitos sucessos.

Já a letra é atribuída a Josef Hadrawa, autor de mais de 600 textos. O refrão “Mir san ja dö lustigen Holzhackersbuab'n, (holaröh yodel) / Mir fürchten koan Teifi, koa Wetter and Sturm (yodel)” ganhou versão também em outros dialetos e no Hochdeutsch , sendo ainda hoje cantado pelo mundo - claro, com muitos sotaques. 

E não demorou para que esse sucesso chegasse às “mãos e pés” dos grupos de danças típicas. Da "Holzhacker" surgiram duas coreografias muito diferentes. Sobre a alpina Richard Wolfram comentou:

“Uma das apresentações populares das tradicionais Trachtenvereine é o "Holzhackertanz". Um tronco de árvore inteiro é arrastado para o palco, serrado e cortado na hora, para que as lascas de madeira voem e tenham que ser varridas depois. De repente, eles interrompem essa cuidadosa tarefa e começam a “schuhplattlern”. Alguém involuntariamente se pergunta “por quê”? Então a panela e o jarro aparecem em cena, todos mastigam a comida da maneira mais cômica possível, etc. Uma pantomima pura.”

Já a outra é atribuída ao Jugendbewegung do início do século XX, provavelmente no norte do país. Eles vão escrever a “Holzhacker” totalmente diferente da lógica do sul: nesta os pares - homens e mulheres - vão, com movimentos exagerados dos braços, imitar o corte da madeira pelos machados. Acrescentam ao término uma cambalhota dos rapazes, como que uma brincadeira dos lenhadores.

Em ambos os casos as coreografias nasceram relacionadas à moda e identidade. Provavelmente Josef Franz Wagner e Josef Hadrawa não faziam ideia de onde o trabalho deles chegaria, impulsionando movimentos e dando sentido aos ofícios das comunidades, ainda no século XXI.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo dessa dança na versão com Schuhplatter:  https://youtu.be/eSbYSNzyiOg?list=RDeSbYSNzyiOg .

04.05.2023 - D'r Conscritdanz

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04.05.2023 - D'r Conscritdanz: a dança dos recrutas?

O termo “conscrito”, no francês, significa um grupo de pessoas que nasceram no mesmo ano. Por isso, a palavra também é usada para indicar os recrutas que se alistam no mesmo ano, ou seja, os noviços que vão servir o exército.

Na Alsácia, antes de partir para o serviço militar, os infantes recrutados se reuniam em sua localidade para comemorar. Nessa festividade, eram executadas algumas danças. Assim, normalmente os futuros soldados faziam a “Polca dos Recrutas”, em alemão “Recrutenpolka”. Os homens costumavam se vestir de branco e usavam um avental com seu ano de nascimento bordado. Também usavam chapéu preto enfeitado com fitas coloridas, representando o número de namoradas que ele já teve. Será? Claro que, aqui, a brincadeira também era permitida e, por isso, muitos tinham várias fitas em seu capelo. Ninguém queria ficar para trás.

Por mais que hoje o serviço militar na França não seja obrigatório, a comemoração continua. Apesar de ser um festejo originalmente para os homens, na atualidade é aberto também para as mulheres nascidas naquele ano. Ela marca, assim, de alguma forma, a entrada dos jovens no mundo dos adultos.

Os grupos de conscritos variam de região para região e, mesmo com alguns quilômetros de distância, as diferenças podem ser gritantes. Em algumas localidades, por exemplo, ela acontece durante o “Messti”, a quermesse. Alguns encaram esta tradição como uma bebedeira, enquanto outros, sobretudo nas zonas rurais, a consideram uma tradição profundamente enraizada, que tal como o serviço militar representa um período rico em anedotas, deixando aos seus protagonistas uma experiência inesquecível.

De qualquer forma, este evento desempenha o papel de catalisador e permite um encontro pontual de pessoas de diferentes origens culturais ou sociais, marcando uma importante passagem na vida dos jovens.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e veja o Folklore Obermodern dançando a D'r Conscritdanz em https://youtu.be/LSwabN_5-HI

03.05.2023 - Schwabentanz

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03.05.2023 - Schwabentanz tem mais de 500 anos?

Todo mundo conhece alguma canção que não sai da mente. São versinhos simples que podem embalar rodas, teatros, brincadeiras e tantos outros movimentos. Por algum motivo algumas músicas e coreografias conseguem, mais do que outras, vencer o tempo, passando para futuras gerações. Neste contexto, a “Schwabentanz” - a "Dança Suábia” - está na lista das mais perenes: com base em pinturas e grafias das letras, é datada por pesquisadores como do século XV.

A “Schwabentanz” é uma manifestação camponesa que teria nascido na antiga Áustria, se espalhando pelas regiões de língua alemã. Se sabe, por exemplo, que a música não era cantada sem a dança, sendo uma complementar à outra. Em outros casos, há dúvidas sobre a comunidade que a criou, se era realmente suábia emigrada, ou se outras que a imitavam. Em grande parte de suas versões há referências dela ser realizada “do modo feito na Suábia”, como visto neste texto:

“Hiaz tanz’ m holt den Schwabentanz,

 so tanzt man holt in Schwobn,

 und weil mir holt nit olle san,

 so müaß ma no an hobn”

Diferente da maioria das Volkstänze, ela é feita em forma de “cobra” - em fila -, não em círculo, tendo em uma ponta o puxador e na outra a entrada de novos participantes. Richard Wolfram e Herbert Oetke a classificaram como uma “Kettentanz”, agregando novos dançarinos à medida que as estrofes são cantadas, em uma reação em cadeia. Também há referência à corrente nos giros que acontecem na segunda parte da coreografia.

Um dado curioso é que no conto “O judeu no meio dos espinhos”, publicado pelos Irmãos Grimm, supõe-se que a dança da história seja a “Schwabentanz”: a medida que o violino mágico tocava, o juiz, o escrivão, os oficiais de justiça, o judeu, o carrasco, os espectadores… todos iam entrando. A cada repetição da melodia novos se agregavam. “A multidão, também, saltava e dava cambalhotas. Jovens e velhos, gordos e magros, todos entravam na dança, até mesmo os cães se levantavam nas patas traseiras e dançavam como gente grande.”

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e veja o Volkstanzgruppe Frommern interpretando a Schwabentanz: https://youtu.be/alhoF7mR2Ho .

02.05.2023 - Reinickendorfer Mühle

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02.05.2023 - A Reinickendorfer Mühle é uma dança ou um moinho em Berlim?
Em sua origem, Reinickendorf nem pertencia a Berlim. Com o objetivo de povoar a região, foram recrutados camponeses do Harz e de outras regiões do oeste da Alemanha. Um dos responsáveis por esse engajamento foi o senhorio Reginhard, que, de forma mais curta, era chamado de “Reinhard” ou, no baixo-alemão, de “Reinicke”. Assim, em 1230, foi criado o vilarejo do Reinicke: Reinickendorf.
Nessa aldeia, não há registros conhecidos sobre um moinho. Mas, na localidade vizinha, em Tegel, já no ano de 1361, se fazia menção à existência de uma azenha movida a água: o “Tegeler Wassermühle”. Era para lá que as pessoas da região levavam seus produtos para moer. Geralmente, essas estradas eram chamadas de “Mühlenweg”, o caminho do moinho. Elas saiam de Heiligensee, de Hermsdorf, de Wittenau e de Reinickendorf.
No ano de 1920, Reinickendorf juntamente com os vilarejos próximos passaram a fazer parte de Berlim e todo esse novo distrito foi denominado também de “Reinickendorf”. A partir de então, a moenda localizada em Tegel, igualmente conhecida como o “Moinho Humboldt”, passou a ser a azenha do distrito de Reinickendorf.
Apesar de estar desativado desde 1988, o Humboldtmühle foi de extrema importância após a Segunda Guerra Mundial, sendo ele o responsável pelo processamento de boa parte dos grãos consumidos em Berlim no período.
Mas qual é a relação entre o moinho de Reinickendorf e a dança “Reinickendorfer Mühle”? Apesar de não terem relação direta, ambos apresentam uma história interessante. Nas danças tradicionais da Alemanha, é encontrada com frequência diferentes figuras de moinho, chamadas de “Mühle”. A partir de uma antiga melodia, o berlinense Volkhard Jähnert criou essa coreografia utilizando a Mühle como ponto central. Dessa forma, a partir de sua criação, também as Volkstänze de Berlim passaram a contar com uma dança de moinho, homenageando essa antiga localidade.
Quer saber mais? 
https://www.culturaalema.com.br/ e veja também o Volkstanzkreis Reinickendorf 
  https://youtu.be/Eeh6iFMebD8

01.05.2023 - Bändertanz

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01.05.2023 - A Bändertanz é realizada na Árvore de Maio?

Existem tradições que se entrecruzam e acabam se manifestando de várias formas. Uma delas, muito popular nas comunidades de língua alemã, são as “Danças de Fitas”, lá conhecida como “Bändertänze”, “Zopftänze” - “das Tranças”-, ou “Netztänze” - “da Rede”.

De acordo com Sepp Pfleger, a “Dança das Fitas” surgiu por ocasião da campanha russa de 1812, quando mercenários em retirada, para passar o tempo, trançavam faixas de cores diferentes ao som de músicas. Já Richard Wolfram diz que ela data do século XV, com sua origem na Espanha, tendo se disseminado também para os povos das Américas e comunidades mouriscas. Há casos também na França, Itália, Suíça e Inglaterra. De toda forma, há pinturas antigas que permitem crer que os ameríndios já dançavam algo parecido com a “Zopftanz” antes mesmo da chegada dos europeus. 

Herbert Oetke destaca que em Munique uma dança das fitas foi apresentada em 1895 no “Volkstrachtenfest”, sendo lá narrado que ela surgiu em 1813. Em Unken, na Áustria, ele destaca que a “Bandltanz” há décadas é executada com pernas de pau. Pesquisadores encontraram íntima relação dela com os alpinos no decorrer dos últimos séculos. Observando tantas versões e vertentes diferentes de sua história, conclui-se que houve distintas crenças e fatos que as formaram.

E qual a relação dessa dança com o “Maibaum”? Vários autores ligam a “Bandltanz” bávara à Árvore de Maio. Trata-se de uma correspondência regional à “Árvores da Fertilidade”. Hans Meinl e Alfons Schweiggert listam diversas dessas, como na Índia, Egito, Síria, Grécia, Irlanda, entre outras, estando esse símbolo relacionado à prosperidade, como visto em ritos pagãos. Na Europa também está conectada à expulsão do inverno para a chegada da primavera, usando a personificação do clima como monstros e cavaleiros.

De qualquer mod, é importante destacar que nem todas as danças conhecidas de fitas são feitas em “Árvores de Maio”. Há relatos de algumas ligadas a festas de mascarados, carnaval, ritos de passagem, culto solar, entre outros. Pluralidade cultural se manifestando em movimentos.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/

30.04.2023 - Scheeßeler Windmüller

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30.04.2023 - Por que esta dança se chama “Scheeßeler Windmüller”?

 

Em diversas regiões, é comum encontrar danças com a figura do moinho de vento. Era muito comum chamá-las de “Dança do Moinho de Vento” - Windmühlentanz - ou apenas de “Moinho de Vento” - Windmüller. Em suas variações regionais, encontram-se também diferenças no nome, conforme o dialeto local. Por isso, elas são conhecidas também como “Windmöhl” e “Windmöller”, entre outros.

 

A dança que hoje é conhecida como “Scheeßeler Windmüller” é um exemplo. Os autores Eduard Kück e Elfriede Schönhagen publicaram a dança com o nome pelo qual era conhecida na região de Scheeßel: “Kontra mit der Windmühle”, ou seja, a “Contradança com o Moinho de Vento”. Segundo o relato de um músico da região, ela é muito antiga, tendo possivelmente mais de duzentos anos.

 

Ao descrever a coreografia, Eduard Kück e Elfriede Schönhagen explicam a relação de cada figura com o moinho de vento. Já no início, após o círculo inicial, as moças são conduzidas por seus pares ao centro da roda e, ali, de costas, elas dão início à formação do “Müller”. Na sequência, os rapazes dançam ao redor delas batendo palmas: eles são as pás e as palmas representam as batidas da moenda. Após darem uma volta inteira, os pares dão-se as mãos e, agora, juntos, representam o moinho completo em movimento.

 

Não se pode deixar de mencionar também a música que acompanha a coreografia. Em sua melodia, podemos perceber diversas passagens que, de certa forma, procuram representar o vento em movimentos mais brandos e também agitados, como se fossem redemoinhos.

 

Mas por que ela ficou mais conhecida por “Scheeßeler Windmüller”? Uma possível justificativa talvez seja o fato de que foi publicada com esse nome pelos hamburguenses Anna Helms e Julius Blasche. Ainda hoje, sua obra é uma importante referência para a dança típica na Alemanha. Para eles, fazia mais sentido chamá-la de “Moinho de Vento de Scheeßel”, registrando também em seu nome o local de origem, diferenciando-a de outras similares conhecidas até então.

Quer saber mais: https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a Windmüller em https://youtu.be/yH4CU55mJ4M

29.04.2023 - Sternpolka

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29.04.2023 - A Sternpolka é uma dança alemã?

Nada melhor do que no “Dia Internacional da Dança” tratar de uma dança internacional. Mas ela não é alemã? É uma pergunta justa, ainda mais considerando a ideia de algo “alemão” não ser, necessariamente, o que “nasceu” na Alemanha. A Sternpolka se faz hoje um “movimento” cultural amplo e inovador, colocando em cheque a “rigidez” na preservação da cultura popular.

Há um certo consenso de que surgiu a partir da “Linzer Polka”, uma dança do final do século XIX criada a partir do trânsito de músicos entre a Áustria e a Floresta da Boêmia. Nesse caminho, por ter sido tocada na localidade de Doudleby, ganhou também o nome de “Doudlebska-Polka”. A partir deste ponto há um conjunto de suposições sobre como ela virou a “Polca da Estrela”, sendo a versão da “viagem aos EUA” a mais conhecida: segundo ela a melodia e a coreografia da “Polca de Linz” foram levadas para a América do Norte e pelos anos de 1950 teriam retornado à Europa. Como isso aconteceu ou se realmente é verídico, ainda está no campo da especulação.

De toda forma, o destaque da “Sternpolka” está na maneira com que cativa tantas pessoas, se tornando moda: na República Tcheca, por exemplo, ganhou rimas, passando a ser cantada; na Alemanha e Áustria vários foram os que agregaram novas partes à coreografia original, quase como uma competição - na Baviera, inclusive, somaram sapateado típico. No Brasil ela se simplificou e agregou movimentos alegres e espontâneos, como uma grande brincadeira. De modo geral, ela transcende à tradição, reformulando antigos modos de dançar e instigando criações coreográficas - o que não é normal no contexto alemão.

E como ela alcançou tantas pessoas? Fontes afirmam que foi ensaiada pelos Trachtenvereine bávaros para ser apresentada na Olimpíada de Munique de 1972, o que teria ajudado a mesma a se popularizar. Seu áudio também acabou comercializado em muitos discos de vinil. De toda forma, é provável que tenha caído no gosto popular por mérito próprio, devido ao seu ritmo gostoso e figuras coletivas.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a Sternpolka versão de 2020 coordenada pelo Hin & Weg em https://youtu.be/mKmH-zfN0qc

28.04.2023 -  Bumerang

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28.04.2023 - Como o Bumerang chegou na Alemanha?

O bumerangue é um objeto de arremesso e foram criados para que pudessem voltar à mão de quem o jogou, quando não atingissem um alvo. Sua origem remonta a várias partes do mundo. Algumas fontes indicam que o mais antigo que se tem notícia até hoje foi encontrado na Polônia, feito de uma presa de mamute há 23 mil anos.

De qualquer forma, a Austrália ficou famosa no mundo como “o país do bumerangue”. Lá, entre outras ferramentas, os aborígenes os usaram por milhares de anos. Além de características lúdicas, ele era utilizado em atividades cotidianas. Servia para cortar carnes e vegetais, cavar a terra em busca de raízes comestíveis e também para golpear a superfície da água durante a pesca.

Os europeus modernos descobriram os bumerangues com a chegada dos ingleses à Oceania. O exemplar levado à Europa despertou tanta atenção que o ele foi elevado à categoria de esporte, sendo aperfeiçoado.

Então foi assim que a dança “Bumerang” também chegou à Alemanha?

Na verdade não. Ela foi uma criação de Martin Ströfer (música) e de Helga Preuß (coreografia). No ano de 1993, Helga criou-a com diferentes elementos tradicionais das Deutschetänze. Como em todas as figuras que havia troca de par, acabava-se voltando para sua dupla original, resolveram dar o nome de “Bumerang”, afinal, havia esse efeito de retornarem após “darem uma voltinha”.

É interessante observar que, entre as figuras, apenas uma não é tradicionalmente encontrada nas danças alemãs: a figura do losango. Helga chamou-a de “Salmi”, uma pastilha para tosse feita de Salmiakki, uma variedade de alcaçuz, que é muito tradicional em Hamburgo e tem esse mesmo formato. Ela é tão conhecida que, muitas vezes, em vez de chamarem a forma geométrica de “losango”, a chamam de “Salmi”.

Temos aqui uma boa história que, assim como o bumerangue, fez uma grande volta para explicar como chegamos à dança “Bumerang”.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e veja também o Seminargruppe Volkstanz, coordenador por Johann Eder, em https://youtu.be/XscaNG5aQkY

27.04.2023 - Ich schmäiß d’r ean di Ripp

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27.04.2023 - A “Ich schmäiß d’r ean di Ripp’” é uma dança infantil do Hessen?

Nem todas as músicas cantadas que tenham coreografias fáceis surgiram ou foram destinadas para crianças. A “Ich schmeiss Drean di Ripp” ou “Ich schmäiß d’r ean di Ripp’”, que tem origem provavelmente na região de Vogelsberg no Hessen e coreografia em Köddingen, é um desses clássicos exemplos. Segundo Hans von der Au, “sua letra tem humor grosseiro, que obriga a todos os dançarinos a entrar nesse espírito” - o que não condiz com o universo infantil:

“Ich schmäiß d’r ean di Ripp (4X)

 Hüt dich, wahr’ dich, nemm dich in Acht ich sag der’s, (2X)

 Kalinchen, mit dei’m Sellriekopp, Sellriekopp und die hopp, hopp, hopp (2X)”.

Hans von de Au explicou em suas anotações que uma grande parte dos bailados típicos do Hessen são Singtänze - “danças cantadas”. Elas eram entoadas por jovens em salas de fiar - onde trabalhavam com as rocas - e em áreas ao ar livre, como gramados e sob as árvores, onde não necessariamente havia um músico presente. Assim, as coreografias eram embaladas pela cantoria. Os versinhos podiam ser bem humorados, irônicos e também de duplo sentido. Tratava-se de um hábito antigo que praticamente sumiu à medida que os pequenos vilarejos passaram a ter grande circulação de passantes.

É possível notar que essas rimas da “Ich schmäiß d’r ean di Ripp” foram feitas por jovens aldeões dentro de seus momentos informais “politicamente incorretos”. E mesmo que não se cantasse, omitindo a letra, a coreografia simples também contém passos de “Schottisch”, o que não é comum em composições infantis, sendo um indício de que se trata de uma dança de adultos.

Com o passar do tempo, com o enfraquecimento das culturas locais, muitas das tradições dos “jovens adultos” foram desaparecendo. Uma parte sobreviveu pelas mãos de pesquisadores, que as coletaram à beira do esquecimento. Outra se manteve junto às crianças, que não compreendiam plenamente seu significado, mas repetiam e adaptavam. Desta forma, por ironia do destino, muitas danças dos “mais velhos” hoje vivem ainda no brincar dos “bem novos”.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e conheça essa e outras danças.

26.04.2023 - Taukiekerdanz

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26.04.2023 - Taukiekerdanz: Quem são os Taukieker no casamento pomerano?

A festa do casamento pomerano sempre foi muito divertida. Era costume que, após a cerimônia religiosa, todos os moradores do vilarejo participassem dessas comemorações durante os três dias de festa.

Geralmente, dentro da casa ficavam os convidados próximos dos noivos. Como não havia espaço para todos os vizinhos lá dentro, as janelas da sala eram abertas e eles ficavam do lado de fora, como uma verdadeira plateia. Por isso eram chamados de “Taukieker”, os espectadores.

Também do lado de fora, a comida e a bebida não paravam de ser servidas e, da janela, eles acompanhavam as danças. A certa altura da festa, eles eram chamados para dentro para fazerem a sua participação: a “Taukiekerdanz”. A coreografia, geralmente, era para oito pares, o que mostra que a maioria seguia assistindo da rua.

Para chamá-los, era dito: “De Taukieker möten de Hochtied loben” (Die Zuschauer müssen die Hochzeit loben), “os espectadores devem elogiar o casamento”. Apenas quando os Taukieker estivessem felizes e satisfeitos, podia-se dizer que a festa do matrimônio era farta e alegre.

Era comum que os jovens do vilarejo aprontassem com esses espectadores, os Taukieker. Enquanto eles assistiam as danças, os adolescentes aproveitavam a distração e costuravam as saias e os casacos de uma pessoa na outra e, quando eles queriam ir embora, descobriam que estavam presos uns nos outros, causando muitas risadas entre os presentes.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz

25.04.2023 - Hakke Toone

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25.04.2023 - Hakke Toone é a mesma coisa que Hacke-Spitze?

Hakke Toone é a expressão holandesa para “taco e ponta” ou “Hacke-Spitze”, em alemão. Esta dança não poderia ter outro nome, uma vez que o passo “Hakke Toone” está presente em praticamente toda a coreografia.

Ela foi criada na década de 1920 por Anna Henriette Sanson-Catz e publicada posteriormente no livro “Nederlandse Volksdansen”, Danças Populares Holandesas, em parceria com seu amigo Anne de Koe. Na Alemanha, possivelmente a “Hakke Toone” ficou conhecida a partir de sua publicação em alemão, sob o nome “Hacke, Spitze!”, por Anna Helms e Julius Blasche em seu livro de coreografias holandesas, a partir das coletâneas criadas, registradas e publicadas por Anna Sanson-Catz e Anne de Koe.

Em seus registros, é indicado que a “Hakke Toone” teve inspiração nos costumes da ilha de Terschelling, na província da Frísia, na Holanda. Posteriormente, na década de 1970, Elsche Korf, ao realizar as pesquisas para sua formação como professora de danças típicas, fez um novo resgate dos bailados dessa ilha, publicando, então, uma obra com informações das tradições coreográficas originais do local.

Entre os elementos marcantes da ilha de Terschelling está sua bandeira formada por cinco faixas horizontais. Suas cores são explicadas em um poema muito querido por todos de lá:

Vermelho são as nuvens

Azul é o céu

Amarelo é o estorno (espécie de capim)

Verde é a grama

Branco é a areia

Essas são as cores da terra de Terschelling

Podemos dizer que Anna Sanson-Catz cumpriu seu objetivo inicial com a “Hakke Toone” e suas demais coreografias: fazer com que os jovens holandeses voltassem a praticar com entusiasmo os antigos ritmos de seu povo, tornando a dança típica novamente um dos elementos constitutivos da cultura dos Países Baixos.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a “Hakke Toone” com o West-Friese Dans Groep "Midwoud em  https://youtu.be/I7DQX_9qDW0 e o Centro Cultural Neue Heimat de Jaraguá do Sul em https://youtu.be/jQnw1xsS_DQ

24.04.2023 -  Kuckuckspolka

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24.04.2023 - A “Kuckuckspolka” é a dança do relógio Cuco?

Não tem nada de relógio cuco nesta dança. Para começar, a “Kuckucksuhr”, que indica as horas, têm procedência da Floresta Negra, na Alemanha, sendo um dos símbolos dessa região. Já a “Kuckuckspolka” teria prováveis origens bem longe do Schwarzwald: segundo Karl Horak, ela nasceu na Galícia, na encosta dos Cárpatos, hoje estando parte na Polônia e parte na Ucrânia. Lá ela tem um ritmo um pouco diferente, sendo conhecida como “Kokettka”, o que em português significaria “Flerte”.

E por qual motivo nas áreas de língua alemã essa dança é relacionada ao Cuco? Talvez seja porque esse pássaro “canta” o iniciar da primavera no hemisfério norte? É quando os machos buscam uma companheira. Por isso ele é bastante lembrado como um cantor da floresta, pois seu som pode ser ouvido há um quilômetro de distância. De toda forma, não parece ser essa a conexão dos nomes da polca do cuco e da do flerte, sendo esta meramente casual.

Mas, por incrível que pareça, esse belo animal tem seu lado “pouco amoroso”: após espantar outras aves de seus próprios ninhos, o cuco coloca seus ovos na casa alheia, jogando os ovinhos das donas para fora. Assim, os “cuquinhos” nascem sendo chocados por “mães de aluguel”, que foram enganadas, sem ganhar nada em troca.

Os cucos e as histórias ligadas a eles estão muito presentes nas comunidades de idioma alemão. "Kuckuck, ruft's aus dem Wald", "Der Kuckuck und der Esel", "Der Kuckucksjodler", "Kuckuckswalzer" são algumas das muitas músicas que tratam dessas aves, mostrando sua popularidade. Possivelmente é por esse motivo que existem também muitas diferentes melodias de nome “Kuckuckspolka”.

Na atualidade ela é reconhecida como típica na Áustria e no sul da Alemanha, já que por lá se difundiu e ganhou estilo próprio. Mas há um ponto comum seja na versão galícia, seja na variante austríaca, seja no relógio cuco alemão: é preciso cuidar para todos estarem no tempo certo.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz

 e veja o vídeo da “Kokettka” em https://www.youtube.com/watch?v=sDqLrcaip6s

 e da “Kuckuckspolka” em https://www.youtube.com/watch?v=77Ozv9GwJ-A

23.04.2023 - Anka

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23.04.2023 - Afinal, “Anka” é uma dança pomerana ou sorábia?

Onde viveu essa menina chamada “Anka”? Pois bem, os registros que existem sobre ela remetem à uma antiga canção típica entre os Sorábios, moradores da região de Lausitz na Alemanha e na Polônia.

Na Alemanha Oriental, para preservar a cultura regional, foi produzida uma série de publicações com danças tradicionais dos Sorábios. Em duas delas, é vista a “Anka”. Em uma excursão pela região de Niederlausitz, os pesquisadores encontraram uma bela dança sorábia chamada “Anka ty sy kołowrotna”. Em seu texto, é dito para a Ännchen não girar de forma tão desajeitada. Pobrezinha da moça.

Para preservar os passos dessa dança tradicional, os pesquisadores criaram uma coreografia representando um jogo de conquista entre rapazes e moças. Nela, fica mais clara a canção, já que muitos deles costumam provocar exatamente as damas que mais gostam.

Alguns anos depois, foi publicada uma segunda coreografia criada por um grupo de danças sorábio a partir da melodia e dos passos da primeira. Segundo os pesquisadores, foi a primeira vez que os participantes voltaram a entoar canções durante a sua realização, como era de costume naquela região. Para isso, foi registrada uma segunda estrofe. Nela, é dito que, na verdade, é o “Hanko” (Hannes) que gira desajeitado. Nada mais justo em uma provocação, não é?

Mas como essa dança de Niederlausitz chegou à Pomerânia? Na verdade, ela não chegou. Até o momento, não é conhecido nenhum registro pomerano que faça alguma menção a uma Volkstanz chamada Anka. Possivelmente, por ter ficado muito conhecida em uma encenação sobre os costumes e as tradições na Festa da Colheita na Pomerânia, coreografada por Eike Haenel, ela acabou sendo associada com a região.

Agora, já sabemos de onde vem essa jovem moça. Anka e Hanko (Anna e Hannes, em alemão) são jovens sorábios da região de Lausitz. A propósito: recentemente, uma versão semelhante à original da “Anka” foi publicada. Essa ação teve por objetivo tornar na região as danças tradicionais novamente populares. Com certeza, um belo projeto!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja https://youtu.be/eTqZ6NgFkds e https://youtu.be/5c-GMaDBnNs

22.04.2023 - Rediwa

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22.04.2023 - Rediwa é a dança dos turcos-suábios de língua alemã na Hungria?

Para um brasileiro que olha a história das comunidades de língua alemã na Europa vai achar algumas informações muito confusas. Um exemplo disso é o caso da Turquia Suábia, de onde vem a dança Rediwa. Para explicar um pouco essa realidade o DGV - Deutsche Gesellschaft für Volkstanz e. V. publicou um artigo sobre este tema.

 

No século XVIII houve no sul da Alemanha colheitas fracassadas, o que gerou uma inflação gigantesca e faliu muitas famílias, obrigando-as a migrarem. Mas para onde? No mesmo período a Hungria e o Banat - que hoje estaria também em parte na Sérvia e Romênia - haviam passado por guerras com os turcos, reduzindo a população. Assim, cerca de 400.000 alemães viram nessas áreas do leste europeu uma solução aos seus problemas.

Muitos desses migrantes escolheram o rio Danúbio como caminho às novas terras. Segundo Bernward Wagner, embora apenas alguns tenham vindo da área conhecida como Suábia, todos os imigrantes de origem alemã foram chamados pelos húngaros como suábios - Schwaben. Neste contexto popularizou-se o nome “Suábios do Danúbio”. Foi resultado desse movimento populacional o “Schwäbische Türkei”, a maior “ilha” de pessoas de língua alemã dentro da Hungria.

Para os Donauschwaben foi um período muito difícil. Para contextualizar essa realidade uma velha rima tratava das gerações de alemães na região: “A primeira tem morte, / a segunda sofre necessidades, / apenas a terceira tem pão”. Demorou, contudo essas populações prosperaram. E o tempo não apagou da memória dessas famílias o idioma materno, suas músicas e danças.

O pesquisador Karl Horak registrou várias coreografias da Turquia Suábia em sua publicação “Deutsche Volkstänze aus dem Donauraum”, deixando-as disponíveis hoje para o grande público. Ainda na atualidade os descendentes desses suábios do Danúbio que voltaram muitas gerações depois para a Alemanha, mantém e realizam danças típicas, como a Rediwa, preservando vivas as lembranças culturais dessa história.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e veja também a Rediwa em https://www.youtube.com/watch?v=iNv5OnNK2-s .

21.04.2023 - Deutscher Umgang

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21.04.2023 - A “Deutscher Umgang” é uma dança cantada ou um canto dançado?

Em muitas etnias é comum que os participantes de uma dança típica cantem simultaneamente à execução de uma coreografia. Isso pode ser visto com frequência, por exemplo, junto aos portugueses, poloneses, búlgaros, entre outros. No caso da população de língua alemã, essa característica aparece pouco entre as Volkstänze dos adultos. Assim, pode-se dizer que a “Deutscher Umgang” pertence a duas minorias, mesmo que não incomuns: é cantada pelos dançarinos e ainda tem uma formação de trio - Triollet -, com um rapaz e duas moças.

Mesmo que em algumas versões da letra haja explícita citação ao Steiermark e à Linz, não se tem clareza sobre a origem da melodia. É sabido, por exemplo, que dependendo de onde a música é cantada a comunidade troca o nome da região e cidade contida na rima. De toda forma, existe um certo consenso de que ela é austríaca, por mais que também tenha sido vista em regiões da antiga Boêmia.

O nome “Deutscher Umgang” é curioso por si só: quer dizer “o modo alemão de lidar com alguma coisa” ou o “manuseio alemão”. Neste caso, as rimas brincam com as percepções do jovem do campo e sua reafirmação como camponês, quando ele vê a fonte de água, trata da dama do vilarejo, coloca flores no chapéu, entre outras. Se observa que o termo “Deutscher” não faz relação com o cidadão da Alemanha e sim de uma pessoa de idioma alemão.

A coreografia teria sido criada bastante tempo depois da música, provavelmente por Hermann Derschmidt  em 1925, em Klaffer, nas proximidades de Ulrichsberg, na Alta Áustria. Um dado interessante é que ele escreveu um artigo intitulado “Über Singtänze und Tanzlieder in Oberösterreich”, exatamente discutindo questões ligadas a cantos dançados e danças cantadas. Não aparenta haver um motivo específico para que as figuras sejam executadas em trio, ainda mais que na letra o cantor trata de uma única moça. Ou será que ele estava “cantando” outras meninas? A resposta fica no imaginário de cada um.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja uma versão da dança em https://youtu.be/eISGeksbkMo

20.04.2023 - Drei lederne Strömpf

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20.04.2023 - A “Drei lederne Strömpf” é uma dança somente de mulheres?

Contam que, antigamente, no período de colheita, havia danças exclusivamente femininas, que eram executadas quando do corte do último feixe de feno. Uma delas é a popular “Drei lederne Strömpf”, também chamada de “Drei liedrige Strümpf” ou “Drei lärren Strömp”. Ela tem variantes registradas no Palatinado, em Luxemburgo, nas terras da Francônia, Renânia e Eifel, tendo nomes diferentes em cada lugar, assim como letras em diferentes dialetos. Uma melodia que, na atualidade, ganhou outra coreografia e embala casais de todos os gêneros e idades.

Um grande conjunto de referências a essa dança vem do pesquisador Hans von der Au, com destaque à versão de Vogelsberg, no Hessen. Ela era feita de tal forma que as damas pegavam a ponta de trás da saia e a dobravam, passando-a para frente entre os joelhos e a seguram com as duas mãos. É dessa ponta de tecido que a canção trata ao falar da terceira meia - Drei liedrige Strümpf -, provavelmente por deixar as as duas pernas com meias longas à mostra e um conjunto de tecidos ao meio.

A dança em seu formato antigo, ainda segundo Hans von der Au, baseava-se em quatro dançarinas em um círculo, sendo duas frente a frente. Com pulos, no compasso 4/4, elas iam e voltavam para o seu lugar, para direita e esquerda, para frente e para trás. A coreografia também incluía partes em galope, havendo trocas de posição, assim como giros. Ele completou que, em algumas situações, elas usavam a parte de trás das saias de baixo para puxar para a frente.

Comparando a coreografia original com a atualmente dançada, há poucas semelhanças, inclusive com a ausência das palmas. De todo modo, a base da melodia e das letras se mantiveram vivas. Há registros que senhoras, ainda na primeira metade do século XX, dançaram essa forma antiga da “Drei lederne Strömpf” em festejos de bodas de ouro. Hoje, a nova versão tem grande aceitação por parte das crianças.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja uma versões contemporânea da Drei lederni Strömpf” em  https://www.youtube.com/watch?v=2BdzhYOSezI

19.04.2023   Jämtpolska

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19.04.2023 - A Jämtpolska é uma dança sueca ou polonesa?
A Polônia, em polonês, se chama “Polska”. Seria, então, Jämtpolska uma dança polonesa? Vamos conferir!
“Polska” também é o nome dado a uma família de formas de música e dança compartilhadas pelos países nórdicos, entre eles, a Suécia. Como sugerido pelo nome, as raízes da “polska” são frequentemente rastreadas até a influência da corte polonesa nos países do norte durante o início do século XVII. Até hoje, esse idioma eslavo é chamado de “polska” em sueco.
Alguns pesquisadores contestam essa origem e acreditam que algumas músicas mais antigas possam ter evoluído para a “polska”, recebendo também influências estrangeiras, especialmente das danças da corte, quando começaram a se infiltrar na classe média e nas comunidades rurais, como é o caso da Polonaise.
Na Suécia, a tradição da música “polska” é contínua, com melodias e estilos transmitidos por famílias, parentes e vizinhos, remontando a algumas centenas de anos. Além disso, ao longo dos séculos XIX e XX, uma série de pesquisadores viajou pelo país transcrevendo e anotando melodias. Em sua maioria, as danças foram coletadas junto a dançarinos mais velhos - em alguns casos, bastante idosos - que aprenderam-nas de parentes próximos ou de outras pessoas de uma geração mais antiga.
Foi o caso da Jämtpolska, ou, como ela também é conhecida “Polska från Ramsele”. O casal Inger e Göran Karlholm descreveram e documentaram essa dança na localidade sueca de Ramsele em 3 de julho de 1971. Eles aprenderam a coreografia com Elvina Vik, nascida em 1901, e Folke Nygren, em 1893, ambos no mesmo local.
Os Karlholms foram responsáveis pela pesquisa e pelo registro de muitas músicas e coreografias nas províncias suecas de Härjedalen, Jämtland e Ångermanland. Seu trabalho foi reconhecido no país por preservarem as antigas danças tradicionais para a posteridade.
Jämtpolska nada mais é do que a “polska” da província de Jämtland e o nome “Polska från Ramsele” indica que é a “polska” da localidade de Ramsele. Com isso, podemos afirmar que ela é sim uma dança originalmente sueca.

18.04.2023 - Misirlou

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18.04.2023 - Misirlou é uma dança grega que não é uma dança grega?

A história da canção Misirlou é tão antiga quanto a dos povos que habitam as costas do Mar Mediterrâneo, chegando a se perder no tempo. Provavelmente, ela é uma música típica, já que o autor nunca foi identificado. Sua melodia oriental é popular há tanto tempo e entre tantos povos que muitas pessoas do Marrocos ao Iraque afirmam que ela é tradicional de seu país.

A palavra “Misirlou” vem de “Misr”, termo árabe para “Egito”. Em turco, Egito se torna Misir. Ao adicionarmos o sufixo “li”, a palavra se torna Misirli, significando “do Egito” ou “egípcio”. Já “Misirlou” é a forma feminina, ou seja, é um termo turco para a expressão “mulher egípcia”.

Em 1919, o famoso compositor e cantor egípcio Sayed Darwish gravou a canção “Bint Misir” (garota egípcia), mas essa gravação foi perdida e há um debate se ela tem a mesma melodia de Misirlou.

A mais antiga gravação sobrevivente de Misirlou é uma versão de 1927 de Tetos Demetriades, feita em Nova York para o mercado de imigrantes gregos. A gravação foi concebida para acompanhar “tsiftetelli”, uma forma de dança do ventre grega bastante recatada. Com versões em vários idiomas, a canção fala da bela moça do Egito, exaltando sua beleza exótica, mágica e incomparável.

Mas como essa canção virou uma dança típica grega, que, na verdade, não é uma dança típica grega?

No ano de 1945, período em que era muito difícil de se conseguir músicas gregas nos Estados Unidos, a greco-americana Patricia Mandros percebeu que a música “Misirlou” serviria também para a execução da dança grega “Haniotikos” (Kritikos Syrtos), da Ilha de Creta.

A partir de então, essa dança “grega” tornou-se muito popular em todo o mundo e acordou-se chamá-la de Misirlou para não confundir com a dança original “Haniotikos”. Enquanto que, na Grécia, ela ainda é pensada apenas como música para dança do ventre “tsiftetelli”.

Mais recentemente, nos anos 90, a música Misirlou voltou a ter grande destaque no filme Pulp Fiction de Quentin Tarantino, na versão do americano Dick Dale.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e ouça https://youtu.be/LW6qGy3RtwY  , veja https://youtu.be/H_JS5rP_0Ag  e olhe https://youtu.be/pr8jyn6IBlE

17.04.2023 - Schönborner

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17.04.2023 - Schönborner é a dança do salteador Friedrich?

Schönborn é o nome de uma localidade na Baixa Silésia, região outrora alemã, mas que hoje está localizada em território polonês. Sabe-se que em Liegnitz, que fica próxima a esse lugarejo, foi registrada uma dança com o nome de “Schönborner”. Possivelmente, ela tenha origem naquele local homônimo e acabou ficando conhecida em todo a Niederschlesien.

Não apenas essa dança do círculo Liegnitz ficou popular na Baixa Silésia, mas também suas histórias. Entre elas, está aquela de um salteador muito cruel conhecido como “Der schwarze Friedrich”. Conta a história que ele era muito temido em toda a região. Grandes prêmios foram oferecidos por sua cabeça, mas ninguém conseguiu encontrar seu paradeiro.

Eis que Friedrich raptou uma jovem moça chamada Anna. Assim que chegou à caverna do ladrão, ela foi obrigada a prometer que nunca deixaria o local sem seu consentimento. Caso contrário, o assaltante mataria seus pais.

Um dia, o bandoleiro precisou fazer uma viagem para a “Böhmerland”. Era a oportunidade perfeita para a moça. Ela criou coragem e foi em direção à cidade. Para lembrar o caminho de volta, foi espalhando ervilhas por onde passava. No trajeto, ela avistou as torres da igreja de São Pedro e São Paulo em Liegnitz e seguiu em sua direção. Ao chegar lá, Anna foi até o altar e anunciou: “Ouçam todos! Quem quiser saber onde fica o esconderijo do Friedrich, vá para onde eu for!”.

Seguindo o caminho marcado pelas ervilhas, Anna foi acompanhada por uma multidão. Ao chegar em frente à caverna, lá estava Friedrich. “É ele!”, ela gritou. Nisso, a multidão agarrou o salteador e, triunfalmente, marcharam em direção a Liegnitz, onde ele foi julgado e executado no ano de 1661. Ela estava salva e pode voltar em segurança para os seus pais em sua aldeia natal.

Seria Schönborn o vilarejo onde Anna vivia com sua família? Ou os passos rápidos da dança representariam a sua fuga? Infelizmente, não se sabe. Contudo, após o incidente, todos os moradores da região puderam voltar a viver tranquilamente.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja essa e outras danças tradicionais.

16.04.2023 - Kronentanz

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16.04.2023 - Existiu uma Kronentanz antiga e uma nova?

Algumas temáticas estão muito vivas dentro dos grupos de danças típicas, como do moínho, da colheita, do tear, do casamento, entre outras, geralmente ligadas ao dia a dia do camponês. Contudo, dentre as coreografias com arcos uma lembra a nobreza: a “Kronentanz”, a Dança da Coroa.

Contam que é tradição na Baviera e regiões alpinas da Áustria e norte da Itália haver danças com arcos, sendo muitos deles ornamentados com ramos verdes ou mesmo flores. Seria um hábito muito antigo, tendo registros dele já no século XV. Esse costume teria relação com os tanoeiros, das guildas de profissionais fazedores de barris, que teriam conhecimento técnico para arquear as varas de madeira. São exemplos conhecidos dessa arte uma variante da “Reifentanz”, de 1412 em Bautzen, e a popular “Schäfflertanz”, datada de 1463 em Munique.

E a coroa? Pesquisadores relatam que nas coreografias com arcos se tornou comum moldarem a Krone. Assim, há relatos de “Kronentänze” antigas, todavia suas descrições não sobreviveram. Contudo, em 14 de agosto de 1927, em Hohenpeissenberg, houve a estreia de uma nova versão: montada por Sepp Pfleger, da Volkstrachtenverein Peißenberg, que teve a ideia dela em 1922. Ela não só tinha a figura que se parecia com esse símbolo monárquico, mas também inovou com a presença de mulheres na dança: é bom lembrar que esse tipo de dança só era feita por homens, podendo estar associada à Schuhplattler.

Hoje essa dança faz parte de muitos festivais culturais da Baviera, sendo do gosto dos Trachtlers, pessoas que preservam as indumentárias tradicionais. A versão da “Kronentanz” do Sepp Pfleger segue presente em manuais de danças de associações de trajados da Baviera. Também serviu de base para a criação de muitas novas coreografias com arcos, não necessariamente formando a figura da coroa. São antigos costumes que se moldam às novas realidades.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz   e veja uma das variantes da Kronentanz em https://www.youtube.com/watch?v=JaP-gSFRe4I

15.04.2023 - Kegel

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15.04.2023 - A dança Kegel é de Eldena ou de Greifswald?

Onde e como o Bolão teve início, é difícil precisar. Porém, existem indícios de que, há séculos, o homem conhece jogos relacionados a derrubar pinos com uma bola.

No final do século XIX, mais precisamente em 1885, foi criada em Dresden a Federação de Bolão da Alemanha, reunindo as diferentes Sociedades e Associações do esporte. A partir de então, elas começaram a surgir na Alemanha como cogumelos nascendo no chão.

Na Pomerânia, não podia ser diferente. No ano de 1889, em Greifswald, foi criado o clube “Emin Pascha”. Desde então, o jogo de bolão ocorreu de forma organizada na região, não mais apenas como hobby ou passatempo.

Já na localidade vizinha de Eldena, haviam registros do jogo de bolão como hobby desde 1883. Porém, apenas em 1921 foi fundado o “Kegelklub Eldena”. Posteriormente, na localidade, foi construída uma pista oficial, seguindo as orientações da Federação Nacional de Bolão, o que movimentou intensamente a prática do esporte em Eldena.

E qual a relação desses clubes com as danças de tipo “Kegel”? Bem, diretamente, não tem nenhuma. Mesmo que as coreografias de tipo “Kegel” tenham ligação com o bolão, em nada dialogam com o “Emin Pascha” e o “Kegelklub Eldena”. Contudo, percebe-se que a prática do bolão é uma tradição tanto em Eldena quanto em Greifswald. Da mesma forma, a “Eldenaer Kegel” - o Kegel de Eldena - e a “Greifswalder Kegel” - o Kegel de Greifswald -, também o são. Na verdade, são a mesma dança, sendo difícil de identificar em qual das duas localidades ela se originou.

Há alguns relatos que indicam que essa Kegel possa ter surgido primeiro em Eldena, pois há, inclusive, uma canção para ela que fala “Eldena, Eldena é uma bela cidadezinha. Eldena, Eldena é uma bela cidade.” E, possivelmente, estudantes universitários que estudavam em Greifswald podem ter levado a dança para lá.

Da mesma forma que dividem a tradição no esporte, Eldena e Greifswald também dividem sua dança mais tradicional, a Kegel.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja também os vídeos https://youtu.be/iaUftKcaLKY e https://youtu.be/jQ3L_KI1nNg

14.04.2023 - All American Promenade

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14.04.2023 - “All American Promenade” é uma dança norte-americana?

Quem não conhece o verso “She'll be coming round the mountain when she comes”? Bom, para quem não é simpático à língua inglesa pode ter ouvido “Ela vem pela montanha, ela vem”. Trata-se de uma canção popular norte-americana que frequentemente está no potpourri de melodias da dança “All American Promenade”. Assim, a coreografia dela é estadunidense?

Nem toda sequência de figuras é criada no mesmo local da música. Da mesma forma, uma mesma coreografia pode se encaixar em uma porção de melodias. Também, muitas versões de danças podem surgir por transmissão oral, ao estilo “telefone sem fio”. A grande dificuldade, nesses três casos, é conseguir identificar a “semente”: qual a origem de tudo?

Vejamos a “All American Promenade”. Sua coreografia está ligada a outras, como “Gärdeby Gånglåt”, “Tripping Upstairs”, “Hamburger Marsch”, “The Gay Gordons Two Step”, “Progressive Gay Gourdons”, “La Chapelloise” e “Aapje”. Mapear qual veio primeiro - ou se nenhuma delas - é um desafio. Durante o século XX a base dessa dança foi vista acompanhando diferentes melodias na Europa e na América do Norte, cantadas ou não. Nelas o primeiro conjunto de passos é praticamente o mesmo, podendo na segunda parte trocar de par.

Por mais que as variantes dos EUA tenham se espalhado pelo mundo, é mais provável que a base coreográfica venha das jig da Irlanda ou Grã-Bretanha, onde há registros mais antigos dela. Existem hipóteses que a ligue à França ou a países nórdicos. Assim, não parece estranho que, neste contexto, danças similares sejam vistas com releituras de músicas celtas.

E relembrando a melodia da “Ela vem pela montanha”, por mais que pareça de origem infantil, ela é um cantico vindo dos trabalhadores ferroviários e estes, por sua vez, se inspiraram na “When the Chariot Comes”, música cristã ligada ao movimento negro dos EUA. Como se pode ver, mesmo que algo se popularize de uma forma ou um local, ela pode ter sua origem de outra bem diferente. É a riqueza da metamorfose cultural.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja também uma variante da “Gay Gordon” em https://www.youtube.com/watch?v=5dQvi7Dzdts

13.04.2023 - Saarländischer Bergmannstanz

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13.04.2023 - O que representa a “Saarländischer Bergmannstanz”?

Durante os séculos XIX e XX, a mineração foi uma das principais atividades econômicas do estado do Saarland. Há cerca de dez anos, a última mina de carvão foi desativada, deixando para trás um legado que vai muito além da extração mineral, o que marcou fortemente a vida cultural dessas localidades.

Nas festas dos mineiros do Saarland, era muito comum a “Saarländischer Bergmannstanz”. Para realizar essa dança, o tradicional da mineração: o martelo e a picareta cruzados. O casaco trazia botões dourados: seis em cada manga, seis na altura do peito e cinco para abotoar. Ao todo, 29 botões, simbolizando a idade de Santa Bárbara, padroeira dos mineradores.

As “Bergmannstänze” costumam trazer elementos oriundos do dia a dia dessa profissão. É o caso, por exemplo, dos passos chamados “Steigeschritt”, representando o caminhar com os pés mais levantados, como se estivessem seguindo numa mina com água no chão, e “Kniewippschritt” que demonstra um andar quase de joelhos. Além disso, em alguns momentos, os pares dançam curvados como se estivessem passando por algum túnel estreito da mina.

Na entrada das minas, é comum encontrar a expressão “Glück auf!”, Boa sorte!. Era com essa expressão que cada mineiro entrava para seu dia de trabalho. A dança também não poderia começar de outro jeito. A canção que a acompanha inicia exatamente com essa expressão: “Glück auf!”, e nos fala que os mineiros são pessoas boas a procura de ouro e de prata e, lá fora, suas amadas estão a espera deles e que, durante o trabalho, eles não deixam de pensar nelas.

E qual a relação dessa dança com o Brasil?

Muitas famílias do Saarland migraram para o Brasil, principalmente de localidades próximas ao município de Sankt Wendel. Apesar de não existirem registros, é possível que algumas dessas famílias tenham ouvido falar sobre as minas da região e até mesmo possam ter participado de alguma festividade dos mineiros e, quem sabe, até ter visto uma de suas danças.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e conheça essas e outras histórias.

12.04.202 - “Das Lied vom Wecken

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12.04.202 - “Das Lied vom Wecken” é uma canção de ninar ou de acordar?

Você lembra de canções da sua infância? Com certeza todos guardam na memória alguma melodia marcante. Seja uma música de ninar,  de uma brincadeira de roda ou ainda uma que aprendeu com os amigos na escola. Muitas vezes, elas estão ligadas a sentimentos intensos e trazem boas recordações.

As canções infantis são geralmente marcadas por um texto fácil, com rimas e repetições, tendo melodia contagiante. Esse tipo de música é conhecida em alemão como “Ohrwurm”, que atua como aquele bichinho que não sai de nosso ouvido!

O curioso aqui é que não temos uma “música de ninar”, mas sim uma “canção de acordar”. Isso mesmo! “Das Lied vom Wecken” é a canção de acordar. Nela, todos os dias, os pais tentam despertar o seu pequeno ou a sua pequena. Contudo não é uma tarefa fácil. Para isso, quando eles forem para o mercado da cidade, querem comprar alguns objetos que façam barulho para tirar a criança diariamente do sono. Entre esses objetos, estão o galo, o sininho, o despertador, o relógio cuco, a ovelhinha e o rádio. E não é que os pais esqueceram de levar dinheiro junto no mercado e, por fim, tiveram que fazer todos os sons sozinhos para despertá-la?

Facilmente, a canção virou também uma brincadeira de roda e, por que não, uma dança? Nela, além de cantar, podemos imitar cada um dos objetos e, ao fim, com certeza, estarão todos bem acordados prontos para começar o dia!

E você? Lembrou de alguma canção da sua infância? Mande para nós um comentário!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e participe conosco desse divertido encontro com as melodias das crianças.

11.04.2023 - Pankower Dreier

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11.04.2023 - Pankower Dreier: uma dança de família?

Ao falarmos da dança “Pankower Dreier”, podemos discorrer várias linhas sobre a diversidade e a beleza do bairro de Pankow, ao norte de Berlim, sem esquecer os fatos históricos que remetem à região. Podemos citar também a sua origem eslava, o que é possível verificar pelo seu nome, através do sufixo “-ow”.

Mas por trás desta dança, está a história de uma família. É no distrito de Pankow que residem Horst e Edith Feurich, assim como Oliver e Claudia Schier, nascida Feurich. Os quatro têm uma longa história com as Volkstänze.

Horst dança desde jovem. Ele foi e é responsável pela coordenação de diferentes grupos. Foi no meio dos amantes das Volkstänze que ele conheceu sua esposa Edith há quase 50 anos. Mas não bastou o hobby ser compartilhado pelo casal: passou para a geração seguinte. Desde a tenra infância a filha Claudia os acompanha nesta paixão. E não ficou por aí, já que quando adulta influenciou o esposo Oliver a seguir os mesmos passos (e olha que ele gostava mais era das danças de salão).

Hoje, esses quatro moradores de Pankow dançam no Berliner Volkstanzkreis (falamos sobre o grupo na publicação de 07.03.2023, da “Schönholzer Mazurka”). Este foi fundado em 1946 por Erich Krause e que Horst coordena há vários anos com sucesso.

A música é muito importante para essa família e, por isso, tiveram a ideia de eles mesmos compor e coreografar algumas danças. Foi assim que surgiu seu primeiro CD, o “Pankower Tanzreigen”. Especialmente a “Pankower Dreier” teve a música composta por Claudia Schier e a coreografia escrita por seu pai Horst Feurich, em homenagem ao distrito onde moram.

Conforme eles mesmo dizem: “Esperamos sinceramente que essas danças sejam apreciadas e distribuídas em muitos grupos (não apenas em Berlim)”. Quem diria que suas danças chegariam até o Brasil!

Portanto: Viel Spaß beim Tanzen!

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo sobre Pankow em Berlim: https://www.youtube.com/watch?v=KI1k236gKto

10.04.2023 - Zigeunerpolka

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10.04.2023 - A “Zigeunerpolka” é a Polca dos Ciganos?

No passar da história muitas comunidades foram marginalizadas. Os romani são parte deles. Também conhecidos por “ciganos”, esse termo não é reconhecido como sinônimo pelo povo “roma” e “sinti”, pois ele é pejorativo, com sentido negativo. Não é diferente com a expressão alemã “Zigeuner”. Mas se eles eram mal vistos, por qual motivo há tantas músicas que os destacam positivamente?

Dentro das comunidades de língua alemã sobrevivem ainda hoje muitas melodias associadas aos “roma”, como a “Zigeuner Lied”, “Spiel zigeuner”, “Lustig ist das Zigeunerleben”, “Die Zigeunerfrieda”, “Er War Nur Ein Armer Zigeuner”, “Zigeunerpolka”, entre outras. E um dado interessante: mesmo havendo preconceito com seus membros, nessas músicas eles foram muitas vezes retratados como pessoas alegres e livres. Uma das hipóteses para isso é o saudosismo, na segunda metade do século XIX e início do XX, de querer voltar ao período pré-industrial, antes das fábricas tomarem conta das cidades. Assim, os “ciganos”, nômades e desvinculados das regras locais, eram vistos como uma fuga da pressão e do trabalho repetitivo. De toda forma, isso não os poupava de serem maltratados.

A “Zigeunerpolka” é atribuída à antiga Boêmia, local de origem de muitos romani. Não por acaso, em alguns lugares “boêmio” era sinônimo de “cigano”. Mas essa dança não tem origem roma: ela faz parte das “Klatschtänze” dos alemães dos Sudetos. Provavelmente por ter em sua terceira parte a troca de pares de modo descontraído, saindo do seu local para ir ao encontro de outros dançarinos, ela acabou sendo comparada à vida nômade. Suas variantes receberam distintos nomes, como, por exemplo, “Platschletanz” ou “Der Plotschtanz” - a “Dança das Palmas”.

Segundo a revista Spiegel, na atualidade residem na Europa cerca de 12 milhões de roma e sinti. No pós-guerra muitos vieram para atender às ofertas de trabalho, devido à escassez de mão de obra. Na Alemanha eles têm direito por lei de "preservar suas tradições e sua herança cultural", por mais que ainda sintam-se discriminados.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e https://www.youtube.com/watch?v=I8ZNbAhLKuA

09.04.2023 - Sorbische Osterbräuche

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09.04.2023 - Seria a “Sorbische Osterbräuche” a dança da Páscoa?

A “Sorbische Osterbräuche” reúne em sua coreografia diferentes danças e costumes da Páscoa do povo Sorábio, organizados em três grandes momentos.

No primeiro, é representada a antiga e bela tradição de enfeitar os ovos de Páscoa, o “Ostereier verzieren”. Hoje, diversas regiões ainda preservam esse costume. Viu-se no ovo o símbolo da origem de toda a vida na Terra. É com satisfação que os Sorábios podem afirmar que a decoração deles na Páscoa está consolidada em seu povo, enraizada e bastante difundida. Com habilidade incomum e imaginação vívida, crianças e adultos criam objetos artísticos com a ajuda de ornamentos, símbolos e cores antigas.

Já o segundo momento representa a busca da água da Páscoa: “Osterwasserholen”. Não apenas entre os Sorábios, mas em várias outras regiões, as meninas vão ao rio ou à lagoa da aldeia antes do nascer do sol e enchem uma jarra com água. Esse líquido tem poderes mágicos: traz beleza e saúde, protege contra doenças e não estraga. No entanto, não se pode fazer barulho para buscar a água de Páscoa: deve-se ir e voltar em silêncio, senão ela perderá seu poder miraculoso. Porém, os rapazes da localidade esperam escondidos equipados com chocalhos e latas, prontos para assustar as moças.

Por fim, o terceiro momento apresenta a brincadeira chamada “Waleien”. Em muitas aldeias, é cavado um buraco de até 1,5 m de largura por cerca de 3 m de comprimento, com aproximadamente 30 a 40 cm de profundidade. Um jogador coloca seu ovo de Páscoa na cova. O seguinte deve tentar acertar o ovo que está lá, jogando o seu próprio. Se ele não acertar, os dois ovos ficam na cova e é a vez do próximo jogador. Mas, se ele acertar, pode ficar com os dois, ou também ganha uma moeda ou um doce.

De geração em geração, esses costumes são passados de pai para filho em todas as comunidades de Sorábios nos estados de Brandemburgo e da Saxônia, no leste da Alemanha. E, através desta coreografia, eles apresentam de forma dinâmica e cativante detalhes tão ricos sobre seus costumes e suas tradições.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz  , https://youtu.be/s6EyOa4xmro  e https://youtu.be/AR7_edsX0_Q

08.04.2023 - La Varsovienne

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08.04.2023 - Seria a La Varsovienne a dança da sogra?

Na cultura popular, a sogra é vista muitas vezes como um peso a ser carregado. Com isso, a palavra acabou adquirindo sentido pejorativo. Há uma frase em alemão que diz: “Die Schwiegermutter im Haus macht den Frieden gar aus” / “ter a sogra em casa, acaba de vez com a paz”.

Mas o que a pobrezinha fez dessa vez para estar aqui? Para entender como a sogra veio parar nessa história, precisamos voltar para a primeira metade do século XIX, quando a mazurca chegou aos salões de bailes franceses vinda da Polônia. Foi após esse período que o ritmo ganhou o mundo, recebendo também suas variações regionais por onde passava.

Em todas as regiões, nas quais essa dança se enraizou, ela foi enriquecida com elementos coreográficos tradicionais locais. A versão de “La Varsovienne” encontrada na Alsácia é dançada em pares e é seguida por uma valsa lenta contrastante. Aqui, foram inventados também alguns versos para auxiliar na marcação do ritmo do passo da mazurca.

É aí que a sogra entra nessa história. Os moradores de Robertsau, ao norte de Estrasburgo, foram muito criativos e, no dialeto alemão local, criaram versos reclamando da sogra que não conseguia mais fazer bons bolinhos de tutano. E, caso soubessem que a velha viria a morrer, poderiam ter esperança de voltar a ter bons “Màrikknopfle”.

Parece absurda a relação entre esse texto e uma dança tão bonita quanto “La Varsovienne”, mas precisamos lembrar de que os versos nada mais são do que apenas uma ajuda para fazer a marcação da mazurka. Ou seja, não estão reclamando da sogra, estão apenas treinando esse passo. Boa estratégia, não é?

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja também o Groupe d'Arts et Traditions Populaires de Kuttolsheim https://youtu.be/ULjT5UvD6bg e o L'ensemble de traditions populaires Barberousse https://youtu.be/MXdUEUfP1kE com essa dança.

07.04.2023 - Schwerttanz

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07.04.2023 - Na Dança das Espadas, Schwerttanz, o cavaleiro ressuscita?

Se alguém fizesse rituais de ressurreição na Alemanha cristianizada, provavelmente pararia na fogueira ou seria excomungado.Na verdade, muitas “Schwerttanz” trazem, sim, representações da subida dos falecidos ao céu, como a ascensão do espírito merecedor. Mas de quando vem essa tradição? É uma coreografia antiga?

É muito difícil descrever uma “regra geral” para as danças de espadas. Majoritariamente masculinas, há muitos registros sobre elas em textos, imagens e ícones medievais. Estudiosos das Volkstänze apontam que elas se pareciam muito com cultos ou cerimônias, não sendo teatralizações de lutas ou treinos. E grande parte das Schwerttänze da atualidade viriam de reconstruções de relatos do passado, o que não garantiria total fidelidade coreográfica, sonora e simbólica.

Podem ter a participação de bufões, ora interpretando os espectadores - que perplexos e inocentes viam o “ritual”-; ora fazendo brincadeiras e sátiras junto ao público. Na Floresta da Boêmia, por exemplo, o Edlesbluat, como era chamado, usava roupas coloridas, chapéu pontudo, máscara com uma “larva” no nariz e, representando a espada dos demais participantes, uma grande linguiça. Nas versões suábias, pode se ver também esses personagens com máscaras de madeira, esculpidas à mão, vindas de tradições milenares. Outras fontes ligam esses palhaços à forma irônica que interpretavam os mouriscos.

De toda forma, mesmo que com diferentes origens e estilos, a Schwerttanz chama a atenção tanto pelas espadas como, na maior parte das coreografias, pela formação da estrela, feita do cruzamento das peças de metal. É com ela que o personagem “falecido” é erguido, como que seu espírito valente subisse ao céu.

O que, em um primeiro momento, poderia ser interpretado como violência armada, mostra uma comunidade cheia de esperança e mantenedora de seus valores. Mais do que palmas dos espectadores, os muitos intérpretes desta dança buscam reformar antigas tradições e dar visibilidade às culturas locais.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz  e veja uma Schwerttanz em https://www.youtube.com/watch?v=jO2Dg2aljgc

06.04.2023 -  Sauerländer Quadrille

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06.04.2023 - Prontos para a Sauerländer Quadrille? Ou seria Neheimer Quadrille?

Internacionalmente, a “Quadrilha do Sauerland” é bastante conhecida, especialmente de número 4 e 5. Informações apontam que elas são dançadas também por grupos no Brasil e nos Estados Unidos. Por muito tempo, acreditava-se, inclusive, que existiam registros apenas da quarta e da quinta partes. Contudo, em Neheim, local de origem desta dança, podemos conhecê-la completa.

Lá, a propósito, ela é chamada de “Neheimer Quadrille”. É importante observar que esta é uma localidade dentro de Arnsberg, na área do Sauerland, no estado de Nordrhein-Westfalen. Quando ela foi registrada no livro de danças da Westfália, ela foi denominada “Sauerländer Quadrille”, por ser conhecida em toda esta região. Porém, os moradores de Neheim a reivindicaram, pois é uma quadrilha de lá e, por isso, que mantivesse o nome do local de origem.

Antigamente, a “Quadrilha de Neheim”, em suas cinco partes, era elemento presente nas festas das Sociedades de Tiro locais. Geralmente, os pares se encontravam no salão da prefeitura para dançá-la. Na época, as músicas modernas não eram muito bem vindas. Em seu lugar, eram frequentemente feitos o Rheinländer, a Polca, a Valsa e, claro, a “Quadrilha de Neheim”.

Após a Segunda Guerra Mundial, no ano de 1955, a juventude da Sociedade de Tiro de Neheim ensaiou essa tradicional quadrilha. Assim, no dia de sua festa, a banda tocou a música ao vivo e os jovens dançaram-na. A empolgação foi tão grande que, desde então, ela voltou a fazer parte da programação oficial do evento.

Atualmente, todos os anos, as Sociedades de Tiro promovem ensaios específicos para a execução da “Neheimer Quadrille” em seu evento. Para isso, são feitos cartazes convidando as pessoas para relembrá-la ou aprendê-la e, assim, em conjunto, executarem-na com perfeição. A preparação inicia já muitos meses antes, proporcionando a todos muita alegria e diversão.

E então? Vamos nos preparar para a Neheimer Quadrille?

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e conheça as várias partes da Neheimer Quadrille em https://www.youtube.com/watch?v=9mRe_k0nXQE ou veja a de nº. 5 em https://www.youtube.com/watch?v=3Mjuznne9Vs

05.04.2023 - 44 Hühner und 1 Hahn

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05.04.2023 - Na “44 Hühner und 1 Hahn”, tem o número de aves de um galinheiro?

Ter um galinheiro não é coisa do passado. Com a vinda da Pandemia do Covid19, que teve força no ocidente entre 2020 e 2022, muitos alemães buscando a autossuficiência alimentar passaram a criar frangos em casa. Ovos e carne são os dois pontos que mais interessam aos proprietários. Mas diferente de antigamente, os donos de hoje querem facilidades e comodidade, o que não combina com a avicultura. De toda forma, para quem quer ter seu criadouro caseiro, qual a proporção de galinhas para um galo?

Há uma música da região de Kuhländchen, na Morávia do Norte - na Boêmia de língua alemã, atualmente República Tcheca -, que tem em sua letra uma sugestão: quarenta e quatro (44) galinhas e um (1) galo. Em dialeto ela diz “44 Hiener onn a Hohn / san mr kaner liver als mei Mon.”; em português “44 galinhas e 1 galo / ninguém me era mais querido do que meu marido” - um versinho em que se pode perguntar “quem está se comparando com quem?”.

Essa dança é um Zwiefacher, uma composição que mescla mais de um ritmo e passos, geralmente intercalando partes binárias e ternárias curtas. Na “44 Hühner und 1 Hahn” há alternância entre 3/4, para valsa, e 2/4, para o giro, tendo ainda momento com polcas. Dentro de um esquema técnico sua sequência é DDWWDDWWWWPPPPDDWWWW, sendo os compassos “D” para Dreher, “W” para Walzer e “P” para Polka.

O que não se pode ter em um galinheiro são dois ou mais galos: eles brigam e podem se matar. Da mesma forma, provavelmente ter dois maridos em casa não parece uma opção muito amistosa… por mais que no ocidente um harém de 44 esposas também não - mesmo que fosse o sonho de alguns machões. Segundo fontes especializadas, uma boa proporção para ter alto índice de ovos “galados” é de um macho para doze fêmeas. De toda forma, nem sempre o objetivo é ter todos fecundados, tendo vários estéreis para consumo: uns fritos podem cair bem.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e veja outras danças do projeto. Veja essa música em https://www.youtube.com/watch?v=n9DA_gJRHYY

04.04.2023 - Walzquadrille

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04.04.2023 - Walzquadrille é um patrimônio cultural de Siebenbürgen?

Sobre a dança em Siebenbürgen, a professora Marie Luise Schuster escreveu o seguinte:

“é sempre a expressão da vitalidade. Ela é a alegria de estar presente. Muito antes de o homem aprender a formar palavras, ele dançou ao ritmo de sua natureza. Ele bateu os pés no chão, manifestando seu desprazer; ele elevou sua alegria aos céus de braços abertos; ele se humilhou, agachando-se pequeno diante da onipotência desconhecida; e, após uma longa seca, ajoelhou-se e implorou a misericórdia de uma chuva redentora.

Os indivíduos formam pares e os pares formam uma comunidade, na qual todos podem estar presentes. A forma e o conteúdo da dança podem mudar com o tempo, mas os princípios básicos permanecem.

Com o tempo, a dança popular desenvolveu-se em cada comunidade. Ela é ilimitada e livre, não sujeita a nenhuma outra lei senão a uma: estar viva no povo, representar o que todos sentem, apresentar o que é próprio do povo.”

Com essas palavras, a professora Marie Luise descreve a importância da dança para a identidade dos Siebenbürger Sachsen na Romênia. Ao mesmo tempo, suas palavras são também internacionais. Elas podem ser usadas para representar a vontade de cada indivíduo no mundo que vive.

“Walzquadrille” é uma dessas danças. A “quadrilha da valsa” é encontrada tanto na Alemanha, quanto em Siebenbürgen, na Romênia. Em sua música, podemos perceber a manifestação da alegria que Marie Luise destacou no texto acima. Também pode-se observar como cada um dos elementos da roda está em harmonia com os demais para que o movimento possa ser fluido e constante.

Quer saber mais? Veja o vídeo com o Siebenbürgische Jugendtanzgruppe Heilbronn em https://youtu.be/kFAmwpMqd24 .

03.04.2023 - Ditlumdei

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03.04.2023 - Teria a dança “Ditlumdei” origem irlandesa?

As canções da Westfália costumam trazer rimas divertidas que, muitas vezes, chegam até a ser irônicas. Um exemplo disso é o canto registrado em 1767 sob o nome “Westfälischer Volkstanz”:

“Se você passar por minha amada,

diga que enviei meus cumprimentos.

Se ela perguntar como estou,

diga: sobre ambos os pés.

Se ela perguntar se estou doente,

diga que eu morri.

Se ela começar a chorar,

diga que eu virei amanhã.”

É interessante ver como o rapaz brinca com o amor de sua amada. Porém, é possível perceber que ele, na verdade, está “jogando verde para colher maduro”, como se diria em português. Ou seja, se a moça ficar comovida com sua morte, significa que o jovem é importante e que ela o ama. Então, irá visitá-la.

Contudo, há um outro fato curioso sobre essa música: textos semelhantes também foram encontrados em outras regiões de língua alemã, como no Schaumburg-Lippe - Niedersachsen -, chamada de “Ditlumdei”. Em algumas publicações mais antigas, essa dança aparece como “Schottischer Triller”, que significa “O trinado escocês”, por causa da sua composição.

Agora mais interessante é saber que na Irlanda existe uma melodia parecida com a “Westfälischer Volkstanz”, conhecida como “The Rakes of Mellow”, registrada em 1741. As duas músicas, a alemã e a irlandesa, teriam uma relação direta, já que ambas são praticamente da mesma época? Como nos faltam registros, é difícil dizer que sim ou que não.

E por ser uma dança muito difundida, poderia, então, a “Ditlumdei” ter salvo o Barão de Münchhausen? Segundo a narrativa, em sua terceira aventura marítima, quando nadava no Mar Mediterrâneo, ele teria sido engolido por um enorme peixe. Para sair de dentro dele a solução foi dançar lá dentro um “Schottischer Triller”. Parece absurdo, todavia conseguimos imaginar esse famoso mentiroso da literatura contando essa história.

Mas vamos parar por aqui, já que esta não é mais uma das aventuras do Barão.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja a “Ditlumdei” em https://youtu.be/08NfVzdK5ko

02.04.2023 - Stodltürl

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02.04.2023 - Na Stodltürl a porta da cidade cai?

Em algumas localidades muradas, onde fortificações protegiam a população dos invasores, era comum terem portões levadiços. Os mais utilizados eram de metal ou madeira, que eram levantados e abaixados (estilo guilhotina) para controle dos acessos públicos. Um dado interessante é que uma dança do Egerland traz informações sobre essa defesa: a Stodltürl.

Em dialeto o nome quer dizer a “Porta da Cidade” ou “Portão da Cidade”, fazendo referências a essa barreira. Era tradicional que fossem fechadas em determinados horários, antes que anoitecesse. Quem não conseguia chegar a tempo precisava encontrar uma passagem secundária, geralmente pequena, de difícil alcance e controlada por algum comerciante de prestígio - se não por guardas.

No caso da Stodltürl, uma das muitas letras da canção diz aproximadamente assim: “Corra, menina, pule, menina, o portão da cidade vai “cair” (fechar), vai “cair”. / Se você tivesse corrido um pouco mais, você teria conseguido passar”. Segundo essa versão do texto, ela “ficou de fora”. E é interessante que na coreografia também haja uma menção ao fechamento da via: ao final de cada sequência todos os participantes batem duas vezes os pés, imitando o som da queda da porta levadiça.

O Egerland fica no lado tcheco da divisa entre a atual Alemanha e a República Tcheca. Lá existia, até o final da II Guerra Mundial, um destacado comércio e comunidades de língua alemã com grande prestígio. Elas mantinham suas tradições, canções, trajes, danças e dialeto. Assim, é compreensível que tivessem muitas cidades muradas, como de costume desde o medievo, o que se refletia igualmente em suas manifestações populares.

Hoje esses portões se mantêm vivos na memória dos descendentes de alemães do Egerland, não pelas edificações antigas ou passagens de pedra, mas pela diáspora de seus habitantes e proibição de retorno. Eles foram expulsos da região após 1945 e não puderam, por décadas, voltar para lá: era como se a porta de cada cidade tivesse caído. Tristes consequências da maior guerra que o mundo já presenciou.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz  e conheça essa e outras histórias.

01.04.2023 - Buske di Remmer

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01.04.2023 - Por que é preciso abrir o olho com esse “Buske di Remmer”?

Aqui, é difícil precisar o que é mais antigo, se a canção ou se a dança. Porém, o que se sabe é que ambas são longevas. Seu registro foi feito em 1691 pelo pastor Cadovius Müller na região de Ostfriesland. Em seu relato, ele nos apresenta algo muito interessante.

“Encontrei apenas uma antiga canção original da Frísia Oriental, a qual eu posso nomear como a única relíquia da antiga poesia da região. Aparentemente, não existe mais nenhuma outra canção original daqui além desta. Quão antiga ela é e quem a compôs, ninguém conseguiu me dizer. Mas todos foram unânimes em afirmar que ela era muito antiga, de tempos imemoráveis.”

Para essa única canção, os antigos Frísios Orientais também tinham uma única dança. Tanto os homens quanto as mulheres executavam sua coreografia, que exigia agilidade e vigor dos Frísios, fazendo-os até mesmo suar. Além disso, os dançarinos costumavam ser acompanhados por cantores, os quais ficavam em um círculo por fora.

Originalmente, é uma “Hirtenlied”, ou seja, uma canção de pastores. Em “Buske di Remmer”, “di Remmer”, significa “der Schäffer” - o pastor - e “Buske” é um nome próprio masculino.

Em seu texto, podemos conhecer um pouco mais de perto esse rapaz. Buske, o pastor, era um homem solteiro que estava noivo já há sete anos. E, quando esse tempo passou, ele ainda continuava só no noivado, ou seja, ele estava apenas enrolando sua amada.

As demais estrofes costumavam ser cantadas por mulheres, representando a enrolada-amada de Buske. Ela chegava a ameaçá-lo dizendo que ele a enganou e, caso ele não desse seu sim, ela morreria. Ao longo dos versos, diferentes animais são mencionados como testemunhas: o galo, o boi, o gato, o cachorro e o pombo, e a moça volta a repetir que, sem o “sim” do Buske di Remmer, ela vai acabar morrendo.

Agora, nos diga: mudou alguma coisa daquele tempo até hoje ou ainda existem “Buske di Remmer” por aí enrolando sua noiva? Você conhece alguém? Marca aí nos comentários (brincadeira!). Ou é mentira do “1º. de abril?”

Quer saber mais? Veja o vídeo do  Volkstanz- und Trachtengruppe des Heimatvereins Aurich: https://youtu.be/Q8G_tu3La7k .

31.03.2023 - Sautanz

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31.03.2023 - Sautanz é a dança do abate do porco?

Existe em muitas comunidades de língua alemã, inclusive no Brasil, festas que comemoram o abate do suíno para consumo. Trata-se do momento em que as pessoas se reúnem não só para matar o porco, mas para juntos prepararem diferentes pratos e produtos de origem animal. Normalmente é chamado de Schlachtfest, Schlachttag ou Schweineschlacht, mas há localidades que a denominam como “Sautanz”, a “Dança da Porca”.

Por mais que na atualidade haja uma grande discussão sobre a necessidade ou não do consumo de produtos de origem animal, o tema foi tratado como tabu até meados do século XX. Sem essa discussão, eram fortes os eventos comunitários ligados ao abate do porco e o motivo para isso era simples: não tendo refrigeração, o animal precisava ser morto, limpo e todas as partes processadas e distribuídas antes que estragasse. Desta forma, o trabalho coletivo garantia atender a todos os prazos e ainda os participantes levavam uma parte do que fizeram para casa. Costelas defumadas, linguiças, morcilha, bacon, banha,... mais de 40 produtos e subprodutos: havia o aproveitamento total do suíno. Além de evitar o desperdício, tratava-se de respeitar a vida que foi sacrificada para tornar-se alimento.

“Sau” é, no alemão gramatical, a porca que teve filhotes. É interessante que em alguns locais tenham chamado esse momento do abate de “Sautanz”, comparando o processo a uma dança. De toda forma, não se trataria de algo realmente estranho, já que na cultura popular era comum ter muitos adjetivos e expressões relacionadas aos porcos, como no português “porcaria” ou “porcalhada”; contudo, nem sempre o suíno tinha caráter negativo, podendo, por exemplo, ser relacionado a boa sorte e fartura.

Já a dança “Sautanz” não se pode precisar se o nome tem a mesma origem da festa. Ela faz parte de um conjunto de músicas e coreografias em que a primeira parte é em marcha e a segunda é em valsa. São elas a Neubayrische, Fieberbrunner, Tulfer Platscher, Kneiper, Jägermasch, entre outras, populares no sul da Alemanha e Áustria.

Quer saber mais?  https://www.culturaalema.com.br/tanz ou escute a Sautanz em https://www.youtube.com/watch?v=2NZlqaTQaWo

30.03.2023 - Mineth

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30.03.2023 - Mineth é um minueto só para os jovens “puros”?

Imitar os endinheirados não é novidade do presente. Era normal em muitas localidades europeias que os camponeses buscassem copiar hábitos e vestimentas dos seus “superiores”, que nas monarquias eram os nobres ou burgueses com títulos de nobreza. Não por acaso, sobreviveram dentre as danças típicas muitas coreografias que direta ou indiretamente trazem elementos da corte, como formações em quadrilhas - de quatro pares -, em fileiras, ou com cumprimentos mais empolados. A “Mineth”, da antiga Boêmia, é uma delas.

Na França do século XVII era símbolo da aristocracia as festas com minuetos, danças onde os participantes mal se tocavam; contudo, com movimentos graciosos e lentos podiam trocar olhares, uma possível abertura para futuros diálogos. Como os hábitos franceses, em especial os parisienses, acabavam se espalhando às demais cortes européias, os minuetos se difundiram para todos os cantos do velho mundo. E da mesma forma que alcançaram as cortes estrangeiras, igualmente foram imitados pela população camponesa.

Na área de língua alemã de Kuhländchen, chamada Kravařsko em tcheco e que fica na antiga Morávia do Norte, essa dança sobreviveu. Segundo alguns, ela conseguiu manter-se preservada frente ao tempo. Lá era chamada de “Mineth”, ou para os visitantes “Kuhländler Mineth”. Contam que essa música era especialmente executada por jovens “puros”, solteiros, nas festas da comunidade. Não casualmente, há registros de que esse resquício do minueto era apresentado nos anos de 1970 na Baviera. Eram moços e moças descendentes de alemães da Boêmia, que tinham o intuito de preservar tradições anteriores à diáspora pós Segunda Guerra Mundial.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/ e conheça narrativas sobre essa e outras danças típicas. Veja mais informações sobre o projeto do filme do Kuhländchen em https://petra-dombrowski.de/das-kuhlaendchen-2006/

29.03.2023 - Roda Mulin

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29.03.2023 - Na “Roda Mulin”, a roda do moinho não para de moer?

Existe uma canção em romanche, um dos quatro idiomas oficiais da Suíça, que fala da roda do moinho, que mói diferentes tipos de grãos. Ela gira continuamente, sendo conduzida pelas águas, que, depois, fazem a viagem até o mar e veem muitas coisas interessantes pelo caminho. Contudo, mesmo saudosa pelo trajeto que fará, se faz bonita e feliz em casa, na “Roda Mulin”.

Por toda a Europa, o tema dos moinhos está muito presente, pois foi fator fundamental na economia das comunidades: cada região ou vilarejo tinha sua moenda, na qual os grãos eram triturados. Era comum que os agricultores se agendassem para levar as sacas ao moleiro, para que esse tivesse tempo hábil para a entrega da farinha. Por esse motivo, é recorrente que as músicas que tratam desse tema falem, de alguma forma, que o moínho trabalhava de dia e de noite, para atender às demandas sazonais da comunidade. Isso não era diferente na Suíça.

Mas um fato é claro: as rodas d’água tem um fascínio especial, pois são destaques nas letras das canções e nos títulos das danças - como se pode ver também na famosa “Mühlradl”, que se traduzido para o romanche seria igualmente “Roda Mulin”. Seja pelo som relaxante dela, seja pelo movimento hipnotizante do seu girar, seja pelo cenário natural onde está incluída: ela está presente ainda hoje no imaginário da comunidade quando se fala de antigos costumes e tradições.

Reto Cantieni e Bruno Brodt, da Kapelle Grischuna, escreveram essa valsa. Foi coreografada por Astrid Baumgartner e Marco Murbach, do Volkstanzgruppe Engiadina St. Moritz, que adicionaram as figuras apropriadas à melodia. Essa se tornou a dança mais executada por este grupo.

E um dado interessante: O Volkstanzgruppe Engiadina St. Moritz mantém um costume que raramente é visto em outros lugares e que só existe na Engadine: o Schlitteda. Mas o que é isso? No inverno, os solteiros “fogem de casa” por um dia para juntos realizarem um peculiar passeio de trenó. Como essa “escapada” é feita com trajes típicos, cria um maravilhoso contraste do vermelho brilhante das vestimentas com a neve branca e o céu azul. Sorte que os moinhos geralmente estão de folga nessa estação do ano; caso contrário, teria pouca gente para fazê-lo funcionar nesse momento especial.

Quer saber mais? Veja a dança no link https://www.youtube.com/watch?v=j0kiL5hrxbA

28.03.2023 - Tschikago

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28.03.2023 - Tschikago vem de Chicago, nos EUA?

Ficção ou realidade? Ela teria entrado nas tradições tirolesas vinda com imigrantes dos EUA? Para entender melhor a “Tschikago”, é necessário conhecer um pouco sobre os ciclos migratórios das comunidades de língua alemã e o imaginário de quem ficou na Europa.

Na segunda metade do século XIX e primeira do XX, muitos europeus partiram para as américas na busca de uma vida melhor. A “terra prometida” daquele período era os Estados Unidos da América, uma democracia independente que se mostrava de braços abertos aos viajantes. O transporte marítimo para chegar ao “sonho americano” saía de grandes cidades portuárias e ia parando em outras nações europeias, buscando a maior lotação possível. Era um negócio bastante lucrativo, que tinha viagens regulares. A imagem da Estátua da Liberdade recebendo os imigrantes (a partir de 1886) se tornou propaganda pró emigração. De toda forma, como em todas as grandes empreitadas, muitos acabavam voltando para sua terra natal.

Assim, a “Tschikago” veio com uma pessoa que retornou de lá? Improvável, já que a música e a dança não combinam em nada com tradições norte-americanas. É como se fosse feito um teste de DNA nela e o resultado desse uma paridade de 98% com outro pai. Por mais que a “Sternpolka” seja um dos casos onde esse movimento de retorno de coreografias à Heimat existiu, a “Tschikago” não seria um exemplo disso. Na verdade, ela é atribuída à Florutz (Fierozzo em italiano), no vale do Fersen, no Südtirol, Itália. De toda forma, o nome faz sim referência à maior cidade do Illinois, Chicago.

Como em meio às Volkstänze há muitas histórias sem comprovação passadas oralmente, que são contadas e recontadas, muitas vezes mais bonitas do que a própria realidade, fica o direito dos ouvintes de acreditar ou não nelas. Como acontece também nos exames de DNA, há no mundo das danças “famílias” que preferem viver sem saber o resultado do teste, pois o amor que une é maior do que a consanguinidade.

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e conheça essas e outras histórias. E veja a dança no link https://www.youtube.com/watch?v=QSzq1Lc7L-k

27.03.2023 -  Panitschenschoh

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27.03.2023 - De quem são os Panitschenschoh?

Entre os costumes pomeranos, encontramos também algumas danças executadas apenas por mulheres. Uma delas é a “Panitschenschoh”. Ela surgiu de uma brincadeira e era conhecida na Ilha de Rügen, nas regiões próximas a Franzburg e Grimmen e também na Cassúbia.

Na brincadeira, duas moças se agachavam frente e a frente, prendiam a saia de trás para a frente no meio das pernas e travavam uma discussão de perguntas e respostas. Geralmente, elas ficavam longe uma da outra e a conversa era aos gritos:

Você viu o meu marido?

Sim!

Onde ele estava?

No mercado!

O que ele estava fazendo?

Comprando sapatos!

Quais sapatos?

Panitschenschoh!

E com o anúncio dos “Panitschenschoh”, elas trocavam de lado, aos saltos, ainda agachadas e batendo palmas, e voltavam novamente para o seu lugar, iniciando a dança novamente.

Mas o que são esses “Panitschenschoh”?

Acredita-se que essa palavra tenha origem eslava, levando-se em consideração a presença dessa comunidade na região. Em polonês antigo, “Panitsch” é a designação “panic” que significa “jovem senhor”, um rapaz rico. E, na época, os “jovens senhores” tinham tudo do bom e do melhor. Então, com certeza, os sapatos eram de um material de alta qualidade, pois eram calçados de uma pessoa endinheirada. Por isso, as mulheres ficavam tão felizes e comemoravam batendo palmas ao ser dito “Panitschenschoh”.

Na Cassúbia, também era encontrado um texto semelhante para a dança:

Você viu o meu marido?

Oh sim!

Onde ele estava?

Na taberna.

O que ele estava fazendo?

Ele tomava uma cachacinha.

O que ele estava vestindo?

Um casaquinho vermelho.

Ah! Esse era o meu querido marido, que estava vestindo um casaquinho vermelho!

Existem também versões nas quais as conversas eram bastante longas, pois as moças descreviam cada peça de roupa que o rapaz estava usando e, por fim, era dito o tão esperado “Panitschenschoh”!

São danças que representam divertidas brincadeiras e costumes que os pomeranos conheciam e executavam em suas festas e em seu tempo livre.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e conheça essa e outras danças típicas.

26.03.2023 - Wattentaler Masolka

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26.03.2023 - Wattentaler Masolka é uma mazurca sem mazurca?

No Tirol, no vale do Watten, um ritmo se popularizou durante o século XIX: a mazurca. Na verdade, ela veio do leste europeu e tomou os salões de dança da Europa ocidental, sendo as festas francesas um propulsor dessa moda. Contudo, como todo o “telefone sem fio”, onde uma informação inicia contada de uma forma e termina como outra, essa tradição musical chegou às áreas tirolesas diferente de como saiu das polonesas e tchecas.

Começando pelo termo, “Masolka”, que quer dizer “mazurca” em dialeto do Tirol, as características locais foram se fazendo mais presentes do que a própria tendência internacional original. No modo austríaco, por exemplo, vê-se a marcação rítmica mais sutil, velocidade mais rápida, movimentos menos intensos,… e nessa dança em específico a própria posição convencional da “Mazurka” não é utilizada.

São por esses motivos que a “Wattentaler Masolka” é muitas vezes identificada como uma “Ländler”. Devido à estrutura tradicional da mazurca ter sido alterada, ela acabou também renomeada, explicada simplesmente como “três passos caminhados curtos”, que encaixam no ritmo ternário. É interessante que em algumas descrições desta dança há a observação explícita de que não se deve fazer o passo de valsa no decorrer das figuras. Só faltava claramente destacar que não se pode fazer o “Mazurkaschritt”.

Quer saber mais? Veja o vídeo dela com o Arbeitsgemeinschaft Volkstanz Südtirol em https://www.youtube.com/watch?v=XwxiWKUYlyo

25.03.2023 - Herzdame

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25.03.2023 - Herzdame: a dança da Rainha de Copas?

Em português, “Herzdame” significa “Dama de Copas” ou “Rainha de Copas”. Agora, nos resta saber se é a personagem do baralho de cartas tradicional ou a déspota do livro “As Aventuras de Alice no País das Maravilhas”, do inglês Lewis Caroll.

As duas são muito famosas e a frase mais conhecida de uma delas é, com certeza: “Cortem as cabeças!”. Porém, poucos sabem que, no jogo de baralho francês (o tipo mais popular no Brasil), a Rainha de Copas se refere a uma outra pessoa: a personagem bíblica Judite.

O que a “Judith”, em alemão, bíblica e a personagem “Herzdame” têm em comum? Cortar cabeças! Isso mesmo. Ela é vista como uma das salvadoras do povo Judeu. Em certa ocasião, Judite, moradora de Betúlia, na Judéia, foi responsável pela decapitação do general grego Holofernes para poder salvar seus pares que estavam sob domínio helênico e ameaçados de não poderem seguir suas crenças. Especialmente durante o Chanucá, as proezas dessa filha do povo de Israel são relembradas, cujos pensamentos e atos só tinham um objetivo: atender aos israelitas e ao seu Deus.

Possivelmente, esta dança não tem o objetivo de retratar a história de Judite ou da Rainha de Copas de Alice. Em sua melodia, podemos perceber elementos dos séculos XVII e XVIII. Talvez o nome seja referência a alguma outra monarca. Composta e coreografada pelo alemão Karl Lorenz em 1948, o autor queria criar danças „…wo die Musik die Tänzer führt”, ou seja, “em que a música conduz o dançarino”.

Independente de qual rainha esteja representada na dança “Herzdame”, o autor conseguiu realizar uma bela obra que atinge os seus objetivos: as variações na música realmente conduzem os dançarinos. Agora é portar-se bem para manter sua cabeça em segurança.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e conheça outras danças e narrativas relacionadas a elas.

24.03.2023 - s’Bölchegschpängscht

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24.03.2023 - s’Bölchegschpängscht liga dança, autopista e uma fantasma?

Um hábito bastante comum na Suíça é pessoas pedindo carona à beira de estradas e é igualmente normal os motoristas acolherem esses caroneiros. Assim, o indivíduo ao volante faz um conjunto de perguntas e eles seguem viagem, tendo uma boa companhia para conversar. Contudo, contam que nem sempre esse processo termina bem… podendo trazer um grande susto.

No outono de 1983, duas jovens estudantes dirigiam pela autoestrada suíça de Basel para a HESO, a Feira de Outono em Solothurn. Pouco antes do Túnel Belchen, uma moça vestida de branco estava no acostamento pedindo carona.

Elas pararam e prontamente deixaram-na entrar no veículo - uma delas até abriu a porta para ela embarcar - e saíram conversando. Por ela estar muito pálida, a motorista perguntou à caroneira se ela estava bem. "Está tudo bem", respondeu. De repente, enquanto passavam pelo túnel, não ouviram mais a voz da mulher de branco. Ao olharem para trás, tiveram uma surpresa: ela desapareceu!

Outros motoristas sentiram o mesmo susto que essas duas jovens. A “mulher de vestido branco” aparece recorrentemente nas histórias contadas na região, deixando condutores apavorados. Mas quem é ela? Existem muitas teorias sobre sua identidade e por qual motivo ela aparece nesse local. Na verdade, desde o século XV há inúmeros registros de fantasmas com características similares a este do Túnel Belchen, e há quem diga que existem muitas “primas” dela espalhadas por toda a Europa.

Com base nesse mistério, Urs Mangold, diretor do Oberbaselbieter Ländlerkapelle, dedicou uma peça musical a este evento e Annelies Aenis criou uma dança para ele: “ds Bölchegschpängscht” (O Fantasma de Belchen).

Não se sabe se os dançarinos desta coreografia já viram a figura branca dançando. Mas às vezes, sem causar desconfiança, quando um casal passa pela formação do túnel, aparece um som suave de “huhuuuu”... que pode ser o prenúncio de um susto.

Veja o vídeo da s’Bölchegschpängscht em https://www.youtube.com/watch?v=ks4jy-YIjus ou veja o vídeo que conta outras histórias dessa Mulher de Branco em https://www.youtube.com/watch?v=WRrVlWiCknQ .

23.03.2023 - Das große Gerenne

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23.03.2023 - Das große Gerenne seria a dança da corrida?
“Das große Gerenne” significa nada mais do que “a grande corrida” ou “o grande corre-corre”. Seu nome surgiu por causa da “correria” que inicia a dança. Mas o mais interessante por trás dela não está em como ela se chama ou em sua coreografia, mas sim nas pessoas que a criaram.
Fazendo parte das novas danças alemãs (neue deutsche Tänze), a música foi composta por Martin Ströfer e a coreografia foi escrita por Helma Boltze.
Martin Ströfer teve seu primeiro contato com a dança típica em Berlim e, depois, em Hamburgo. Além de tocar instrumentos, em 1958, ele descobriu que sabia compor músicas. Com isso, surgiram as melodias da “Großes Triolett” e muitas outras como “Kieler Sprotten” e “Das große Gerenne”.
Helma Boltze e seu marido Peter Boltze, moradores de Hamburgo, são responsáveis pela criação de diversas danças no círculo de trabalho Nordheide, no estado de Niedersachsen. Entre suas coreografias, são conhecidas “Kieler Sprotten” e “Blumenpromenade”.
São pessoas que, apesar da correria diária, dedicam o seu tempo para a criação de novas danças que mantêm características das tradições populares. É a herança cultural sobrevivendo através de ações um tanto individuais.

22.03.2023 - Nickeltanz

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22.03.2023 - Nickeltanz é uma dança de pescadores ou de um ser aquático?
A “Nickeltanz” foi registrada pela primeira vez pelo professor Reinhard Leibrand em 1928, após recolher diversas danças nas aldeias de pescadores da península de Samland, na Prússia Oriental.
Segundo ele, nas próprias danças, é possível reconhecer sua origem. Nelas, estão entrelaçados o mar, o vento e a vela, e elas refletem a geografia e os habitantes da região: plano, vasto, aberto, ligado ao chão e impregnado de jovialidade. No caso da “Nickeltanz”, os movimentos de torres na segunda parte da mesma representam os movimentos das ondas do mar Báltico (Ostsee).
Posteriormente, o professor Herbert Oetke observou que a descrição feita sobre como o passo de caminhar deveria ser executado, lembra muito a forma de andar dos próprios pescadores, uma vez que, dentro da água, para que seus pés não afundassem na areia durante seu deslocamento, eles precisavam praticamente deslizar os pés no chão, sem afastá-los muito do solo, garantindo, assim, um movimento mais ágil e seguro. Além disso, ele destacou que “Nickel” seria uma abreviação no nome “Nicolaus”. Porém, se acreditarmos em antigos relatos, o nome também pode estar relacionado a “Neck”, antiga denominação germânica dado a um ser aquático.
Presente na mitologia nórdica, o “Neck” ou “Nix” é um espírito aquático extremamente temperamental: ora conduz os peixes às redes dos pescadores, ora vira os seus barcos e os afoga nas águas geladas. Em algumas narrativas, ele é acusado de causar o afogamento de crianças e, por isso, serve como ameaça dos pais para assustar as crianças para não irem sozinhas para a água.
Voltando à pergunta inicial, Nickeltanz é uma dança de pescadores que traz elementos do trabalho desses homens (as ondas do mar e o seu jeito de caminhar) e leva o nome do personagem da mitologia nórdica, o “Nix”, responsável tanto pelo sucesso quanto pelo fracasso das pescas diárias.
Quer saber mais? Veja De Kensbarga Spêllait em versão “tecno” da Nickeltanz em
https://youtu.be/HKKNAptBPEg

21.03.2023 - Waldhansl

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21.03.2023 - Waldhansl tem Gstanzl, Jodler e Paschen?

Nos Alpes e no seu entorno há um tipo de dança com estilo único no mundo, com composição que soma coreografias, “Gstanzl” “Paschen” e “Jodeln”. Esse conjunto pode ser visto com maestria na famosa “Waldhansl”, igualmente chamada de “Woidhansl”, uma variante da “Steirische Walzer”.

Nessa dança intercalam passos típicos, cânticos e palmas. A parte em que os homens entoam um conjunto de versinhos em dialeto, de 4 ou 8 versos, geralmente com temática camponesa, é conhecido como “Gstanzl”. Como é tradicional, essa parte ocorre quando os pares caminham, momento propício para ter fôlego para cantar.

Outra característica da “Waldhansl” é que junto a esse “Gstanzl” se somou um tipo simples de “Jodler”, um gorjeio alpino. Aqui ele é visto na segunda metade de cada frase musical, como pode ser visto em “I geh in Wald eini, i geh in Wald zua ... drei holli o holla rei holli o / I bin dem Waldhansl sei lustiger Bua, drei holio und schneid’s o”. Nessa forma de cântico, onde a letra tem sílabas fonéticas sem significado específico, traz oscilações de notas graves e agudas, podendo fazer uso de falsete. Depois de cantarem, realizam a percussão através de uma típica formação com palmas.

O “Paschen” poderia ser simplesmente traduzido como “bater palmas”, um sinônimo de “Klatschen”; contudo, nas danças alpinas ele é bem mais do que isso: majoritariamente masculinas, são seqüências ritmadas, alternando a força das batidas, a velocidade, a posição e o modo de espalmar as mãos, gerando som diferenciados. Nessa verdadeira brincadeira musical, os homens interagem diretamente com a melodia: cada dançarino atua como um instrumento independente de percussão. No Salzkammergut, região austríaca de onde dizem ter vindo a “Waldhansl”, o “Paschen” tornou-se uma verdadeira arte.

Para alguns, essa dança é uma das mais antigas manifestações típicas alpinas, uma verdadeira coletânea cultural em um só título. Fontes relacionam a melodia à também popular “Ja mir san die lustigen Hammerschmiedgselln”.

Quer saber mais? Veja a dança com o Altausseer Volkstanzgruppe: https://www.youtube.com/watch?v=8bfJLDp2sRc

20.03.2023 - Bleamerl

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20.03.2023 - Uma Bleamerl é um Girassol?

O girassol, em dialetos, é o “Sonnabluama”, como no sul da Alemanha, e  “Sünnros”, como no norte. No Hochdeutsch é a “Sonnenblume” ou “Sonnenrose”. Já a expressão “Blumerl” ou “Bleamerl” é ligada a flores em geral, como “Blümen”, “Blümelein” ou “Blümchen”. Mas devido a uma canção algumas pessoas passaram a encará-las como sinônimas.

Os campos de girassóis são símbolos do retorno do calor, como acontece na primavera e principalmente no verão. O seu amarelo vibrante remete à alegria, à vivacidade e à energia vital, já que é uma flor que se orienta em direção à luz do astro rei. Por esse motivo, a “Helianthus annuus”, seu nome científico, não só inspirou obras de artes, como um conjunto de tradições populares.

A dança “Bleamerl” é uma dessas manifestações coletivas inspiradas no girassol e sua origem é atribuída à Floresta da Baviera, mais especificamente ao distrito de Cham, onde esses campos amarelos podem ser vistos plenamente floridos. Com coreografia simples, com estrutura similar a do Siebenschristt, a ligação dela com a flor se encontra mesmo é no cântico: “O du liabe Sonnabluama, du bist mir ins Herz nei kumma. / Du liegst mir im Herzen drin, wie der Kern im Kümmerling!” Ela quer dizer, em tradução livre, "Oh querido girassol, tu entraste no meu coração / Você está dentro do meu coração, como o caroço no licor!" Essa última frase é interessante, pois a semente da fruta neste contexto teria o sentido de "dar sabor", já que garantiria que o fruto estaria desmanchado integralmente na bebida, só ficando o caroço à mostra. Outra explicação viria de Erlangen, relacionado a conservas de pepinos.

Essa flor inconfundível, originária da América, se espalhou por outros países e continentes levados pelos viajantes através dos séculos. Inclusive, um dos atrativos turísticos no Estado do qual Munique é a capital, é a colheita individual de flores diretamente nos campos floridos. A prática é conhecida como "Blumen zum Selbstschneiden" - um self service de floral.

Quer saber mais? Veja também essa dança em https://www.youtube.com/watch?v=7qE7033N52w .

19.03.2023 - Dree dag

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19.03.2023 - Dree dag: quantos dias dura a festa de casamento pomerana?

Antigamente, em todo o norte da Alemanha, era comum que a festa de casamento durasse três dias. Isso mesmo, três dias. Na Pomerânia, não era diferente. A família dos noivos recebia os convidados durante esse período, dia e noite, em um ambiente repleto de muita alegria e festa, música e dança, bebida e comida.

Entre as danças presentes no casamento, estava a “Dree Dag”, que significa “três dias”, referência à duração desse festejo. E uma curiosidade: por mais que esperava-se que as comemorações das bodas fossem com alegria e satisfação, a letra da canção, que deu base à coreografia, apresenta uma queixa. Como assim? Uma reclamação? Veja o texto e tire suas conclusões:

Três dias, três dias, três dias divertidos.

Depois vem a eterna calamidade.

Então, falta mingau.

Então, falta farinha.

E um dia assim tão duro sempre retorna.

Três dias, três dias, três dias divertidos.

Depois vem a eterna calamidade.

Então, falta mingau.

Então, falta farinha.

Então, falta disso e daquilo e muito.

Três dias, três dias, três dias divertidos.

Depois vem a eterna calamidade.

Então, falta mingau.

Então, falta farinha.

Então, as crianças gritam: “Estamos morrendo de fome!”

Como é possível observar, nesta melodia popular pomerana, a família dos noivos reclama que são, sim, “três dias de muita alegria”, contudo seguidos de

fome e penúria: tiveram que gastar o que tinham (e o que não tinham) para dar de comer aos convidados e depois o que sobra é a escassez de alimentos.

Mas, segundo o professor Willi Schultz, os camponeses de Gützlaffshagen, na Ilha de Rügen, onde ele registrou a dança, choram de barriga cheia, pois, lá, eles vivem como se fossem pequenos reis em suas propriedades, não lhes faltando nada.

Quer ver mais? Veja também essa canção em Plattdeutsch, com Piatkowski & Rieck: https://youtu.be/WzAGRuKQhOc .

18.03.2023 - Oberab

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18.03.2023 - Oberab: uma dança que veio de cima pra baixo?

As danças tradicionais da área central da Floresta Negra, no atual estado de Baden-Württemberg, sul da Alemanha, eram geralmente chamadas de “Oberab” ou “Ober'ra”, o que significa algo como “de cima para baixo”. Como assim? Para entender esse conceito é preciso compreender um pouco da história dessa região.

Desde o século XV, existem registros de que lá, especialmente em Langenschiltach, existia a tradição de entretenimento com música e dança. Contudo, o clero, para preservar a moral e os bons costumes, quis trabalhar fortemente para a educação dos jovens, proibindo o bailado, com pena até de prisão para quem não seguisse a lei. Isso gerou muito descontentamento entre os moradores locais.

Para resolver a questão, os insatisfeitos redigiram um protesto, que foi apresentado ao Duque de Württemberg e este, por sua vez, deu a permissão para que os jovens dançassem. Assim, foi elaborado um decreto sobre o tema e enviado à Igreja. Entretanto, insatisfeitos, os pastores não cumpriram integralmente a decisão, voltando a gerar problemas aos amantes dos bailes.

Novamente, a juventude reagiu e fez o clero lembrar da existência do decreto, ou, em outras palavras, que tinham recebido “lá de cima”, ou seja, “von obera”, do Duque, a autorização para a realização das festas. De toda forma, foi necessária uma segunda reclamação formal para forçar a realização, a qualquer momento, de festas e bailes. Daí o nome de “Oberabtänze” para as danças da Floresta Negra.

A dança aqui apresentada com o nome de “Oberab” foi feita pelo Prof. Johannes Künzig em Langenschiltach no início da década de 1930. Devido a essa história das leis, muitos interpretam que os gestos feitos pelos rapazes na coreografia, que parecem ameaças, seriam uma pantomima representando esse protesto contra os atos do clero. Por outro lado, essa analogia parece ser um tanto duvidosa, mesmo que alguém diga que ela “vem de cima”.

Quer saber mais? Veja o AG Sing-Tanz-Spiel, de Baden-Württemberg, dançando a Oberab em https://youtu.be/R7255gCT6mE .

17.03.2023 - “la Fiorentina”

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17.03.2023 - “la Fiorentina”, kann man das essen? Oder ist es ein Restaurant?
Cla Genua (eigentlich Claudio Genua) wurde 1869 in Sent im Unterengadin in der Schweiz geboren. Seine Eltern arbeiteten in Pomarance in Italien (ca. 100 km südlich von Florenz), man weiss nicht mehr, ob als Zuckerbäcker oder als Kaufleute. Sie kamen regelmässig im Sommer ins Engadin zurück, waren also sogenannte “randulins”.
Der kleine Cla lernte bereits mit 5 Jahren Klarinette spielen und er soll bereits mit 14 Jahren an der Mailänder Scala aufgetreten sein. In seinen Sommerferien hörte Cla die Musikanten im Engadin, die ihn mit ihren Weisen begeisterten.
Als der Verein der Engadin-Auswanderer in Florenz am 21. Dezember 1912 ein grosses Konzert veranstalteten, da spielte Cla Genua mit Musikanten aus Sent zum Tanze auf.
Am Anfang des ersten Weltkriegs zog die Familie aus Italien zurück nach Sent. Cla begann dort, Musikschüler zu unterrichten, die zum Teil keine Noten lesen konnten. Hier im Unterengadin war keine klassische Musik gefragt sondern Volksmusik. Cla Genua notierte über 30 Tänze, die er wohl grösstenteils selber komponiert hatte.
Ob er mit “la Fiorentina” sein Heimweh an das Konzert im Jahr 1912 ausdrücken wollte oder wohl eher an eine begehrenswerte Dame aus Florenz?

16.03.2023 - Böhmischer

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16.03.2023 - A Böhmischer é uma dança da Boêmia?

Os nomes das danças geralmente estão ligadas a quatro possibilidades: 1. por representar uma história ou profissão; 2. pelo local de onde ela veio;  3. por ter características coreográficas que sejam relacionadas a uma região; 4. por descrever um movimento ou figura. Em qual desses casos a Böhmischer se enquadraria?

Provavelmente essa dança se encaixa em dois deles, ou quem sabe em “um e meio”. Vamos explicar: “Böhmischer” quer dizer “a boêmia”, de algo ou alguém que vem do antigo Reino da Boêmia, atual República Tcheca. O nome seria um diminutivo de “Böhmischer Landler”. A questão é que ela teria surgido na Alta Áustria - não na Boêmia -, em Helfenberg, no distrito de Rohrbach, o que justificaria uma outra denominação dela: “Mühlviertier Landler”. Por outro lado, essa área é muito próxima da fronteira, o que seria uma “quase” Böhmen. De toda forma, a coreografia e a música seguem uma tendência que está presente nos dois locais.

Então a “Böhmischer” não é realmente da Boêmia? Aqui se merece uma resposta relativa: nasceu no lado austríaco, mas ficou no coração dos boêmios das regiões vizinhas. Suas figuras características, somadas a uma certa teatralização, além de ter parte cantada, a fazem bonita e alegre. Pena que, com o tempo, ela acabou ficando restrita ao repertório de poucos grupos de danças.

Quer saber mais? Veja o vídeo da “Böhmischer” em https://www.youtube.com/watch?v=FX_SSMjjvIg com o nome de “Steirischer aus dem Böhmerwald”, como ela também ficou conhecida em alguns lugares.

15.03.2023 - Ringeltanz

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15.03.2023 - Ringeltanz: a dança dos giros ou a dança da galinha?

Ringeltanz é uma das danças preferidas durante as festividades do “Messti”, da típica quermesse da região da Alsácia. Seu nome vem da palavra “Messtag” e, em alemão, temos uma infinidade de termos para essa festividade que derivam das palavras “Kirchweih”, “Kirchmess” e “Kirchtag”. No sul do Brasil, conhecemos a festividade especialmente com o nome de “Kerb”, vocábulo também encontrado ainda hoje no dialeto falado no Saarland e em parte do Hunsrück.

Mas, e a dança? Pois bem, do final do século XVIII ao final do século XIX, na Alsácia, existia uma valsa mais lenta, possivelmente por alguma influência do “Ländler”. Mais tarde, foi acrescentado uma espécie de refrão a essa coreografia, trazendo figuras com giros. Foram exatamente esses volteios que deram o nome a ela, “Ringeltanz” ou “D´r Ringeldanz”. Como essa região fica entre a Alemanha e a França e, assim, recebe influências culturais dos dois países, se fala alemão, o dialeto Elsässisch e o francês, motivo pelo qual passou também a ser denominada “Valse Voltée”.

Um fato curioso: quando ela chegou aos grupos alemães no Brasil, observou-se que alguns achavam que seu nome significava “a dança da galinha”, pois, ao ouvir seu nome, entendiam “Ringel” como “Hinkel” - palavra no dialeto do Saarland para esse animal. Mas não vamos confundir: seja em alemão ou em francês, Ringeltanz ou Valse Voltée, essa é a dança dos giros!

Quer saber mais: https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o Groupe folklorique du Pays de Hanau de Bouxwiller com a D´r Ringeldanz” em https://youtu.be/emybOBz0UwY

14.03.2023 - Maclotte vun Habiemont

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14.03.2023 - Maclotte vun Habiemont: uma dança dos marinhos de Luxemburgo?

Mas, Luxemburgo nem fica no litoral! Como pode ter marinheiros? A história é um pouco mais longa e vamos por partes. As danças com o nome “Maclotte” e “Maklott” estão relacionadas às danças encontradas na Valônia, região sul da Bélgica, cujos habitantes são em parte falantes do francês e em parte falantes do alemão.

Cogita-se que, antigamente, existiam tantas “Maclottes” diferentes quanto aldeias na Valônia. O termo “maclote”, “maclotte” ou “makelote” é, na verdade, uma deformação valona da palavra francesa “matelote”, que designava as danças que os marinheiros executavam nos barcos para seu entretenimento. Estima-se que elas tenham chegado até a essa região por influência da área litorânea de Flandres.

A partir das versões valonesas, uma dessas danças também chegou a Luxemburgo e caiu no gosto popular. Um dos exemplos é a “Maclotte vun Habiemont”, originária da aldeia Habiémont, distante cerca de 50 quilômetros da capital luxemburguesa.

Ela é reconhecida atualmente entre os grupos locais como uma de suas coreografias populares e, no país, ela é encontrada possivelmente desde o início do século XIX. Entre os luxemburgueses ela também é conhecida como “Nei Maklott”, ou seja, a Nova Maclotte.

Assim, mesmo sem litoral e sem marinheiros, Luxemburgo também tem a sua Maclotte!

Quer saber mais? Veja a dança com o Groupe Folklorique la Ronde, de Beetebuerg em https://youtu.be/hxWsdfdPNGs

13.03.2023 - Manavu

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13.03.2023 - Manavu: uma oração em movimento?

Isaías capítulo 52, versículo 7, nos diz:

Como são belos nos montes

os pés daqueles que anunciam

boas-novas,

que proclamam a paz,

que trazem boas notícias,

que proclamam salvação,

que dizem a Sião:

"O seu Deus reina!"

Apesar de não ter referência direta a uma dança, o versículo acima que, em hebraico, inicia com “Ma na'avu al heharim” deu origem à dança “Manavu”. Em 1956, Yossi Spivak compôs a música para o texto e sua esposa, Raya Spivak, criou a coreografia.

Assim, a dança é acompanhada da canção que corresponde a parte do texto do versículo:

/ Ma na'avu al heharim,

Rag'lei hamevaser, ho . . . /

 

/ Mashmi'a yeshu'a,

Mashemi'a shalom. /

É interessante observar que “Manavu” também apresenta o passo mais característico das coreografias israelitas, o passo iemenita. O Iêmen foi o lar de semitas por milhares de anos. Diz a lenda que ourives hebraicos foram enviados para lá, então governado pela rainha de Sabá, por volta de 1000 a.C. Em 1949, 50.000 judeus iemenitas foram secretamente transportados de avião para Israel e sua chegada teve uma profunda influência na cultura de dança do país.

Dessa forma, pode-se dizer que “Manavu” é uma dança que une valores espirituais tradicionais e elementos coreográficos, sendo, praticamente, uma oração em movimento.

Quer saber mais? culturaalema.com.br/tanz e conheca mais da Manavu no link https://www.youtube.com/watch?v=30cb08-Ii1Q

12.03.2023 - Gigue

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12.03.2023 - Gigue: dança barroca no folclore alemão?

Para descobrir a origem de determinadas danças, às vezes, é preciso ter habilidades de detetive. É o caso da conhecida “Gigue”. Ao estudarmos manifestações culturais dos séculos XVII e XVIII, esse nome aparece repetidamente acompanhado de outros, como “Allemande”, “Courante” e “Sarabande”.

Conhecida em português como “giga”, uma hipótese apresentada é que esse tipo de dança seja originária da “jig” inglesa e teria sido levada para a França no século XVII, onde recebeu o nome de “gigue”. Outros pesquisadores indicam que ela vem do nome do instrumento de cordas usado para a música: “giga” (em italiano) e “gigue” (em francês), do qual se originou, inclusive, o nome alemão para violino: Geige.

Quanto a esse tipo de melodia, há duas variações conhecidas: a giga francesa, com andamento moderado ou rápido e frases irregulares, e a italiana, mais rápida e com frases regulares. Além disso, ela é muito comum em suítes barrocas. É difícil precisar quantas delas foram criadas. Entre seus autores conhecidos, estão Johann Sebastian Bach e Georg Friedrich Händel.

Talvez por esse motivo, ao pesquisarmos essa “Gigue”, encontramos que sua origem é italiana ou inglesa. Porém, poucos sabem que a dança aqui referida, na verdade, foi criada por Heinrich Dickelmann, músico conhecido por compor melodias e fazer arranjos para diferentes coreografias populares alemãs. Para esta, em específico, utilizou a música “Gigue” composta por Heinrich-Jakob Rosen - natural de Hüls, ao norte de Krefeld, Nordrhein-Westfalen. Ele a publicou, juntamente com outras composições, em um livro chamado “Aus einem Klavierbuch des Henricus Jacobus Rosen”, no ano de 1748.

Sendo assim, para deixar bem claro: essa dança “Gigue” teve sua melodia composta no século XVIII por um alemão; já a coreografia foi escrita no século XX com base no estilo “gigue” do período barroco. Um cenário que aparenta ser um tanto incomum? Com certeza. Todavia, que graça teria para os detetives se todos os cenários fossem iguais?

Quer saber mais? Veja o vídeo da Gigue com o Stapelholmer Danz- un Drachtengruppe em https://www.youtube.com/watch?v=pzJX-oZxhCs

11.03.2023 - Die Kehre

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11.03.2023 - Die Kehre conta a história de um Randulin?

Se você procurar a nascente do rio tirolês Inn, vai acabar cruzando a fronteira da Áustria para a Suíça e chegar a Engadin, no cantão de Graubünden. Lá, as pessoas falam o reto-românico, a quarta língua nacional da Suíça. Outra característica desse vale são os “Randulins”, migrantes que saem para buscar trabalho em outras regiões, principalmente na Itália.

A canção "La storta da Crusch", “A curva na estrada de Crusch” em português, é sobre a tentativa malsucedida de um jovem de emigrar de sua terra natal Engadin. Mas não se trata de uma tragédia, muito pelo contrário: não muito longe do seu ponto de partida, ele entra em uma taverna no vilarejo de Crusch para comer. Com palpitações e com a saudade batendo, mesmo antes de ter ido embora, ele vê por uma janela dois lindos olhos… que irão mudar seu destino. A bela jovem, o gosto pelo vinho da pousada e a música convidativa vão fazê-lo ficar. Assim, ele "pega a curva", permanece por lá e não se torna um Randulin.

"La storta da Crusch", que nasceu como canção, vai acabar virando dança, também chamada de “Die Kehre”. Tem destaque na coreografia um movimento de meia volta, o que aconteceu também com muitos Randulins, que acabaram regressando às suas localidades em Engadin. Além de ter uma história significativa para os moradores desse vale, é uma das primeiras descrições de dança da “Schweizerischen Trachtenvereinigung” - Associação Suíça de Trajes Típicos: a de número 8! Até no número tem duas curvas.

Quer saber mais? Conheça a dança Die Kehre em https://www.youtube.com/watch?v=lFHxIzEzOgE ou veja um pouco sobre a região do Engadin em https://www.youtube.com/watch?v=z7tQOGDNQr0

10.03.2023 - Linzer Polka

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10.03.2023 - A Linzer Polka é a semente da Sternpolka?

Imagine-se olhando para um espelho da juventude, onde a imagem mostra você em sua tenra infância, com suas singelas expressões, olhar inocente e uma longa vida pela frente. Seria no mínimo curioso. E pensando em uma cena parecida, mas não com uma pessoa e sim uma dança, se a Sternpolka se visse assim refletida, ela estaria se observando como Linzer Polka. Uma história interessante que teria nascido na Áustria, migrado para a Floresta da Boêmia e depois partido para a América do Norte, ganhando o mundo. Contudo, como nasceu a versão “mais nova” dessa conhecida coreografia germano-americana?

Contam que uma Blasmusikkapelle, um conjunto de sopros, que voltava para Budweis de uma viagem, acabou parando em um vilarejo de nome Doudleby, que ficava a aproximadamente 15 km antes de chegar a seu destino. Lá teriam tocado algumas músicas, entre elas uma que tinham aprendido fazia pouco: a Linzer Polka - referência à localidade austríaca de Linz. Segundo o relato, a canção se popularizou tanto entre as comunidades de língua alemã, quanto entre as tchecas, estas a nominando como Doudlebska-Polka. Ainda na atualidade, os dois nomes sobreviveram, por mais que usem o segundo como sinônimo da famosa Sternpolka.

Por mais que relacionem a coreografia da “Polca da Estrela” à Floresta da Boêmia, foi a da Linzer Polka que teria surgido por lá, com suas três figuras em pares: passeio, palmas e polca. Ela se tornaria a “Sternpolka” um bom tempo depois, com mudanças na melodia e na dança. De toda forma, essa segunda etapa da história merece um capítulo à parte.

Quer saber mais? Assista ao vídeo da Linzer Polka em https://www.youtube.com/watch?v=QJEYd9PSrS0 e compare com o da famosa Sternpolka no Brasil, com a Banda Choppão, em https://www.youtube.com/watch?v=CpcZRtHLWsE .

09.03.2023 - Spitzbubenpolka

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09.03.2023 - Spitzbubenpolka é uma briga da mãe com o filho?

“Spitzbubenpolka” é muito popular na Europa, tanto entre crianças quanto entre adultos. Ela tem como característica uma pequena encenação na sua primeira parte: uma pessoa do par teatraliza que xinga a outra, balançando-lhe o dedo indicador. Mas por qual motivo isso acontece? Para chegar à resposta, é preciso olhar para uma outra arte paralela à dança.

Pantomima é uma forma de teatro gestual, na qual os participantes falam somente com o corpo. Ela é muito comum nas tradições camponesas, no chamado “teatro de costumes”, no qual, de forma cômica, são representados acontecimentos do dia a dia. Nos países de língua alemã, muito disso está incorporado ao “Bauerntheater”. Por ser de simples compreensão, esse modelo de expressão se espalhava muito rapidamente.

Assim, a “Spitzbubenpolka” , ou “Spitzbuampolka”, ou Spitzboumpolka, é a “Polca do Menino Arteiro” (nesse caso, Spitzbuben não é sinônimo de ladrão) e incorporou de modo singelo uma pantomima: imagine quando um menino faz uma sapequice em casa e a mãe descobre… o que aconteceria? Com certeza vai ter uma reprimenda. Não se trata de uma briga, pois se isso acontecesse no século XIX a “resposta” da matriarca seria outra… Essa curta e breve cena é apresentada na coreografia, motivo pelo qual ela também recebe outra denominação: “Finger-Tanz”, "Dança do Dedo”.

Por ser simples, leve e bem humorada, acabou caindo no gosto das comunidades, principalmente entre os mais jovens, se multiplicando em festas e eventos sociais. Não tardou para virem outras denominações regionais, como Sautreiber, no Unterinntal, ou Bregenzer, no Passeiertal, ou Manfrina, no Veneto, ou Bal Del Truc, no Friuli, só para citar alguns exemplos. Ela também tem similaridades com a “Drei lederne Strümpf” e com a “Ich schmäiß d‘r ean di Ripp‘”, essa última também com pantomima e atribuída ao Hessen.

Quer saber mais? Veja duas variantes da Spitzbubenpolka em https://www.youtube.com/watch?v=qgDikKjloXQ  e https://www.youtube.com/watch?v=RH9kaJ25pQ8&t=86s

08.03.2023 - Polka Jenny Lind

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08.03.2023 - Quem foi Jenny Lind, que deu nome à Polka Jenny Lind?

“Ela estava, então, na primavera da vida - fresca, radiante e serena como uma manhã de maio; perfeita em sua forma; Ela parecia se mover, falar e cantar sem esforço. Tudo era natureza e harmonia. Seu canto era notável sobretudo por sua pureza e pela força da alma que parecia crescer em seus tons. Sua voz era encantadora.” (Frederika Bremer, escritora sueca)

“Nunca vi alguém atuar da maneira que ela atua, há uma magia própria em todos os seus movimentos, uma graça, uma ingenuidade, e seu rosto é de uma graciosidade, seus olhos são tão poéticos que a gente fica involuntariamente comovido.” (Clara Schumann, pianista e compositora alemã)

Essa é Jenny Lind, conhecida como “Rouxinol Sueco”. Nascida em Estocolmo no ano de 1820, tornou-se uma das mais famosas sopranos do século XIX, com turnês pela Europa e Estados Unidos. Por onde passava, a artista encantava seus espectadores. Entre eles, estão o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, os compositores alemão Felix Mendelssohn Bartholdy, o austríaco Johann Strauss (filho) - o Rei da Valsa -, o italiano Giuseppe Verdi e o polonês Frédéric Chopin.

Várias músicas foram compostas em sua homenagem, assim como poemas e canções. Inspirado no amor não correspondido por ela, Hans Christian Andersen escreveu seu famoso conto “O Rouxinol e o Imperador da China”, cuja história foi adaptada para ópera, balé, teatro musical, série de televisão e cinema.

A música para a dança “Polka Jenny Lind” foi composta pelo violinista alemão Anton Wallerstein, em 1845, com o nome de “A Polca preferida de Jenny Lind”. Posteriormente, em 1850, a música recebeu uma letra em inglês escrita por J. H. Hewitt e chamada de “Jenny Lind Song”. Mais tarde, em 1858, uma coreografia foi criada para essa polca e publicada por Elias Howe sob o nome de “Jenny Lind Polka”. Na época, a coreografia ainda era bastante simples, mas serviu de base para outras composições em diferentes países.

Quer saber mais? Veja cena do filme “The Greatest Showman”, onde aparece a representação de Jenny Lind em sua turnê pelos EUA: https://youtu.be/kUkRoIMyqFo .

07.03.2023 - Schönholzer Mazurka

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07.03.2023 - Schönholzer Mazurka: uma mazurca de Berlim?

Quando pensamos em cultura popular, logo vem à lembrança imagens de camponeses bailando em alguma festa de “Kerb” em um pequeno vilarejo. Porém, hoje, em grandes cidades, ainda podemos encontrar grupos de danças típicas. É o caso de Berlim. Lá encontramos o “Berliner Volkstanzkreis” (Círculo de Danças de Berlim), fundado por Erich Krause (1901-1977) , que agora já completa sete décadas, período em que viveu inúmeras facetas da vida social.

Em contraste com as conhecidas adaptações teatrais típicas da República Democrática Alemã (RDA) - Alemanha Oriental -, as danças tradicionais têm sido realizadas no “Berliner Volkstanzkreis” desde então, sendo o grupo deste gênero mais antigo em atividade na capital. Novas coreografias também fazem parte do seu repertório, inclusive, com criações próprias. Foi assim que surgiu a “Schönholzer Mazurka”, que recebeu o nome de uma localidade da região de onde o ele atua: Schönholz, no distrito de Pankow.

Um fato curioso é que, durante a divisão da Alemanha, Schönholz ficava na Alemanha Oriental e próxima do muro de Berlim, em uma área chamada de “Zona de Exclusão” (Sperrgebiet). Com isso, não era qualquer pessoa que poderia circular livremente pelo bairro. Para que pudessem receber visitas, os moradores de lá precisavam de uma autorização especial do governo.

Quer conhecer um pouco mais sobre o “Berliner Volkstanzkreis”? Visite o site: http://www.berliner-volkstanzkreis.de/Startseite/

06.03.2023 - Ländler ou Ländler de Neppendorf

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06.03.2023 - Ländler ou Landler de Neppendorf?

Entre as danças típicas, o termo “Ländler” é muito comum. Às vezes, é relacionado por alguns à valsa, mas, na verdade, sem nos aprofundarmos, ele é um ritmo próprio, parente dela, pois também é em compasso ternário, popular na Alemanha, Áustria e Boêmia. Mas e o “Landler”, sem trema?

Pequenos detalhes podem representar grandes mudanças. Ou seria apenas um erro de escrita ou uma variação de algum dialeto? Apesar de existir a variação do “Ländler” sem trema, aqui, temos uma questão histórica que passa longe das narrativas românticas que costumamos relacionar às danças típicas. Assim, deixando claro: o termo tem outro significado.

“Landler” é o termo usado para denominar os habitantes da Transilvânia (Siebenbürgen) que vieram da Áustria, é uma forma de diferenciá-los dos alemães que já estavam por lá, chamados de “Siebenbürger Sachsen”. Ao contrário dos “Sachsen”, que emigraram para a mesma região romena de forma voluntária no século 12, os “Landler” foram deportados da Áustria (da região histórica do “Landl”), no século XVIII. Por serem protestantes, não puderam permanecer no solo austríaco, pois a religião oficial do Império era o catolicismo.

No meio dos “Sachsen”, os “Landler” preservaram sua origem austríaca em trajes, dialetos e modo de vida por séculos. Como dito em 1994, em Großau, durante a recepção a uma delegação austríaca: “Somos apenas uma pequena cor, mas uma cor muito especial, na imagem colorida dos povos da Transilvânia”.

Entre os “Landler”, são encontradas diferentes danças com esse nome. Especialmente em Neppendorf, foi registrada uma dança com sequência de figuras que foi chamada de “Neppendorfer Landler”, ou seja, os “Landler” do vilarejo de Neppen.

Quem vê a graciosidade dos dançarinos executando a coreografia e a destreza dos músicos conduzindo a melodia não imagina a história desses moradores da Transilvânia.

Quer saber mais? Veja o Siebenbürgische Volkstanzgruppe Vöcklabruck dançando-a em https://youtu.be/v5xaF4YOCVQ

05.03.2023 - Bärbele

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05.03.2023 - Bärbele é a moça da Floresta Negra?

“Bärbele” é um nome feminino comum na Alemanha. Possivelmente a dança homônima, vinda da cidade de Furtwangen, na Floresta Negra, foi assim chamada devido a alguma antiga canção popular. Seu correspondente em português é “Bárbara”.

Porém, outra Bärbele da mesma região ficou internacionalmente famosa: a personagem do filme “Schwarzwaldmädel” (A Moça da Floresta Negra), de 1950, interpretada pela atriz Sonja Ziemann. Na história, Hans Hauser se apaixona pela jovem da Floresta Negra, a Bärbele Riederle, mas ele sabe que as “Mädle aus dem schwarzen Wald, die sind nicht leicht zu habe!”, ou seja, “que as moças da Floresta Negra não são fáceis de conquistar”.

Produzido na Alemanha pós-Segunda Guerra Mundial, o filme pertence ao gênero chamado “Heimatfilme”,que representa um mundo idílico e romântico intocado pelos conflitos armados e pelos perigos da vida real. A este mesmo tipo cinematográfico pertencem outros sucessos internacionais como “Sissi” (1955) e “A Família von Trapp” (1956) - precursor do “A Noviça Rebelde” (1965).

Além de apresentar um enredo musical envolvente, o filme “A Moça da Floresta Negra” também foi responsável por mostrar para o mundo as mais belas paisagens da região do Schwarzwald, inclusive alguns trajes típicos, como o do vale do rio Gutach, famoso pelo seu “Bollenhut”. Ela alcançou muito mais gente que a dança “Bärbele”: é o potencial do mundo do cinema.

Quer saber mais? Conheca um pouco mais da dança Bärbele com o Volkstanzgruppe Frommern https://youtu.be/hebP6QvtcT8 e do filme “A Moça da Floresta Negra” em https://youtu.be/NNbCuKwfuWI .

04.03.2023 - Lange Reihe

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04.03.2023 - Como surgiu a dança “Lange Reihe”?

Ao vermos uma dança, dificilmente imaginamos o caminho que ela percorreu até chegar na atualidade. Dois dos responsáveis pelo resguardo e criação de muitas delas foram Anna Helms e seu marido Julius Blasche. Partindo de Hamburgo, eles fizeram diversas excursões com o intuito de registrar o maior número possível de tradições, músicas e coreografias.

Mas, dentre tantas histórias, uma é pessoalmente interessante: em um trem, o casal viu ao fundo do vagão um passageiro solitário, acompanhado apenas de uma caixa de violino. Logo se perguntaram: “Será que ele é de uma pequena cidade, ou de um vilarejo? Será que ele conhece alguma dança típica?” Não se contiveram e foram tirar a dúvida.

E não é que tiveram sorte? Ele sabia muito sobre usos, costumes e danças típicas. Chegando à estação, eles foram direto para a casa do músico local. Feliz e orgulhoso de tudo o que sabia, informou que era ele o responsável por animar diferentes festas na região. Todavia, quando perguntado se poderia compartilhar seus conhecimentos, o anfitrião talvez não tenha ido com a cara dos forasteiros: “O que vocês da cidade grande querem com essas danças?” Precisaram de uma boa conversa para convencê-lo a mostrar algumas melodias e coreografias.

Isso tudo aconteceu no início do século XX e cenas como essa se repetiram várias vezes. Anna e Julius dedicaram muito do seu tempo para o resgate de antigas danças e a criação de novas coreografias. Muitos dos seus registros e de suas criações são dançadas até hoje por diferentes grupos na Alemanha e no exterior.

A “Lange Reihe”, que significa longa fileira, faz parte dessa coletânea. É uma coreografia compilada por Anna Helms a partir da melodia que encontraram próxima a Ratzeburg. As figuras são típicas do norte da Alemanha. Outro elemento que deu base a ela foi a informação de que, na Idade Média, para finalizar a festa de casamento, eram feitas danças em uma grande fila, conduzindo os convidados em coluna pelo salão em todas as direções.

Quer saber mais? Veja a dança com o Volkstanz- und Trachtengruppe des Heimatvereins Aurich https://youtu.be/yCNS42wJ3n0 .

03.03.2023 - Schächer

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03.03.2023 - Schächer é a dança dos ladrões?

Uma dança muito presente no noroeste da Baviera é a Schächer, sendo especificamente da Baixa Francônia - Untenfranken. Segundo Walter Bucksch, ela “é dançada em Sennfeld, a cerca de 3 km a sudeste de Schweinfurt, em um ritmo bastante rápido. Ela também é conhecida em Oberelsbach, no Rhön, ao norte de Bad Kissingen e em Würzburg.” Tem como característica seus giros duplos ágeis dentro de uma composição coreográfica em três partes pouco complexas, o que ampliou sua popularidade.

Mas um dado curioso é o nome. Dentro de um alemão arcaico, que não está mais em uso, Schächer quer dizer "ladrão" ou “criminoso”. O dicionário Duden qualifica a palavra como “bíblica” e que teria também sentido de “assassino”. Na tradição cristã alemã era como chamavam os dois crucificados que estavam com Jesus no Calvário. Contudo, é importante destacar que a designação da dança, na verdade, não tem relação alguma com roubo ou crime.

A explicação é que essa Schächer da Francônia, também chamada de

Alt-Rhöner Kirmestanz ou Schecher, venha do verbo “scheuchen”, que teria sentido próximo de “enxotar” ou “espantar”. Seria uma comparação ao ritmo rápido da música ou, de alguma forma, ao movimento da dança.

Contudo, com certeza é essa a única resposta para o sentido de Schächer? Não é uma Fakenews (como dizem na atualidade)? Certeza, realmente certeza, não se tem. De toda forma, se no juízo final o Santíssimo perguntar se me arrependo de ter disseminado essa informação falsa, poderei fazer a meia culpa e dizer: “Sim, redima-me desse pecado”. Pelo menos não sou ladrão, nem assassino.

Quer saber mais? Veja o vídeo do Schächer com Steffi Zachmeier & Bayerischer Landesverein für Heimatpflege e.V. em https://youtu.be/BALPXuixx44 ou com os amigos do Blumenauer Volkstanzgruppe em https://youtu.be/Y39JqKs7KQE .

02.03.2023 - Spinnradl

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02.03.2023 - A Spinnradl fez a Bela Adormecida cair no sono?

Um dado é real: a cultura popular é formada muito pelos acontecimentos do dia a dia, como hábitos da família, formas de trabalhar e de ver o mundo. Isso é válido para danças, músicas, lendas e também contos de fadas. Assim, existem elementos que aparecerão em muitas tradições e a “roda de fiar”, o Spinnrad em alemão, é um deles. Ela está nos contos coletados pelos Irmãos Grimm, em canções típicas, em peças de teatro, em pinturas de época, nas lendas e também em muitas danças tradicionais. Na mitologia greco-romana, as Parcas / Moiras teciam o fio da vida.

Spinn­rad, Spinn­ro­cken, Spin­del, são expressões ligadas a ela e fartamente presentes na cultura alemã. O verbo “fiar”, em alemão, é “spinnen”. Assim, por mais que na famosa história da Bela Adormecida ela fure o dedo no fuso de uma roca e caia no sono, na prática, não há qualquer relação entre a Dornröschen e a dança “Spinnradl”, sendo ambas de origens muito diferentes.

Na prática, a dança teria surgido de uma música, “Spinnradldrahn”, que se tornou popular e ganhou novas letras. É muito discutida a origem da coreografia, se na Áustria, se na Floresta da Boêmia, na Silésia, ou no sul da Alemanha. Provavelmente, os Alpes tenham sido seu ponto de partida, recebendo diferentes figuras que, com o tempo, se somaram. As duas principais variantes são a de trio - “Spinnradl zu Dritt” - e a de casais - “Spinnradl zu Zweit”.

De toda forma, quando uma velha roca de fiar é exposta, é inevitável que as novas gerações a relacionem diretamente ao famoso filme “A Bela Adormecida”, produzido por Walt Disney em 1959. Porém, essa história já era contada e “recantada” por seus pais e avós na ciranda “Dornröschen war ein schönes Kind”, que, no Brasil, se popularizou como “A linda Rosa Juvenil”.

Quer saber mais? Veja a dança em https://www.youtube.com/watch?v=HPSedVliMIA

 Escute a música em https://www.youtube.com/watch?v=-30vEJYzOJU

 e veja um pouco sobre a Roca no Brasil em https://www.youtube.com/watch?v=jA7ttLUdbmw

01.03.2023 - Wischtanz

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01.03.2023 - A Wischtanz era dançada com bastões a céu aberto?
Em Gößl, na Áustria, em uma pequena localidade nos Alpes com a economia embasada na agricultura, sobreviveu por muito tempo uma tradição típica dos homens do campo: a Wischtanz. Essa dança teria se mantido, entre outros motivos, como distrativo dos jovens lenhadores e pastores, que estariam sozinhos trabalhando uma temporada nas montanhas e não teriam suas damas (Dirndl). Segundo Richard Wolfram, “dois rapazes seguram entre eles um cajado cada um, na horizontal, e, alternadamente, balançam de modo ritmado as pernas por cima deles, deslizando-os de uma mão para a outra.” Também podiam fazer o mesmo com machados… contudo devia ser uma brincadeira mais perigosa.
Por mais que esse relato seja em um vilarejo austríaco, coreografias com longos bastões de madeira eram comuns em muitos locais no mundo. Os Banatas, perto de Steierdorf, na Romênia, têm tradições similares, não necessariamente tendo uma mesma origem, já que se vê fenômeno semelhante na Hungria, Estônia, Letônia, Polônia, França e Espanha (nos Pirinéus). Em alguns locais, a brincadeira acontece com quatro (4) pessoas (duas duplas) que cruzam as varas, como no caso da “Anifer Steckentanz”. Também se pode ver formações similares com fitas, tendo a participação de moças, como no caso da “Spantanz”. No Brasil o “Maneiro Pau”, o “Chico do Porrete” e a “Chula”, por exemplo, têm suas similaridades com esse contexto de danças.
Mas, afinal, essas tradições são para serem feitas a céu aberto? Provavelmente a origem delas era ao ar livre, como um divertimento ou desafio. Depois, com o tempo, muitos desses hábitos acabaram transplantados para palcos ou dentro de festas, como forma de demonstração pública. Em outro relato, Richard Wolfram aponta que a própria Wischtanz era apresentada em festejos natalinos por alguns conhecedores da antiga dança dos pastores, o que ocorreria em local fechado por ser inverno na europa.
É o dinamismo das danças e de seus participantes. São as manifestações culturais se ressignificando e se adaptando às novas realidades.

28.02.2023 - Blumenpromenade

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28.02.2023 - Onde fica a Blumenpromenade?

Existe uma expressão francesa que indica um local para passear, uma calçada de pedestres espaçosa e elaboradamente desenvolvida: a “Promenade”. A palavra foi exportada para o alemão com sentido parecido, destacando uma passagem, uma alameda, geralmente com uma vista interessante. No Brasil, chamariam de Calçadão. Faixas verdes, canteiros floridos, fileiras de árvores são alguns dos seus atrativos.

E onde fica a “Blumenpromenade”, o Calçadão das Flores? Pelo que se sabe, o nome desta dança não se refere a um local específico. A música foi composta em 1996 por Martin Ströfer (o mesmo da Großes Triolett, entre outras) e a coreografia foi escrita em 1997 por Helma Boltze (também coreógrafa da Kieler Sprotten) do grupo de trabalho “Arbeitskreis Tanz Nordheide”. Foi feita para o grupo de danças da Sociedade Ginástica de Hamburgo (Hamburger Turnerschaft von 1816).

Mas o que será que Martin e Helma imaginaram nesse Passeio? Estariam caminhando pela bela Promenade La Croisette, que fica em Cannes, ou na  Promenade des Anglais, em Nice, ambas na França? Ou será que se viram nos trópicos, como no Calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro? Ou, quem sabe, o mais provável, imaginaram belas Alleen na primavera alemã?

Quando escutar a “Blumenpromenade”, seja na sala de casa no inverno, seja no escritório cheio de trabalho, seja no salão de baile, feche os olhos. Permita-se sentir o vento leve no rosto, o aroma das flores e a alegria do retomar da vida após um período de recolhimento. Pegue o arco florido e viva essa dança. Pode ter certeza que muitos sorrisos brotarão nessa alameda florida.

Quer saber mais? Veja o vídeo desta dança em  https://youtu.be/45P71WbIiko .

27.02.2023 - Henkenhagener Kegel

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27.02.2023 - Será que o Kegel conseguirá arranjar um par?

As coreografias de “Kegel” representam uma grande brincadeira. Fazem parte das tradições onde um rapaz, ao centro, quer roubar o par dos outros, ao estilo "Dança da Vassoura”. Geralmente elas são executadas por 9 ou 10 pessoas, sendo 8 fixas e 1 (homem ou casal) que furta um dos lugares existentes.

A tradução de Kegel quer dizer cone ou pino. Para compreender a relação é possível olhar o jogo de Bolão - Kegeln, um parente do Boliche: no final da pista há 9 peças dispostas em forma de quadrado, a do meio é o “Kegelkönig”. É nesse cenário que há a similaridade com a dança.

Na versão da Kegel que vem de Henkenhagen, às margens do mar Báltico (Ostsee), na antiga Pomerânia, há uma canção. Nela, o “Pino Rei”, de uma forma um tanto convencida, convida as demais moças para dançar:

“Aqui, menina, você tem a minha mão,

mas apenas por um momento;

Eu sou um rei sem país

e amo passar o tempo.

Pense, deveras não é pouco,

uma vez com um rei dançar,

por isso, garota, arrume-se belamente,

para em meu castelo entrar!”

Contudo, ele não esperava a resistência dos demais dançarinos que participam da brincadeira:

“Vejam o vaidoso rei,

como ele gira e se enfeita,

provavelmente ele sofre de mania de grandeza,

sua majestade, o pino rei!

Deixem-no em paz,

nós queremos observar

se uma garota da nossa roda

ele consegue apanhar!

Se pelos braços e pelas pernas

ele ainda resmungar

queira, em caso de emergência,

sua rainha se tornar.

Sempre alegre e vivaz,

de cabeça primeiro, de cabeça pra baixo -

nos alcançar, ele não vai mais!”

Vemos aqui que as tradições locais mantêm um diálogo, tanto no desporto, quanto nos bailes. Os costumes regionais se retroalimentam e dão cor ao modo de viver simples de muitas comunidades. Às vezes se pode ter o especial prazer de roubar, na dança, a moça daquele seu amigo… aquele que na semana anterior te deu uma “lavada” no jogo de bolão. Como dizem, há o dia do caçador… e o da caça.

Quer saber mais? Veja também os amigos do Blumenauer Volkstanzgruppe dançando a Henkenhagener Kegel  https://youtu.be/mxHGEL2fcO0 ou conheça uma variante do jogo em https://www.youtube.com/watch?v=hsHyz-pnuD4

26.02.2023 - Kleiner Mann in der Klemme

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26.02.2023 - De onde vem o nome “Kleiner Mann in der Klemme”?

“Bitte Mand i Knibe” é uma dança dinamarquesa provavelmente do final do século XIX, do município de Raders. Em alemão, ela é chamada de “Kleiner Mann in der Klemme” ou “Kleiner Mann im Gedränge”, ambas mantendo o sentido original: “Pequeno homem em apuros”. Mas quem é esse indivíduo diminuto? E por qual motivo ele está com problemas?

Pesquisas mostram que a altura da população masculina dinamarquesa é superior à média mundial (1,81m). Igualmente é sabido que os estivadores dos portos geralmente são de grande estatura. Assim, sendo Raders uma cidade portuária na península de Jutland, não parece difícil que lá a comunidade tenha visto muitos estrangeiros e esta tenha considerado eles “pequenos”. A correria dos passageiros, gente atrasada e um certo mistério nas docas, poderia dar o clima de “perigo”. Montamos o cenário do “pequeno homem em apuros”.

Mas como diz a “Navalha de Occam”, “diante de várias explicações para um problema, a mais simples tende a ser a mais correta”. Assim, outra possibilidade é olhar a coreografia da “Bitte Mand i Knibe”: na figura inicial os pares buscam outra dupla, como numa brincadeira. A dança só pode continuar se tiverem agrupamentos em quatro pessoas. Esse objetivo gera uma pequena confusão divertida, que acompanha o ritmo rápido e irreverente da melodia. Com certeza “ficar sobrando” será um problema. Essa pressa e urgência, mais movimentos velozes e bem marcados, aparenta que os participantes estejam em “apuros”. E a posição, um pouco curvada, também gera a ilusão que os dançarinos são mais baixos do que realmente o são. Isso poderia explicar o nome que ela ganhou.

E há outras sugestões para esclarecer o nome desta dança? Provavelmente sim. De todo modo, é adequado dizer que, muitas vezes, é o olhar do espectador (de 1,81m) que imagina o que uma coreografia quer dizer - assim como acontece ao olhar o céu repleto de nuvens. Nesse contexto, é ele que acaba, direta ou indiretamente, a denominá-la.

Quer saber mais? Escute a melodia dela em https://www.youtube.com/watch?v=cHGCzMpF-ck  e veja a dança em https://www.youtube.com/watch?v=Dfr8KoU9L-k .

25.02.2023 - Chumm go luege

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25.02.2023 - Chumm go luege: “venha ver” os Stelserbuaba?

Em época de “Reality TV Shows”, todo mundo quer ser visto ou ganhar seu minuto de fama. Mas, mesmo fora da televisão, é normal que quem produz cultura queira dar visibilidade a ela. Podemos dizer que é nesse contexto, de publicidade, que nasceu a “Chumm go luege”.

Segundo Felix Mugwyler, no lugarejo de Seewis, na região de Prättigau, no cantão de Graubünden, na Suíça, ocorreu uma festa. O local é conhecido por ter muitos e belos narcisos. Para o evento, foi convidado o Stelserbuaba, grupo de música típica da localidade de Stels, ali nas proximidades. Contam que na ocasião o clarinetista Otto Battaglia escreveu uma música com o título “Venham ver a Stelserbuaba tocar” que em dialeto ficou “Chumm go luege, d'Stelserbuaba”. Ali, das primeiras três palavras, surgiu o nome da dança.

E a coreografia? Também nas proximidades fica a comunidade de Küblis, onde reside ainda hoje Hanni Brand. Ela foi convidada para criar a dança e assim o fez. Desta forma, nascia a “Chumm go luege”, que se popularizou dentro e fora da Suíça.

Nessa história, há algumas curiosidades. Hoje, o conjunto “Stelserbuaba”, em tradução “Rapazes de Stels”, tem também moças - nada de sexismo. Na mesma localidade, de aproximadamente 50 habitantes, tem destaque a porcentagem de músicos: deve ser o maior percentual suíço de musicistas por habitante. Com tantos atributos, não foi preciso ser narcisista para ter visibilidade e tornar a “Chumm go luege” famosa. Aprende com eles, Boninho.

Quer saber mais?

Veja a dança com Felix Mugwyler em https://www.youtube.com/watch?v=LG6-HbJM5gQ assim como conheça um pouco sobre Seewis im Prättigau em www.seewis.ch e também veja o site do Stelserbuaba: www.stelserbuaba.ch

24.02.2023 - Märkische Viertour

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24.02.2023 - Märkische Viertour é uma dança provinciana?
O termo provinciano, tanto no português quanto no alemão, é usado geralmente de forma pejorativa. Ele indica que algo é antiquado e do interior. Contudo, também podemos analisar o mesmo termo com outro olhar, valorizando seus aspectos histórico-culturais. Então, “o que vem da província” pode ser algo que remonta a uma cultura histórica antiga de regiões afastadas da capital. Com isso, podemos dizer sim que a “Märkische Viertour” é uma “dança provinciana”. Vejamos o porquê.
Até hoje na Alemanha, é comum usar a definição “Mark Brandenburg” (Marquesado ou Marca de Brandemburgo) e Província para se referir ao estado homônimo. Foi nessa região que, no século XV, a Casa Hohenzollern - uma família de nobres - iniciou seu reinado no norte, tendo como sequência o Reino da Prússia e, posteriormente, o Império Alemão.
No início do século XX, Berlim foi uma das grandes referências na Alemanha para o renascimento das manifestações populares. Contudo, por ser tradicionalmente uma cidade grande, há muitos anos não existiam mais trajes e danças típicas. Por isso, durante o Movimento da Juventude Alemã (ver “Schwingkehr”, de 13.02.2023), procurou-se, nos arredores de Berlim, inspiração para novas coreografias e músicas e, futuramente, para vestimentas tradicionais.
Foi no “Mark Brandenburg” que houve o registro de muitas danças e, a partir delas, novas foram criadas. Para marcar essa nova vertente, o professor Herbert Oetke coreografou a “Märkische Viertour”, cuja música foi composta por Heinrich Dieckelmann. O nome significa “quadrilha de quatro sequências do Mark Brandenburg”. Uma novidade que nasceu querendo ser e parecer bem provinciana.
Gostou? Assista também o Arbeitskreis für Jugendtanz der DGV realizando esta dança em
https://youtu.be/dmQR3kyl9e8 .

23.02.2023 - Hiatabua

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23.02.2023 - Na Hiatabua Schuhplattler, o pastor voa?

Uma dança muito popular na Áustria e sul da Alemanha é a Hiatamadl, em dialeto a “Pastorinha”, uma coreografia simples com pares que, nas figuras, há o destaque às belas pernas da moça que cuida das ovelhas. Por outro lado, existe um Schuhplattler austríaco chamado Hiatabua, o Pastorzinho, que, de tanto exercício que os rapazes fazem, ficam com as coxas bastante reforçadas. Tecnicamente uma não tem relação com a outra; contudo, a versão “masculina” está tendo seu momento de fama: ela faz os rapazes voarem.

Como assim? Vamos explicar: viralizou na Internet faz alguns anos um vídeo, no qual rapazes apresentam a Hiatabua em meio aos Alpes e em uma situação inusitada. O pitoresco está em colocar um dos dançarinos sobre um tablado e, após as partes de sapateado, os demais participantes atirarem o solista para cima.  Fazem literalmente o “pastor de ovelhas” voar. O cenário alpino combina com o ofício, entretanto não com o salto. Nesse contexto, se faz a pergunta: essa dança é assim mesmo?

Na verdade, a variante com o tablado se mostra bem recente, provavelmente criada para atender a festejos locais ou mesmo ser parte de uma atração para turistas. A própria coreografia do sapateado recebe suas adaptações, ganhando novos nomes, como “Der Hupfau”, mas a base da “Hiatabua” segue presente. Mas é importante destacar: na sua interpretação tradicional, os dançarinos não “voam”.

Assim, tanto a Hiatamadl quanto a Hiatabua são danças originalmente nascidas em um terreno firme, como pistas de baile ou palcos. Se uma delas virou acrobática, foi produto da atualidade, para chamar a atenção e impressionar os espectadores. De todo modo, não se pode negar que, muitas vezes, as pastoras ficam de “queixo caído” pelos pastores “acrobatas”, assim como eles pelas “belas pernas” delas. São os cortejos da vida.

Quer saber mais? Veja os vídeos da Der Hupfau com o em https://www.youtube.com/watch?v=JRsqZL7u9Ug ou a versão “terrena” em https://www.youtube.com/watch?v=n19N2wHP8fs .

22.02.2023 - Kontra mit Plü

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22.02.2023 - Kontra mit Plü: como dança o pescador de Blankenese?

Se você for passear pela cidade-estado de Hamburgo, no Norte da Alemanha, pode conhecer o belo e arborizado bairro de Blankenese. Diriam alguns que “é um local muito chique”, sendo a Butterseite a zona com vista para o Rio Elba e a Margarineseite a do lado norte, duas áreas de imóveis bem valorizados. Contudo, poucos conseguem imaginar que ali onde hoje estão os palacetes e ostentosos prédios existia um vilarejo de pescadores, simples e repleto de tradições. Desde o século XIV, se tem registros sobre essa localidade, o qual faz a ligação entre o porto de Hamburgo e o Mar do Norte.

Na Blankenese do passado, esses pescadores realizavam uma dança típica, que os pesquisadores batizaram de “Blankeneser Fischertanz”, nada mais do que a “Dança dos Pescadores de Blankenese” - nome nada criativo. Porém, os aldeões chamavam-na de “Kontra mit Plü”, pois “Kontra” é uma contradança (geralmente formada por quatro pares), e “com Plü”, pois utiliza um passo chamado “Plü”.

Um dado curioso é a origem do “Plü-Schritt”: os homens usavam botas grossas de cano longo e calças espessas e compridas, que mantinham as pernas secas para entrar e sair dos barcos. Essa vestimenta limitava os movimentos no dançar, o que com o tempo acabou dando forma ao passo do Plü.

Mesmo tendo se modernizado, como a segunda maior cidade alemã, o morador de Hamburgo está simbolicamente ligado ainda à pesca: são conhecidos como Fischkopp, “Cabeça de Peixe”, assim como os demais moradores costeiros do norte do país. Trata-se de um apelido antigo, como se vê na terceira estrofe cantada nessa dança: “Lá vem o Cabeça de Peixe, o Cabeça de Peixe…. e que fede a queijo. Ele dança com a Therese de Blankenees”. Por mais que muitas tradições se mantenham, provavelmente os distintos moradores de Blankenese da atualidade tenham mais aroma de perfume francês. 

Quer saber mais? Conheça as tradições locais neste vídeo com a colega Claudia Santana: https://www.youtube.com/watch?v=L6SpsRq5Bvc.

21.02.2023 - Italiener 

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21.02.2023 - Um Italiener que nasceu na Baviera?

Na língua alemã, de modo geral, o sufixo - terminações de palavras - “er” pode identificar algo ou alguém como de um determinado local. Isso pode ser visto em Münchener - muniquense, Hamburger - hamburguense, Deutscher - alemão, ou Amerikaner - americano, por exemplo. Mas por qual motivo a dança Italiener não é italiana e sim bávara?

A resposta mais simples seria que na primeira metade do século XX a comunidade do Chiemgau, onde supostamente surgiu a Italiener, teria dito que a música seguia o estilo dos italianos, tipo “essa é aquela italiana” e o nome pegou. Outra versão explica que ela teria sido dançada na Baviera por ferroviários italianos - pois passam na região linhas férias que interligam a Itália, a Áustria e a Alemanha. Essa segunda hipótese justificaria também a sua outra denominação: Eisenbahner (Ferroviário).

Contudo, se você acha que essa dança é parecida com alguma Tarantela, você está redondamente enganado: é composta por figuras leves e lentas. A Itália tem muito mais do que só coreografias com saltarello, pizza e vinhos. Seja pela primeira ou segunda versão do surgimento da Italiener, o mais provável é que a influência seja do norte do país, como do Trentino-Alto Ádige, Friuli-Venezia Giulia, Veneto, Lombardia e Emilia-Romagna. 

Quer saber mais? Veja o vídeo dela no tempo 01:24:00 nesta aula online de danças com Magnus Kaindl e Katharina Mayer https://www.youtube.com/watch?v=UaorCv2LhNI&t=1006s

20.02.2023 - Jägerneuner

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20.02.2023 - Jägerneuner: O quanto você sabe sobre uma dança?

É interessante ler o relato do professor Franz Pulmer escrito no ano de 1961 ao ser perguntado sobre o que ele sabe sobre a dança “Jägerneuner”:

“Anna Helms publicou a dança ‘Jägerneuner’ em 1913 no segundo volume [de seu livro]. Ela a chama - de forma errada - de ‘Quadrille’ (‘Neuner’ é melhor!) Eu mesmo a dancei pela primeira vez em 1919 e, alguns anos mais tarde, vi o antigo grupo ‘Ollenborger Kring’ (ou seja, círculo de Oldenburg) dançando-na.

O passo ‘Jägerschritt’ é assim como Anna Helms o descreveu no segundo volume, com o tocar da ponta do pé no solo. O círculo final foi, provavelmente, incorporado mais tarde. Originalmente, ela deve ser dançada de tal forma que cada rapaz possa ser o dançarino do centro, o que só pode ser conseguido se as fileiras trocarem de lugar durante o pequeno círculo ao final da dança. Então, a dança completa seria três vezes mais longa.

O passo ‘Jägerschritt’ foi dançado apenas recentemente (após a 2ª Guerra Mundial) com o balançar da perna para a frente (sem tocar o solo com a ponta do pé). A melodia foi encontrada em um Fistalbuch do ano de 1817. Ela vem de Ammerland, uma região no antigo Grão-Ducado de Oldenburg, com centro em Bad Zwischenahn, noroeste da cidade de Oldenburg.

A dança ‘Jägerneuner’ é provavelmente a única dança do norte da Alemanha nesse estilo; pois as danças ‘Kegel’ são mais no estilo de quadrilha com um quinto rapaz ao meio (também um quinto par). ‘Die drei Tore’ foi criada pela Anna Helms e a dança ‘Drei-Burschen-Tanz’ vem da Suécia.

Isso é aproximadamente tudo o que eu sei. Talvez o Carl Bergmann saiba algo mais. Se há alguma ligação com antigas danças inglesas, não posso opinar. A possibilidade existe.

Por hoje, seria isso! Não é muito, mas você queria saber o que eu sei!

Franz Pulmer. Hamburg-Neugraben, 9 de novembro de 1961.”

Então, ele sabia pouco ou muito? Para saber, só perguntando ao Carl Bergmann... se fosse possível.

Quer saber mais? Veja a danca com o Volkstanzgruppe Frommern: https://youtu.be/Dm8r2mmEPb8

19.02.2023 - Pommersche Mazurka

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19.02.2023 - Pommersche Mazurka: O que a mazurca pomerana tem de diferente?

As antigas crônicas do período medieval relatam que os pomeranos sempre foram um povo que adorava dançar. É bastante grande o número de danças pomeranas registradas.

Segundo o professor Dr. Alfred Haas, elas proporcionam “uma excelente visão sobre a vida alegre e feliz e a agitação do povo pomerano, especialmente dos campesinos”, e testemunham “a natureza alegre e ágil dos pomeranos, devotados à dança, que, muitas vezes, são descritos como um povo reservado e sério”.

Os jovens dessa região procuravam, ao mesmo tempo, preservar sua dança típica, porém, sem deixar de aproveitar também os ritmos mais modernos da época, muitos deles importados. Já é consenso que as Volkstänze e os modismos não são tão distantes quanto aparentam. A preservação de tradições, o compromisso com os valores da comunidade, a fidelidade à essência dos seus antepassados ​​não se opõem de forma alguma a desfrutar da vida colorida do presente.

Sendo assim, ao longo do tempo, também a dança tradicional pomerana passou a adotar estilos, inicialmente, estrangeiros. Foi o caso da mazurca, que é de origem polonesa e que recebeu um toque da alegria e da musicalidade pomeranas, tornando-se a mazurca pomerana - “Pommersche Mazurka”.

Quer saber mais? Veja a dança com o Volkstanz- und Trachtengruppe des Heimatvereins Aurich em https://youtu.be/lw61yqx9T5A .

18.02.2023 - Schwedische Maskerade

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18.02.2023 - Schwedische Maskerade: uma zoação dos dinamarqueses?

Apesar de ter o nome de “Schwedische Maskerade”, segundo as fontes, a dança não é da Suécia, mas sim da Dinamarca, mais precisamente da região de Mitteljütland. Em dinamarquês, é a Svensk maskerad. A intenção dos vizinhos seria de representar os suecos em um festejo. Maskerade pode ser a pessoa mascarada, assim como uma fantasia ou um baile de máscaras.

Seria uma dança satírica dinamarquesa. Como assim? Ela faria piada com o que os daneses consideram ser o jeito esnobe dos suecos, mas que, na verdade, são pessoas simples e divertidas. Ou seja, segundo essa versão da história, a “Schwedische Maskerade” indica que os suecos até podem parecer esnobes, mas isso não passa de aparência, de uma máscara.

E essa explicação seria visível na prática da dança: na primeira parte, os dançarinos caminham se “pavoneando”, orgulhosos e altivos, imitando o que, segundo os dinamarqueses, seria o jeito de andar dos suecos. Na segunda, eles também se portam de modo elegante; contudo é na terceira parte que “as máscaras caem” e pode-se ver o verdadeiro habitante da Suécia: simples, divertido e alegre, dançando e pulando conforme a música, sem nenhuma pompa.

Quer saber mais? Veja também o vídeo da dança em https://youtu.be/Ch_LweerOQQ .

17.02.2023 - Das Fenster

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17.02.2023: Das Fenster é apenas a dança da janela?
“Das Fenster” é uma dança alemã muito conhecida por grupos alemães, brasileiros e americanos. Seu nome significa “a janela”, devido a uma figura de sua coreografia.
Porém, onde e como ela surgiu? “Das Fenster” é uma das danças cuja origem é difícil de identificar. Em sua música, vemos claramente elementos ingleses, especialmente marcados pela introdução. Isso acontece, pois sua melodia original é uma Anglaise chamada “Artländer Nr. 9”, à qual, outro compositor, chamado Heinz Lau, acrescentou uma terceira parte em um novo arranjo.
A partir dessa nova música, surgiu a coreografia. Possivelmente, ela foi escrita por algum coreógrafo do norte da Alemanha (dada a localização da melodia inicial, além da presença dela em grupos da região). Com o objetivo de trazer elementos novos às danças do norte, é provável que esse professor tenha acrescentado uma figura muito comum no Ländler do sul da Baviera e da Áustria: a janela, dando, inclusive, o nome “Das Fenster”.
A janela sempre foi um elemento presente também na cultura popular, tanto em expressões como “os olhos são a janela da alma” (die Augen sind die Fenster zur Seele), quanto na vivência diária - seja a vizinha que fica na janela cuidando da vida dos outros, ou o casal que fica namorando na janela.
Por causa disso, se convencionou por décadas contar a seguinte narrativa: que a dança demonstra como era, antigamente, o namoro dos casais à janela, sem permitir que os jovens se tocassem. Para deixar o enredo mais romântico, se falava que havia ainda a supervisão dos familiares. Não poderia nem ter beijinho… A historinha é bonitinha, às vezes, mais interessante do que a realidade, contudo, nada disso tem relação com a “Das Fenster”.
E o que faz a “Das Fenster” tão popular? Provavelmente, sua diversidade de elementos (melodia inglesa, coreografia do norte e figura do sul da Alemanha) e vivacidade, a levando para outros continentes. Com namoro ou sem namoro, ela vai muito além de ser apenas a “dança da janela”: ela representa um processo criativo, que une diferentes elementos em uma mesma obra.

16.02.2023 - Knödeldrahner

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16.02.2023 - Knödeldrahner é uma dança ou uma comida?

Em um artigo jornalístico bávaro, o redator identificou a “Knödeldrahner” como uma dança de “nome pitoresco”. Inegavelmente, não é todos os dias que se vê uma mazurca - tipo de dança normalmente ligada à cultura polonesa -, composta no Südtirol na Itália, que aparece em bailes bávaros na Alemanha e que tem o nome relacionado a uma comida muito popular na Áustria. É para deixar qualquer um confuso. Para entender essa conexão coreográfica-gastronômica, é preciso primeiro conhecer como se faz o famoso Knödel, também chamado Klöße.

Dentre as muitas opções de Knödel, que é uma espécie de bolinho cozido, o mais popular é o de batatas - Kartoffelklöße: junte 1 kg de batatas cozidas descascadas, 80 g de manteiga, 200 g de farinha de trigo e 1 ovo. Após misturar tudo, sove até ficar uma massa homogênea. Para concluir, faça uma bola grande, girando ela na palma da mão, e cozinhe em água salgada. Mas há uma dica: pegue um cubinho de pão duro e coloque essa pasta envolta, pois ele ajuda a manter a forma do Klöße. E é neste último passo que há a similaridade com a coreografia da dança: girar o bolinho para que ele fique redondo, que, no dialeto do Südtirol, é o Knödeldrahner (Knödel dreher / girar dos bolinhos).

Muitas fontes atribuem a dança da Knödeldrahner ao modismo da mazurca no século XVIII. Por ter um ritmo que se aproximava da popular Ländler, porém vivo e marcado, teria sido bem recebida no Tirol. E foi apenas questão de tempo para que essa mescla de culturas gerasse uma coreografia simples, cativante, com muitos giros e que fosse relacionada ao enrolar dos bolinhos. 

Assim, a Knödeldrahner não é uma comida, mas sim uma dança ou um passo do processo gastronômico da produção do Knödel. De todo o caso, todos fazem parte das tradições tirolesas. Com seus estilos pitorescos, ganharam as pistas de dança, as cozinhas e os cardápios das festas populares, tanto na Áustria, quanto na Alemanha e na Suíça. Tem que experimentar!

Quer saber mais? Veja o preparo do Knödel em https://www.youtube.com/watch?v=k0edCfig_fA

 e a dança em https://www.youtube.com/watch?v=Gtjipe9jXCs.

15.02.2023 - Reit im Winkler

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15.02.2023 - Reit im Winkler é um sapateado inspirado na montaria?

O Schuhplattler é um estilo de dança único e bastante regionalizado, com destaque às suas variantes do sul da Alemanha, da Áustria e do norte da Itália. Por mais que possa ser traduzido como “sapateado”, ele não pode ser comparado ao que é visto na Irlanda, por exemplo. Assim, mesmo parecendo repetitivo dizer, ele não tem comparação, ou seja, “Schuhplattler é Schuhplattler”. E, dentre os títulos mais famosos da Baviera presentes na lista das coreografias clássicas desse gênero, está o Reit im Winkler.

À primeira vista, ao traduzir o nome, poderíamos ter pistas das origens dessa dança; contudo, sendo direto: NÃO tem relação alguma com “cavalgar no Winkler”, como seria no português. Para começar, esse Schuhplattler segue a tradição - como muitos outros - de ser relacionado a um local, nesse caso, a comunidade de Reit im Winkl, na Alta Baviera, na fronteira com o Tirol (Áustria), próximo do Chiemsee. Atualmente, ela é muito conhecida pelo turismo de inverno.

E por qual motivo essa comunidade chama-se Reit im Winkl? Mesmo que se quisesse ver o significado do nome da localidade, igualmente se cairia em erro: na verdade “reit”, que aparenta ser “cavalgar”, aqui surgiu do verbo “roden”, que quer dizer “desmatar” ou "roçar / fazer-se arável". Isso aconteceu, pois, naquela área, foi feito um assentamento em um canto das montanhas do vale do Kaiserwinkl, onde derrubaram a mata. Nesse processo de arroteamento da Idade Média, essa clareira ficou conhecida como “o desmatamento junto ao Winkl”.

De toda forma, mesmo não sendo com base em uma cavalgada, o Schuhplattler “Reit im Winkler” pode ser considerado símbolo de uma viagem cultural alpina. É uma ponte de tradições entre a Baviera e o Tirol, assim como visto na exuberante geografia local.

Quer saber mais? Veja um vídeo da localidade de Reit im Winkl em https://www.youtube.com/watch?v=Natv-u96iEU ou o Schuhplattler com o Gaugruppe Inngau em https://www.youtube.com/watch?v=-0UpLNv1zdw .

14.02.2023 -  Hirschegräbler

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14.02.2023 - Um fosso cheio de cervos é representado na Hirschegräbler?

Uma estratégia muito comum em cidades da Idade Média era gerar uma vala no entorno dos muros de castelos e burgos, o que auxiliava na defesa desses locais contra invasores: era mais uma barreira física a ser transposta. A leste da mais famosa cidade da Suíça, Zurique, um desses fossos também existia e ele era chamado de Hirschengraben.

Mas qual a relação do fosso com a dança Hirschegräbler? Na verdade, é uma conexão indireta. Essa vala de Zurique, que tem registros de sua existência desde o século XIV, tinha inicialmente outro nome: Stadtgraben - Fosso da Cidade. Entretanto, a denominação mudou a partir do século XVI, quando um tratador de corças limpou a área, que era usada para jogar entulhos e inclusive para a caça, e passou ali a criar cervídeos. O local se tornou uma atração, como um Zoológico, e motivou ser chamada de “Fosso dos Cervos” - Hirschengraben, ou também no dialeto de Hirzengraben. Em 1774, aboliram os animais e, poucos anos depois, transformaram o antigo fosso em estrada e passagem de pedestres com arborização. Mesmo com outro cenário, parte da região seguiu sendo o Hirschengraben e as pessoas que lá viviam de Hirschegräbler.

Assim, a dança ganhou esse nome pois era no entorno do “Fosso dos Cervos” que o “Zürcher Tanzkreis” - Círculo Zuriquense de Danças -, mais antigo grupo típico da cidade, se reunia (e ainda hoje se reúne). Foi uma homenagem a esses dançarinos. No entanto, Klara Stern fez a coreografia, com a música de Hans Flury, para um evento a 120 km de Zurique: para a Unspunnenfest de 1955 em Interlaken. Desta forma, mesmo que a Hirschegräbler tenha partes puladas, NÃO estão representando cervos: há um fosso de distância entre uma coisa e outra.

Quer saber mais? Conheça a dança da Hirschegräbler em https://youtu.be/-EvVjINQBro .

13.02.2023 - Hopp Mariannele

12.02.2023 - Schwingkehr

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13.02.2023 - Hopp Mariannele ou Polka piqueé?

 

Para entender a origem desta dança, é preciso voltar um pouco mais no tempo. O ritmo já era conhecido nas gerações anteriores pelas crianças francesas. Se trata da canção "Marie, trempe ton pain" (Maria, mergulhe o seu pão). Possivelmente, também existia alguma coreografia ou brincadeira para ela, ou até mesmo alguma outra melodia com o mesmo ritmo. E, como a França sempre foi um país referência para todo o mundo na moda, nas artes eruditas e também nas populares, uma música bem difundida entre os franceses se espalhava também por outros países.

 

Dessa forma, no início do século XIX essa melodia francesa se tornou muito conhecida em todo o território de língua alemã. Dentre as teorias para a sua entrada está o fluxo informacional vindo da Revolução Francesa e as campanhas de Napoleão Bonaparte nos territórios do Sacro Império Romano Germânico. É interessante observar que “Marianne” é o nome da personificação da Revolução Francesa no quadro “A Liberdade guiando o povo”, de Eugène Delacroix, de 1830.

 

Devido aos poucos registros da época, não se sabe exatamente a coreografia que era executada nos salões alemães para essa música, contudo, é sabido que cantavam algumas rimas sobre a Marianne. De toda forma, na Alsácia, parte dessas tradições se mantiveram, onde se encontra a música tocada sob o título “Hopp Mariannele”. Lá, também se preservou a formação coreográfica, que tem como figura marcante a “polka piquée”, ou seja, uma polca “taco-ponta”. Por isso, muitos passaram a chamá-la de “Polka Piquée”.

 

Então, para não ter confusão, anote que a dança tem dois nomes: “Hopp Mariannele” e/ou “La Polka piquée alsacienne” (A Polca Taco-Ponta da Alsácia). Escolha uma e pode usar sem moderação.

 

Quer saber mais? https://www.culturaalema.com.br/tanz e veja o vídeo do Musique Paysanne et Groupe folklorique alsacien de Geudertheim ( https://youtu.be/9yTatqxVOsw ).

12.02.2023 - Schwingkehr

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12.02.2023 - Schwingkehr: uma dança típica ou uma criação unitária?

A forma da Schwingkehr foi escrita pelo professor Herbert Oetke, com música composta por Heinrich Dieckelmann. São dois nomes que, aparentemente, não têm uma grande importância dentro da história alemã, contudo, entre os grupos de danças típicas, eles foram responsáveis pelo registro e pela criação de uma série de coreografias e melodias.

Ao final do século XIX houve na Alemanha um grande êxodo rural e forte industrialização nas grandes cidades. Isso gerou uma insatisfação frente essa “nova” sociedade repressiva, autoritária, industrializada e urbana. Isso fez com que grupos de jovens começassem a buscar por um espaço livre que os permitisse desenvolver o seu próprio modo de vida saudável. Neles, havia uma aspiração romântica por coisas em seu estado primitivo e por tradições culturais antigas. Esse foi o Movimento da Juventude Alemã (Die deutsche Jugendbewegung).

Foi nesse meio que os jovens Herbert Oetke e Heinrich Dickelmann passaram sua juventude, especificamente atuando no resgate de antigas canções e danças populares. Além disso, eles e seus colegas do Movimento queriam maior dinamismo e desenvoltura nas coreografias e músicas, o que incentivou novas criações com base nas antigas tradições. Disso, decorreu também o surgimento de vários grupos de danças, tanto nos vilarejos quanto em cidades grandes, especialmente em Berlim.

Assim, “Schwingkehr” é uma dança criada, composta e coreografada a partir de elementos das tradições da Alemanha do século XIX, porém, com passos e figuras mais dinâmicos e ágeis. Possivelmente, ela leva esse nome por causa de uma de suas formações com viradas rápidas. Sua origem se deu em Berlim, com referência à região antigamente conhecida como “Mark Brandenburg” (Marquesado de Brandemburgo ou Marca de Brandemburgo).

Quer saber mais? Acompanhe informações sobre outras danças típicas e seu contexto. E veja a dança com os colegas do DGV: https://www.youtube.com/watch?v=H6VvU6dEUkU

11.02.2023 - Kieler Sprotten

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11.02.2023 - O que é um Kieler Sprotten ou Espadilha de Kiel?

Os catarinenses são apelidados de barriga verde; os hamburguenses de cabeça de peixe; e os moradores de Kiel, no norte da Alemanha? Os moradores tradicionais da capital do estado do Schleswig-Holstein são conhecidos como Espadilhas de Kiel, ou em alemão Kieler Sprotten. Mas por qual motivo?

Também chamado de Sprattus de Kiel, ele é um peixinho defumado típico da capital do estado alemão de Schleswig-Holstein. Sendo pescado no Mar do Norte, passa por uma defumação especial, fazendo-o diferenciado. Referências de sua comercialização existem desde o início do século XIX, tornando-o um dos símbolos de lá. Por esse motivo os nativos antigos da cidade ganharam esse apelido de “Kieler Sprotten”.

E por qual motivo esse se tornou também o nome de uma dança? Essa pergunta não é difícil de responder. Essa coreografia surgiu em Kiel, quando do Encontro Nacional de Danças Típicas em 1992, durante o intervalo de duas apresentações na praça que fica defronte à prefeitura. Devido a forma como ela nasceu, no coração da cidade, acabou batizada de Kieler Sprotten, como um típico cidadão nativo.

  

Quer saber mais? Veja a dança do Kieler Sprotten com os participantes da Landestrachten- und Volkstanzverbands SH: https://www.youtube.com/watch?v=pKsS4KnZCBo

10.02.2023 - Der Budaker

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10.02.2023 - Der Budaker: uma dança alemã, austríaca, romena ou húngara?
A região do Siebenbürgen - “Sete Burgos”, mais conhecida mundialmente como Transilvânia -, na Romênia, traz consigo uma grande bagagem histórica. Ela foi colonizada tanto por alemães (a partir do século XII) quanto por austríacos (a partir do séc. XV) com o objetivo de defender a fronteira sudeste do Reino da Hungria. Esse grupo, que ficou conhecido por Siebenbürger Sachsen, convivia na mesma área com comunidades romenas e húngaras.
É de lá que veio “Der Budaker”, dança registrada na localidade de Deutsch-Budak (motivação para o nome), que fica no norte do Siebenbürgen, especificamente na área de Nösnerland. Sua formação lembra algumas quadrilhas do norte da Alemanha. Já sua melodia é bastante assemelhada à austríaca “Windischer aus Moschendorf”, da região de Burgenland - por mais que as coreografias delas sejam completamente diferentes. Contudo, qual música originou qual? Provavelmente, as duas não tiveram contato uma com a outra, sendo, sim, ambas inspiradas em uma terceira: como tanto Nösnerland quanto Burgenland pertenceram ao Império Húngaro, possivelmente uma antiga cantiga popular magiare foi a musa para o surgimento delas.
Deste modo, a “Der Budaker” é uma grande conexão de manifestações culturais. De toda forma, também é sabido que ela é uma expressão peculiar da identidade dos Siebenbürger Sachsen na Romênia.
Quer saber mais? Veja as demais danças que já foram abordadas neste projeto. Curta, comente e compartilhe.

09.02.2023 - Kreuzpolka

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09.02.2023 - Por qual motivo a “Kreuzpolka” é a Polca Cruzada?

Algumas respostas podem ser tão objetivas que parecem sem graça. Assim, se pode responder de um modo lúdico ou técnico. Para ser mais leve, comecemos pela historinha: no século XIX a Kreuzpolka era “top” da moda nas pistas de baile do norte da Europa. Era uma sequência de passos com polca / chote que se encaixava com várias músicas. Quando alguém ia pedir essa dança para o conjunto musical, diziam: “por favor, toquem aquela polca cruzada”, pois, visualmente, era assim que ela era lembrada. Dessa forma, com o passar do tempo, muitas localidades constituíram sua própria “Kreuzpolka”, mantendo a característica básica da coreografia original (primeira parte) e agregando outras figuras que eram do gosto local.

Já na visão mais técnica, ela tem esse nome provavelmente por dois pontos básicos de sua coreografia. O primeiro é pela sequência da parte inicial: dois passos de chote somado a cruzar um pé sobre o outro, tocando a ponta levemente no chão (em alemão parece bem mais fácil de explicar: “Schottisch mit Tupftritt über Kreuz”). O segundo, menos destacado, seria pela formação dos pares com braços cruzados, Kreuzfassung, podendo isso ser feito de vários modos, como cruzamento estando o casal lado a lado - seitliche Kreuzfassung-, ou com os braços cruzando pelas costas - Rückenkreuzfassung -, entre outras variantes. De toda forma, há também muitas Kreuzpolka que não usam o Kreuzfassung.

Qual das duas você mais gostou? Mas ainda se pode complementar: segundo Hans von der Au a dança teria surgido na Pomerânia e ido para Berlim, de lá ganhando visibilidade. Seria uma variação espontânea do Hackenschottisch. Outros autores já destacaram sua presença regional, como em comunidades que hoje fazem parte da Alemanha, Áustria, Dinamarca, Suíça, Polônia, Itália, Romênia, entre outras. E se formos analisar cada uma dessas “novas” Kreuzpolka que surgiram depois, provavelmente seriam mais interessantes e teriam mais a nos contar do que a base que as gerou: por mais que a “semente” seja o início de uma planta - a origem -, as pessoas acham graça é do que vem dela, com caule, folhas e flores. Faz parte da vida.

Ouça a Krezpolka tocada pela Blaskapelle Herbert Ferstl em https://youtube.com/watch?v=6daiVWFUHtI&feature=shares e também num tom tirolês com o Trachtengruppe Silberspitz https://www.youtube.com/watch?v=DXhZIVi2fnw . Também veja o formato bávaro dela sendo ensinada pela Katharina Mayer e pelo Magnus Kaindl em https://www.youtube.com/watch?v=vyPZaNjyXC0 e a variante Burgenländische Kreuzpolka, da Áustria, https://www.youtube.com/watch?v=ym9P8nA7kyE

BO onde se pode ver com clareza o passo típico da dança.

08.02.2023 - Niederbayerischer Ländler

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08.02.2023 - Qual a relação da Niederbayerischer Ländler com o Böhmerwald?

Há ligações que são maiores do que meramente o gosto pela dança: às vezes, de modo racional, outras, pelo sentimental. Um exemplo é a Niederbayerischer Ländler, de origem bávara, que é popular entre os grupos de danças na Alemanha de ascendentes do Böhmerwald - Floresta da Boêmia. Mas por qual motivo? Pode ser por essa coreografia ser de Wotzdorf, uma comunidade pertencente ao círculo de Passau. Ou pode ser mero acaso. Para entender essa conexão é preciso retornar à 1945.

O final da II Guerra Mundial gerou grandes alterações na Europa. Uma delas foi a diáspora - uma saída forçada - das populações de língua alemã dos territórios de fora da Alemanha e da Áustria. Para os moradores do Böhmerwald, nos Sudetos - atual República Tcheca-, onde essa expulsão também ocorreu, uma cidade ficou marcada nesse doloroso processo: Passau, na fronteira da Alemanha com a Áustria. Após terem sido tirados de suas casas no lado tcheco, sem poder levar quase nada, tiveram um longo período de caminhada ao relento. Somente depois de mais de 100 Km, conseguiram chegar à Passau, na Baixa Baviera - Niederbayern -, onde receberam acolhida e puderam descansar… e sobreviver. Por esse motivo, esse município ganhou o título, desde 1961, de “Patenschaft über die Böhmerwäldler” (que, em tradução livre, seria “Padrinho dos vindos da Floresta da Boêmia”).

Assim, se a Niederbayerischer Ländler é apreciada pelos descendentes de Böhmerwäldler por questões de gosto ou afetividade, isso não se pode realmente precisar. Contudo, que a região de Niederbayern está no coração dessas famílias, isso é sabido e amplamente proclamado. Todos os anos, no final de julho, há o encontro dos descendentes de Böhmerwäldler na região, intercalando atividades entre Passau e o vilarejo de Lackenhäuser. Uma realidade de gratidão com a terra que os recebeu e de manutenção com a antiga Heimat.

Veja o link do site da cidade de Passau https://www.passau.de/LebeninPassau/Kultur/Passauinternational/Boehmerwaeldler.aspx

 e também a dança da Niederbayerischer Ländler: https://youtu.be/ggmmgkiiGac

07.02.2023 -  Steirische aus dem Böhmerwald

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07.02.2023 - A “Steirische aus dem Böhmerwald”  é a mesma “Böhmischer Landler”?

Para essa pergunta se responde “Sim” e "Não", ou em alemão o famoso “Jein” (Ja und Nein). A “Steirische aus dem Böhmerwald”, “Steirer aus dem Böhmerwald”ou  também tem o nome de “Böhmischer Landler”, “Böhmischer Ländler” ou simplesmente “Böhmischer”. O problema é que existem também outras coreografias de nome Böhmischer Landler e Böhmischer. Assim, é ao mesmo tempo uma mesma dança ou três diferentes.

E por qual motivo isso acontece? Pois “Böhmen” (Boêmia), ou Reino da Boêmia, como se chamou até 1918, era uma grande área da Europa Oriental vasta e importante. Pelo seu potencial político e por ter destacados centros intelectuais - como a capital Praga -, usar o adjetivo “Böhmisch” passou a ser positivo. Ainda hoje na República Tcheca são comercializados os “Cristais da Boêmia”, por exemplo, que são objetos vítreos com destacado padrão de qualidade. Da mesma forma aconteceu com muitas músicas, danças e cervejas.

Nesta situação, inevitavelmente muitas danças e músicas de lá passam a ter repetições de nomes. Há várias “Böhmische Polka”, “Böhmischer Walzer” e, também, “Böhmischer Landler/Ländler” - só para citar três. Não por acaso a “Steirische aus dem Böhmerwald”, coreografia vista na Floresta da Boêmia e gravada por Ludwig Hoidn em 1925, tenha também sido chamada como uma das muitas “Böhmischer Ländler”. Mas o que é uma Steirische? É igual a uma Ländler? E por qual motivo estava no Böhmerwald? Isto veremos futuramente em outra postagem.

Veja a descrição da dança em https://www.dancilla.com/wiki/index.php/Steirischer_aus_dem_B%C3%B6hmerwald

06.02.2023 - Würfel 

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06.02.2023 - Würfel é a dança do dominó ou do dado?

O que há de especial nas danças escocesas? A resposta é “protagonismo”: não basta ser uma coreografia em conjunto, é preciso que todos possam assumir em algum momento o papel principal. Claro que soma-se a isso a técnica de passos e a música característica, contudo a interação entre os participantes na progressão das figuras é essencial. 

“Domino Five” é um exemplo disso. Ela foi publicada em coleções de danças escocesas e, possivelmente, foi assim chamada por causa da disposição dos dançarinos na pista: se for olhar de cima, lembra a peça de dominó com o número 5. É dessas coreografias que não se precisa pensar muito no motivo do nome.

É interessante que, ao chegar à Alemanha, alguns grupos chamaram-na de “Würfel”. Assim, para os escoceses, a dança é o “Dominó Cinco” e para os alemães é o “Dado” - indicando o número cinco em um dos seus lados. É também bastante compreensível a relação.

Mas por qual motivo não a chamaram de “Domino Fünf”? Provavelmente seja pelo protagonismo: enquanto os habitantes das Scottish Highlands destacam o papel central dos dançarinos em suas tradições, os alemães, por sua vez, agregam às coreografias que dançam seu ponto de vista, como nome “germanizado” e canções em língua alemã. Mesmo com suas diferenças, em ambos os casos, estão falando de peças de jogos: pelo menos concordam em alguma coisa, além de que a Domino Five é divertida de se dançar.

 

Veja a apresentação do grupo berlinense de danças escocesas “The Hopalots”: https://youtu.be/IP6h-Ysmoms
Outra bela dica é essa sequência de danças escocesas iniciada pela Domino Five, apresentada pelo grupo Dunedin Dancers, de Edimburgo, Escócia: https://youtu.be/wZpLQupGc

05.02.2023 - Buchelklobber

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05.02.2023 - Buchelklobber: trabalhar dançando ou dançar trabalhando?

A representação do batedor de nozes da faia.

Entre as danças alemãs, é possível encontrar muitas que retratam o trabalho diário do camponês. Uma delas é a dança “D´r Büecheleklopfer”, oriunda da Alsácia (área com influência alemã na França) e também encontrada na região francesa da Lorena e em comunidades próximas na Alemanha, como o Pfalz (Palatinado) - onde era dançada com sapatos de pau / tamancos e também era conhecida como “Holzschuhtanz”.

Com ritmo marcante, logo são percebidos três momentos distintos na dança: o primeiro representa um jogo de conquista entre o homem e a mulher; o segundo apresenta as batidas feitas pelo camponês para extrair o óleo da noz da faia (o Buchel / Buchecker); e o terceiro que é o momento coletivo de dança, no qual, em valsa, os pares giram pela pista.

Porém, o que o camponês fazia com esse óleo (Buchenöl / Bucheckeröl)? Hoje, ainda, ele é muito utilizado tanto na culinária, por apresentar um sabor semelhante ao da avelã, quanto, em algumas regiões, como óleo para lampiões e lamparinas.

Assim, “D´r Büecheleklopfer” faz a combinação perfeita da dança e do trabalho do camponês, sem contar que tem uma musicalidade toda especial com o bater dos tamancos.

Acesse o vídeo da dança: https://www.youtube.com/watch?v=7WDljGEeOQE com o Westfälische Tanzgruppe, do Brasil e o com o Grupo D' Kochloeffel https://youtu.be/RhHxWnq4d8o

04.02.2023 - Krauteintreter

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04.02.2023 - Krauteintreter: por que o chucrute tem um sabor tão especial?

A palavra chucrute teve um longo caminho até chegar ao idioma português. Hoje, o prato de repolho fermentado é encontrado na culinária de vários países europeus. Na Alemanha, ele é conhecido como “Sauerkraut” e, possivelmente, ele chegou às cozinhas francesas através da região da Alsácia, onde o repolho fermentado é chamado de “Sürkrüt”. A partir do nome alsaciano, o prato recebeu o nome “choucroute” em francês e, posteriormente, “chucrute” em português.

Alguns historiadores indicam que a técnica de fermentação do repolho tenha sido trazida da China à Europa pelos Hunos. O que se sabe é que a arte da fermentação foi muito importante para que os camponeses europeus pudessem ter alimentos ao longo de todo o ano, passando por longos períodos de frio no inverno.

Por isso, a preparação do chucrute era importante no trabalho do camponês. Tão importante que ela ganhou, inclusive, uma dança em homenagem à pisa do repolho: “Krauteintreter”, que significa “o pisador de repolho”. Como o chucrute era feito em grande quantidade, afinal, precisava ser o suficiente para quase um ano, era necessário literalmente pisotear o repolho picado para misturá-lo com os temperos e, assim, proporcionar a fermentação necessária para sua conservação.

Com certeza, o pisotear do chucrute dá ao prato um diferencial! E você achando que era somente os italianos que pisotearam a comida, como no preparo dos vinhos.

Que tal tentar fazer chucrute em casa? Segue uma receita vinda de Rio do Sul (Santa Catarina), sem a necessidade de pisar : https://youtu.be/-k8UD2kymkg

 

Mas, se quiser uma receita em grande quantidade e com o pisotear, dá uma olhada nesse vídeo vindo de Flossenbürg, região de Oberpfalz na Baviera: https://youtu.be/Sptn-310zTM

03.02.2023 - Herr Schmidt

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03.02.2023 - Como surgiu a conhecida Herr Schmidt?

Tem muitas músicas populares que, de tanto serem cantadas, no passar de séculos, acabaram ganhando um milhão de versões da letra. Esse é o caso da Herr Schmidt, que pode ser vista na Alsácia francesa, no Tirol austríaco, em Hamburgo na Alemanha, na Nova Petrópolis brasileira ou em muitos outros locais. Fácil de cantar, com rimas que ganham novos versos constantemente, a canção se disseminou, tanto entre crianças quanto entre os adultos e, por esse motivo, não demorou para ser espontaneamente coreografada (como também se vê com as cirandas e rodas).

Mesmo que Schmidt (e suas muitas variantes) seja o ferreiro - que trabalha na ferraria-, nessa música, é para ser um sobrenome. Diz uma das variantes conhecidas: “Senhor Schmidt, Senhor Schmidt, / o que traz a menina? / Um véu e um chapéu de pena, assim a moça fica bem com isso (fica bonita)”. Essa é popular na América do Sul. Mas, de modo geral, a lógica dos versinhos é similar: perguntar para o Sr. Schmidt o que uma determinada moça ou menina vai levar junto (pode ser a Matilda, a Sabine, a Julia, a Dorinha, Rosalia, Minna... os nomes variam) e as respostas são das mais normais às mais absurdas, como “Senhor Schmidt, o que a Matildezinha vai ganhar? Um porco inteiro abatido e, além disso, dois barris de manteiga”. A diversão faz parte da sobrevivência da tradição. Há também algumas opções da Vera Schmidt, que perguntam o que o menino leva junto.

Alguns teorizam que o ritmo da Herr Schmidt teria vindo de longínquas canções militares da Península Ibérica. O problema é que, em cantares muito simples, que passam de boca em boca e colam no ouvido - “efeito chiclete”-, há dificuldades de fazer um rastreio eficaz dos passos que a trouxeram ou levaram de um local para o outro. Descendentes argentinos dos Wolgadeutschen dizem que seus antepassados trouxeram essa música na memória. No Brasil, essa mesma melodia foi gravada pelo conjunto Os Três Xirús em 1969 por ser muito popular no sul do país. O que se tem certeza é que a música persiste ainda hoje em salões de baile pelo mundo, alegrando muita gente.

Veja uma variedade de versinhos da Herr Schmiedt no link https://www.volksliederarchiv.de/herr-schmidt-herr-schmidt-wir-haben-eine-bitt/ ou https://www.lieder-archiv.de/herr_schmidt_herr_schmidt-notenblatt_300636.html

 A dança pode ser vista na versão da Alsacia em https://www.youtube.com/watch?v=gmAU4RCSKYI

 ou no Brasil em meio ao baile da Schützenfest https://www.youtube.com/watch?v=68gyLDOz2ro

02.02.2023 - Klodrauer Råja

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02.02.2023 - Klodrauer Råja vem de qual cidade de nome “Kladruby”?

Imagine um país, onde muitas cidades e distritos tenham nomes iguais? Isso acontece muito na Alemanha e República Tcheca na atualidade. Há vilarejos, por exemplo, que existem com a mesma designação desde a Idade Média e não se pode, séculos depois, querer mudar o nome. É o exemplo de Kladruby, na República Tcheca.

Kladruby pode ser encontrada uma dezena de vezes no país. Só no Google Maps cinco aparecem logo na primeira tentativa de busca. Então, como saber de qual vem a Klodrauer Råja? Neste caso, é necessário ser um pouco detetive e conhecer um pouco mais sobre essa dança típica. Klodrauer Råja, que, em alemão, quer dizer “Kladrauer Reigen”, é o “Círculo de Kladrau”. E de qual dialeto é? Essa pode ser a chave da questão: do Egerland. No Eghaland (em dialeto alemão e Chebsko em tcheco), havia muitas comunidades de língua alemã e, lá, também existia uma Kladruby, denominada pelos locais de Kladrau. Se tem notícia que já existia uma igreja lá pelo século XIV.

Resolvido! Se descobriu de qual Kladruby se está falando: fica perto da fronteira com a Alemanha e tinha também o nome de Kladrau. Contudo, como diferenciar então uma da outra? Com as novas organizações nacionais na Europa foram colocados “sobrenomes” em muitos locais, como o exemplo de “Frankfurt” do rio Oder, já que tem outra mais famosa homônima no rio Main. No caso do berço da Klodrauer Råja, chama-se atualmente Ovesné Kladruby.

Assim, para conhecer um pouco de geografia, também é preciso ter dados da história e saber um tanto das culturas locais. As danças típicas carregam em seu “DNA” muito mais do que simples formações coreográficas: contam muito sobre os locais de onde vieram e das pessoas que as dançavam.

Quer ver a Klodrauer Råja em um vídeo com um grupo do Egerland, veja o link https://www.youtube.com/watch?v=fooBL0gwgO8

01.02.2023 - Baonopstekker

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01.02.2023 - Baonopstekker foi feita para delimitar um espaço no Pub?

Imagine um Pub onde está cheio de gente. Lá tem a pista de dança, mas foi “invadida” por quem está parado batendo-papo: tem dois no meio tomando cerveja; outras moças na lateral rindo; no outro lado aquele círculo de piadistas onde um tenta ser mais engraçado que o outro… um monte falando ao mesmo tempo. Pedir para liberar o espaço para começarem a dançar é sempre um problema, pois ninguém escuta nada no meio do burburinho.

Foi supostamente neste cenário que nasceu essa coreografia holandesa do início do século XX, também conhecida como Tulpentanz - Dança da Tulipa. O nome Baonopstekker pode ter relação com “abrir o espaço", como a expressão “abrir caminho para o trem”. Se pode ver essa ideia durante a dança em várias figuras, como círculos que se expandem e retraem, linhas e movimentos rápidos. E uma curiosidade: no início somente as mulheres participavam dela. Seria uma boa forma de liberar a pista do Pub e deixar quem quer dançar ocupá-la.

Assim, quando você estiver numa festa e quiser abrir o espaço para o bailado, comece com a Baonopstekker. Seja com música ao vivo ou com uma bonita gravação, é um bom estímulo para manter a pista ativa, bem frequentada, mesmo que os rapazes ainda não tenham chegado para a “balada”.

Veja a dança em https://www.youtube.com/watch?v=RCXxJ1Tl09o

 e escute o áudio em https://www.youtube.com/watch?v=tNaeawoTqngo

31.01.2023 - Lach-Quadrille

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31.01.2023 - Na Lach-Quadrille, a música pode dar risada?

Com certeza quem dança a Lach-Quadrille pode rir muito, principalmente por ela ser alegre e ainda mais se estiver bem acompanhado. Mas é possível sua melodia imitar uma risada? Sim, pelo menos ela tenta. Na Alemanha existe essa coreografia de quatro pares que recebeu o nome a partir da característica de sua música. Na segunda parte da Lach-Quadrille, a “Quadrilha da Risada”, o compositor procurou imitar um riso a partir da combinação de colcheias. O resultado ficou divertido. Só não se sabe se os supostos pais da dança estão rindo assim.

Existe um problema quanto à origem da Lach-Quadrille. Ela é atribuída por muitas fontes ao território de Mark, no Estado alemão do Brandenburg (como se vê na coletânea “Schurt den Redel ut: Märkische Völkslieder und Volkstänze” de 1952, organizado por Herbert Oetke), contudo há quem diga que é da Nordrhein-Westfalen, do outro lado do país. Ou será que ela seria pomerana, já que consta também entre as seleções de lá? E tem quem diga que é uma melodia vinda dos Estados Unidos da América. Como saber? Provavelmente necessitarão, neste caso, de um teste de DNA da “criança”. Uma pesquisa cultural dessas provavelmente levará um certo tempo para ser feita. Mas não tem problema, vamos esperar, pois “quem ri por último ri melhor”.   

Escute a melodia em https://www.youtube.com/watch?v=teHKs2yIWOU.

30.01.2023 - Landskrona

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30.01.2023 - Landskrona, da Suécia, é uma dança desleixada?

Dançar para muitos tem o objetivo de entreter, independente de ser bonita ou feia; para outros é uma forma de se mostrar para a sociedade, sendo uma bela oportunidade de encontrar o seu par perfeito em uma festa ou baile. É inegavelmente um elemento da cultura das comunidades. Segundo a associação “Svenska Folkdansrigen”, responsável pela organização da dança típicas na Suécia, possivelmente, as pessoas sempre dançaram, sendo uma parte importante para interação quando querem brincar e se divertir.

Mas uma dança pode ser desleixada? Segundo o professor e pesquisador sueco Bengt Martinsson, na década de 1950, o ritmo da dança Landskrona era muito rápido e ela ficava com uma aparência “desleixada”. Desleixado é, segundo os dicionários, algo considerado sem cuidado, feita com desatenção, desorganizado. Com certeza não combinaria com a cidade homônima de Landskrona, que fica na costa da província histórica da Escânia - não por acaso a coreografia também é chamada em sueco de Skånsk kadrilj, em alemão Scanian Quadrille, ou “Quadrilha Escaniana”. Mesmo tendo uma aparência terrível, vista pelos mais tradicionais, ela sempre era dançada, sendo indispensável para os jovens. Assim, a comunidade escaniana achou a solução para o problema: deixar a música mais lenta, permitindo que a quadrilha fosse melhor executada.

Assim, a Landskrona atualmente consegue agradar à maioria: segue sendo divertida e rápida, contudo não tão ligeira a ponto de ficar desleixada.

É uma bela dança que, com o tempo, foi agregando figuras e é indispensável dentro do repertório típico da Suécia. Quem sabe ela apareça um dia desses sendo dançada dentro de uma das lojas do Ikea? Essa grande rede moveleira sueca, que tem como característica ter móveis fáceis de montar, sempre se mostrou apaixonada pelas tradições do seu país, pela agilidade… e pela organização - desleixada não!

Veja os vídeos dessa dança: https://youtu.be/H3jR3arOhgk e https://youtu.be/aVdFUGKkObI .

E um pouco sobre a cidade: https://www.youtube.com/watch?v=X-7YPc0dGYY  .

29.01.2023 - Flachsernten

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29.01.2023 - A Flachsernten é uma dança para arranjar namorados?
Encontrar um par nem sempre foi uma tarefa fácil, ou alguns diriam que sempre é algo difícil. Imagine então como faziam no norte da Alemanha para encontrar um namorado? Muitos moravam em pequenos vilarejos, com poucas pessoas, onde todos se conheciam… e ao mesmo tempo não se tinha intimidade - já que sempre um pai, mãe ou avós estavam na vigia. Devia ser algo complicado.
De toda forma, existiam algumas oportunidades que aproximavam rapazes e moças. Uma das mais comuns era a sala de fiar, a Spinnstube: após o período da colheita do linho, o Flachsernte, nas noites de inverno, as meninas se revezavam para se reunir na casa de uma amiga e girar as rodas de fiar ou desamarrar novamente o linho. A supervisão da mãe e os antigos costumes se combinavam para garantir que todas as meninas fiassem o máximo possível em uma noite. Caso uma ou outra relutasse em pegar a roca, as demais a provocavam com canções.
Enquanto isso, os rapazes vinham visitar as fiandeiras. Eles assistiam ao trabalho, fumavam e contavam histórias, faziam charadas ou cantavam músicas com as damas. Quando o trabalho estava no fim, as rodas eram colocadas de lado e rapazes e moças se juntavam para seguirem cantando, brincar e dançar.
Assim, a Flachsernten não é uma coreografia de namoro, contudo apresenta esse contexto da colheita do linho, que muitos relacionam aos bons momentos desses encontros na sala das rocas de fiar. Bom, agora, se essa era a melhor forma de se arranjar um namoro, já não sabemos. Entretanto, se as famílias seguiram se multiplicando, provavelmente mostrou-se um modo eficaz.
Quer saber mais? Conheça também informações sobre o contexto do plantio, colheita, preparo, fiação e tear do linho na região de Lausitz - Brandenburg: 
https://youtu.be/ojAAAczmrZU . Escute uma canção sobre esse tema:  https://youtu.be/lL2-2Tuhqck . E veja a a Flachsernten:  https://youtu.be/qwzBrv4znuo .

28.01.2023 - Chiberli

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28.01.2023 - A Chiberli vem de onde?
No mundo das tradições populares algumas respostas podem ser fáceis de dar, mas nem sempre dizem muita coisa. A Chiberli, também escrita Chibberli, Schibberli ou De Schibberl, é uma dança de Luxemburgo. Mas há muito mais a se contar: como os luxemburgueses residem entre a França, a Bélgica e a Alemanha, sua cultura agrega muitos aspectos do que está no entorno e esta coreografia assimila muito disso, como apresentou Tom Weber em um artigo.
Vejamos a relação francesa: Chiberli é um nome alternativo para Soyotte, coreografia muito difundida nas regiões de Lorraine e Champagne. Na França, acredita-se que a dança pode ter algo a ver com o comércio de madeira, já que soyotte é uma palavra no dialeto local dos vosges e significa “serra”. De acordo com essa teoria, o vaivém da sua primeira figura imitaria um movimento de serrar. Já se observar pela tradição alemã, acredita-se que a Chiberli teria surgido da Wechselhüpftänze, que seria também a origem de uma série de outras danças reservadas às mulheres e realizadas como uma espécie de ritual de fertilidade.
Então, é o movimento da serra ou dança da fertilidade? Vamos fazer uma enquete? Com certeza são explicações um tanto diferentes… contudo se formos escutar atentamente à melodia dela, pode-se perceber que é um tanto parecida a Hakke Tonne / Göös op de Deel presentes nos Países Baixos e no norte da Alemanha… ou a segunda parte lembra variantes da Ruscher, como a Herr Schmidt. Isto mostra os múltiplos diálogos vividos nesta zona de fronteiras e, ao mesmo tempo, de encontros sociais.
Assim, quando fores a Luxemburgo lembre-se dessa pluralidade, seja na musicalidade, seja nas coreografias, seja na gastronomia, seja nos nomes das ruas ou principalmente no modo de falar: embora o idioma oficial seja o luxemburguês, tanto o francês quanto o alemão também presentes no dia a dia as pessoas, sendo inclusive usados para questões administrativas e judiciais.
Conheça a dança através dos vídeos 
https://youtu.be/rp_LNPoZD6k    e   https://youtu.be/9_xNAsntDeY    

27.01.2023 - In jungen Jahren

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27.01.2023 - A “In jungen Jahren” era dançada sem música?

Em algumas localidades, antigamente, não havia músicos. Eles passavam de vila em vila nas épocas de festa e eram contratados pela comunidade. Enquanto as festas não chegavam, os jovens e os adultos, de alguma forma, queriam se divertir e dançar. Para isso, eles costumavam cantar algumas canções que serviam de música para suas danças.

Esse é o caso da dança “In jungen Jahren”, da localidade de Keitum, na ilha de Sylt, ao norte da Alemanha. Por ser bastante isolada, antigamente, os moradores de Keitum precisavam criar possibilidades de diversão. Para uma de suas danças, eles cantavam duas estrofes de uma canção bastante conhecida na época: “Wohlan, die Zeit ist kommen” (Bem, chegou a hora). Com isso, a dança acabou ficando conhecida pelo primeiro verso da primeira estrofe “In jungen Jahren”.

“Em meus anos mais jovens / eu sempre quero ser engraçado / eu não quero poupar nenhum cruzador / ele deve estar bêbado;
Apenas vá você, eu tenho minha parte / Eu te amo só de brincadeira / Eu já posso viver sem você / Eu já posso ficar sem você.”

Assim, essa coreografia tinha música cantada, mas não tocada por instrumentos. Contudo, vai saber se junto com os cantores alguém fazia uma percussão com uma toco de madeira ou batia na mesa? No Brasil, com certeza, iriam no mínimo incluir o sonzinho de uma caixinha de fósforos.

Quer saber mais? 
 
https://www.culturaalema.com.br/tanz Ou conheca também essa canção com a estrofe, do Rundfunk-Jugendchor Wernigerode: https://youtu.be/HgA0DMvsUWU 

26.01.2023 - Schiebetanz

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26.01.2023 - Os Stadtpfeifer resgataram a Schiebetanz?

Antigamente, até mesmo as pequenas localidades de língua alemã tinham seu Stadtpfeifer. Em alemão “Stadt” quer dizer cidade e “Pfeifer” está ligado ao flautista, tocador de pífaro, assobiadores e, no contexto do medievo, músico em geral. Era, inclusive, uma profissão, formando as Guildas - associações de ofício Tendo muitos deles vários aprendizes, chegavam a formar literalmente uma banda municipal. Era comum que, para festas, as comunidades contratassem dois deles - o famoso “flauta e tambor” - ou um conjunto completo - tudo conforme o dinheiro disponível permitisse. Na Pomerânia, por exemplo, essa tradição persistiu ao tempo, estando viva ainda no século XX, quando inclusive acompanhavam a realização das dança típicas.

Esse contato íntimo com a comunidade fazia desses Stadtpfeifer conhecedores natos dos costumes locais, inclusive sabiam as coreografias feitas junto às canções. Também existiam nos vilarejos os que eram amadores, que aprendiam a tocar instrumentos com seus próprios familiares - uma tradição que imigrou para muitas colônias alemãs no Brasil. Em sua maioria artesãos ou agricultores, tinham na música um hobby, o que não os impedia de receberem algumas gorjetas. Sendo requisitados para os momentos festivos locais, sabiam quais eram os gostos de cada um e também quais “hits” se faziam mais populares, para não deixar o povo sentado.

Mas, afinal, foram esses Stadtpfeifer que coletaram a “Schiebetanz”? Não, ela foi registrada pelo professor Willi Schultz há mais de 100 anos; contudo isso só foi possível com a ativa colaboração desses antigos “Stadtpfeifer” pomeranos: eles contaram a ele o que lembravam da coreografia e o que tocavam de cor. É a importância desses Dorfmusikanten na manutenção da memória coletiva, preservando, mesmo sem se darem conta, a história viva das comunidades.

Quer saber mais? Veja no site  https://www.culturaalema.com.br/tanz

25.01.2023 - Topporzer Kreuzpolka

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25.01.2023 - De onde vem a Topporzer Kreuzpolka?
É tradicional na Baviera, no sul da Alemanha, e no Tirol, na Áustria, terem bailes de Volkstänze, danças típicas, nos quais um casal conduz a festa ensinando as coreografias aos demais. Grande parte do público não faz parte de grupos específicos: estão lá para se divertirem através das tradições. E, nessas confraternizações, geralmente tem a Topporzer Kreuzpolka.
Mas por qual motivo essa dança eslovena está nos eventos alemães e austríacos? Sim, ela é da Eslováquia e foi registrada no livro “Volkstänze aus der Slowakei” por Karl Horak e Karl Schwartz. Contudo, é importante ver que Toporec, local de origem da música, tem uma “ilha linguística alemã” nos Cárpatos, também chamada de Topporz. Assim, a “Polca Cruzada de Topporz” tem uma ligação identitária com as demais “primas” Kreuzpolka austríacas, alemãs, boêmias e italianas.
Desta forma, não é estranho que essa “parente eslovena” esteja dentro dos salões de baile dos países vizinhos. É como nos Encontros de Família, festas em que você acha que todos os parentes vieram do mesmo lugar e, quando se vê, cada um vem de um ponto distinto, mesmo tendo ligações consanguíneas. A vida é assim, repleta de pontes sócio-culturais.
Quer saber mais? 
https://www.culturaalema.com.br/tanz .  E se quiser ver algumas curiosidades, veja esse trabalho de Stop Motion onde os bonequinhos de Lego dançam a Toppozer Kreuzpolka: https://youtu.be/85bsZ65Lasc , 
e aqui os amigos do Blumenauer Volkstanzgruppe apresentando essa mesma coreografia: https://youtu.be/JaXK66-uUS4

24.01.2023 - Gelbzahn

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24.01.2023 - Gelbzahn faz referência aos dentes amarelos?
Já ouviu falar de “telefone sem fio”? Uma informação é passada de uma pessoa para a outra, tendo essa ação repetida várias vezes: no final a mensagem transmitida sai bem diferente daquela que iniciou o percurso. Isso acontece no dia a dia também, com lendas, narrativas, músicas, coreografias e com algumas expressões. Vai ao encontro do “quem conta um conto aumenta um ponto”.
E uma dança típica também teria no nome esse equívoco comunicacional? Gelbzahn pode ser um exemplo disso, já que é improvável que ela tenha sido batizada propositalmente de “Dentes Amarelos”. Infelizmente não se tem mais como perguntar aos autores - a coreografia é de Ludwig Burkhardt e música de Heinrich Dieckelmann, ambos falecidos e o material foi publicado no “Jungmöhl - Niederdeutsche Volkstänze der Gegenwart” de 1928. Assim, restam as deduções ou os boatos. Dizem que, na verdade, Gelbzahn seria uma corruptela de “Geld zahlen”, que em português se traduziria como “pagar em ou com dinheiro”. Com certeza é uma versão mais interessante do que tratar da cor da dentição de alguém - provavelmente também mais honrosa. De toda forma, como o tempo segue seu destino, que outras variantes desse nome poderão surgir? Ou quais outras explicações podem aparecer? Pelo menos se espera que, neste “telefone sem fio” da vida, não apareça nenhuma cárie nessa história ou alguém com sorriso amarelo.

23.01.2023 -  Mühlrad

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23.01.2023 - Como surgiu a Mühlrad, a dança do Roda do Moinho?
Primeiramente, existem muitas danças com essa característica na Europa, como na Alemanha, Áustria, Suíça, Itália, territórios da antiga Boêmia (atual República Tcheca), Dinamarca, entre outras. Das Mühlradl, Müllertanz, Radbohren, Radnabenbohrer são algumas delas, ligadas à roda que movimenta o moinho d'água. Não foi coreografada por uma pessoa somente e sim sua estrutura surgiu espontaneamente dentro das comunidades em suas festas e rituais. Essas coreografias se formaram de somas de figuras já existentes de outras danças populares com um objetivo comum: imitar a roda do moinho d'água, peça importantíssima na sobrevivência dos vilarejos, muito popular, pois movimentava o mecanismo da moenda de farinhas. Mesmo sendo danças independentes, sem uma surgir da outra, elas têm uma motivação comum que as interliga, já que a lógica mecânica do moinho era tradicional em diferentes locais.
A roda de quatro aros é um exemplo de figura que foi incorporada: oito (8) pessoas dançam e (4) delas, intercaladas, se penduram, ficando o corpo alinhado ao chão; essas batem os pés ou calcanhares para marcar o tempo da música, imitando o som da moenda. Outra cópia é a roda que parece como uma engrenagem, que era já conhecida desde a Idade Média de danças masculinas, como que formasse um sol. Outras partes são típicas nas marchas de abertura ou de fechamento de festas, com filas, círculos, divisão de pares ou giros em diversas formações. Tudo acabava embalado pelas melodias locais, muitas vezes sendo genéricas: usava-se a música que a banda sabia tocar.
Como uma forma de interpretação teatral, há comunidades que a apresentam usando roupas e toucas de trabalho na moenda, entrando no palco carregando sacos de farinha nas costas, relacionando diretamente ao dia a dia do moleiro. Com o tempo, passou a representar uma profissão e ganhar particularidades. Um
elemento aparenta ter nascido com esse tipo de dança: a batida dos pés no tempo da moenda, marcado de forma visual e sonora essa histórica tradição.

22.01.2023 - “Bunt Schört” 

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22.01.2023 - “Bunt Schört” é um traje ou uma dança pomeranos?
Existem diversos trajes de diferentes regiões da Pomerânia. Infelizmente restam apenas poucos registros sobre os trajes dos camponeses, pescadores e artesãos pomeranos. De toda forma, o que resistiu ao tempo nos mostra a riqueza cultural que existiu na Pomerânia, atualmente território que fica parte na Alemanha, parte na Polônia. Exemplo disso são os trajes de pescador da ilha de Rügen, do produtor de trigo de Pyritz e do camponês de Jamund.
E, afinal, o que é a “Bunt Schört”? Mesmo que o nome queira dizer “avental colorido”, ela é uma dança recolhida nos arredores de Stettin, cidade que era com moradores de língua alemã e polonesa e que hoje está na atual Polônia. A música e coreografia fazem menção tanto à beleza dos trajes pomeranos quanto à alegria que eles tinham nas festividades. Para essa melodia, existe uma canção que diz:
“Dance comigo, dance comigo, eu tenho um 

avental colorido. / Por mim tudo bem, por mim tudo bem, o meu é de cambraia. / Dance comigo, dance comigo, eu tenho um avental colorido. / Não solte, não solte, até o avental ter buracos.”
Na prática não existem limites claros entre elementos de uma identidade, mantendo uma conversa constante entre suas muitas partes, seja na musicalidade, seja nas letras que são cantadas, seja nas vestimentas que se utilizam, sejam nos hábitos do cotidiano. A vida não é dividida em pedacinhos.

21.01.2023 -  Hermsdorfer Dreikehr

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21.01.2023 - Onde fica Hermsdorf, da Hermsdorfer Dreikehr?
Entre 1945 e 1989, a cidade de Berlim, assim como toda a Alemanha, estava dividida em duas: a Oriental e a Ocidental. Após a 2ª Guerra Mundial, apesar de destruída, a cidade foi um dos principais centros de resgate das tradições no país. Para muitos, a dança permitiu deixar para trás as lembranças ruins do período dos conflitos: um incentivo para uma nova e positiva normalidade.
Com isso, muitas novas coreografias foram criadas com base nas antigas danças típicas. Uma delas é a“Hermsdorfer Dreikehr”, de 1965, feita pelo professor Volkhardt Jähnert. “Hermsdorf” nada mais é do que um bairro ao norte de Berlim - antiga área Ocidental -, onde fica a Georg-Herwegh-Oberschule, escola na qual foi dado o primeiro passo para a criação de um dos primeiros grupos de danças típicas de Berlim que ainda em atividade, o Volkstanzkreis Reinickendorf.
Ainda hoje a moderna capital alemã é um grande polo de cultural, com teatros, escolas de artes, museus e uma enorme pluralidade de tradições, além de inúmeras inovações: o que você procurar, Berlim têm.

20.01.2023 - Pfälzer Tanzfolge

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20.01.2023 - Onde fica o Pfalz, origem da Pfälzer Tanzfolge?
Já ouviu falar do Rio Reno? Da vitivinicultura alemã? De antigos castelos que servem de mirante a vales? Todas essas perguntas estão relacionadas a uma região de nome Pfalz, ou em português Palatinado, também denominado regionalmente de Unterpfalz. É de lá que vem um Potpourri de danças que ganhou o nome de Pfälzer Tanzfolge.
O grande problema é um estrangeiro conseguir entender onde fica o Palatinado. Ele está no Estado da Rheinland-Pfalz (Renânia-Palatinado), que compõem mais de um quarto do território, na parte mais ao sul. É dividido em Westpfalz, Nordpfalz, Vorderpfalz, Südpfalz. Fica na divisa da França com a Alemanha e tem uma rica história de disputas territoriais e trânsito de militares.
Para ajudar na localização vamos fazer uma experiência: se você sair de Paris, na França, em linha reta (alguns dirão que é uma parábola) até Nüremberg, obrigatoriamente passará pelo Palatinado. Ou o mesmo vale se você sair do aeroporto de Frankfurt em direção à Luxemburgo. Mas se ainda está difícil de achar, a melhor solução é pegar um mapa ou mesmo usar aplicativos especializados. E se tiver tempo, pode procurar a origem das danças de uma dessa Tanzfolge: Pfälzer Ländler, Altpfälzer Bauerntanz, Altpälzer Schleifer, Dritthalb e Schustertanz.

19.01.2023 -  Bartschrapertanz

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19.01.2023 - A Bartschrapertanz é um teatro dançado ou uma dança teatralizada?

Hoje, é comemorado o Dia do Barbeiro no Brasil, uma arte antiga e repleta de técnica. Já atuaram como cirurgiões e dentistas, tendo em suas lâminas a solução para muitos problemas extra os capilares. De toda forma, é no trato do cabelo, da barba e do bigode o seu destaque, o que mantém o ofício vivo na atualidade. E, fazendo referência a essa profissão, existem várias expressões artísticas famosas, como a ópera "O Barbeiro de Sevilha" e o musical e livro tétrico "Sweeney Todd: o barbeiro demoníaco da rua Fleet".
Nas tradições de comunidades de língua alemã, a barbearia também está presente. Pode-se vê-la com bom humor na Der Barbiertanz, igualmente chamada de Der Bartschrapertanz ou Balwierertanz. Algumas fontes descrevem-na como uma "Spiel", brincadeira, já que representa cenas satíricas conduzidas pela música, como um sketch teatral. No interior da antiga Pomerânia, por exemplo, onde os casamentos duravam mais dias, em meio ao baile havia uma pausa e três mascarados entravam na pista: um sentava em uma cadeira e dois passavam espuma e o barbeavam. Contam que um da dupla que saísse do ritmo ou fizesse o passo errado seria o próximo a sentar na cadeira de barbeiro. Uma forma divertida de entreter a comunidade e manter as tradições.
Assim, a Bartschrapertanz é sim uma dança e também um teatro-bufo, tendo música e passos ritmados. Ela brinda a todos com genuínos traços de arte popular e dá o reconhecimento a essa profissão secular. E essa arte segue viva para a alegria daqueles que prezam por um bom corte de cabelo ou um cuidadoso aparo da barba, algo que nos últimos anos voltou à moda.

18.01.2023 - Dreirunden

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18.01.2023 - O que significa Dreirunden?
Muitas vezes, espera-se que uma dança típica tenha uma história interessante por trás. Contudo, especialmente as quadrilhas - formadas de quatro pares -, são simples e sua origem também é bastante comum - uma vez que surgiram com o intuito de divertir: o mais importante era dançar. É o caso da “Dreirunden” e seu nome significa “três rodadas”, ou seja, com três repetições. Assim, ficava fácil pedir para a banda, em uma festa, tocar a música das “três rodadas”. E, para diferenciar de outras danças com três repetições, ela acabou sendo conhecida como “Pommersche Dreirunden” -  “a pomerana de três rodadas”.
Para que complicar, não é? Vambora dançar!

17.01.2023 - Egerländer Polka

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17.01.2023 - Egerländer Polka é a Polca do Egerland, mas onde fica esse lugar?
Um território onde se compôs muitas polcas é o da antiga Boêmia, estando grande parte dentro do que hoje é a República Tcheca. Lá está uma região que, em especial, é relacionada à música e a prósperas cidades: o Egerland. Seu nome está ligado ao rio Eger, um afluente do Elba, que passa da Alemanha para o lado tcheco. E não são apenas as águas que unem os dois países, pois existiam íntimas relações culturais entre os povos dessa fronteira, com destaque aos do Oberpfalz e da Francônia, sendo até 1945 a língua alemã fluente em ambos os lados. Em dialeto, a área era chamada de Eghaland e seu nome tcheco é Chebsko.
Um ponto é importante destacar: depois da Segunda Guerra Mundial, a população que falava alemão do Egerland foi obrigada, devido a tratados internacionais, a deixar a região e migrar para a Alemanha ou Áustria, ficando lá só as comunidades de idioma tcheco. Isso gerou um forte espírito identitário junto aos deportados, que trouxeram a público seus trajes típicos, danças e canções. Assim, não só foram preservadas músicas de lá, como também muitas novas foram criadas em lado alemão, a exemplo de muitas Egerländer Polkas. É destaque nesse cenário o famoso Ernst Mosch e seu conjunto Original Egerländer Musikanten. Assim, falar em uma Egerländer Polka é um tanto vago, pois não existe uma, e sim, várias. No seu modo de dançar é característico um passo em que a perna dobra o joelho um pouco mais do que nas demais polcas, deixando a panturrilha quase junto à coxa.
Agora você sabe onde fica o Egerland, na atual República Tcheca, contudo os descendentes dos Egerländer estão espalhados pelo mundo, com a maioria hoje residindo na Baviera.
Quer saber mais sobre danças e suas comunidades, acesse o nosso site:
 
https://www.culturaalema.com.br/tanz

16.01.2023 -  Marienfrieder

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16.01.2023 - Ao dançar a Marienfrieder, é necessário pagar direitos autorais?
É comum se dizer que melodias e coreografias populares, chamadas por muitos de folclóricas, são livres de taxas ou custas. A justificativa é que, em função de terem uma origem coletiva, do povo, elas pertenceriam a toda sociedade. Mas esta é uma meia verdade. Conteúdos registrados pelos autores junto a órgãos de proteção de direitos autorais podem sim ser taxados, seguindo regras regionais ou internacionais. Assim, nem tudo que você escuta ou vê pode ser simplesmente usado em público, mesmo que isso não represente lucro financeiro.
Vejamos o exemplo da Marienfrieder, uma dança bastante difundida entre os grupos culturais do sul da Alemanha, com coreografia de Günter Bernert e música de Emmi Swiersy de Lausitz. Segundo registros, a melodia está protegida pelas regras de direitos autorais, com fiscalização e cobrança de órgãos como o GEMA - Gesellschaft für musikalische Aufführungs- und mechanische Vervielfältigungsrechte (Alemanha), o AKM - Staatlich genehmigte Gesellschaft der Autoren, Komponisten und Musikverleger, reg. Genossenschaft mbH. (Áustria) e o ECAD - Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Brasil). As normativas garantem aos detentores dos direitos autorais o recebimento de royalties até 70 anos após o falecimento do compositor. Dando um exemplo, se um autor morreu em 1980, sua produção estaria protegida até 2050.
E respondendo diretamente à pergunta inicial: no caso da Marienfrieder, não é preciso pagar direitos autorais para dança-la, desde que a mesma seja apresentada em ambiente doméstico, que é considerado de uso privado; ou utilizar outro áudio, que não seja aquele de Emmi Swiersy, que é protegido e gera taxação.

15.01.2023 - D'schee Marie

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15.01.2023 - “D schee Marie” é uma música machista?
Tem um famoso ditado que diz “Beleza não põe a mesa”, por mais que outros digam que “a beleza não traz o pão, mas ajuda bastante a alcançar o padeiro”. Provavelmente a Maria desta dança do sul da Alemanha e Áustria não teria destaque se não fosse pela sua estética: “Ai que linda, ai que linda, ai que linda és tu Maria, da cabeça ao joelho, nunca vi nada tão lindo”, diz a letra da música. Quem sabe se fosse hoje, no politicamente correto, a música diria “Que inteligente é a Maria” ou “Que competente é a Maria”. Já Hermann Derschmidt traz uma segunda estrofe onde os focos são os atributos do rapaz com barriga de tanquinho, bonito e atraente. Será que era um camponês musculoso do trabalho da lenha… ou já tinha “malhação” naquele tempo para ser um burguês pouco dado ao serviço? Provavelmente não. É importante lembrar que o conceito de beleza varia no passar dos séculos. De toda forma, não se pode chamar uma música de machista ou feminista só pelo motivo do texto destacar a aparência das pessoas, sejam homens, sejam mulheres. É importante contextualizar cada coisa frente à sua realidade histórica: cada momento tem sua própria estética e seus valores.

14.01.2023 - Cylinder Kontra

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14.01.2023 - A Cylinder Kontra dinamarquesa vem da ilha irmã de Rügen?
Sim, mesmo não sendo no mesmo país. A ilha de Møn, na Dinamarca, é considerada a irmã mais nova da ilha de Rügen, a maior ilha da Alemanha. Ambas estão situadas no mar Báltico (Ostsee), há uma distância de cerca de 60 km pelo mar. 
Mas o que as torna irmãs? Não há nenhum acordo entre países ou pactos internacionais. É o aspecto geológico que as conecta, pois ambas surgiram a partir de movimentos de placas tectônicas, há cerca de 70 milhões de anos. E como duas irmãs, elas têm similaridades estéticas, sendo ambas adornadas pelas suas conhecidas falésias de giz.
Por outro lado, Møn e Rügen são culturalmente bastante diferentes. Mesmo próximas quanto à distância, uma população tem raízes dinamarquesas e a outra germânica. Assim, não busque comparar a Cylinder Kontra, tradicional dança em Møn - que leva esse nome pelas formações cilíndricas que aparece em sua coreografia - com a Schüddel de Büx de Rügen. Assim como nos irmãos consanguíneos, os gênios podem ser muito diferentes.

13.01.2023 - Fröhlicher Kreis

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13.01.2023 - A dança Fröhlicher Kreis é a mesma que a Circassian Circle?

A questão poderia ser respondida com o famoso “Jein”, unindo o Sim (Ja) com o Não (Nein). Uma é o Círculo Feliz em alemão, outra é o Círculo Circassiano, em inglês. E a Circassian Big Circle e a Circassian Circle são a mesma coisa? Também é uma boa pergunta, pois são bem parecidas. Popularmente essas três são consideradas sinônimas, mesmo não sendo iguais. O que pode-se dizer com certeza é que há muitas coreografias com diferentes melodias que se assemelham à Circassian Circle. Os registros mais antigos dela são de países de língua inglesa (algumas fontes dizem ser da Escócia, outras da Inglaterra, outras da Irlanda). Nos EUA teria uma versão chamada Großer Atlantik (estranhamente escrita em alemão, com algumas descrições destacando que é alemã e que não tem o círculo característico). Já Walter Bucksch comenta que "A Fröhliche Kreis é uma dança comunitária com mudança de parceiros, que foi exibida pela primeira vez em sua nova forma em 1938 em Graz”, ligando ela à Circassian Circle. Pelo visto as informações aparecem um tanto vagas. Em todos os casos, se vê uma semente comum: não são idênticas, mas com certeza tem parentesco próximo. E ela realmente vem dos circassianos, grupo étnico que vem da região do norte do Cáucaso, bem longe da Grã Bretanha? Aí, provavelmente, nem um exame de DNA pode nos ajudar a descobrir.

12.01.2023 - Dreihdans

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12.01.2023 - Dreihdans é para três ou seis pares?
Em língua alemã, existe uma expressão que diz “Aller guten Dinge sind drei”, que todas as coisas boas são três. Geralmente, ela é usada para indicar que algo está sendo feito pela terceira vez e, assim, dá-se a conotação de que agora vai dar certo, já que todas as coisas boas são três. Expressões semelhantes com o número três também aparecem em outros idiomas. Língua inglesa: third time's a charm; francês: jamais deux sans trois; italiano: Non c’è due senza tre.
O número três aparece em diferentes culturas ao redor do mundo e com diferentes significados.Seja em religiões ou na mitologia, seja em contos literários, o número três está em nosso dia-a-dia, mesmo que passe despercebido: reticências, santíssima trindade, três desejos.
Nesse caminho existe a Dreihdans, uma dança originalmente para três pares, escrita por Richard Pinkepank, de Hamburgo. Parece ser uma opção bastante auspiciosa. Com a autorização da família de Pinkepank e como seu trabalho de conclusão de formação de coordenadora, Helma Boltze (também de Hamburgo) realizou a pesquisa e a reescrita das coreografias de Pinkepank. Com a gravação musical de Martin Ströfer, ela possibilitou que essas danças estivessem novamente acessíveis à sociedade. Hoje, em alguns grupos, encontram-se variações da dança para seis pares, contudo não podemos nos esquecer que “aller guten Dinge sind drei” (todas as coisas boas são três). 

11.01.2023 - Zillertaler Ländler

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11.01.2023 - O que é o Zillertal, da Zillertaler Ländler?
O Zillertal é um famoso vale do Tirol, na Áustria, que recebe esse nome em função do rio Ziller (Tal em alemão é Vale). Hoje é ponto de turismo intenso, com destaque ao de inverno, com grandes redes de hotéis e aconchegantes instalações em meio aos picos nevados. Além das belezas naturais dos Alpes, a região tem destaque pelas tradições, lindos trajes típicos e muitos personagens lendários, além de famosos conjuntos musicais, como o Zillertaler Schürzenjäger e o Die Mayrhofner - nome relacionado com o município de Mayrhofen no Zillertal. 
Já a Zillertaler Ländler é uma das muitas variantes de ländlers tirolesas. Ländler é um ritmo ternário “primo” da valsa, popular nas regiões alpinas e áreas próximas. Esta versão foi apresentada por Heinrich Klausner de Ginzling em 1943 e, segundo Karl Horak, provavelmente ela tenha feito parte das figuras da Ahrntaler Bauern - dança do Vale vizinho.

10.01.2023 - Rutscher

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10.01.2023 - Qual a origem da dança Rutscher?
Na Alemanha é tradicional antes do Ano Novo se desejar “Einen guten Rutsch ins neue Jahr”, que em tradução livre seria “Uma boa escorregada para o Ano Novo”. Rutsch, assim, quer dizer em português escorregar, deslizar. Mas essa dança não tem nenhuma relação com o Ano Novo - foi somente um exemplo. O nome vem do movimento que a dança faz, por sua vez inspirado em outro evento do ano agrícola: o preparo da palha.
A palha precisa ser cortada e preparada, principalmente para estocá-la para o período do inverno. Assim, a coreografia da dança Rutscher faz referência ao trabalho do cortador de palha, comparando os movimentos à máquina de corte (a “Strohschneider”) e ao amarrar o feno. Quem a vê de fora percebe seus passos saltitantes, e o entrelaçamento das mãos, como que uma grande tesoura.
Variantes da Rutscher existem em muitos locais, como em muitas regiões da Alemanha (como na Floresta Negra e Turíngia), na antiga Boêmia (atual República Tcheca), na Áustria, na Itália, entre outras, assumindo diferentes figuras e nomes („Rutsch hin, rutsch her“, „Herr Schmied“, „Wechselhupf“, „Hühnerscharre“, „Rutscher“ e também “Strohschneider”). Mas cuidado: se a escorregada for muito grande, você se machucará, não podendo nem trabalhar com a palha, nem fazer grandes festas no Reveillon.
 
O “Uma Dança por Dia” é um projeto com coordenação de Christine Roll, Denis Gerson Simões e Helder John, em parceria com a FECCAB e o Boletim Der Hut.

09.01.2023 - Der Hinggi

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09.01.2023 - Der Hinggi: uma manca na Unspunnenfest?
Na língua portuguesa existem muitas palavras que eram usadas de modo inadequado para com os deficientes físicos. Uma delas é “rengo”, que quer dizer, segundo o dicionário Priberam, “do homem e do cavalo que coxeia de uma perna”, um manco, alguém torto. Na Suíça existe uma dança que tem um nome um tanto parecido “Der Hinggi” (der Hinkende), que em tradução livre seria “O Rengo”. Contam que sua autora, Annelies Änis, estava com a perna engessada ao criar a música e só conseguia dançar mancando, o que teria inspirado o nome. E a coreografia não ficou restrita a ela: foi feita para a Unspunnenfest de 1968, uma festa que ocorre a cada 12 anos na turística cidade alpina de Interlaken, desde 1805. Assim, com perna engessada ou não, provavelmente Annelies não podia esperar estar “fit” para aprontar sua coreografia, pois aguardar mais de uma década para a próxima Unspunnenfest seria ter paciência demais. Vemos, assim, que os nomes das danças nascem das situações mais inesperadas.

E uma novidade: em breve teremos o Quiz sobre os primeiros conteúdos publicados no Projeto. Veja em https://www.culturaalema.com.br/tanz , com colaboração de Felix Mugwyler.

08.01.2023 - Bruder Lustig

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08.01.2023 - Bruder Lustig: uma dança ou um conto de fadas?
A resposta é “os dois”. Para quem gosta de tradições alemãs é bem possível que conheça uma dança típica de nome Bruder Lustig, composta em Berlim (Berlim-Steglitz), na década de 1920 por Otto Abel, no contexto do Movimento Jovem/Jugendbewegung. Esta soma alegres partes com pulos, xotes e valsas. O que muitos podem não saber é que Abel pode ter se inspirado em um conto de mesmo nome recolhido pelos famosos Irmãos Grimm: Bruder Lustig.
“O Irmão Folgazão", como foi traduzido para a língua portuguesa, conta a história de um soldado que foi aposentado do exército após o fim da guerra e que, por ser muito alegre, era chamado de Folgazão (sinônimo de brincalhão, alegre, que gosta de brincar). Após um encontro com São Pedro, que estava disfarçado, passa por diversas provações e aventuras, vendo milagres e recebendo uma mochila mágica - que o possibilita, após a morte, com uma boa estratégia, entrar no Reino do Céu. Uma história cheia de reviravoltas e persp

07.01.2023 - Jiffy Mixer

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07.01.2023 - Jiffy Mixer é uma dança alemã?

Se fosse feita essa pergunta a um estranho, que nada conhece de coreografias típicas, contudo sabe minimamente sobre o idioma alemão, provavelmente acertaria essa resposta: não, ela é norte-americana. Segundo fontes, ela foi coreografada por Jerry e Kathy Helt e seria assim batizada por causa de uma mistura de pão de milho chamada Jiffy Mix. Então, qual o motivo dela estar entre as danças apreciadas nos países de língua alemã e presente em coletâneas típicas alemãs? Daí se tem uma questão histórica que não é complicada de entender: principalmente após a II Guerra Mundial a entrada de produtos culturais dos Aliados, com destaque aos EUA, cresceu na Alemanha, muitos se tornando populares e se fixando nas tradições locais. Isso aconteceu não só com danças - como se pode ver com a própria Sternpolka -, mas também com muitas palavras estrangeiras, com hábitos alimentares e músicas - como se vê com a Happy Birthday to You cantada em inglês. Novos olhares que se fixaram com o tempo e se sobrepuseram aos próprios modismos locais.

 

06.01.2023 - Kikeriki

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06.01.2023 - A palavra Kikeriki está escrita em qual idioma ou dialeto?

Mesmo que esta dança faça parte de várias comunidades de língua alemã, o nome Kikeriki não está escrito em um idioma específico: é uma onomatopéia (Lautmalerei, em alemão) do som do cantar do galo. Se fosse interpretado em uma língua latina provavelmente seria representado por Cocoricó. Contudo, se essa resposta não for suficiente, a solução é chamar a dança pelo outro nome que ela tem: Gickerl-Polka. Neste caso, é fácil dizer que se trata de um dialeto bávaro ou alpino, sendo traduzido como “Polca do Galo”. Em ambos os casos, temos um galináceo no centro das atenções. E, falando em linguagens, quem quiser pode dançar e cantar a Kikeriki, pois, além da coreografia, ela possui uma porção de letras e variantes para o canto e a coreografia. Como na pergunta “quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?” também aqui pode-se trazer a mesma indagação: qual é mais antiga, a canção ou a forma de dançar? Acredita-se que seja a primeira, a música, pela pluralidade de textos e sua abrangência, presente nos países da tríplice fronteira - Alemanha, Áustria e Suíça) e amplamente difundida entre as crianças.

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05.01.2023 - Bauernhochtid

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05.01.2023 - Bauernhochtid: um casamento camponês no inverno?

Quem escolheria se casar num período de frio e com chance de chuvas geladas ou neve? Geralmente “quem precisa” - como diz o ditado “manda quem pode e obedece quem precisa”. Mesmo que maio seja o mês preferido pelos casais europeus para realizarem suas núpcias, no auge dos campos floridos e do clima agradável, para os camponeses da Pomerânia isso nem sempre era possível. Os meses de primavera, verão e outono eram, para a maior parte deles, o momento de mais trabalho, tendo que toda a família priorizar o cultivo do campo e a colheita. Além do mais, o casamento dos camponeses pomeranos costumava levar meses para ser preparado, afinal, os animais precisavam ser engordados, os alimentos estocados e as decorações ritualísticas produzidas. Quem iria organizar tudo se todos estavam muito ocupados com os deveres da terra? Desta forma, sobrava o tempo do inverno para as festividades - o que também garantia despensas cheias e fartura para o casório, com muita diversão. Provavelmente quem dança a coreografia da Bauernhochtid não conhece esses detalhes, por mais que possa, logo na introdução, ter um “frio na espinha”.

Quer saber mais detalhes sobre essa coreografia coletada por Willi Schulz na região da Pomerânia? Entre em nosso site  https://www.culturaalema.com.br/tanz

04.01.2023 - Lüsener Deutscher

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04.01.2023 - Lüsener Deutscher tem relação com os alemães em Portugal?

Tentar traduzir de modo apressado alguns nomes de danças típicas pode causar alguns equívocos bem interessantes. Esse é um bom exemplo, já que a dança Lüsener Deutscher destaca as comunidades de língua alemã de Lüsen/Losen, uma localidade nas montanhas italianas no Südtirol/Alto Ádige onde é forte a cultura tirolesa/austríaca. Em toda a região, se pode conhecer vilarejos que intercalam pontos de maioria de idioma alemão e de maioria italiano (não por acaso os nomes das cidades e distritos aparecem de modo bilíngue). Nessa coreografia, registrada em 1941, se pode ver figuras tradicionais do Tirol, além de uma variação simples de Schuhplattler (sapateado) alpino. Assim, cuidado para não “confundir alhos com bugalhos” - como diz o ditado português: “Lüsener” é o que é de Lüsen; “Lusitaner” é o que está relacionado à Lusitânia, antigo nome de Portugal. E para não deixar dúvidas: Lüsener Deutscher não tem nadinha de portuguesa.

03.01.2023 - Jungsächsisch

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03.01.2023 - Jungsächsisch: um amor adolescente do Siebenbürgen?

A Transilvânia (Siebenbürgen) ficou conhecida mundialmente pelas suas histórias. Esta dança, escrita por Karl e Hanna Scheiner em 1880 na região de Schäßburg, onde residem os Saxões dos Siebenbürgen, foi inspirada em uma canção romena; mas não espere encontrar um Drácula: “era uma vez uma moça honesta, a mais bela de toda a região. Todos os rapazes estavam apaixonados por ela. Porém, ela estava apaixonada apenas por um deles. Quando esse rapaz a pediu em casamento, a moça hesitou e, por ser muito nova, pediu que a mãe não a obrigasse a casar. A mãe, apesar de sentir muito, já que esse seria o casal mais bonito da região, consentiu e disse que não iria obrigar a filha a se casar, que a deixaria escolher o seu marido. Prontamente, a moça mudou de ideia e aceitou se casar com o rapaz, pois não tinha como enganar seus sentimentos”. Se o casal “viveu feliz para sempre” ou se sentiu numa história de terror, não sabemos; o que podemos afirmar é que a música e a coreografia da dança se popularizaram na região e, hoje, consta em vários livros de danças. Jungsächsisch quer dizer “Jovem Saxão”, também sendo o nome de um traje típico daquela área.

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02.01.2023 - Münchner Polka

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02.01.2023 - Onde surgiu a Münchner Polka?
Sabe quando um nome te diz uma informação equivocada? Esse é o exemplo perfeito: por mais estranho que seja, o que se sabe com certeza é que a “Polca de Munique” não nasceu em Munique. Ela veio provavelmente da Floresta da Boêmia, no lado tcheco, ou da Floresta da Baviera, no lado alemão (um faz divisa com o outro). Também aparece essa dança no repertório de várias regiões austríacas ou no estado alemão de Baden-Württemberg. Por qual motivo a Münchner Polka não veio da capital bávara? Provavelmente as pessoas do interior acreditavam que a coreografia e a música se pareciam com o que era visto em Munique: “essa é uma polca de Munique”, provavelmente disseram, e o nome pegou - um fenômeno mais comum do que parece. Hoje, ela está presente nas grandes festividades muniquenses, como nos bailes típicos da cidade e no famoso Kochelball.
Quer saber mais sobre essa e outras danças? Veja em 
 
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01.01.2023 - Auftanz / Polonaise

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01.01.2023 - Auftanz / Polonaise

Quando e onde surgiu a Polonaise?

Quando a dança de abertura em forma de fila surgiu é uma pergunta tão difícil de responder quanto o “onde” isso aconteceu. Tem vários nomes, sendo popular Polonaise ( “A Polonesa”) - dado na França - ou Auftanz (Dança de Abertura) - nas comunidades de língua alemã. Já algumas fontes dizem que a coreografia nasceu no século XV, outras XVI, mas provavelmente foi bem antes. É um tipo de coreografia que imita os hábitos da comunidade: se sabe que em muitas culturas seguir os músicos em uma procissão é bastante popular. Pode se ver isso nas antigas festas onde acontecem desfiles (andar todos em uma fila), ou na corte (onde passeando pelo salão os nobres eram apresentados aos convidados), ou no caminho das pessoas de um ponto “A” para um “B” em um ritual (da igreja para o salão de festas na Quermesse/Kerb, por exemplo). O que muda de um local para outro é o ritmo das melodias e a sequência de figuras.

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